Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...
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terça-feira, 6 de agosto de 2024

o problema do | ser


(Quem sou... o que faço aqui... de onde vim... para onde vou...)

Manifestações depois da morte ~

(por Léon Denis)

Acabámos de seguir o espírito do homem através das diferentes fases do desprendimento: o sono ordinário, o sono magnético, o sonambulismo, a transmissão do pensamento e a telepatia, em todas as suas formas. Vimos a sua sensibilidade e os seus meios de percepção aumentarem na razão do afrouxamento dos laços que o prendem ao corpo. Vamos agora vê-lo no estado de liberdade absoluta, isto é, depois da morte, manifestando-se ao mesmo tempo física e intelectualmente aos seus amigos da Terra. Não há solução de continuidade entre estes diferentes estados psíquicos. Quer estes fenómenos se dêem durante a vida material ou depois, são idênticos nas suas causas, nas suas leis e nos seus efeitos; produzem-se segundo modos constantes.

Há continuidade absoluta e graduação entre todos estes factos, desvanecendo-se assim a noção de sobrenatural, que por muito tempo os tornou suspeitos à Ciência. O antigo adágio: “A Natureza não dá saltos” verifica-se mais uma vez. A morte não é um salto: é a separação e não a dissolução dos elementos que constituem o homem terrestre; é a passagem do mundo visível ao mundo invisível, cuja delimitação é puramente arbitrária e devida simplesmente à imperfeição dos nossos sentidos. A vida de cada um de nós no Além é o prolongamento natural e lógico da vida actual, o desenvolvimento da parte invisível do nosso ser. Há concatenação no domínio psíquico, como no domínio físico.

Nas duas ordens de aparições, quer dos vivos exteriorizados, quer dos defuntos, é sempre, como vimos, a forma fluídica, o veículo da alma, a reprodução ou, antes, o esboço do corpo físico, que se concretiza e se torna perceptível para os sensitivos. A Ciência, depois dos trabalhos de BecquerelCurieLe Bon, etc., familiariza-se de dia para dia com os estados subtis e invisíveis da matéria, numa palavra, com os fluidos utilizados pelos Espíritos nas suas manifestações, e que os espíritas bem conhecem. Graças às descobertas recentes, a Ciência se pôs em contacto com um mundo de elementos, de forças, de potências, cuja existência nem sequer imaginava, e mostrou-se-lhe afinal a possibilidade de formas de existência durante muito tempo ignoradas.

Os sábios que estudaram o fenómeno espírita, Sir William CrookesRussel WallaceRobert Dale OwenAksakofOliver LodgePaul GibierMyers, etc., verificaram numerosos casos de aparições de pessoas mortas. O Espírito Katie King, que durante três anos se materializou (i) em casa de Sir W. Crookes, membro da Academia Real de Londres, foi fotografado em 26 de Março de 1874, na presença de um grupo de experimentadores. (ii)

Sucedeu o mesmo com os Espíritos Abdullah e John King, fotografados por Aksakof. O académico R. Wallace e o Dr. Thompson obtiveram a fotografia espírita de suas respectivas mães, falecidas havia muitos anos. (iii)

Myers fala de 231 casos de aparições de pessoas mortas. Cita alguns tirados dos Phantasms(iv) Assinalemos nesse número uma aparição anunciando uma morte iminente: (v)

“Um caixeiro viajante, homem muito saudável, teve certa manhã a visão de uma sua irmã que falecera havia nove anos. Quando contou o caso à família, foi ouvido com incredulidade e cepticismo; mas, ao descrever a visão, mencionou a existência de uma arranhadura na face da irmã. Essa particularidade de tal maneira impressionou sua mãe, que ela caiu desmaiada. Depois que voltou a si, contou que fora ela que, sem querer, fizera essa arranhadura à filha, no momento em que a depunha no caixão; que, em seguida, para disfarçar, cobrira-a com pós, de modo que ninguém no mundo estava a par dessa particularidade. O sinal que o seu filho vira, pois, prova a veracidade da visão e ela viu nele ao mesmo tempo o anúncio da sua morte que, efectivamente, sobreveio algumas semanas depois.” (vi)

Devem ser citados igualmente os casos seguintes: o de um mancebo que se comprometera, se morresse primeiro, a aparecer a uma donzela, sem lhe causar grande susto. Apareceu efectivamente um ano depois à irmã dela, no momento em que ia subir para uma carruagem; (vii) o caso do Sr. Town, cuja imagem foi vista por seis pessoas; (viii) o caso da Sra. de Fréville, que gostava de frequentar o cemitério e passear em volta da campa do marido e aí foi vista, sete ou oito horas depois do seu falecimento, por um jardineiro que por ali passava; (ix) o de um pai de família, falecido em viagem e que apareceu à filha com um vestuário desconhecido que, depois de morto, uns estranhos lhe haviam vestido. Falou-lhe de uma quantia que ela ignorava estar em seu poder. A exactidão desses dois factos foi reconhecida ulteriormente; (x) o caso de Edwin Russell, que se fez visível ao seu mestre de capela com a preocupação das obrigações e compromissos contraídos durante a vida. (xi) Finalmente, o caso de Robert Mackenzie. Quando ainda o patrão ignorava a sua morte, apareceu-lhe ele para se desculpar de uma acusação de suicídio que pesava sobre a sua memória. Foi reconhecida a falsidade dessa acusação, por ter sido acidental a sua morte. (xii)

Na memória apresentada ao Congrès International de Psychologie de Paris, em 1900, o Dr. Paul Gibier, director do Instituto Pasteur de Nova Iorque, fala das “materializações de fantasmas” (xiii) obtidas por ele no seu próprio laboratório, na presença de muitas senhoras da sua família e dos preparadores que habitualmente o auxiliavam nos seus trabalhos de biologia. As ditas senhoras tinham especialmente o encargo de vigiar a médium, Sra. Salmon, despi-la antes da sessão para lhe examinarem os vestidos, sempre pretos, ao passo que os fantasmas apareciam de branco. Por excesso de precaução, metiam a médium dentro de uma gaiola metálica fechada com cadeado e, durante as sessões, o Dr. Gibier não largava a chave.

Foi nessas condições que se produziram, à meia-luz, formas numerosas, talhes diferentes, desde aparições de crianças até fantasmas de alta estatura. A formação é gradual, opera-se à vista dos assistentes. As formas falam, passam de um lado para o outro, apertam as mãos dos experimentadores. “Interrogadas – diz Paul Gibier –, declaram todas ser entidades, pessoas que viveram na Terra, Espíritos desencarnados, cuja missão é nos mostrarem a existência da outra vida.”

A identidade de um desses Espíritos foi estabelecida com precisão: a de uma entidade chamada Blanche, uma familiar falecida de duas senhoras que assistiam às sessões, as quais puderam abraçá-la repetidas vezes e conversar com ela em francês, língua ignorada da médium.

No congresso espiritualista realizado no mesmo ano em Paris, na sessão de 23 de Setembro, o Dr. Bayol, senador das Bocas do Ródano, ex-governador de Dahomey, expunha verbalmente os fenómenos de aparição dos quais foi testemunha em Arles e Eyguières. O fantasma de Acella, donzela romana, cujo túmulo está em Arles, no antigo cemitério de Aliscamps, materializou-se ao ponto de deixar uma impressão do seu rosto em parafina fervente, não em entalhe, como se produzem habitualmente as moldagens, mas em relevo, o que seria impossível a qualquer ser vivo. Essas experiências, cercadas de todas as precauções necessárias, efectuaram-se na presença de personagens tais como o prefeito das Bocas do Ródano, o poeta Mistral, um general de Divisão, médicos, advogados, etc. (xiv)

Numa acta, com a data de 11 de Fevereiro de 1904, publicada pela Revue des Études Psychiques, de Paris, (xv) o Prof. Milèsi, da Universidade de Roma, “um dos campeões mais estimados da nova escola psicológica italiana”, conhecido na França pelas suas conferências na Sorbonne sobre a obra de Auguste Comte, deu testemunho público da realidade das materializações (i) de Espíritos, entre outras a de sua própria irmã falecida em Cremona havia três anos.

Damos aqui um extracto dessa acta:

“O que de mais maravilhoso houve nessa sessão foram as aparições, que eram de natureza luminosa, posto que se produzissem na meia claridade. Foram em número de nove; todos os assistentes as viram... As três primeiras foram as que reproduziram as feições da irmã do Prof. Milèsi, falecida havia três anos em Cremona, no convento das Filhas do Sacré-Coeur, com a idade de 32 anos. Apareceu sorridente, com o esquisito sorriso que lhe era habitual. Do mesmo modo o Sr. Squanquarillo viu uma aparição, na qual reconheceu a sua mãe. Foi a quarta. As cinco restantes reproduziam as feições dos dois filhos do Sr. Castoni. Este afirma ter sido abraçado pelos filhos. Ter conversado com eles várias vezes, ter recebido respostas suas e apertos de mãos; sentiu-os, mesmo, sentarem-se nos seus joelhos.” Assinaram J. B. Milèsi, P. Cartoni, F. Simmons, J. Squanquarillo, etc.

No seu artigo do Figaro de 9 de Outubro de 1905, intitulado: Par delà la ScienceCharles Richet, da Academia de Medicina de Paris, dizia, a propósito de outros fenómenos da mesma ordem: “O mundo oculto existe. Correndo embora o risco de ser tido pelos meus contemporâneos como insensato, creio que há fantasmas.”

O célebre Prof. Lombroso, da Universidade de Turim, no número de Junho de 1907 da revista italiana Arena, expõe o resultado das suas experiências com Eusápia Paladino: fenómenos de levitação, transportes de flores, etc. e acrescenta:

“O leitor vai interpelar-me com compaixão e perguntar-me: “Não se deixou simplesmente ludibriar por farsantes vulgares?” O facto indiscutível é que com Eusápia se tomaram as medidas de precaução mais absolutamente rigorosas contra a possibilidade de qualquer fraude, ligavam-se-lhe as mãos e os pés, ficando uns e os outros cercados por um fio eléctrico que, ao menor movimento, accionava uma campainha. O médium Politi foi, na Sociedade de psicologia de Milão, metido nu em pêlo, num saco, e a Sra. d’Espérance ficou imobilizada numa rede como um peixe e, não obstante, os fenómenos produziram-se.

Depois de tudo isso assisti ainda a sessões em que Eusápia Paladino em transe dava respostas exactas e muito sensatas em línguas que ela não conhecia, como, por exemplo, o inglês. Juntando a esses factos pessoais tudo o que soube das experiências de Crookes com Home e Katie King, das do médium alemão que fazia às escuras as mais curiosas pinturas, adquiri a convicção de que os fenómenos espíritas se explicam, em grande parte, por forças inerentes ao médium e também, por outro lado, pela intervenção de seres supraterrestres, que dispõem de forças das quais as propriedades do radium podem dar uma ideia, por analogia.

...Um dia, depois do transporte, sem contacto, de um objecto muito pesado, Eusápia, em estado de transe, disse-me: “Por que estás a perder o tempo com bagatelas? Sou capaz de fazer com que vejas a tua mãe; mas é necessário que penses nisso com veemência.” Impulsionado por essa promessa, ao fim de meia hora de sessão, tomou-me o desejo intenso de vê-la cumprir-se e a mesa, levantando-se com os seus movimentos habituais e sucessivos, parecia dar a sua anuência ao meu pensamento íntimo. De repente, na meia obscuridade, à luz vermelha, vi sair dentre as cortinas uma forma um tanto curvada, como era a de minha mãe, coberta com um véu. Contornou a mesa para chegar até mim, murmurando palavras que muitos ouviram, mas que a minha meia-surdez não me permitiu escutar. Como, sob a influência de uma viva emoção, eu lhe suplicava que as repetisse, ela me disse: “Cœsar, fiol mio!” o que, confesso, não era costume seu, visto que, sendo de Veneza, dizia mio fiol; depois, afastando o véu, deu-me um beijo.”

Lombroso fala, depois, das casas mal-assombradas e diz:

“Convém acrescentar que os casos de casas em que, durante anos, se reproduzem aparições ou barulhos, concordando com a narrativa de mortes trágicas e observadas sem a presença de médiuns, rivalizam contra a acção exclusiva destes em favor da acção dos mortos.” (xvi)

No Grupo de estudos que por muito tempo dirigi em Tours, os médiuns descreviam aparições de defuntos visíveis apenas a eles, é verdade, mas que nunca haviam conhecido, de quem nunca tinham visto nenhum retrato, ouvido fazer nenhuma descrição, e que os assistentes reconheciam pelas suas indicações.

Às vezes os Espíritos materializam-se ao ponto de poderem escrever, na presença de pessoas humanas e à sua vista, mensagens numerosas, que ficam como outras tantas provas da sua passagem. Foi o que se deu com a mulher do banqueiro Livermore, cuja letra foi reconhecida como idêntica à que ele tinha durante a sua existência terrestre; (xvii) mas, muito mais frequentes vezes, os Espíritos se incorporam no invólucro (corpo) de médiuns adormecidos, falam, escrevem, gesticulam, conversam com os assistentes e lhes fornecem provas certas da sua identidade.

Nesses fenómenos, o médium abandona momentaneamente o corpo; a substituição é completa. A linguagem, a atitude, a letra e o jogo de fisionomia são os de um Espírito estranho ao organismo de que dispõe por algum tempo.

Os factos de incorporação da Sra. Piper, minuciosamente observados e comprovados pelo Dr. Hodgson e pelos Profs. James HyslopWilliam James, Newbold, Oliver Lodge e Myers, constituem o complexo de provas mais poderoso em favor da sobrevivência. (xviii) A personalidade de G. Pelham revelou-se, post mortem, aos seus próprios parentes, a seu pai, a sua mãe, aos seus amigos de infância, cerca de trinta vezes, a tal ponto que não deixou dúvida alguma no espírito deles acerca da causa destas manifestações.

Sucedeu o mesmo com o Prof. Hyslop, que, tendo feito ao Espírito do seu pai 205 perguntas sobre assuntos que ele mesmo ignorava, obteve 152 respostas absolutamente exactas, 16 inexactas e 37 duvidosas, por não poderem ser verificadas. Essas verificações foram feitas no decurso de numerosas viagens efectuadas através dos Estados Unidos para se chegar a conhecer minuciosamente a história da família Hyslop, antes do nascimento do professor, história a que essas perguntas se referiam.

Os Annales des Sciences Psychiques de Paris, Julho de 1907, lembram o seguinte facto, que igualmente se produziu na América no ano de 1860:

“O grande juiz Edmonds, presidente do Supremo Tribunal de Justiça do Estado de Nova Iorque, presidente do Senado dos Estados Unidos, tinha uma filha, Laura, em quem surgiu uma mediunidade com fenómenos espontâneos, que se produziram em volta dela e não tardaram a despertar a sua curiosidade, de tal modo, que começou a frequentar sessões espíritas. Foi então que ela se tornou médium-falante. Quando nela se manifestava outra personalidade, Laura falava por vezes diferentes línguas que ignorava.

Numa noite, em que uma dúzia de pessoas estavam reunidas em casa do Sr. Edmonds, em Nova Iorque, o Sr. Green, artista nova-iorquino, veio acompanhado por um homem que ele apresentou com o nome do Sr. Evangelides, da Grécia. Não tardou a manifestar-se na Senhorita Laura uma personalidade, que falava, em inglês, ao visitante e lhe comunicou grande número de factos tendentes a provar que a personalidade era a de um amigo falecido em casa dele, havia muitos anos, mas de cuja existência nenhuma das pessoas presentes tinha conhecimento. Por momentos intercalares a donzela pronunciava palavras e frases inteiras em grego, o que deu ensejo a que o Sr. Evangelides lhe perguntasse se podia falar em grego. Ele falava efectivamente com dificuldade o inglês. A conversa continuou em grego da parte de Evangelides e alternativamente em grego e inglês da parte da Srta. Laura. Momentos houve em que Evangelides parecia muito comovido. No dia seguinte renovou a sua conversa com a Srta. Laura, depois explicou aos assistentes que a personalidade invisível, que parecia manifestar-se com a intervenção da médium, era a de um dos seus amigos íntimos, falecido na Grécia, irmão do patriota grego Marc Bótzaris. Esse amigo informava-o da morte de um filho seu, também de nome Evangelides, que ficara na Grécia e passava bem no momento em que o seu pai partira para a América.

Evangelides voltou a estar com o Sr. Edmonds várias vezes ainda e, dez dias depois da sua primeira visita, informou-o de que acabava de receber uma carta participando-lhe a morte do seu filho. Essa carta devia vir a caminho quando se realizou a primeira conversa do Sr. Evangelides com a Srta. Laura.

“Estimaria – disse o juiz Edmonds a esse respeito – que me dissessem como devo encarar este facto. Negá-lo é impossível; é demasiado flagrante. Também então podia negar que o Sol nos ilumina.”

Isto passou-se na presença de oito a dez pessoas, todas instruídas, inteligentes, discretas e também todas capazes de fazerem a distinção entre uma ilusão e um facto real.” (xix)

O Sr. Edmonds informou-nos que a sua filha não tinha ouvido até então uma única palavra em grego moderno. Acrescentou que noutras ocasiões ela chegou a falar mais de treze línguas diferentes, entre as quais o polaco e o indiano, quando, no seu estado normal, apenas sabia inglês e francês, este último como se pode aprender na escola. É preciso notar que o Sr. J. W. Edmonds não é uma personalidade qualquer. Nunca lhe puseram em dúvida a perfeita integridade do seu carácter e as suas obras provam a sua luminosa inteligência.

Fenómenos da mesma ordem foram muitas vezes obtidos na Inglaterra. Citemos, neste número, uma manifestação do célebre Prof. Sidgwick pelo organismo da Sra. Thompson, adormecida. Figura nos Proceedings. O Sr. Piddington, secretário da Sociedade, testemunha do facto, redigiu um relatório que foi lido na sessão de 7 de Dezembro de 1903. Fez circular de mão em mão, entre os assistentes, diferentes escritos automáticos, nos quais os amigos e parentes de Sidgwick, o eminente psicólogo que foi o primeiro presidente da Sociedade, reconheceram a sua letra. Ao menos uma vez Sidgwick ter-se-ia esforçado por falar pela boca da Sra. Thompson. O Senhor Piddington descreveu esta cena como a experiência mais realista e impressionante que se encontra em todo o curso das suas investigações. “Não era, diz ele, como se tivesse sido Sidgwick; era ele realmente, ao que se podia julgar.” A personalidade de Sidgwick fez alusão, entre outras coisas, a um incidente que se dera numa das reuniões do Conselho de direcção da Society, “e do qual, se pode dizer com certeza quase absoluta, a Sra. Thompson não podia ter conhecimento”. Uma das pessoas que assistiam à sessão, membro do Conselho de direcção, o Sr. Arthur Smith, levantou-se para dizer que se lembrava muito bem daquela circunstância. (xx)

Relataremos ainda um fenómeno de comunicação durante o sono, obtido pelo Sr. Chedo Mijatovitch, ministro plenipotenciário da Sérvia, em Londres, e reproduzido pelos Annales des Sciences Psychiques, de 1 e 16 de Janeiro de 1910.

“A pedido de espíritas húngaros, para que se pusesse em relação com um médium, a fim de elucidar um ponto da História a respeito de um antigo soberano sérvio, morto em 1350, dirigiu-se à casa do Sr. Vango, de quem muito se falava nessa época e a quem nunca tinha visto até então. Adormecido, o médium anunciou a presença do Espírito de um jovem, ansioso por se fazer ouvir, mas de quem não compreendia a linguagem. No entanto, acabou conseguindo reproduzir algumas palavras.

Elas eram em sérvio, sendo esta a tradução: “Peço-te escrevas à minha mãe Nathalie, dizendo-lhe que imploro o seu perdão.”

O Espírito era o do rei Alexandre.

Chedo Mijatovitch não duvidou, ainda mais quando novas provas de identidade logo se juntaram à primeira: o médium fez a descrição do defunto e este mostrou o seu pesar por não ter seguido um conselho confidencial que lhe havia dado, dois anos antes de ser assassinado, o diplomata consultante.”

Na França, entre um certo número de casos, assinalaremos o do abade Grimaud, director do asilo dos surdos-mudos de Vaucluse. Por meio dos órgãos da Sra. Gallas, adormecida, recebeu, do Espírito Forcade, falecido havia oito anos, uma mensagem pelo movimento silencioso dos lábios, de acordo com um método especial para surdos-mudos, que este Espírito inventara, comunicado ao abade Grimaud, venerável eclesiástico, que era o único dos assistentes que podia conhecê-lo. Há pouco tempo que publicámos a acta dessa notável sessão com as assinaturas de doze testemunhas e o atestado do abade Grimaud. (xxi)

O Sr. Joseph Maxwell, advogado geral no Tribunal de Apelação de Bordéus e doutor em Medicina, na sua obra Phénomènes Psychiques (xxii) estuda o fenómeno das incorporações, que observou em casa da Sra. Agullana, esposa de um estucador, e assim se exprime:

“A personalidade mais curiosa é a de um médico falecido há cem anos. A sua linguagem médica é arcaica. Dá às plantas os nomes medicinais antigos. O seu diagnóstico é geralmente exacto; mas, a descrição dos sintomas internos que ele vê é bem própria a causar admiração a um médico do século XX... Há dez anos que observo o meu colega do além-túmulo. Não tem variado e apresenta uma continuidade lógica surpreendente."

Eu mesmo observei frequentes vezes este fenómeno. Pude, como noutra obra expus; (xxiii) conversar por intermédio de diversos médiuns, com muitos parentes e amigos falecidos, obter indicações que estes médiuns não conheciam e que, para mim, constituíam outras tantas provas de identidade. Se levarmos em conta as dificuldades que comportam a comunicação de um Espírito a ouvintes humanos, por meio de um organismo e, particularmente, de um cérebro que ele não apropriou, a que não deu flexibilidade mediante uma longa experiência; se considerarmos que, em razão da diferença dos planos de existência, não pode exigir-se de um desencarnado todas as provas que a um homem material se pediria, é preciso reconhecer que o fenómeno das incorporações é um dos que mais concorrem para demonstrar a espiritualidade e o princípio da sobrevivência.

Não se trata, nestes casos, de uma simples influência à distância. Há um impulso a que o sujet não pode resistir e que na maior parte das vezes se transforma na tomada de posse do organismo inteiro. Este fenómeno é análogo ao que verificamos nos casos de segunda personalidade. Neste, o “eu” profundo substitui o “eu” normal e toma a direcção do corpo físico, com um fim de fiscalização e regeneração. Mas, aqui é um Espírito estranho que desempenha esse papel e substitui a personalidade do médium adormecido.

As palavras possessão ou posse, de que acabamos de nos servir, foram muitas vezes tomadas em sentido lamentável.

Atribuía-se no passado aos factos que elas designam um carácter diabólico e terrificante, como muito bem disse Myers(xxiv) “O diabo não é uma criatura desconhecida pela Ciência. Nestes fenómenos encontramo-nos somente na presença de Espíritos que foram outrora homens semelhantes a nós e que estão sempre animados dos mesmos motivos que nos inspiram.”

A esse propósito Myers faz uma pergunta: “É a possessão algumas vezes absoluta?”... e responde nestes termos: “A teoria que diz que nenhuma das correntes conhecidas da personalidade humana esgota toda a sua consciência e que nenhuma das suas manifestações conhecidas exprime toda a potencialidade do seu ser, pode igualmente aplicar-se aos homens desencarnados.” (xxv)

Com isso abordaríamos o ponto central do problema da vida humana, a mola secreta, a acção íntima e misteriosa do Espírito sobre um cérebro, quer sobre o seu, quer, nos casos de que nos ocupamos, sobre um cérebro estranho.

Considerada sob esse aspecto, a questão toma importância capital em Psicologia. Myers acrescenta: (xxvi)

“Com o auxilio destes estudos, as comunicações cada vez se tornarão mais fáceis, completas, coerentes, e atingirão níveis mais elevados de consciência unitária. Grandes e numerosas devem ter sido as dificuldades; mas nem de outro modo pode ser quando se trata de reconciliar o espírito com a matéria e de abrir ao homem, do planeta onde está encarcerado, uma fresta para o mundo espiritual...

Assim como, pela clarividência migratória (Myers chama assim à clarividência dos sonâmbulos), o Espírito muda de centro de percepção, no meio das cenas do mundo material, assim também há transmissões espontâneas do centro de percepção para as regiões do mundo espiritual. A concepção do êxtase, no seu sentido mais literal e sublime, resulta assim, sem esforço, quase insensivelmente, de uma série de provas modernas.

Em todas as épocas se tem concebido o Espírito como susceptível de deixar o corpo ou, se não o deixa, de estender consideravelmente o seu campo de percepção, fazendo nascer um estado que se parece com o êxtase. Todas as formas conhecidas de êxtase concordam neste ponto e se baseiam num facto real.”

Vê-se que, graças a experiências, a observações, a testemunhos mil vezes repetidos, a existência e a sobrevivência da alma saem doravante do domínio da hipótese ou da simples concepção metafísica, para se converterem em realidade viva, em facto rigorosamente averiguado. O sobrenatural tocou o fim dos seus dias; o milagre já não passa de uma palavra. Todos os terrores, todas as superstições que a ideia da morte sugeria aos homens se desfazem em fumo. Dilata-se a nossa concepção da vida universal e da obra divina e, ao mesmo tempo, a nossa confiança no futuro fortifica-se. Vemos nas formas alternadas da existência carnal e fluídica o progresso do ser, o desenvolvimento da personalidade a prosseguir e uma Lei Suprema a presidir à evolução das almas através do tempo e do espaço.

/…
(ii) Ver W. Crookes (i) – Recherches sur les Phénomènes du Spiritisme.
(iii) Aksakof (i) – Animismo e Espiritismo, págs. 620 e 621.
(iv) F. Myers (i) – La Personnalité Humaine, pág. 268.
(v) Idem, pág, 280.
(vi) Há necessidade de fazer notar que o Espírito quis aparecer com esse “arranhão” somente para dar, por esse meio, uma prova da sua identidade. O mesmo se dá em muitos dos casos que se vão seguir, em que Espíritos se mostraram com trajes ou atributos que constituíam outros tantos elementos de convicção para os percipientes.
(vii) Proceedings, X, 284.
(viii) Idem, X, 292.
(ix) Phantasms of the Living, I, 212.
(x) Proceedings, X, 283.
(xi) Proceedings, VIII, 214.
(xii) Proceedings, II, 95.
(xiii) Ver Compte rendu officiel du IV Congrès de Psychologle, Paris, F. Alcan, Fevereiro de 1901, reproduzido in extenso pelos Annales des Sciences Psychiques (i).
(xiv) Ver Compte rendu du Congrès Spiritualiste International de 1900 (i), pág. 241 e seguintes. Leymarie, editor.
(xv) Número de Março de 1904.
(xvi) Recomendamos a leitura da obra Hipnotismo e Mediunidade, de Lombroso (i). (N.E.)
(xvii) Ver Aksakof – Animismo e Espiritismo, págs. 620 e 631.
(xviii) Ver o caso de Mrs. Piper. Proceedings, XIII, 284 e 285; XIV, 6 e 49, resumidos na minha obra No Invisível, cap. XIX.
(xix) Havia, entre outras pessoas, Mr. Green, artista; o Sr. Allen, presidente do Banco de Boston; dois empreiteiros dos caminhos de ferro nos Estados do Oeste; Miss Jennie Keyer, sobrinha do juiz Edmonds, etc.
(xx) Revue des Etudes Psychiques (i), Paris, Janeiro de 1904.
(xxi) Ver No Invisível, cap. XIX.
(xxii) Phénomènes Psychiques (i), pág. 26.
(xxiii) No Invisível, caps. VIII, XIX e XX; Cristianismo e Espiritismo, cap. XI.
(xxiv) F. Myers – La Personnalité Humaine, pág. 369.
(xxv) F. Myers – La Personnalité Humaine, pág. 297.
(xxvi) Idem, ibidem.


Léon Denis, O Problema do Ser, do Destino e da Dor, Primeira Parte O Problema do Ser, VII – Manifestações depois da morte, 8º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: Sin título (detalhe), de uma pintura atribuída a Josefina Robirosa)

quarta-feira, 31 de maio de 2023

o problema do | ser


(Quem sou... o que faço aqui... de onde vim... para onde vou...) 

A alma e os diferentes estados do sono 

O estudo do sono fornece-nos indicações de grande importância sobre a natureza da personalidade. Em geral não se aprofunda muito o mistério do sono. O exame atento desse fenómeno, o estudo da alma e da sua forma fluídica durante a parte da existência que consagramos ao descanso, conduzir-nos-ão a uma compreensão mais alta das condições do ser na vida do Além. 

O sono possui não só propriedades restauradoras que a Ciência não pôs em devido relevo, mas também um poder de coordenação e centralização sobre o organismo material. Pode, além disso, acabamos de o ver, provocar uma ampliação considerável das percepções psíquicas, maior intensidade do raciocínio e da memória. 

O que é então o sono? 

É simplesmente o desprendimento da alma, que sai do corpo. Diz-se: o sono é irmão da morte. Estas palavras exprimem uma verdade profunda. Sequestrada na carne no estado de vigília, a alma recupera, durante o sono, a sua liberdade relativa, temporária e, ao mesmo tempo o uso dos seus poderes ocultos. A morte será a sua libertação completa, definitiva. 

Já nos sonhos, vemos os sentidos da alma, esses sentidos psíquicos, dos quais os do corpo são a manifestação externa e amortecida, entrar em acção. (ii) À medida que as percepções externas se enfraquecem e apagam, quando os olhos estão fechados e suspenso o ouvido, outros meios mais poderosos despertam nas profundezas do ser. Vemos e ouvimos com os sentidos internos. Imagens, formas, cenas à distância sucederem-se e desenrolarem-se; travarem-se conversas com pessoas vivas ou falecidas. Esse movimento, muitas vezes incoerente e confuso no sono natural, adquire precisão e aumenta com o desprendimento da alma no sono provocado, no transe de sonambulismo (i) e no êxtase. 

Às vezes, a alma afasta-se durante o descanso do corpo e são as impressões das suas viagens, o resultado das suas indagações, das suas observações, que se traduzem pelo sonho. Nesse estado, um laço fluídico ainda a liga ao organismo material e, por esse vínculo subtil, espécie de fio condutor, as impressões e as vontades da alma podem transmitir-se ao cérebro. É pelo mesmo processo que, nas outras formas do sono, a alma governa o seu invólucro terrestre, o fiscaliza e dirige. Essa direcção, no estado de vigília, durante a incorporação, exercita-se de dentro para fora; efectuar-se-á em sentido inverso nos diferentes estados de desprendimento. A alma, emancipada, continuará a influenciar o corpo mediante o laço fluídico que continuamente liga um à outra. Desde este momento, com o seu poder psíquico reconstituído, a alma exercerá sobre o organismo carnal uma direcção mais eficaz e segura. Os sonâmbulos andam à noite, por caminhos perigosos e com inteira segurança; é uma demonstração evidente desse facto. 

Sucede o mesmo com a acção terapêutica provocada pela sugestão. Esta é eficaz, principalmente no sentido de facilitar o desprendimento da alma e dar-lhe o poder absoluto de fiscalização, a liberdade necessária para dirigir a força vital acumulada no perispírito e, por esse meio, restaurar as perdas sofridas pelo corpo físico. (iii) Comprovamos esse facto nos casos de personalidade dupla. A segunda personalidade, mais completa, mais integral que a personalidade normal, substitui-a para um fim curativo, por meio de uma sugestão exterior, aceite e transformada em auto-sugestão pelo Espírito do sujet. Com efeito, este nunca abandona os seus direitos e poderes de fiscalização. Assim, como disse Myers, “não é a ordem do hipnotizador, mas antes a faculdade do paciente que forma o nó da questão”. (iv) 

O sábio professor de Cambridge disse mais: (v) 

“O único fim de todos os processos hipnogénicos é dar energia à vida; é atingir mais rápida e completamente resultados que a vida abandonada a si mesma só realiza lentamente e de forma incompleta.” 

Por outras palavras, o hipnotismo é a aplicação, num grau mais intenso, das energias reparadoras que entram em acção no sono natural. A sugestão terapêutica é a arte de libertar o Espírito do corpo, de abrir-lhe uma saída pelo sono permitindo-lhe que exerça em plenitude os seus poderes sobre o corpo doente. As pessoas sugestionáveis são aquelas cujas almas indolentes ou que pouco têm evolvido não estão aptas para se desprenderem por si mesmas e agir utilmente no sono ordinário para restaurar as perdas do organismo. 

A sugestão em si mesma não é, pois, mais do que um pensamento, um acto de vontade, diferindo somente da vontade ordinária pela sua concentração e intensidade. Em geral, os nossos pensamentos são múltiplos e hesitantes. Nascem e passam ou, então, quando coexistam em nós, chocam-se e se confundem. Na sugestão, o pensamento e a vontade fixam-se num ponto único. Ganham em poder o que perdem em extensão. Por sua acção, que se torna mais penetrante, mais incisiva, provocam no sujet o despertar de faculdades não utilizadas no estado normal. A sugestão torna-se, então, uma espécie de impulso, de alavanca que mobiliza a força vital e a dirige para o ponto onde ela tem de operar. 

A sugestão pode exercer-se tanto na ordem física, por uma influência directa sobre o sistema nervoso, quanto na ordem moral, sobre o “eu” central e a consciência do sujet. Bem empregada, constitui ela um meio muito apreciável de educação, destruindo as más tendências e os hábitos perniciosos. A sua influência sobre o carácter produz, então, os mais felizes resultados. (vi) 

Voltemos ao sono ordinário e ao sonho. Enquanto o desprendimento da alma é incompleto, as sensações, as preocupações da vigília e as recordações do passado se misturam com as impressões da noite. As percepções registadas pelo cérebro desenrolam-se automaticamente, em desordem aparente, quando a atenção da alma está desviada do corpo e deixa de regular as vibrações cerebrais. Daí a incoerência da maior parte dos sonhos; mas, à medida que a alma se desprende e se eleva, a acção dos sentidos psíquicos torna-se predominante e os sonhos adquirem lucidez e nitidez notáveis. Clareiras cada vez mais amplas, melhores perspectivas se abrem no mundo espiritual, verdadeiro domínio da alma e lugar do seu destino. Nesse estado ela pode penetrar as coisas ocultas e até os pensamentos e os sentimentos de outros Espíritos. (vii) 

Há em nós uma dupla vista, pela qual pertencemos, ao mesmo tempo, a dois mundos, a dois planos de existência. Uma está em relação com o tempo e o espaço, como nós os concebemos no nosso meio planetário com os sentidos do corpo: é a vida material; a outra, mediante os sentidos profundos e as faculdades da alma, liga-nos ao universo espiritual e aos mundos infinitos. No decurso da nossa existência terrestre, é principalmente quando dormimos que essas faculdades podem exercer-se e entrar em vibração as potências da alma. Esta torna a pôr-se em contacto com o universo invisível, que é a sua pátria e do qual estava separada pela carne. Retempera-se no seio das energias eternas para continuar, quando desperta, a sua tarefa penosa e obscura. 

Durante o sono a alma pode, segundo as necessidades do momento, aplicar-se a reparar as perdas vitais causadas pelo trabalho quotidiano e regenerar o organismo adormecido, infundindo-lhe as forças tiradas do mundo cósmico, ou, quando está acabado esse movimento reparador, continua o curso da sua vida superior, paira sobre a Natureza, exercer as suas faculdades de visão à distância e penetração das coisas. Nesse estado de actividade independente vive já antecipadamente a vida livre do Espírito; porque essa vida, que é uma continuação natural da existência planetária, a espera depois da morte, devendo a alma prepará-la não somente com as suas obras terrestres, mas também com as suas ocupações quando desprendida durante o sono. É graças ao reflexo da luz do Alto, que cintila nos nossos sonhos e ilumina completamente o lado oculto do destino, que podemos entrever as condições do ser no Além. 

Se nos fosse possível abranger com o olhar toda a extensão de nossa existência, reconheceríamos que o estado de vigília está longe de lhe constituir a fase essencial, o elemento mais importante. As almas que de nós cuidam servem-se do nosso sono para nos exercitar na vida fluídica e no desenvolvimento dos nossos sentidos de intuição. Efectua-se, então, um trabalho completo de iniciação para os homens ávidos de se elevarem. 

Os vestígios desse trabalho encontram-se nos sonhos. Assim, quando voamos, quando deslizamos com rapidez pela superfície do solo, significa isso a sensação do corpo fluídico, ensaiando-se para a vida superior. 

Sonhar que subimos sem cansaço, com facilidade surpreendente, através do espaço, sem embaraço nem medo, ou então que estamos pairando por cima das águas; atravessar paredes e outros obstáculos materiais sem ficarmos admirados de praticar actos que são impossíveis enquanto estamos acordados, não é a prova de que nos tornamos fluídicos pelo desprendimento? Tais sensações, tais imagens, que comportam completa inversão das leis físicas que regem a vida comum, não poderiam vir ao nosso espírito, se não fossem o resultado de uma transformação do nosso modo da existência. 

Na realidade, já não se trata aqui de sonhos, mas de acções reais praticadas noutro domínio da sensação e cuja lembrança se insinuou na memória cerebral. Essas lembranças e impressões no-lo demonstram bem. Possuímos dois corpos e, a alma, sede da consciência, fica ligada ao seu invólucro subtil, enquanto o corpo material está deitado e em completa inércia. 

Apontemos, todavia, uma dificuldade. Quanto mais a alma se afasta do corpo e penetra nas regiões etéreas, tanto mais fraco é o laço que os une, tanto mais vaga a lembrança ao acordar. A alma paira muito longe na imensidade e o cérebro deixa de registar as suas sensações. Daí resulta não podermos analisar os nossos mais belos sonhos. Algumas vezes, a última das impressões sentidas no decurso dessas peregrinações nocturnas subsiste ao despertar. 

E se, nesse momento, tivermos o cuidado de fixá-la fortemente na memória, pode ficar lá gravada. Tive, uma noite, a sensação de vibrações percebidas no espaço, as últimas notas de uma melodia suave e penetrante e, a lembrança das derradeiras palavras de um cântico que findava assim: “Há céus inumeráveis!” 

Às vezes sentimos, ao acordar, a vaga impressão de poderosas coisas entrevistas, sem nenhuma lembrança determinada. Essa espécie de intuição, resultante de percepções registadas na consciência profunda, mas não na consciência cerebral, persiste em nós durante certo tempo e influencia os nossos actos. Outras vezes, essas impressões se traduzem nitidamente no sonho. Eis o que a respeito diz Myers(viii) 

“O resultado permanente de um sonho é muitas vezes de tal ordem que nos mostra claramente que o sonho não é o efeito de uma simples confusão com lembranças avivadas da vida passada, mas que possui um poder inexplicável que lhe é próprio e que ele tira, semelhante nisso à sugestão hipnótica, das profundezas da nossa existência, a que a vida de vigília é incapaz de chegar. Desse género, dois grupos de casos há que, pela clareza com que se patenteiam, facilmente podem ser reconhecidos; um deles, principalmente, em que o sonho acabou por uma transformação religiosa decidida e, o outro em que o sonho foi o ponto de partida de uma ideia obsidente (i) ou de um acesso de verdadeira loucura." 

Esses fenómenos poderiam explicar-se pela comunicação, no sonho, da consciência superior com a consciência normal, ou pela intervenção de alguma Inteligência elevada que julga, reprova, condena o proceder do sonhador, lhe ocasionando perturbação e um salutar receio. A obsessão pode também exercer-se por meio do sonho até ao ponto de causar perturbação mental ao despertar. Terá como autores Espíritos malfazejos, a quem o nosso procedimento no passado e os danos que lhes causamos deram domínio sobre nós. 

Insistimos também na propriedade misteriosa que tem o sono de nos fazer senhores, em certos casos, de camadas mais extensas da memória. 

A memória normal é precária e restrita, não vai além do círculo estreito da vida presente, do conjunto dos factos, cujo conhecimento é indispensável à causa do papel que se tem de desempenhar na Terra e do fim que se deve alcançar. A memória profunda abrange toda a história do ser desde a sua origem, os seus estádios sucessivos, os seus modos de existência, planetários ou celestes. Um passado inteiro, feito de recordações e sensações, esquecido, ignorado no estado de vigília, está gravado em nós. Esse passado só desperta quando o Espírito se exterioriza durante o sono natural ou provocado. Uma regra conhecida de todos os experimentadores é que, nos diferentes estados do sono, à medida que se vai ficando a maior distância do estado de vigília e da memória normal, tanto mais a hipnose é profunda, tanto mais se acentua a expansão, a dilatação da memória. Myers confirma o facto nos seguintes termos: (ix) 

“A memória mais distanciada da vida de vigília é a que mais vasto alcance tem, é a que mais profundo poder exerce sobre as impressões acumuladas no organismo. Por mais inexplicável que esse fenómeno se tenha apresentado aos observadores, que com ele se depararam sem possuírem a decifração do enigma, é certo que as observações independentes de centenas de médicos e de hipnotizadores (i) atestam a sua realidade. O exemplo mais comum é fornecido pelo sono hipnótico ordinário. O grau de inteligência que se manifesta no sono varia segundo os sujets e as épocas; mas todas as vezes que esse grau é suficiente para autorizar um juízo, achamos que existe durante o sono hipnótico a memória considerável, que não é necessariamente uma memória completa ou razoável do estado de vigília; ao passo que na maior parte dos sujets acordados, salvo o caso de uma injunção especial dirigida ao “eu” hipnótico, nenhuma lembrança existe que se relacione com o estado de sono. 

O sono ordinário pode ser considerado como ocupando uma posição que está entre a vida acordada e o sono hipnótico profundo; e parece provável que a memória pertencente ao sono ordinário se liga, por um lado, à que pertence à vida de vigília e, pelo outro, à que existe no sono hipnótico. Realmente assim é, estando os fragmentos da memória do sono ordinário intercalados nas duas cadeias.” 

Myers, no apoio às suas palavras, cita (x) vários casos em que factos retrospectivos esquecidos e, outros dos quais o que dorme nunca teve conhecimento, se revelam no sonho. 

As experiências a que se refere Myers (vê-las-emos quando tratarmos da questão das reencarnações (i)) que foram levadas muito mais longe do que ele previa e, as consequências que daí provêm são imensas. Não só tem sido possível, pela sugestão hipnótica, reconstituir as menores recordações da vida actual, desaparecidas da memória normal dos sujets, como também reatar o encadeamento das suas vidas passadas, já interrompido. 

Ao mesmo tempo em que uma memória mais vasta e mais rica, vemos aparecer no sono faculdades que são muito superiores a todas as que desfrutamos no estado de vigília. Problemas estudados em vão, abandonados como insolúveis, são resolvidos no sonho ou no sonambulismo; obras geniais, operações estéticas da ordem mais elevada, poemas, sinfonias e hinos fúnebres são concebidos e executados. Há em tudo isso uma obra exclusiva do “eu” superior ou a colaboração de entidades espirituais que vêm inspirar os nossos trabalhos? É provável que esses dois factores intervenham nos fenómenos dessa ordem. 

Myers cita o caso de Agassiz (i) descobrindo, enquanto dormia, o arranjo esquelético de ossadas dispersas que ele tentara, por várias vezes e sem resultado, acertar durante a vigília. 

Lembraremos os casos de Voltaire (i), La Fontaine (i), Coleridge (i), S.Bach (i), Tartini (i), etc., executando obras importantes em condições análogas. (xi) 

Finalmente, importa mencionar uma forma de sonhos cuja explicação escapou até agora a Ciência. São os sonhos premonitórios, complexo de imagens e visões que se referem a acontecimentos futuros e cuja exactidão é ulteriormente verificada. Parecem indicar que a alma tem o poder de penetrar o futuro ou que este lhe é revelado por inteligências superiores. 

Assinalemos o sonho da Duquesa de Hamilton, que viu com antecipação de quinze dias a morte do Conde de L... com particularidades de natureza íntima que acompanharam esse acontecimento. (xii) 

Um facto da mesma natureza foi publicado pelo Progressive Thinker de Chicago, a 1 de novembro de 1913. Um magistrado de Hauser, M. Reed, morreu imediatamente, em consequência de uma guinada do automóvel em que viajava. O seu filho, de 10 anos de idade, tinha tido, por duas vezes seguidas, a visão dessa catástrofe em todos os seus pormenores. Apesar dos avisos e das súplicas de sua mulher, M. Reed achou que não devia renunciar ao projectado passeio, em que veio a encontrar a morte, nas circunstâncias idênticas às percebidas no sonho da criança. 

M. Henri de Parville, no seu folhetim científico do Journal des Débats (maio de 1904) refere um, caso afiançado por testemunhos dignos de fé: 

“Uma senhora, cujo marido desapareceu sem deixar vestígios e que ela não pôde descobrir apesar de todas as pesquisas a que procedeu, teve um sonho. – Um cãozinho, que por muito tempo havia vivido na sua companhia, mas que o marido levara, aparece-lhe, dá latidos de alegria e cobre-a de carícias. Instala-se-lhe ao pé, não tira os olhos dela; depois, passados uns instantes, levanta-se e começa a arranhar a porta. Está feita a sua visita e precisa ir-se embora. Ela abre-lhe a porta e, no sonho, segue o animal, que se afasta, correndo; corre também atrás dele e, passado algum tempo, o vê entrar numa casa, cujo andar térreo é ocupado por um café. A rua, a casa e o bairro gravam-se-lhe na memória, que conserva a recordação de tudo isso depois de acordada. Preocupada com esse sonho, conta-o a três pessoas da vizinhança, que depois deram testemunho da autenticidade dos factos. – Decide-se, finalmente, a seguir a pista do cão e encontra o marido na rua e na casa que vira em sonho.” 

Os Annales des Sciences Psychiques, de julho de 1905, citava dois sonhos premonitórios acompanhados de circunstâncias que lhe dão carácter muito comovente. 

Encontramos na Revue de Psychologie de la Suisse Romande, 1905, pág. 379, o caso de um mancebo que se via muitas vezes a si mesmo numa alucinação autoscópica, precipitado do cimo de um rochedo e estendido, ensanguentado e esmagado, no fundo de um barranco. Essa premonição fatal realizou-se, ponto por ponto, a 10 de julho de 1904, no monte du Salève, perto de Genebra. 

Na proporção que nos vamos elevando na ordem dos fenómenos psíquicos, se vão eles apresentando com maior clareza, com maior rigor e trazem-nos provas mais decisivas da independência e da sobrevivência do Espírito. 

As percepções da alma no sono são de duas espécies. Verificamos primeiramente a visão à distância, a clarividência, a lucidez; vem depois um conjunto de fenómenos designados pelos nomes de telepatia e telestesia (sensações e simpatias à distância). Compreende a recepção e transmissão dos pensamentos, das sensações, dos impulsos motrizes. Com estes factos se relacionam os casos de desdobramentos e aparições designados pelos nomes de fantasmas dos vivos. A psicologia oficial teve de verificar estes casos em grande número, sem os explicar. (xiii) Todos estes factos se ligam entre si e formam uma cadeia contínua. Em princípio, constituem, no fundo, um só e o mesmo fenómeno, variável na forma e intensidade, isto é, o desprendimento gradual da alma. Vamos seguir esse desprendimento nas suas diversas fases, desde o despertar dos sentidos psíquicos e das suas manifestações em todos os graus até à projecção, à distância, de todo o Espírito, alma e corpo fluídico. 

Examinemos primeiramente os casos em que a visão psíquica se exerce com agudeza notável. Citamos alguns nas nossas obras precedentes. Aqui apresentamos um, mais recente, publicado por toda a imprensa londrina. 

O desaparecimento da Srta. Holland, processo criminal que apaixonou a Inglaterra, foi explicado por um sonho. A polícia a procurava inutilmente. O acusado, Samuel Douglas, que estava para ser solto, dizia que ela havia partido para destino desconhecido. Os jornais de Londres publicaram desenhos que representavam a casa em que morava a Srta. Holland e o jardim da mesma casa. Uma criada viu a gravura e exclamou: “Aí está o meu sonho!” e, indicou um lugar, ao pé de uma árvore, dizendo: “Está ali um cadáver!” Soube-o a polícia e, na presença dos agentes, ela confirmou as suas declarações. Explicou que vira em sonho esse jardim e, no solo, no lugar indicado, um corpo enterrado. A polícia mandou escavar o terreno nesse lugar e nele foi encontrado o cadáver da Srta. Holland. Ficou provado que a criada nunca conhecera essa pessoa nem pusera os pés nesse jardim. 

C. Flammarion, na sua obra O Desconhecido e os Problemas Psíquicos, menciona uma série completa de visões directas, à distância, durante o sono, resultante de um inquérito feito na França sobre os fenómenos dessa ordem. 

Vamos referir um caso mais complicado. Os Annales des Sciences Psychiques, de Paris, setembro de 1905 (pág. 551), contêm a relação circunstanciada e autenticada pelas autoridades legais de Castel di Sangro (Itália), de um sonho macabro, colectivo e verídico: 

“O guarda rural do Barão Raphaël Corrado viu em sonho, na noite de 3 de março último, o seu pai, falecido havia dez anos. Censurando-o, a ele, aos irmãos e às irmãs, terem-no esquecido e, coisa mais grave, deixarem os seus pobres ossos desenterrados pelos coveiros, abandonados sobre a neve, por trás da torre do cemitério, à mercê dos lobos. Uma irmã do guarda sonhou exactamente a mesma coisa, e um irmão, muito impressionado, pegou numa espingarda e, não obstante a tempestade de neve que atormentava a região, se dirigiu para o cemitério, situado num monte que dominava a cidade. Aí, por trás da torre, entre as silvas e por cima da neve, em que havia sinais de patas de lobo, viu ossos humanos.” 

Os Annales dão depois a narrativa circunstanciada do inquérito e das pesquisas feitas pelo juiz de paz. Estabelecem que os ossos eram, na realidade, os do pai do guarda, que os coveiros, terminado o prazo legal, haviam exumado. Iam eles transportá-los para o ossário, à noitinha, quando o frio e a neve os obrigaram a deixar o serviço para o dia seguinte. Os documentos relativos a esse caso, que foi objecto de um processo, estão assinados pelo tabelião, pelo juiz de paz e por um magistrado da localidade. Foram publicadas pelo Eco del Sangro, de 15 de março de 1905. 

O Prof. Newbold, da Universidade da Pensilvânia, relata nos Proceedings of S. P. R., XII, pág. 11, vários exemplos de sonhos, que indicam uma grande actividade da alma durante o sono e dão ensinamentos que vêm do mundo invisível. Entre outros, citaremos o do Dr. Hilprecht, professor de língua assíria na mesma Universidade, que num sonho teve a revelação de uma inscrição antiga, que até então não havia descoberto. Num sonho mais complexo, em que intervém um sacerdote dos antigos templos de Nippur, dele recebeu a explicação de um enigma de difícil decifração. Foram reconhecidas como exactas todas as particularidades desse sonho. As indicações do sacerdote versavam sobre pontos de Arqueologia completamente desconhecidos dos seres que vivem na Terra. 

Convém notar que em todos estes factos o corpo do percipiente está em repouso e os seus órgãos físicos estão adormecidos; mas, nele o ser psíquico continua em vigília, em actividade; vê, ouve e comunica, sem o auxílio da palavra, com outros seres semelhantes, isto é, com outras almas. 

Este fenómeno tem carácter geral e dá-se com cada um de nós. Na transição da vigília para o sono, exactamente no momento em que os nossos meios ordinários de comunicação com o mundo exterior estão suspensos, se abrem em nós novas saídas para a Natureza e por elas se escapa uma irradiação mais intensa da nossa visão. Já nisso vemos revelar-se uma nova forma de vida, a vida psíquica, que vai amplificar-se nos outros fenómenos dos quais nos vamos ocupar, provando que existem para o ser humano modos de percepção e de manifestação muito diferentes dos de sentidos materiais. 

Depois dos fenómenos de visão no sono natural, vamos apresentar um caso de clarividência no sono provocado. 

O Dr. Maxwell (i), advogado geral no Supremo Tribunal de Bordéus, provoca na Sra. Agullana, sujet muito sensível, o sono magnético. Ela desprende-se, exterioriza-se, afasta-se em espírito da sua morada. O Dr. Maxwell manda-lhe observar, a certa distância, o que está a fazer um seu amigo M. B... Eram 10:20 da noite. Damos a palavra ao experimentador: (xiv) 

“A médium, com grande surpresa nossa, nos disse que estava vendo M. B..., meio despido, a passear descalço sobre a pedra. Pareceu-me que isso não tinha sentido algum. No dia seguinte ofereceu-se-me o ensejo de ver o meu amigo. Mostrou-se muito admirado com o que lhe contei e disse-me textualmente: “Ontem, à noite, não me senti bem. Um amigo meu, M. S..., que mora comigo, aconselhou-me que experimentasse o sistema Kneip e instou tanto que, para satisfazê-lo, fiz pela primeira vez, ontem, à noite, a experiência de passear descalço na pedra fria. Estava efectivamente meio despido quando a fiz. Eram 10 horas e 20 minutos e passeei durante algum tempo nos degraus da escada, que é de pedra.” 

Os casos de clarividência no estado de sonambulismo são numerosos. Vêm relatados em todas as obras e revistas que se ocupam especialmente desses assuntos. 

Médecine Française, de 16 de abril de 1906, refere um facto de clarividência relativo às minas de Courrières. A Sra. Berthe, a vidente consultada, descreveu com exactidão um desabamento na mina e as torturas impostas aos sobreviventes, cuja morte ou libertação ela anunciou. 

Acrescentemos dois exemplos recentes: 

“O Sr. Louis Cadiou, director da Usina de la Grand-Palud, perto de Landerneau (Finistère), tendo desaparecido nos fins de dezembro de 1913, não se lhe viam sinais, apesar das buscas minuciosas. Das sondagens efectuadas na ribeira do rio Elorn nenhum resultado adveio. Uma vidente, moradora em Nancy, a Sra. Camille Hoffmann, tendo sido consultada, disse, em estado de sono magnético, que o cadáver seria encontrado na orla de um bosque vizinho à usina, oculto sob ligeira camada de terra. 

Por essas indicações, o irmão da vítima descobriu, depois, o corpo numa situação idêntica à que a vidente tinha descrito. 

Todos os jornais, entre outros o Le Matin, de 5 de fevereiro de 1914, relatam pormenorizadamente o caso Cadiou, que toda a França acompanhou com apaixonado interesse. 

Alguns dias depois, produziu-se um fenómeno análogo. Havendo-se afogado no Saóne, perto de Màcon, um jovem chamado Charles Chapeland, um seu irmão recorreu à Sra. Camille Hoffmann para encontrar o cadáver. Ela assegurou que ele seria levado pelas águas, 60 dias depois do acidente, para perto do dique de Cormoranche, o que se realizou exactamente.” (xv) 

/… 
(ii) A visão ocular não é mais do que a manifestação externa da faculdade visual, que tem a sua expressão mais ampla na visão interna. A visão interior exterioriza-se e traduz-se pela acção dos sentidos, tanto na vida física como na vida psíquica. No primeiro caso, o órgão terminal pertence ao corpo material; no segundo caso aos órgãos do corpo fluídico. 
A visão no sonho é acompanhada de uma luz especial, constante, diferente da luz do dia. 
(iii) O espírito exteriorizado pode tirar do organismo mais força vital do que o homem normal ou encarnado pode obter. Experiências demonstraram que o espírito assim desprendido, pode, através do organismo, exercer maior pressão num dinamómetro do que o espírito encarnado. 
(iv) F. Myers (i) - La Personnalité Humaine, pág. 204. 
(v) Idem, pág. 187. 
(vi) Em resumo, os frutos que a sugestão hipnótica pode e deve proporcionar e em vista dos quais se deve aplicar, são estes: concentração do pensamento e da vontade; aumento de energia e vitalidade; atenção fixa em coisas essencialmente úteis; alargamento do campo da memória; manifestação de novos sentidos por meio de impulsões internas ou externas. 
(vii) Segundo os antigos, existem duas espécies de sonhos: o sonho propriamente dito, em grego, “onar”, é de origem física, e o sonho “repar”, de origem psíquica. Encontra-se esta distinção em Homero (i), que representa a tradição popular, assim como em Hipócrates (i), que é representante da tradição científica. Muitos ocultistas modernos adoptaram definições análogas. Em tese geral, segundo eles dizem, o sonho propriamente dito seria um sonho produzido mecanicamente pelo organismo e, o sonho psíquico um produto da clarividência adivinhadora; ilusório um, verídico o outro. Porém, às vezes, é muito difícil estabelecer uma limitação nítida e distinta entre estas duas classes de fenómenos. 
O sonho vulgar parece devido à vibração cerebral automática, que continua a produzir-se no sono, quando a alma está ausente. Esses sonhos são muitas vezes absurdos; mas este mesmo absurdo é uma prova de que a alma está fora do corpo físico e deixou de lhe regular as funções. Com menos facilidade nos lembramos do sonho psíquico, porque não impressiona o cérebro físico, mas somente o corpo psíquico, veículo da alma, que está exteriorizada no sono. 
“Os sentidos, diz o Dr. Pascal (Mémoire présenté au Congrès de Psychologie de Paris, em 1900), depois da actividade do dia, já não produzem sensações tão vivas e, como é a energia dessas sensações que tem a consciência “concentrada” no cérebro, esta consciência, quando os sentidos adormecem, escapa-se para fora do corpo físico e fixa-se no corpo psíquico.” 
O sonho lúcido representa o conjunto das impressões recolhidas pela alma no estado de liberdade e transmitidas ao cérebro, quer no decurso das suas migrações, quer no momento do despertar. Poder-se-ia distingui-lo do sonho vulgar ou automático pelo facto de não causar nenhuma fadiga, contrariamente ao que sucede com a actividade cerebral da vigília. 
(viii) F. Myers - La Personnalité Humaine, pág. 117. 
(ix) F. Myers - La Personnalité Humaine, págs. 121 e 122. 
(x) F. Myers - La Personnalité Humaine, págs. 123 e 124. 
(xi) Ver No Invisível, cap. XII. 
(xii) Proceedings, S.P.R., XI, pág. 505. 
(xiii) Ver Proceedings da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres. 
(xiv) J. Maxwell (i) - Les Phénomènes Psychiques, pág. 173, F. Alcan, Paris, 1903. 
(xv) Ver Le Matin, de 23 de fevereiro de 1914. 


Léon Denis, O Problema do Ser, do Destino e da Dor, Primeira Parte O Problema do Ser, V – A alma e os diferentes estados do sono, 6º fragmento desta obra. 
(imagem de contextualização: Sin título (detalhe), de uma pintura atribuída a Josefina Robirosa)