Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

domingo, 24 de julho de 2022

o grande desconhecido ~


O Problema das Mistificações
 
(II de II) 

Os adulteradores espíritas de Kardec mostraram-se de uma grande ignorância. O que fizeram com O Evangelho Segundo o Espiritismo é de estarrecer. Deformaram, cortaram, tornaram o texto lógico do mestre incongruente e contraditório. Não pouparam sequer as mais belas e poderosas frases de Jesus, como: Amai aos vossos inimigos, que reduziram a esta vergonha linguística: Amai aos que não vos amam. Das eloquentes mensagens de Lázaro extraíram as figuras expressivas e viris como: Nós vos faremos avançar com a dupla acção do freio e da espora, talvez por já estarem sentindo as esporas nas virilhas. Emacularam os textos, como se fossem eunucos destinados a servir nos haréns de velhos e trémulos sultões. 

Todas essas formas de mistificações, geralmente ao serviço de interesses humanos subalternos, estão presentes em todas as culturas e em todas as religiões, porque a mistificação é própria do homem, encarnado ou desencarnado. Na inferioridade visível e palpável do nosso mundo os mistificadores pululam no plano espiritual ligado à Terra e na crosta planetária. Nas escrituras sagradas de todas as correntes espiritualistas e de todas as religiões podemos encontrar e identificar diversos tipos de mistificação. Kardec foi o único a estabelecer um método seguro de prevenção das mistificações. Mas os mistificadores se servem da vaidade humana para se infiltrar nas instituições doutrinárias, onde sempre encontramos criaturas ansiosas por novidades que superem a obra do mestre. O Espiritismo é uma questão de bom senso, como escreveu Kardec, mas as criaturas insensatas estão por toda a parte. Precisamos manter constante vigilância nos nossos estudos para não cairmos nas mistificações que nos levam a deturpar e aviltar a doutrina. Bastaria um pouco de humildade para vermos, como ensina Kardec, a ponta de orelha do mistificador, que sempre aparece nos textos mentirosos ou ilusórios. A mistificação se alimenta de vaidade e pretensão, desse orgulho infantil a que não escapam nem mesmo pessoas ilustradas. Muitas vezes, pelo contrário, as pessoas ilustradas não passam de analfabetas ilustres, mais sujeitas, por sua vaidade pueril, à mistificação, do que as pessoas humildes, mas dotadas de bom senso. Kardec tem razão ao afirmar que o bom senso e a humildade são preservativos da mistificação. Nenhum espírito nos mistifica se nós mesmos já não estivermos mistificando-nos por vontade própria. 

Os médiuns dispõem de vários recursos para evitar as mistificações: orar e vigiar, manter a sua fé racional em Deus e nos Espíritos Superiores; confiar nos seus protectores espirituais; ler todos os dias pelo menos um trecho de O Evangelho Segundo o Espiritismo, manter a mente arejada e serena, sem temores inúteis; alimentar pensamentos altruístas, ou seja, em favor dos outros, evitando ideias de grandeza; rejeitar os Espíritos que lhes prometem revelações e os que pretendem contar-lhes o que foram em outras encarnações; afastar de sua mente qualquer ideia de maldade contra os outros; afugentar ódios e ressentimentos; não querer tornar-se anjos de um momento para o outro; viver como todas as criaturas pacíficas dignas, cumprindo os seus deveres sociais e morais, sem nunca se julgarem superiores aos outros; suportar as dificuldades da vida sem reclamações, dando mais atenção às necessidades dos outros do que às suas próprias; fazer todo o bem possível ao seu alcance, sem exageros e tendo sempre em vista que não devemos acocar-nos nem acocar os outros, pois todos temos de passar pelas experiências; evitar disputas sobre opiniões; não admitir interferências de dinheiro ou lucros de qualquer espécie nas suas actividades mediúnicas. Tudo isso se resume, como vemos, em caridade, humildade e honestidade. O médium ou espírita que seguir esses princípios estará vacinado contra a mistificação, desde que não se convença que estará livre de ser mistificado. A simples ideia de ter esse privilégio pode ser a porta que esqueceu aberta e pela qual a mistificação entrará com facilidade. 

O maior caso de mistificação, capaz de levar qualquer pessoa à fascinação, é a obra Os Quatro Evangelhos, de Jean-Baptiste Roustaing, que a Federação Espírita Brasileira tomou como fundamento da sua orientação doutrinária. A mistificação é tão evidente nessa obra que uma pessoa simples, mas de bom senso, logo se apercebe. Mas como se apoia nos resíduos mitológicos e místicos da nossa formação religiosa tradicional, continua a fazer as suas vítimas entre nós através dos anos. Nessa obra, Jesus é transformado num mistificador que fingiu nascer, mas não nasceu, fingiu mamar, mas não mamou, fingiu morrer na cruz mas não morreu; fingiu ressuscitar mas não ressuscitou, pois era um agénere, uma criatura não gerada, uma simples aparição tangível que combinou no espaço encontrar-se na Terra com Maria Madalena. E isso é apenas um pedaço mínimo do imenso ridículo em que essa obra das trevas procura mergulhar a Doutrina dos Espíritos Superiores. As obras de Ramatis constituem o segundo caso de mistificação no nosso movimento espírita, divergindo daquela em alguns pontos e apresentando outras novidades absurdas. A obra A Vida de Jesus Ditada por Ele Mesmo, recebida na Alemanha e completada na Argentina, onde existe uma instituição espírita para mantê-la, divulgá-la e defendê-la, é outro caso típico de mistificação em grande estilo, que tem iludido multidões de pessoas. Nessa obra vemos Jesus, nas suas memórias, prestar-nos um depoimento estranho sem princípio e sem fim e com a deformidade de um texto do Corto, de Maomé. Fala Jesus: “Meus irmãos, escutai o relato da minha vida terrestre como Messias.” A seguir o livro nos conta as primeiras peripécias de Jesus após a morte de José, seu pai, sua ida a Jerusalém e a entrega dos negócios da família em mãos estranhas. Jesus se diz o mais velho dos nove filhos de José e Maria. Descreve a vida tranquila que levava em Nazaré, mas lamenta que as suas ideias messiânicas o tenham levado para o caminho perigoso. Refere-se aos fundamentos da Ciência Kabalística que aprendeu, conta que após a morte do pai envolveu-se em Jerusalém com grupos subversivos e tornou-se agitador político. Nesse ritmo de estória à Jack London, o livro atinge a fase messiânica de Jesus. O auto-memorialista proclama: “A minha obra era santa, porque era a Obra do Pai; a minha missão não era de ódio, mas de amor.” Um livro mediúnico sem nenhuma base histórica, sem nada de novo quanto à interpretação da figura humana de Jesus, sem nenhuma marca da época, decalcado em situações actuais, desprovido da mínima verossimilhança e, que no entanto e apesar do seu volume de cerca de 400 páginas, não pesa em nada na balança da História. Mistificação evidente e sem defesa possível. Como podem espíritas ilustrados, inteligentes, perspicazes, aceitar esse relato de fraca imaginação como autobiografia do Cristo, do assombroso personagem histórico que transformou o mundo com as suas ideias, no vago registo das loggia, das anotações fragmentárias de seus ensinos morais, frases e expressões que balizaram o desenvolvimento humano a partir das suas prédicas? Essa é a glória da mistificação – fazer passar como verídicas as mais infundadas aberrações. Mas não se pense que o triunfo é da mistificação em si. Pelo contrário, é dos que se deixam mistificar, dos que desejam iludir-se e para isso alimentam o seu bom senso nas bancas de câmbio da imaginação. Essas criaturas ansiosas pelo maravilhoso, não encontrando o que desejam nas pesquisas e nos estudos sérios, aceitam emocionados os maiores absurdos. 

É um curioso mecanismo de compensação interior que leva os leitores dessas falsidades ingénuas a considerá-las como verídicas. O anseio de novidades maravilhosas é nelas mais poderoso do que a razão, que sabem aplicar nas coisas da vida diária, mas fracassam ao aplicá-las ao sonho, pois este exige a descoberta dos segredos a qualquer preço. É o mesmo caso das obsessões, em que o apego do obsedado ao obsessor é que dá forças a este para agir sobre aquele. O mesmo caso dos viciados, que embora conhecendo as consequências do vício, não podem abandoná-lo, pois sem ele a vida perderia em gosto e sentido. Uma face pouco ou nada conhecida dos processos esquizofrénicos. Uma área em que a Psicologia Espírita tem muito a trabalhar. 

Mas não é só no Espiritismo que isso acontece. A natureza é uma só em toda a parte. No Corão, de Maomé, a mistificação é tão transparente como no caso acima. O mistificador cobre as suas deficiências com o manto embriagador ou atordoante da fantasia. E serve-se de afirmações enfáticas, de frases altissonantes para melhor impressionar os que desejam ser enganados. Todo o génese bíblico se reveste desse mesmo aspecto. O episódio do nascimento de Jesus, no Corão, é ao mesmo tempo anedótico, pitoresco e impressionante. Maria recebe a anunciação do Anjo, que a manda fugir para o deserto. José foi inteiramente excluído dessa estória das Mil e Uma Noites em que um velho carpinteiro nada tinha a fazer. A jovem virgem foge da casa dos pais e dirige-se à tamareira solitária no meio do areal. Ali se deita e o Anjo lhe ensina como proceder. Ao mesmo tempo, faz correr um filete de água ao pé da tamareira. Quando tiver fome, basta-lhe sacudir a árvore e os frutos maduros caem. O menino nasce e o anjo a manda voltar para a casa. Lá, a família a repreende, mas ela tem o menino Jesus nos braços. Maria conta o que se passou e o menino recém-nascido o confirma. O espanto é geral e tudo se acomoda. A estória ingénua é simples ideação mistificadora, mas a palavra do Profeta é suficiente para transformá-la em realidade histórica. O Islã (Islão) nasceu do tronco bíblico, é uma espécie de sombra judaica projectada sobre a Arábia. As figuras bíblicas de Abraão, Isaac e Jacob aparecem deformadas nessa projecção. Era natural que Maria e Jesus também aparecessem assim. Mas temos nessa projecção conceptual uma espécie de intuição profética animitológica. O nascimento de Jesus sob uma tamareira no deserto devolve o acontecimento real à sua singeleza verdadeira. Resta o mito do Anjo Gabriel, mas este corresponde à realidade subjectiva da inspiração de Maomé. O facto de o menino Jesus falar precocemente não é mitológico, pois pode ser considerado na pauta da precocidade natural. É importante lembrar que o Islamismo revela maior tendência para a realidade figurada do que para o mito. A exclusão de José e os cuidados do Anjo com Maria parecem indicar o Anjo como o pai do menino, em lugar do Espírito Santo. Uma análise profunda desse episódio do Corão, que estabelece uma ligação genésica entre o Islamismo e o Cristianismo, pode revelar maiores significações na perspectiva histórica. A mistificação religiosa decorre muitas vezes de exigências lógicas num processo histórico de ocorrências complexas e cujas linhas se tornaram indefinidas no tempo. Esse é um problema de Para-história, nova área de interpretação histórica nascida das conquistas actuais da Parapsicologia e, que por isso mesmo interessa de perto aos espíritas. 

Maomé foi geralmente considerado como um mistificador, mas na verdade era um médium, um paranormal que, segundo Emmanuel, tinha a missão, em que fracassou, de forçar o retorno da Igreja de Roma à realidade histórica. O fracasso do Profeta Árabe decorreu do seu excessivo apego à matéria, em virtude de sua forte vitalidade. Por isso Dante o colocou no Inferno com o ventre rasgado e os intestinos saindo do ventre, condenação típica dos excessos de sensualidade. Todos estes elementos são importantes para uma reinterpretação do conjunto religioso-histórico formado pelo triângulo bíblico Judaísmo-Cristianismo-Islamismo. Cabe às instituições culturais espíritas, no futuro, analisar estes problemas referentes ao processo da evolução da humanidade terrena. O alfange (*) islâmico guarda ainda os segredos do Crescente Lunar, que podem ainda fazer mais luz do que o Sol sobre a condição humana. 

/… 
(*) Sabre de lâmina curta e larga, com o fio no lado convexo da curva. 


José Herculano Pires, Curso Dinâmico de Espiritismo, XVIII – O Problema das Mistificações, (II de II), 20º fragmento (II de II) desta obra. 
(imagem de contextualização: Somos as aves de fogo por sobre os campos celestes, acrílico de Costa Brites)  

terça-feira, 12 de julho de 2022

Léon Denis e o Cristianismo ~


Origem dos Evangelhos ~
 

  Há cerca de um século, consideráveis trabalhos empreendidos nos diversos países cristãos, por homens de elevada posição nas igrejas e nas universidades, permitiram reconstituir as verdadeiras origens e as fases sucessivas da tradição evangélica. 

  Foi, sobretudo, nos centros de religião protestante que se elaboraram esses trabalhos, notabilíssimos pela sua erudição e o seu carácter minucioso e, que tão vivas claridades projectaram sobre os primeiros tempos do Cristianismo, sobre o fundo, a forma, o alcance social das doutrinas do Evangelho. 

  São os resultados desses trabalhos que exporemos resumidamente aqui, sob uma forma que nos esforçaremos por tornar mais simples que a dos exegetas protestantes. 

  O Cristo nada escreveu. As suas palavras, disseminadas ao longo dos caminhos, foram transmitidas de boca em boca e, posteriormente, transcritas em diferentes épocas, muito tempo depois da sua morte. Uma tradição religiosa popular que se formou, pouco a pouco, tradição que sofreu constante evolução até ao século IV. 

  Durante esse período de trezentos anos, a tradição cristã nunca permaneceu estacionária, nem a si mesmo semelhante. Afastando-se do seu ponto de partida, através dos tempos e lugares, ela se enriqueceu e diversificou. Efectuou-se um poderoso trabalho de imaginação e; acompanhando as formas que revestiram as diversas narrativas evangélicas, segundo a sua origem, hebraica ou grega, foi possível determinar, com segurança, a ordem em que essa tradição se desenvolveu e, fixar a data e o valor dos documentos que a representam. 

  Durante perto de meio século depois da morte de Jesus, a tradição cristã, oral e viva, é qual água corrente em que qualquer um se pode saciar. A sua divulgação fez-se por meio da prédica, pelo ensino dos apóstolos, homens simples, iletrados (ii), mas iluminados pelo pensamento do Mestre. 

  Não é senão do ano 60 ao 80 que aparecem as primeiras narrações escritas, a de Marcos a princípio, que é a mais antiga, depois as primeiras narrativas atribuídas a Mateus e Lucas, todas, escritos fragmentários e que se vão acrescentar de sucessivas adições, como todas as obras populares (iii)

  Foi somente no fim do século I, de 80 a 98, que surgiu o evangelho de Lucas, assim como o de Mateus, o primitivo, actualmente perdido; finalmente, de 98 a 110, apareceu, em Éfeso (i), o evangelho de João

  Ao lado desses evangelhos, únicos depois reconhecidos pela Igreja, grande número de outros vinham à luz. Desses, são conhecidos actualmente uns vinte; mas, no século III, Orígenes citava-os em maior número. Lucas faz alusão a isso no primeiro versículo da obra que traz o seu nome. 

  Por que razão foram esses numerosos documentos declarados apócrifos e rejeitados? Muito provavelmente porque se haviam constituído num embaraço aos que, nos séculos II e III, imprimiram ao Cristianismo uma direcção que o devia afastar, cada vez mais, das suas formas primitivas e, depois de haver repelido mil sistemas religiosos, qualificados de heresias, devia ter como resultado a criação de três grandes religiões, nas quais o pensamento do Cristo jaz oculto, sepultado sob os dogmas e práticas devocionistas como em um túmulo (iv)

  Os primeiros apóstolos limitavam-se a ensinar a paternidade de Deus e a fraternidade humana. Demonstravam a necessidade da penitência, isto é, da reparação das nossas faltas. Essa purificação era simbolizada no baptismo, prática adoptada pelos essénios, dos quais os apóstolos assimilavam ainda a crença na imortalidade e na ressurreição, isto é, na volta da alma à vida espiritual, à vida do espaço. 

  Daí a moral e o ensino que atraíam numerosos prosélitos em torno dos discípulos do Cristo, porque nada continham que se não pudesse aliar a certas doutrinas pregadas no Templo e nas sinagogas. 

  Com Paulo e, depois dele, novas correntes se formam e surgem doutrinas confusas no seio das comunidades cristãs. Sucessivamente, a predestinação e a graça, a divindade do Cristo, a queda e a redenção, a crença em Satanás e no inferno, serão lançados nos espíritos e virão alterar a pureza e a simplicidade ao ensinamento do filho de Maria. 

  Esse estado de coisas vai continuar e agravar-se, ao mesmo tempo em que convulsões políticas e sociais hão de agitar a infância do mundo cristão. 

  Os primeiros Evangelhos transportam-nos à época perturbada em que a Judéia (i), sublevada contra os romanos, assiste à ruína de Jerusalém e à dispersão do povo judeu (ano 70). Foi no meio do sangue e das lágrimas que eles foram escritos e, as esperanças que traduzem parecem irromper de um abismo de dores, enquanto nas almas contristadas desperta o ideal novo; a aspiração de um mundo melhor, denominado “reino dos céus”, em que serão reparadas todas as injustiças do presente. 

  Nessa época, já todos os apóstolos haviam morrido, com excepção de João e Filipe; o vínculo que unia os cristãos era muito fraco ainda. Formavam grupos isolados, entre si e, que tomavam o nome de igrejas (ecclesia, assembleia), cada qual dirigido por um bispo ou vigilante escolhido electivamente. 

  Cada igreja estava entregue às próprias inspirações; apenas tinha para se dirigir uma tradição incerta, fixada em alguns manuscritos, que resumiam mais ou menos fielmente os actos e as palavras de Jesus e que cada bispo interpretava a seu talante. 

  Acrescentemos a estas tão grandes dificuldades as que provinham da fragilidade dos pergaminhos, numa época em que a imprensa era desconhecida; a falta de inteligência de certos copistas, todos os males que podem fazer nascer a ausência de direcção e de crítica e, facilmente compreenderemos que a unidade de crença e de doutrina não tenha podido manter-se em tempos assim tormentosos. 

  Os três Evangelhos sinópticos (v) encontram-se fortemente impregnados do pensamento judeu-cristão, dos apóstolos, mas já o evangelho de João se inspira em influência diferente. Nele se encontra um reflexo da filosofia grega, rejuvenescida pelas doutrinas da Escola de Alexandria (i)

  Nos fins do século I, os discípulos dos grandes filósofos gregos tinham aberto escolas em todas as cidades importantes do Oriente. Os cristãos estavam em contacto com eles e frequentes discussões se travavam entre os partidários das diversas doutrinas. Os cristãos, arrebanhados nas classes inferiores da população, pouco letrados na sua maior parte, estavam mal preparados para essas lutas do pensamento. Por outro lado, os teóricos gregos sentiram-se impressionados pela grandeza e elevação moral do Cristianismo. Daí uma aproximação, uma penetração das doutrinas, que se produziu em certos pontos. O Cristianismo nascente sofria, pouco a pouco, as influências gregas, que o levava a fazer do Cristo, o verbo, o Logos (i) de Platão

/… 
(ii) Exceptuado Paulo, versado nas letras. 
(iii) Sabatier, director da secção dos Estudos superiores, na Sorbonne, "Os Evangelhos Canónicos", pág. 5. A Igreja sentiu a dificuldade em encontrar novamente os verdadeiros autores dos Evangelhos. Daí a fórmula por ela adoptada: vanfelho segundo... 
(iv) Ver notas complementares nºs 23 e 4 (← links para aceder às notas), no fim do volume. 
(v) São assim designados os de Marcos, Lucas e Mateus. 


Léon Denis (1846-1927) (i)Cristianismo e Espiritismo, Título Original em Francês; Léon Denis - Christianisme et Spiritisme, Librairie des Sciences Psychiques, Paris (1898). – Origem dos Evangelhos, 2º fragmento desta obra. 
(imagem de contextualização: Paraíso Perdido, estudo do Anjo, lápis e giz de Alexandre Cabanel)