Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Excessos de revoltas

"   A morte é o ponto de interrogação ante nós incessantemente colocado, o primeiro tema a que se ligam questões sem-número, cujo exame faz a preocupação, o desespero dos séculos, a razão de ser de imensa cópia de sistemas filosóficos. Apesar desses esforços do pensamento, a obscuridade tem pesado sobre nós. A nossa época se agita nas trevas e no vácuo, e procura, sem achar, um remédio a seus males. Imensos são os progressos materiais, mas no seio das riquezas acumuladas, pode-se ainda morrer de privações e de miséria. O homem não é mais feliz nem melhor. No meio dos seus rudes labores, nenhum ideal elevado, nenhuma noção clara do destino o sustém; daí seus desfalecimentos morais, excessos de revoltas. Extinguiu-se a fé do passado; o cepticismo e o materialismo substituíram-na e, ao sopro destes, o fogo das paixões, dos apetites, dos desejos, tem-se ateado. Convulsões sociais ameaçam-nos.
   Às vezes, atormentado pelo espectáculo do mundo e pelas incertezas do futuro, o homem levanta os olhos para o céu, e pergunta-lhe a verdade. Interroga silenciosamente a Natureza e o seu próprio espírito. Pede à Ciência os seus segredos, à Religião os seus entusiasmos. Mas, a Natureza parece-lhe muda, e as respostas dos sábios e dos sacerdotes não satisfazem à sua razão nem ao seu coração. Entretanto, existe uma solução para esses problemas, solução melhor, mais racional e mais consoladora que todas as oferecidas pelas doutrinas e filosofias do dia; tal solução repousa sobre as bases mais sólidas que conceber se possa: o testemunho dos sentidos e a experiência da razão."

LÉON DENIS in Depois da Morte, Introdução (3 de 5)

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