Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Victor Hugo e o invisível ~


Os dons mediúnicos e poéticos ~

  Nos arquivos ainda existentes do Círculo Intimo Lumen, que nasceu há cerca de meio século em Buenos Aires e numa cidade próxima, encontram-se alguns poemas mediúnicos de profundidade filosófica relacionados com a espiritualidade humana de todos os tempos. São poemas-mensagem com a finalidade: alertar os vivos a respeito do que realmente significa esse enigma que se chama morte. É uma poesia semelhante à clássica, mas na sua profundidade se percebem como que rumores de um mundo onde os mortos se transfiguram e passam a ser as verdades vivas do universo.

  O homem frente a esse novo tipo de poema aparece como um desterrado, um solitário ou um prisioneiro de um planeta rude e hostil. Mas esta poesia, este poema-mensagem que saiu espontaneamente da escrita do poeta-médium tem o propósito de tirar o homem dos farrapos de sua sabedoria assente sobre a morte e o nada. O que nos quer oferecer este novo lirismo poético que rapidamente se generaliza pelo mundo? Supomos que quer despertar na carne e no nosso espírito dons mediúnicos e poéticos para nos ajudar a estar aqui existencialmente vivos, já que o demónio da derrota quer matar-nos no não-ser e na desesperança.

  Estes dons espirituais serão salvadores para o espírito humano. Se eles surgem para iludir as trevas do sepulcro, serão como asas que permitirão às nossas existências elevar-se acima do túmulo e entrar em relação com o que críamos mortos para sempre, mas que agora vêm como estrelas fixar-se, risonhas e cintilantes, nos céus de cada alma reencarnada.

  Se esses dons mediúnicos e poéticos servem para salvar-nos do nada, se aparecem com a sagrada finalidade de tornar-nos mais aptos a atravessar este chão sem Deus e sem Amor, sejam bem-vindos. Não devemos ver neles deuses maus nem demónios traidores, nem tão pouco larvas nem entes loucos. Vejamos neles um sinal do eterno, do realmente espiritual que há no homem durante toda a sua vida e a forma que tem o que existe à nossa volta.

  Daqueles velhos arquivos escolhemos estes poemas intitulados Declaración Ultracorporal, que dizem o seguinte:

Vengo de un azur divino,
vengo de un reino sin muerte.
La resurreicción me alza de la tumba
con estas alas celestes.
?Quién soy? ?Qué voz és la mía?
Soy un ala de la eternidad.
Vengo del corazón azul de la Poesía.
Sólo digo la verdad.

  E o poeta transfigurado pela vida espiritual prossegue:

?Que estoy muerto? ?Que soy oscura tierra?
?Que la muerte es silencio y sombra?
No, terrestre viajero: el ataúd no encierra
este espíritu que te nombra.
Oid cómo vuelo por el azul espacio
entre resplandores de topado.

  Noutro poema mediúnico se lê:

Sonora corneta del aire
traigo.
Despierta carne cansada
de tu sueiio largo.
Oid esta vez cómo los muertos
vienen como hermanos.
La muerte no acaba con ninguno,
no es licor amargo.
La muerte es un ser de luz,
es un dulce milagro.
Si crees que los muertos no cantan,
escucha mis cantos.
Yo era para la tierra un muerto,
ahora soy un pájaro.

  Neste poema, uma visão optimista e triunfal nos sugere o poeta invisível:

Miseria de huesos rotos,
de cenizas frías
eran los hombres invisibles
que al abismo caían.
Todo era aliento de sepulcro,
todo horrible podredumbre
con gusanos sorbiendo la carne,
con honduras sin luces.
Ahora somos resurrecciones,
somos rumores con mensajes:
los muertos de ayer somos campanas,
los muertos vestimos otros trajes.
Oh, amigo medita,
ya la muerte no es zona prohibida.

  Um poema cujo conteúdo nos obriga a pensar em Esteban Echeverría, surpreende-nos com estes conceitos:

Soy la brisa de ayer, la del Plata,
soy la voz dei progreso.
Mi manifesto es de resurrecciones,
soy el dogma de lo bello.
Busco un nuevo Mayo,
pregono otra revolución:
los tiranos caen siempre;
sólo se eleva lá Canción.
El Poeta es sonoro puente
para escuchar la voz de Dios.
!Arriba Argentina!, esta lira
suena de nuevo para vos.
El Dogma ahora es la luz
la Doctrina la revelación,
el Camino seguro la Cruz,
la Ley la evolución,
lo más bello una flor,
lo más potente el amor.

  Pois bem, se estes poemas brotaram do subconsciente do médium, se não foi um espírito que se expressou através dos dons mediúnicos e poéticos, do mesmo modo possuem um valor literário subjectivo; de igual maneira nos obrigam a meditar no que pode produzir o subconsciente humano; mas neles se eleva um Eu, um ser, uma pessoa que se dirige à nossa condição de espíritos encarnados para iluminar-nos. São poemas personalizados, que querem falar-nos de coisas transcendentais. Mostram-se com um Espírito vivo e comunicante, dando-nos a impressão de já ter passado pela experiência da morte e que agora quer referir-se mediunicamente a essa suprema experiência para ampliar os nossos horizontes espirituais e mentais.

  É pois um poema que pode provir das profundidades do subconsciente do espírito tanto encarnado quanto desencarnado e, notável coincidência, se apresenta como a repetição do que aconteceu durante o desterro de Victor Hugo na ilha de Jersey. Porque se o nosso desterro não possui características políticas, possui por outro lado uma imagem existencial de desterro planetário, que só pelo que mediunicamente sabemos, podemos suportar. Não foi em vão que o poeta espírita espanhol Salvador Sellés exclamou: "A nostalgia do céu me consome!"

  E estes dons psíquicos que surgem do homem como faculdades salvadoras nos falam do vento, de um vento que varre e limpa os nossos sepulcros corporais:

Mi viento es soplo armonioso
que derriba sistemas de sombra;
mi viento es fuego que quema
las lágrimas de los que lloran.
Soy viento inmortal: escuchadme.
En las tumbas no caben mis alas.
Soy el viento que !lama y escribe
este canto que salva.
Soy viento que sopla barriendo
polvorientos esqueletos.
Soy el viento que vence a la muerte,
soy siempre el Viento.

  León Felipe, que no seu poema ''El Salto'' canta a reencarnação, disse que o vento é um deus invisível, um ser vivo e transparente que dá música de eternidade à poesia. Que este vento do Espírito e dos Espíritos tão querido a Victor Hugo sopre sobre as nossas angústias existenciais e ajude as nossas asas a elevar-nos na imensidade sempre sonora, sempre viva, sempre azul. E que Deus nos fale cada vez mais por estes dons poéticos e mediúnicos para ressuscitar-nos continuamente desta morte espiritual de todos os momentos.

Síntese

  É lamentável que nas esferas literárias não se leve em conta esta quarta dimensão da literatura que nos descobre a mediunidade. Aceitaram-se as orientações estéticas do surrealismo, mas como um fenómeno ligado ao subconsciente caótico e de raízes fisiológicas. Sem dúvida, o autêntico fenómeno surrealista é uma introdução ao mundo invisível, ou seja, uma vinculação com o Ser que a morte não poderá destruir jamais. O surrealismo é um movimento psíquico cujas bases espirituais se encontram no mediunismo. Isto nos obriga a pensar que a beleza não está morta, mas que a sua reaparição se fará quando for reconhecido na criação literária que no Ser encarnado do escritor podem penetrar influências de entidades desencarnadas. Porque, à luz do Cristianismo e do Espiritismo os grandes génios da literatura mundial não são absorvidos pelo nada. Não caíram para perder-se definitivamente nas cegas evoluções da matéria.

  A Beleza, porém, não pode morrer. As chamadas a favor do triunfo da arte sobre o quotidiano, lançadas por Ortega y Gasset, respondem a esse anseio espiritual de imortalidade que se agita no espírito do génio. As grandes obras poéticas e literárias são uma prova em prol do sentido transcendental que possui o destino humano. A nova literatura será uma defesa da alma contra as terríveis metas do materialismo. Se tudo é morte e nada, que valor moral possui a obra literária de um Victor HugoTolstóiDostoyevskiDanteGoethe? Por que cantam tão admiravelmente WhitmanNeruda, Lugonen, BorgesBécquer?

  A Beleza não pode ter origem num homem destinado à morte e ao nada. A beleza provém do espírito fecundo e imortal, desse infinito onde se encontra instalado o verdadeiro homem. A poesia de agora em diante será escatológica e soteriológica. Relacionará o Ser com o eterno e o salvará desse verdadeiro perigo existencial que é o nada.

  Se Miguel de Unamuno gritou tanto como pensador e poeta, reclamando a imortalidade da alma, isso nos indica que o génio não se resigna a extinguir-se na noite dos túmulos. Não foi em vão que Unamuno formulou estas perguntas:"Por que quero saber de onde venho, onde vou, de onde vem e onde vai o que nos rodeia, e o que significa tudo isso? Por que não quero morrer de todo e quero saber se haverei de morrer ou não definitivamente?

/…


Humberto MariottiVictor Hugo Espírita, Os dons mediúnicos e poéticos, Síntese, 14º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: Criança com uma boneca, pintura de Anne-Louis GIRODET-TRIOSON)

segunda-feira, 6 de junho de 2016

O Génio Céltico e o Mundo Invisível ~


Capítulo VIII

Palingenesia: preexistências e vidas sucessivas. A lei das reencarnações (IV)

   Todas as grandes correntes do pensamento antigo, filosófico e religioso, relativos aos altos destinos da alma, após vicissitudes seculares, se renovam, se sintetizam e se fundem no espiritualismo moderno sob a forma de lei de evolução pelas vidas renascentes.

   Todas as grandes religiões do oriente, inclusive o Cristianismo esotérico, a filosofia de Platão e os princípios da escola de Alexandria, nele se encontram para ali reunir a tradição sagrada do ocidente, incluindo as dos nossos antepassados, os celtas.

   Uma grande obra se realiza acima das nossas cabeças, cuja importância não podemos calcular, mas cujos efeitos se vão repercutir no decorrer dos séculos. Essa obra de síntese que representa a fé elevada a, fé superior da humanidade em marcha, que não se podia realizar no seio das religiões actuais, mas somente fora delas e através da ciência.

   O Catolicismo perdeu de vista a sua missão salvadora e regeneradora. Por interpretações ilusórias, ele desnaturou a doutrina pura do Cristo, sobretudo no que se refere ao futuro do homem e da justiça de Deus. É, entretanto, entre os seus adeptos que se difunde mais facilmente a noção de pluralidade das existências. Já se verificou que o purgatório, bem mal definido pela Igreja, poderia muito bem se conciliar com o resgate das faltas do passado por meio das vidas de provas.

   O Protestantismo, por seu lado, suprimindo a noção de purgatório, tinha fechado toda a saída para o princípio das vidas renascentes.

   Não é uma coisa dolorosa, pavorosa mesmo, sob certos pontos de vista, a constatação de que, após tantos séculos de civilização, a incerteza ainda pese sobre o problema do destino humano?

   A luz que brilhou, desde os primeiros tempos de nossa história, tinha-se esvaecido. Parecia que o homem, afastando-se da natureza e das suas origens, ia penetrar na noite. É somente hoje, graças ao trabalho de alguns pensadores ardentes, que os primeiros lampejos de uma nova aurora vêm roçar a alma céltica adormecida.

   Para todos aqueles que consideraram a variedade e a desigualdade das condições humanas, quer do ponto de vista das diferenças de raças, de culturas, de civilização, quer no que se refere à duração da existência, o enigma da vida ficava indecifrável, mas eis que, pela sucessão das existências da alma, tudo se encadeia e se harmoniza numa lógica rigorosa.

   O terrível problema da dor também aí encontra a sua solução e, se explica melhor, que certas pessoas conheçam o sofrimento desde o berço e o suportem até ao túmulo.

   Todas essas vidas obscuras, atormentadas, dolorosas, são cadinhos onde a alma se desfaz de suas impurezas, onde o fel se consome, onde as paixões do mal, por uma alquimia divina, se transformam pouco a pouco em paixões do bem.

   Sem dúvida, o progresso nem sempre é sensível e, a alma frequentemente se revolta perante o sofrimento, mas quando o tempo da provação tenha passado, constata-se que ela não foi estéril e que a alma beneficiou com isso.

   E, do mesmo modo, o problema do mal, que, no seu conjunto, é um dos aspectos da mesma questão. Esse problema, que provocou tantas discussões estéreis, foi facilmente resolvido pelos druidas: Deus dá ao homem uma parte de liberdade proporcional ao seu grau de evolução e, a liberdade humana gerou o mal. A primeira Tríade enuncia entre as três unidades primitivas “o ponto de liberdade onde se equilibram todas as oposições”.

   Deus não teria podido suprimir o mal sem suprimir a liberdade, o que teria falseado inteiramente a lei de evolução e, com ela o princípio vital, a própria razão do Universo. O livre-arbítrio somente assegura o livre jogo da iniciativa, da vontade de onde decorrem os méritos necessários para adquirir os bens espirituais, alvo supremo da evolução. O ser humano deve adquirir, por seus esforços, no correr dos tempos, a sabedoria, a ciência, o talento e, por eles, a felicidade, a ventura, isto é, tudo que leva à grandeza e à beleza da vida, pois não se aprecia realmente, não se gosta senão do que se adquire por si mesmo.

   Se o mal parece dominar sobre a Terra, é que ela ainda forma um grau inferior na escala dos mundos, por serem a maioria dos seus habitantes espíritos jovens, ainda ignorantes, inclinados às paixões. Mas, à medida que se evolui na grande escala cósmica, o mal diminui pouco a pouco, depois se dissipa e, o bem realiza-se em virtude da lei geral de evolução.

   Nós vamos expor essa lei, as suas regras e a sua finalidade por meio das Tríades, sob sua forma concisa, na parte que se refere ao “Abred”, o círculo das transmigrações e, ao “Gwynfyd”, o círculo das vidas celestes. As Tríades de 1 a 14, reproduzidas no capítulo VII e, as que se seguem, de 15 a 45, formam o complemento. (i)

   As Tríades que faltam figuram dos pontos essenciais desta obra, onde elas encontram a sua aplicação.

“Abred”:

15 – Três espécies de necessidades no “Abred”: a menor de toda a vida e, daí o começo; a substância de cada coisa e, daí o crescimento, que não pode operar-se em outro estado; a formação de cada coisa da morte e, daí a debilidade da vida.

16 – Três coisas que não se podem executar a não ser pela justiça de Deus: todo o sofrer em “Abred”, porque sem isso não se pode adquirir uma ciência completa de alguma coisa; obter uma parte do amor de Deus; ser bem-sucedido, pelo poder de Deus, no cumprimento do que é mais justo e misericordioso.

17 – Três causas principais da necessidade de “Abred”: recolher a substância de toda a coisa; recolher o conhecimento de toda a coisa; recolher a força moral para triunfar de toda a adversidade e do princípio de destruição e para se privar do mal. E sem elas, no trajecto de cada estado de vida, não há nem vida, nem forma que possa alcançar a plenitude.

20 – Três necessidades de “Abred”: o desregramento, pois não pode ser de outro modo; a libertação pela morte, ante o mal e a corrupção; o acréscimo da vida e do bem, pelo despojamento do mal, libertando-se da morte. E tudo isso pelo amor de Deus concernente a toda a coisa.

21 – Três meios de Deus no “Abred” para triunfar do mal e do princípio de destruição, escapando-se ante eles no “Gwynfyd”: a necessidade, o esquecimento, a morte.

22 – Três primeiras coisas, simultaneamente criadas: o homem, a liberdade, a luz.

23 – Três necessidades do homem: sofrer, renovar-se (progredir), escolher. E, pelo poder que esta última dá, não se pode conhecer as duas outras antes do seu vencimento.

24 – Três alternativas do homem: “Abred” e “Gwynfyd”, necessidade e liberdade, mal e bem; todas as coisas estando em equilíbrio e o homem tendo o poder de se ligar a um ou a outro, segundo a sua vontade.

26 – Por três coisas se cai no “Abred”, necessariamente, se bem que, por outro lado, se esteja ligado ao que é bom: pelo orgulho ao longo do “Annoufn”; pela falsidade, ao longo do “Gabien”; pela crueldade, ao longo do “Kenmil” e, se retorna de novo à humanidade, como antes.

27 – Três causas justificativas do estado de humanidade: adquirir inicialmente a ciência, o amor e a força moral, antes que a morte surja. E não se pode fazê-lo a não ser pela liberdade e pela escolha, não antes, pois, do estado de humanidade. Essas três coisas são chamadas as três vitórias.

28 – Três vitórias sobre o mal e sobre o espírito mau: ciência, amor, poder; porque a verdade, a vontade e a potência realizam, pela união de sua força, tudo o que elas desejam, elas começam no estado da humanidade e perduram para sempre.

29 – Três privilégios do estado de humanidade: o equilíbrio do mal e do bem, e daí a comparação; a liberdade de escolha e, daí o julgamento e a preferência; o começo do poder que deriva do julgamento e da escolha e, eles são necessários antes de cumprir seja o que for.

“Gwynfyd”:

30 – Três diferenças necessárias entre o homem, qualquer outra criatura e Deus: o limite do homem, que não saberia encontrar Deus; o começo do homem, que não saberia encontrar Deus; as renovações (progresso) necessárias do homem no círculo de “Gwynfyd”, visto que ele não pode suportar a eternidade do “Ceugant”, enquanto que Deus suporta todo o estado com felicidade.

31 – Três formas supremas do estado de “Gwynfyd”: sem mal, sem necessidade, sem fim.

32 – Três restituições do círculo de “Gwynfyd”: o génio primitivo; o amor primitivo; a memória primitiva, pois que sem isso não há felicidade.

33 – Três diferenças entre todo o vivente e os outros viventes: o génio, a memória, o conhecimento, isto é, que todos os três sejam plenos em cada um e não podem ser comuns com um outro vivente, cada um na sua medida e, não pode haver duas plenitudes em nenhuma coisa.

34 – Três dons de Deus a todo o vivente: a plenitude de sua raça; a consciência de sua humanidade; o desprendimento do seu génio primitivo em relação a todo o outro e, é daí que cada um difere dos demais.

35 – Pela compreensão de três coisas diminui-se o mal e a morte e, triunfa-se: de sua natureza; de sua causa; de sua acção. E elas se encontram no “Gwynfyd”.

36 – Três fundamentos da ciência: a renovação da passagem de cada estado de vida; a lembrança de cada transmigração e de seus incidentes; o poder de atravessar cada estado de vida, para experiência e julgamento e, isto se acha no círculo de “Gwynfyd”.

37 – Três distinções de todo o vivente no círculo de “Gwynfyd”: a inclinação (ou vocação); a possessão (ou privilégio) e o génio; dois viventes não podem ser primitivamente semelhantes em nada, porque cada um está pleno do que o distingue e nada está pleno sem que esteja na sua inteira medida.

38 – Três coisas impossíveis, excepto para Deus: suportar a eternidade do “Ceugant”; participar sob toda a condição sem se renovar; melhorar e renovar toda a coisa sem fazê-lo com perdas (às suas custas).

39 – Três coisas que jamais desaparecerão por causa da necessidade de sua potência: a forma do ser; a substância do ser; o valor do ser, pois, pela libertação do mal, elas existirão eternamente, sejam vivas, sejam inanimadas, nos diversos estados do belo e do bem no círculo de “Gwynfyd”.

40 – Três bens supremos que resultam das renovações da condição humana no “Gwynfyd”: a instrução; a beleza; o repouso, por sua inaptidão de suportar o “Ceugant” e a sua eternidade.

41 – Três coisas em crescimento: o fogo ou a luz; a inteligência (ou a consciência) ou a verdade; a alma ou a vida. Elas triunfam sobre tudo e daí o fim do “Abred”.

42 – Três coisas em decrescimento: a obscuridade; a mentira; a morte.

43 – Três coisas se reforçam dia a dia, visto que a maior soma de esforços vai, sem cessar, em direcção delas: o amor; a ciência; a plena justiça.

44 – Três coisas se enfraquecem cada dia, porque a maior soma de esforços vai contra elas: o ódio; a deslealdade; a ignorância.

45 – Três plenitudes da felicidade do “Gwynfyd”: participar de toda a qualidade com uma perfeição principal; possuir toda a espécie de génio com um génio preeminente; abraçar todos os seres com um mesmo amor e com um amor de primeira qualidade, conhecer o amor de Deus e, é nisso que consiste a plenitude do céu e do “Gwynfyd”. (ii)

   Observa-se que estas Tríades, por sua forma concisa e o seu sentido profundo, constituem uma obra original e poderosa, que não pode ser considerada como invenção de pensadores isolados, mas antes como a expressão sintética do génio de uma raça inteira. Elas se religam a verdades de ordem eterna e, talvez fosse preciso a incubação de séculos para se compreender todo o seu alcance. Elas surgiram da sombra, numa hora histórica em que o ideal se enfraquece, para restituir ao nosso país a sua fé em si mesmo, a confiança no seu destino e, tornar-se assim o instrumento de uma civilização mais elevada, mais nobre e mais digna.

/…
(i) Compare com a Revue Spirite, Abril de 1858, Edicel, 1ª edição. (N.T.)
(ii) Tradução do gaélico, por Llevelyn Sion.


LÉON DENIS, O Génio Céltico e o Mundo Invisível, Segunda Parte – Capítulo VIII Palingenesia: preexistências e vidas sucessivas. A lei das reencarnações (4 de 5) 27º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: A Apoteose dos heróis franceses que morreram pelo seu país durante a guerra da Liberdade, pintura de Anne-Louis Girodet-Trioson)