Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Da Virilidade da Alma

“Quanto mais o homem se apróxima do estado primitivo, mais o instinto domina, como se verifica ainda hoje nos povos bárbaros e selvagens contemporânios; o que mais o preocupa, ou antes, o que exclusivamente o preocupa, é a satisfação das necessidades materiais, porque não tem outras. O único sentido que pode torná-lo acessível aos gozos puramente morais não se desenvolve senão gradual e morosamente; a alma tem também a sua infância, a sua adolescência e virilidade como o corpo humano; mas, para alcançar a virilidade, que a torna apta a compreender as coisas abstractas, quantas evoluções não tem ela de experimentar na humanidade! Por quantas existências não deve ela passar!”

ALLAN KARDEC, O Céu e o Inferno, Capítulo IX, Origem da crença nos demónios, OS DEMÓNIOS

sábado, 23 de outubro de 2010

Idade da Razão

“Passar-se-ão muitos anos, séculos ainda, antes que esta singular humanidade terrestre adquira totalmente o uso da razão, antes que ela saiba se conduzir, antes que ela deixe de nos oferecer espetáculos semelhantes aos que vimos se desenrolar em nossa própria  pátria, há apenas doze anos, e que continuam a se reproduzir por toda a humanidade “civilizada” , antes que ela se erga, enfim, acima da animalidade, para tornar-se um pouco espiritual e manifestar gostos intelectuais. Mas, quanto mais difícil é o progresso, mais enérgicos devem ser os nossos esforços. Trabalhemos, pois, de comum acordo para educar esta raça ainda bárbara, para libertá-la do jugo da ignorância, para propagar em seu seio as sementes da verdade e do bem, e para multiplicar o número daqueles que, saindo do caminho estreito, conheçam outra coisa que não os apetites materias e sintam desemvolver-se em si uma alma responsável chamada a destinos superiores.”

CAMILLE FLAMMARION, A Pluralidade dos Mundos Habitados, Advertência da 29ª  edição Paris, 1882

Elemento Infinitesimal

“Chegou a época em que o homem pode se despojar daquele manto púrpura com que estivera orgulosamente vestido até aqui, em que, examinando sua verdadeira condição e sua verdadeira grandeza, ele sente o ridículo de suas idéas de outrora e não considera mais sua pequena personalidade a meta da obra divina. A filosofia deu um grande passo. Ela dormia, antigamente, numa calma enganosa, logo após um período agitado; veio a tempestade, que sacudiu até suas camadas mais profundas. Hoje o homem, de pé, observa-se e sonha; procura, enfim, a explicação do enígma do mundo; examina que lugar ocupa na ordem dos seres, qual é sua relação na solidariedade universal, qual é seu destino no plano geral – procura a razão das coisas. Perante a grandeza do resultado a alcançar, quem não estaria cheio de alegria ao poder oferecer um elemento a mais – mesmo que fosse infinitesimal -, para o progresso de nossa família humana bem-amada?”

CAMILLE FLAMMARION, A Pluralidade dos Mundos Habitados, Prefácio da 2ª edição, Paris 1864

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O Homem Progressista

“É que o homem, progressista por natureza, não quer ficar estacionário, e muito menos retroceder. Acontece que o progresso ao qual o levam suas tendências íntimas não é uma idealidade perdida num mundo metafísico inacessível às investigações humanas, mas sim uma estrela radiante atraindo para o foco todos os pensamentos ansiosos pelo verdadeiro e sedentos de ciência.”

CAMILLE FLAMMARION, A Pluralidade dos Mundos Habitados, Introdução Paris 1861

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Meio de Preparação Moral


“O Espiritismo, criteriosamente praticado, não é só uma fonte de ensinamentos, mas também um meio de preparação moral. As exortações, os conselhos dos Espíritos, suas descrições da vida de além-túmulo vêm influir em nossos pensamentos e actos e operam lenta modificação em nosso carácter e em nosso modo de viver.”

LÉON DENIS, No Invisível, Aplicação moral e frutos do Espiritismo - XI

O Amor das Almas

 
“Com o Espiritismo, coração e razão, tudo tem sua parte. O círculo dos afectos se dilata. Sentimo-nos mais bem amparados na prova, porque aqueles que em vida nos amavam, nos amam ainda além do túmulo e nos ajudam a carregar o fardo das misérias terrestres. Não estamos deles separados senão em aparência. Na realidade, os humanos e os invisíveis caminham muitas vezes lado a lado, através das alegrias e das lágrimas, dos êxitos e reveses. O amor das almas que nos são diletas nos envolve, nos consola e reanima. Cessaram de nos acabrunhar os terrores da morte.”

LÉON DENIS, No Invisível, Aplicação moral e frutos do Espiritismo - XI

A Reunião Final

“Assim, essa fraternidade, que os messias proclamaram em todas as grandes épocas da História, encontra no ensino dos Espíritos uma base nova e uma sanção. Não é mais a inerte e banal afirmação inscrita na fachada de nossos monumentos; é a fraternidade palpitante das almas que emergem, conjuntas, das obscuridades do abismo e palmilham o calvário das existências dolorosas; é a iniciação comum no sofrimento; é a reunião final na plena luz.”

LÉON DENIS, No Invisível, Aplicação moral e frutos do Espiritismo - XI

Noção de Fraternidade


“O Espiritismo amplia a noção de fraternidade. Demonstra por meio de factos que ela não é unicamente um mero conceito, mas uma lei fundamental da Natureza, lei cuja acção se exerce em todos os planos da evolução humana, assim no ponto de vista físico como no espiritual, no visível como no invisível. Por sua origem, pelos destinos que lhes são traçados, todas as almas são irmãs.”

LÉON DENIS, No Invisível, Aplicação moral e frutos do Espiritismo - XI

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Razão e Sentimento

"O Espiritismo oferece esta inapreciável vantagem de, ao mesmo tempo, satisfazer à razão e ao sentimento. Até agora essas duas faculdades da alma se têm conservado em luta aberta, num perpétuo conflito. Daí uma causa profunda de sofrimento e de desordem para as sociedades humanas. A Religião, apelando para o sentimento e excluindo a razão, caía muitas vezes no fanatismo e no erro. A Ciência, procedendo em sentido contrário, permanecia inerte e seca, impotente para regular a conduta moral.”

LÉON DENIS, No Invisível, Aplicação moral e frutos do Espiritismo - XI

O Destino

“As revelações de além-túmulo são concordes em um ponto capital: depois da morte, como no vasto encadeamento de nossas existências, tudo é regulado por uma lei suprema. O destino, feliz ou desgraçado, é a consequência de nossos actos. A alma edifica por si mesma o seu futuro. Por seus próprios esforços se emancipa das materialidades subalternas, progride e se eleva para a luz divina, sempre mais intimamente se identificando com as sociedades radiosas do Espaço, e tomando parte, por uma colaboração constantemente mais extensa, na obra universal.”

LÉON DENIS, No Invisível, Aplicação moral e frutos do Espiritismo - XI

Jesus

“Jesus não podia de uma só vez destruir crenças enraizadas; faltavam aos homens conhecimentos necessários para conceber a infenidade do espaço e o número infinito dos mundos; para eles, a Terra era o centro do Universo; não lhe conheciam a forma nem a estrutura internas; tudo se limitava ao seu ponto de vista; as noções do futuro não podiam ir além dos seus conhecimentos. Jesus encontrava-se na impossibilidade de os iniciar no verdadeiro estado das coisas. Mas, por outro lado, não querendo sancionar com a sua autoridade conceitos enraizados, absteve-se de os rectificar, deixando ao tempo essa missão.”

ALLAN KARDEC, O Céu e o Inferno, Capítulo IV O INFERNO

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O Mundo Espiritual

“O mundo espiritual ostenta-se por toda a parte, tanto à nossa volta como no espaço, sem limite algum designado. Em razão da natureza fluídica do seu invólucro, os seres que o compõem, em vez de se arrastarem penosamente sobre o solo, transpõem as distâncias com a rapidez do pensamento.”

ALLAN KARDEC, O Céu e o Inferno, Capítulo III O CÉU

"A Terra"

“A Terra não é mais do que um ponto imperceptível e um dos planetas menos favorecidos quanto à sua habitabilidade. E, assim sendo, é legítimo perguntar por que razão Deus faria da Terra a única sede da vida e nela degredaria as suas criaturas predilectas? ”

ALLAN KARDEC, O Céu e o Inferno, Capítulo III O CÉU

A Vida no Corpo

“Apegando-se ao exterior, o homem apenas vê a vida no corpo, ao passo que a vida real está na alma; estando o corpo privado de vida, a seus olhos tudo está perdido, ficando desesperado. Se, em vez de concentrar o seu pensamento na roupa exterior, o pousasse na própria fonte da vida – na alma que é o ser real que sobrevive a tudo - , lastimaria menos a perda do corpo, antes fonte de tantas misérias e dores; mas para isso é necessária uma força que o Espírito só adquire com a maturidade.”

ALLAN KARDEC, O Céu e o Inferno, Capítulo II Temor da Morte

terça-feira, 12 de outubro de 2010

De Fervoroso Opositor a Seguidor

“Estou muito envergonhado e desgostoso por haver combatido com tanta persistência a possibilidade dos factos chamados espíritas; mas os factos existem e eu deles me orgulho de ser escravo”.

César Lombroso

sábado, 2 de outubro de 2010

O Hino da Vida Infinita

/…”O círculo das coisas terrestres aperta-nos e limita as nossas percepções; mas, quando o pensamento se separa das formas mutáveis e abarca a extensão dos tempos, vê o passado e o futuro se juntarem, fremirem e viverem o presente. O canto de glória, o hino da vida infinita enche os espaços, sobe do âmago das ruínas e dos túmulos. Sobre os destroços das civilizações extintas rebentam florescências novas. Efetua-se a união entre as duas humanidades, visível e invisível, entre aqueles que povoam a Terra e os que percorrem o espaço. As suas vozes chamam, respondem umas às outras, e esses rumores, esses murmúrios, vagos e confusos ainda para muitos, tornam-se para nós a mensagem, a palavra vibrante que afirma a comunhão de amor universal.”…/

LÉON DENIS, O Problema do ser, do destino e da dor, IX. – Evolução e finalidade da alma

As Duas Humanidades

/…“A nossa estima aos mestres da razão e da sabedoria humana não é motivo para deixarmos de dar o devido apreço aos mestres da razão sobre-humana, aos representantes de uma sabedoria mais alta e mais grave. O espírito do homem, comprimido pela carne, privado da plenitude dos seus recursos e percepções, não pode chegar de per si ao conhecimento do universo invisível e de suas leis. O círculo em que se agitam a nossa vida e o nosso pensamento é limitado, assim como é restrito o nosso ponto de vista. A insuficiência dos dados que possuímos torna toda a nossa generalização impossível. Para penetrarmos no domínio desconhecido e infinito das leis, precisamos de guias. Com a colaboração dos pensadores eminentes dos dois mundos, das duas humanidades, é que alcançaremos as mais altas verdades, ou pelo menos chegaremos a entrevê-las, e que serão estabelecidos os mais nobres princípios. Muito melhor e com muito mais segurança do que os nossos mestres da Terra, os do espaço sabem pôr-nos em presença do problema da vida e do mistério da alma e, igualmente, ajudar-nos a adquirir a consciência da nossa grandeza e do nosso futuro.”…/

O Problema do Ser, do Destino e da DorII. O critério da Doutrina dos Espíritos, Léon Denis

Os Dois Termos da Inteligência Humana

/…“É somente no acordo das boas vontades, dos corações sinceros, dos espíritos livres e desinteressados que se realizarão a harmonia do pensamento e a conquista da maior soma de verdade assimilável para o homem da Terra, no atual período histórico.
Dia virá em que todos hão de compreender que não há antítese entre a Ciência e a verdadeira Religião. Há apenas mal-entendidos. A antítese se dá entre a Ciência e a ortodoxia, o que nos é provado pelas recentes descobertas da Ciência, que nos aproximam sensivelmente das doutrinas sagradas do Oriente e da Gália, no que diz respeito à unidade do mundo e à evolução da vida. Por isso é que podemos afirmar que, prosseguindo a sua marcha paralela na grande estrada dos séculos, a Ciência e a crença forçosamente encontrar-se-ão um dia, pois que idênticos são ambos os seus alvos, que acabarão por se penetrarem reciprocamente. A Ciência será a análise; a Religião será a síntese. Nelas unificar-se-ão o mundo dos fatos e o mundo das causas, os dois termos da inteligência humana vincular-se-ão, rasgar-se-á o véu do Invisível; a obra divina aparecerá a todos os olhares em seu majestoso esplendor!”.../

Léon Denis, O Problema do Ser, do Destino e da Dor, II. O critério da Doutrina dos Espíritos

Características da Perfeição

/…”Em que consiste esta perfeição? Jesus di-lo: "Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem." Ele mostra através disto que a essência da perfeição é a caridade na sua mais larga acepção, porque ela implica a prática de todas as virtudes.
Com efeito, se observarmos os resultados de todos os vícios, e mesmo dos simples defeitos, reconheceremos que não há nenhum que não altere em maior ou menor escala o sentimento da caridade, porque todos têm o seu princípio no egoísmo e no orgulho, que são a negação dela; pois tudo o que sobreexcita o sentimento da personalidade destrói, ou pelo menos enfraquece, os elementos da verdadeira caridade, que são a benevolência, a indulgência, a abnegação e a devoção. O amor pelo próximo levado até ao amor pelos seus inimigos, não podendo aliar-se com nenhum defeito contrário à caridade, é, por isso mesmo, o índice de uma superioridade mais ou menos elevada; donde resulta que o grau de perfeição é proporcional à extensão desse amor”…/

ALLAN KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, CAPÍTULO XVII, SEDE PERFEITOS

Emprego da Riqueza

«Dai esmola quando isso for necessário mas, tanto quanto possível, convertei-a em salário, para que aquele que a receba não se envergonhe dela.»

(FÉNELON, Argel, 1860.)

ALLAN KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, CAPÍTULO XVI, NÃO SE PODE SERVIR A DEUS E AO DINHEIRO, INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS

Os Espíritas Imperfeitos

”Apegam-se aos fenómenos mais do que à moral, que lhes parece banal e monótona; pedem aos espíritos que os iniciem sem parar em novos mistérios, sem se perguntarem se já se tornaram dignos de entrar nos segredos do Criador. São os espíritas imperfeitos, dos quais alguns ficam pelo caminho ou se afastam dos seus irmãos de fé, porque recuam diante da obrigação de se reformarem a eles próprios, ou então reservam as suas simpatias para aqueles que partilham as suas fraquezas ou as suas obstinações. Contudo, a aceitação do princípio da doutrina é o primeiro passo que lhes tornará o segundo mais fácil numa outra existência.”

ALLAN KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, CAPÍTULO XVII, SEDE PERFEITOS

A Verdadeira Propriedade

“O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Do que encontra ao chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece. Forçado, porém, que é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo, o que ninguém lhe pode arrebatar, o que lhe será de muito mais utilidade no outro mundo do que neste. Depende dele ser mais rico ao partir do que ao chegar, visto como, do que tiver adquirido em bem, resultará a sua posição futura. Quando alguém vai a um país distante, constitui a sua bagagem de objetos utilizáveis nesse país; não se preocupa com os que ali lhe seriam inúteis. Procedei do mesmo modo com relação à vida futura; aprovisionai-vos de tudo o de que lá vos possais servir. Ao viajante que chega a um albergue, bom alojamento é dado, se o pode pagar. A outro, de parcos recursos, toca um menos agradável. Quanto ao que nada tenha de seu, vai dormir numa enxerga. O mesmo sucede ao homem, a sua chegada no mundo dos Espíritos: depende dos seus haveres o lugar para onde vá. Não será, todavia, com o seu ouro que ele o pagará. Ninguém lhe perguntará: Quanto tinhas na Terra? Que posição ocupavas? Eras príncipe ou operário? Perguntar-lhe-ão: Que trazes contigo? Não se lhe avaliarão os bens, nem os títulos, mas a soma das virtudes que possua. Ora, sob esse aspecto, pode o operário ser mais rico do que o príncipe. Em vão alegará que antes de partir da Terra pagou a peso de ouro a sua entrada no outro mundo. Responder-lhe-ão: Os lugares aqui não se compram: conquistam-se por meio da prática do bem. Com a moeda terrestre, hás podido comprar campos, casas, palácios; aqui, tudo se paga com as qualidades da alma. És rico dessas qualidades? Sê bem-vindo e vai para um dos lugares da primeira categoria, onde te esperam todas as venturas. És pobre delas? Vai para um dos da última, onde serás tratado de acordo com os teus haveres.” - Pascal. (Genebra, 1860.

ALLAN KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, CAPÍTULO XVI, NÃO SE PODE SERVIR A DEUS E A MAMON, INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS 9.

Aliança da Ciência com a Religião

“A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral. Tendo, no entanto, essas leis o mesmo princípio, que é Deus, não podem contradizer-se. Se fossem a negação uma da outra, uma necessariamente estaria em erro e a outra com a verdade, porquanto Deus não pode pretender a destruição de sua própria obra. A incompatibilidade que se julgou existir entre essas duas ordens de ideias provém apenas de uma observação defeituosa e de excesso de exclusivismo, de um lado e de outro. Daí um conflito que deu origem à incredulidade e à intolerância.
São chegados os tempos em que os ensinamentos do Cristo têm de ser completados; em que o véu intencionalmente lançado sobre algumas partes desse ensino tem de ser levantado; em que a Ciência, deixando de ser exclusivamente materialista, tem de levar em conta o elemento espiritual e em que a Religião, deixando de ignorar as leis orgânicas e imutáveis da matéria, como duas forças que são, apoiando-se uma na outra e marchando combinadas, se prestarão mútuo concurso. Então, não mais desmentida pela Ciência, a Religião adquirirá inabalável poder, porque estará de acordo com a razão, já se lhe não podendo mais opor a irresistível lógica dos fatos.
A Ciência e a Religião não puderam, até hoje, entender-se, porque, encarando cada uma as coisas do seu ponto de vista exclusivo, reciprocamente se repeliam. Faltava com que encher o vazio que as separava, um traço de união que as aproximasse. Esse traço de união está no conhecimento das leis que regem o Universo espiritual e suas relações com o mundo corpóreo, leis tão imutáveis quanto as que regem o movimento dos astros e a existência dos seres. Uma vez comprovadas pela experiência essas relações, nova luz se fez: a fé dirigiu-se à razão; esta nada encontrou de ilógico na fé: vencido foi o materialismo. Mas, nisso, como em tudo, há pessoas que ficam atrás, até serem arrastadas pelo movimento geral, que as esmaga, se tentam resistir-lhe, em vez de o acompanharem. E toda uma revolução que neste momento se opera e trabalha os espíritos. Após uma elaboração que durou mais de dezoito séculos, chega ela à sua plena realização e vai marcar uma nova era na vida da Humanidade. Fáceis são de prever as consequências: acarretará para as relações sociais inevitáveis modificações, às quais ninguém terá força para se opor, porque elas estão nos desígnios de Deus e derivam da lei do progresso, que é lei de Deus.”

ALLAN KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, CAPÍTULO I, 8.

O Verdadeiro Espírita

”Aquele que podemos, com razão, classificar de verdadeiro e sincero espírita está num grau superior de evolução moral; o espírito que domina mais completamente a matéria dá-lhe uma percepção mais clara do futuro; os princípios da doutrina fazem vibrar nele as fibras que ainda estão mudas nos primeiros; em resumo, ele é tocado no coração; também a sua fé é inabalável. Um é como o músico que se maravilha com os seus acordes, enquanto o outro só ouve os sons. Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para dominar as suas más inclinações; enquanto um se satisfaz com os seus horizontes limitados, o outro, compreende algo mais, esforça-se para despegar-se deles, e quase sempre consegue quando tem uma vontade firme.”

ALLAN KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, CAPÍTULO XVII, SEDE PERFEITOS

Desigualdade das Riquezas

“…pergunta-se por que Deus a concede a pessoas incapazes de fazê-la frutificar para o bem de todos. Ainda aí está uma prova da sabedoria e da bondade de Deus. Dando-lhe o livre-arbítrio, quis ele que o homem chegasse, por experiência própria, a distinguir o bem do mal e que a prática do primeiro resultasse de seus esforços e da sua vontade. Não deve o homem ser conduzido fatalmente ao bem, nem ao mal, sem o que não mais fora senão instrumento passivo e irresponsável como os animais. A riqueza é um meio de o experimentar moralmente. Mas, como, ao mesmo tempo, é poderoso meio de ação para o progresso, não quer Deus que ela permaneça longo tempo improdutiva, pelo que incessantemente a desloca. Cada um tem de possuí-la, para se exercitar em utilizá-la e demonstrar que uso sabe fazer dela. Sendo, no entanto, materialmente impossível que todos a possuam ao mesmo tempo, e acontecendo, além disso, que, se todos a possuíssem, ninguém trabalharia, com o que o melhoramento do planeta ficaria comprometido, cada um a possui por sua vez. Assim, um que não na tem hoje, já a teve ou terá noutra existência; outro, que agora a tem, talvez não na tenha amanhã. Há ricos e pobres, porque sendo Deus justo, como é, a cada um prescreve trabalhar a seu turno. A pobreza é, para os que a sofrem, a prova da paciência e da resignação; a riqueza é, para os outros, a prova da caridade e da abnegação.”

ALLAN KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, CAPÍTULO XVI - NÃO SE PODE SERVIR A DEUS E A MAMON

No Invisível

“Encontram-se espíritas que nunca assistiram a uma experiência e nem sequer o desejam, mas afirmam ter sido empolgados pela simplicidade, beleza e evidência moral e religiosa dos ensinos espíritas (existências sucessivas, progresso indefinido da alma, etc.). Não se deve, pois, obscurecer o valor dessas crenças, valor incontestável, pois que inúmeras almas declaram nelas ter encontrado um elemento de vida e uma solução à alternativa entre a ortodoxia, de um lado, alguns de cujos dogmas repulsivos (como o das penas eternas), já não podiam admitir, e do outro lado às desoladoras negações do materialismo ateu.”
E, todavia, em que pese às observações do Senhor Flournoy, mesmo no campo espírita não têm escasseado as objeções. Entre os que são atraídos pelo aspecto científico do Espiritismo, alguns há que menosprezam a filosofia. É que para apreciar toda a grandeza da doutrina dos Espíritos é preciso ter sofrido. As pessoas felizes sempre são mais ou menos egoístas e não podem compreender que fonte de consolação contém essa doutrina. Podem interessar-lhes os fenômenos, mas para lhes atear a chama interior são necessários os frios sopros da adversidade. Só aos espíritos amadurecidos pela dor e a provação as verdades profundas se patenteiam em toda plenitude.”

No Invisível, Prefácio da edição de 1911, Léon Denis

Léon Denis

“/…Os que sabem perseverar, cedo ou tarde, encontram os sólidos e demonstrativos elementos em que se firmará uma convicção inabalável. Foi o meu caso. Desde logo me seduziu a doutrina dos Espíritos; as provas experimentais, porém, foram morosas. Só ao fim de dez ou quinze anos de pesquisa foi que se apresentaram irrecusáveis, abundantes. Agora encontro explicação para essa longa expectativa, para essas numerosas experiências coroadas de resultados incoerentes e, muitas vezes, contraditórios. Eu não estava ainda amadurecido para completa divulgação das verdades transcendentes. À medida, porém, que me adiantava na rota delineada, a comunhão com os meus invisíveis protetores se tornava mais íntima e profunda. Sentia-me guiado através dos embaraços e dificuldades da tarefa que me havia imposto. Nos momentos de provação, doces consolações baixavam sobre mim. Atualmente chego a sentir a freqüente presença dos Espíritos, a distinguir, por um sentido íntimo e seguríssimo, a natureza e a personalidade dos que me assistem e inspiram. Não posso, evidentemente, facultar a outrem as sensações intensas que percebo e que explicam a minha certeza do Além, a absoluta convicção que tenho da existência do mundo invisível. Por isso é que todas as tentativas por me desviar da minha senda têm sido e serão sempre inúteis. A minha confiança, a minha fé, é alimentada por manifestações cotidianas; a vida se me desdobrou numa existência dupla, dividida entre os homens e os Espíritos. Considero por isso um dever sagrado esforçar-me por difundir e tornar acessível a todos os conhecimentos das leis que vinculam a Humanidade da Terra à do Espaço e traçam a todas as almas o caminho da evolução indefinida.

Léon Denis , No Invisível, Prefácio da edição de 1911

Humanidade! Humanidade!

1009. Assim, as penas impostas jamais o são por toda a eternidade?

“Guerras de palavras! Guerras de palavras! Ainda não basta o sangue que tendes feito correr! Será ainda preciso que se reacendam as fogueiras? Discutem sobre palavras: eternidade das penas, eternidade dos castigos. Ignorais então que o que hoje entendeis por eternidade não é o que os antigos entendiam e designavam por esse termo? Consulte o teólogo as fontes e lá descobrirá, como todos vós, que o texto hebreu não atribuía esta significação ao vocábulo que os gregos, os latinos e os modernos traduziram por penas semfim, irremissíveis. Eternidade dos castigos corresponde à eternidade do mal. Sim, enquanto existir o mal entre os homens, os castigos subsistirão. Importa que os textos sagrados se interpretem no sentido relativo. A eternidade das penas é, pois, relativa e não absoluta. Chegue o dia em que todos os homens, pelo arrependimento, se revistam da túnica da inocência e desde esse dia deixará de haver gemidos e ranger de dentes. Limitada tendes, é certo, a vossa razão humana, porém, tal como a tendes, ela é uma dádiva de Deus e, com auxílio dessa razão, nenhum homem de boa-fé haverá que de outra forma compreenda a eternidade dos castigos. Pois que! Fora necessário admitir-se por eterno o mal. Somente Deus é eterno e não poderia ter criado o mal eterno; do contrário, forçoso seria tirar-se-Lhe o mais magnífico dos Seus atributos: o soberano poder, porquanto não é soberanamente poderoso aquele que cria um elemento destruidor de suas obras. Humanidade! Humanidade! Não mergulhes mais os teus tristes olhares nas profundezas da Terra, procurando aí os castigos. Chora, espera, expia e refugia-te na idéia de um Deus intrinsecamente bom, absolutamente poderoso, essencialmente justo." PLATÃO

ALLAN KARDEC, O Livro dos Espíritos, DAS PENAS E GOZOS FUTUROS

O Pai Vos Estende os Braços

1009. Assim, as penas impostas jamais o são por toda a eternidade?
“Aplicai-vos, por todos os meios ao vosso alcance, em combater, em aniquilar a idéia da eternidade das penas, idéia blasfematória da justiça e da bondade de Deus, gérmen fecundo da incredulidade, do materialismo e da indiferença que invadiram as massas humanas, desde que as inteligências começaram a desenvolver-se. O Espírito, prestes a esclarecer-se, ou mesmo apenas desbastado, logo lhe apreendeu a monstruosa injustiça. Sua razão a repele e, então, raro é que não englobe no mesmo repúdio a pena que o revolta e o Deus a quem a atribui. Daí os males sem conta que hão desabado sobre vós e aos quais vimos trazer remédio. Tanto mais fácil será a tarefa que vos apontamos, quanto é certo que todas as autoridades em quem se apóiam os defensores de tal crença evitaram todas pronunciar-se formalmente a respeito. Nem os concílios, nem os Pais da Igreja resolveram essa grave questão. Muito embora, segundo os Evangelistas e tomadas ao pé da letra as palavras emblemáticas do Cristo, ele tenha ameaçado os culpados com um fogo que se não extingue, com um fogo eterno, absolutamente nada se encontra nas suas palavras capaz de provar que os haja condenado eternamente. “Pobres ovelhas desgarradas, aprendei a ver aproximar-se de vós o bom Pastor, que, longe de vos banir para todo o sempre de sua presença, vem pessoalmente ao vosso encontro, para vos reconduzir ao aprisco. Filhos pródigos, deixai o vosso voluntário exílio; encaminhai vossos passos para a morada paterna. O Pai vos estende os braços e está sempre pronto a festejar o vosso regresso ao seio da família. LAMENNAIS.”

ALLAN KARDEC, O Livro dos Espíritos, DAS PENAS E GOZOS FUTUROS

A Cada Um Segundo as Suas Obras

1009. Assim, as penas impostas jamais o são por toda a eternidade?

“Interrogai o vosso bom-senso, a vossa razão e perguntai-lhes se uma condenação perpétua, motivada por alguns momentos de erro, não seria a negação da bondade de Deus. Que é, com efeito, a duração da vida, ainda quando de cem anos, em face da eternidade? Eternidade! Compreendeis bem esta palavra? Sofrimentos, torturas sem fim, sem esperanças, por causa de algumas faltas! O vosso juízo não repele semelhante idéia? Que os antigos tenham considerado o Senhor do Universo um Deus terrível, cioso e vingativo, concebe-se. Na ignorância em que se achavam, atribuíam à divindade as paixões dos homens. Esse, todavia, não é o Deus dos cristãos, que classifica como virtudes primordiais o amor, a caridade, a misericórdia, o esquecimento das ofensas. Poderia Ele carecer das qualidades, cuja posse prescreve, como um dever, às Suas criaturas? Não haverá contradição em se Lhe atribuir a bondade infinita e a vingança também infinita? Dizeis que, acima de tudo, Ele é justo e que o homem não Lhe compreende a justiça. Mas, a justiça não exclui a bondade e Ele não seria bom, se condenasse a eternas e horríveis penas a maioria das suas criaturas. Teria o direito de fazer da justiça uma obrigação para Seus filhos, se lhes não desse meio de compreendê-la? Aliás, no fazer que a duração das penas dependa dos esforços do culpado não está toda a sublimidade da justiça unida à bondade? Aí é que se encontra a verdade desta sentença: “A cada um segundo as suas obras”. SANTO AGOSTINHO.

ALLAN KARDEC, O Livro dos Espíritos, DAS PENAS E GOZOS FUTUROS