Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

segunda-feira, 26 de março de 2018

agonia das religiões ~


Deus | Espírito e Matéria

Para melhor se entender a expressão Deus, em espírito e matéria, que usei no capítulo anterior, – e melhor se entender também o problema da experiência de Deus no tempo – julgo necessário tratar dos princípios da cosmogonia espírita, na qual se integra a teoria da génese e a formação do espírito. O contra-senso da afirmação bíblica de que Deus criou o mundo do nada, que tanto trabalho deu aos teólogos, é explicado na revelação espírita pela teoria da Trindade Universal. Deus, o Ser Absoluto, é a fonte de toda a Criação. Existindo essa fonte solitária, é logicamente necessário admitir-se um meio em que ela existia. Esse meio, que seria o espaço vazio, foi considerado o nada. Para tratar do Absoluto num plano relativo, como o nosso, é preciso usar expressões relativas.

A concepção espírita do mundo não admite a existência do nada. O Universo é pleno – é uma plenitude – não havendo nele nenhuma possibilidade de vácuo. Essa teoria espírita da plenitude está hoje a ser confirmada pela pesquisa científica do Cosmos. As regiões siderais que poderíamos julgar vazias mostram-se como campos de forças, carregadas de energias que escapam aos nossos sentidos. Esse pré-universo energético seria o que Buda definiu como o mundo sempre existente, que nunca foi criado. Pitágoras, na sua filosofia matemática, considerou Deus como o número 1 que desencadeou a década. O UM, número primeiro, existia imóvel e solitário no Inefável (naquilo que para nós seria o nada) e nesse caso o nada seria a imobilidade absoluta. Houve em certo momento cósmico, não se pode saber como nem porquê, um estremecimento do número 1, que assim produziu o 2 e a seguir os demais números até ao 10. Completando-se a década, tivemos o Todo, a Criação se fizera por si mesma, o Universo surgira e com ele o tempo. É claro que não dispomos de recursos para investigar as origens primeiras e, essas teorias não passam de tentativas de explicação lógica, destinadas a proporcionar-nos uma base alegórica ou hipotética para uma possível concepção do mistério da Criação.

Espiritismo sustenta a possibilidade de conhecermos a verdade a respeito, quando houvermos desenvolvido as potencialidades espirituais que nos elevarão acima da condição humana. Enquanto não chegarmos lá, essas hipóteses devem servir para mostrar-nos que dispomos de capacidade para ir além dos limites do pensamento dialéctico, além do conhecimento indutivo baseado no jogo dos contrastes.

Assim sendo, não podemos aceitar a alegoria bíblica da Criação à letra, como verdade revelada, nem contestá-la orgulhosamente com a arrogância materialista. Na posição do crente temos a ingenuidade e na posição do materialista temos a arrogância do homem, esse pedacinho de fermento pensante, como dizia o Lobo do Mar de Jack London. O espiritualismo simplório e o materialismo atrevido são os dois pólos da estupidez humana. O bom-senso, que é a regra de ouro do Espiritismo, nos livra da estupidez e oferece-nos a possibilidade de chegar à sabedoria sem muito barulho e disputas inúteis.

Partindo do pressuposto de que o mundo deve ter uma origem e aceitando a ideia de que foi criado por Deus – pois assim o afirmam todos os Espíritos Superiores que se referem a este assunto e que revelam uma sabedoria superior à nossa –, Espiritismo admite que a fonte inicial é uma inteligência cósmica. Mas porque uma inteligência e não apenas um centro de forças casualmente aglutinadas no caos primitivo? Porque o Universo se mostra organizado inteligentemente em todas as suas dimensões, até onde podemos observá-lo. Seria ilógico, absurdo, supormos que essa inteligência da estrutura universal, que se manifesta em minúcias ainda inacessíveis à pesquisa científica, desde as partículas atómicas até aos genes biológicos e aos seus códigos admiráveis, seja o resultado de um simples acaso. Nenhuma cabeça bem-pensante poderia admitir isso. A teoria espírita – teoria e não hipótese, pois que já provou a sua validade através de todas as pesquisas possíveis – pode ser resumida neste axioma doutrinário: Não há efeito inteligente sem causa inteligente e, a grandeza do efeito corresponde à grandeza da causa.

Colocando assim o problema, a sua equação torna-se clara. O Espiritismo elabora-a em termos dialécticos: a fonte inicial, Deus, existindo no meio do inefável, constituído de matéria dispersa no espaço, emite o seu pensamento criador que aglutina e estrutura a matéria. Temos assim a Trindade Universal que as religiões apresentam de maneira antropomórfica. Essa trindade não é formada de pessoas, mas de substâncias regidas por uma possível Inteligência, constituindo-se assim: Deus, Espírito e Matéria.

O espírito que a constitui não é uma entidade definida, mas o pensamento de Deus que se expande no Cosmos sobre a forma de substância. Essa substância espiritual penetra o oceano de matéria rarefeita, dispersa e, aglutina as suas partículas, estruturando-as para a formação das coisas e dos seres. Da tese espiritual e da antítese material resulta a síntese do real, do mundo criado por um poder inteligente.

Qual a razão de ser, o objectivo, a finalidade e o sentido da Criação? Espiritismo admite que não podemos conhecer tudo isso no nosso actual estágio de desenvolvimento, mas podemos, através da nossa inteligência humana, indagar, perquirir, pesquisar e chegar a resultados logicamente possíveis. Os dados científicos da Geologia, por exemplo, mostram-nos a Terra como o resultado de um longo processo de formação, no qual é evidente a intenção de atingir um tipo de perfeição em todas as coisas e todos os seres. As formas imprecisas e grotescas das primeiras idades do planeta se vão aprimorando ao longo do tempo, numa sucessão nítida de fases de elaboração caprichosa. Os dados da Antropologia revelam-nos o aperfeiçoamento do homem nas civilizações sucessivas, a partir das selvas. Os dados da Psicologia desvendam-nos os anseios da alma humana, na busca incessante de transcendência, de superação do seu condicionamento orgânico-material. Os dados da Estética revelam-nos o anseio de belezaperfeição e equilíbrio que rege o desenvolvimento individual e colectivo, o indivíduo e a espécie.

Gustave Geley, no seu livro Do Inconsciente ao Consciente, propõe-nos uma visão dialéctica do mundo em que as coisas se transformam em seres e estes avançam em direcção à consciência. É a mesma visão da teoria dialéctica de HegelOliver Lodge considera o homem actual como um processo em desenvolvimento. O Existencialismo, nas suas várias escolas, encara o homem como um projecto, um vector que se lança na existência em busca da transcendência. Para Sartre, o homem frustra-se nessa busca e se nadifica na morte, se reduz ao nada. Para Heidegger, o homem realiza-se no trajecto existencial e se completa na morte. Para Jaspers, o homem consegue transcender-se em dois sentidos: o horizontal, na relação social, e o vertical, na busca de Deus. Para Léon Denis, todo o processo de transformação se explica por esta frase genial: A alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no animal e acorda no homem. Para Kardec, a transcendência humana leva-nos ao plano da angelitude, pois os anjos nada mais são do que espíritos que superaram as condições inferiores da humanidade.

Temos assim o Universo, com a multiplicidade dos seus mundos rolantes no espaço sideral, dos seus sóis e das suas galáxias, como um fluxo permanente de forças em transformação incessante, objectivando a formação dos seres e a elevação destes a condições divinas. Só a hipótese de Sartre admite a inutilidade como finalidade universal.

Os Espíritos Superiores, nas suas comunicações, desmentem e rejeitam essa hipótese negativa, sustentando a natureza teleológica do Universo. Consideram a Criação como um gigantesco processo que só pode ser definido corno o fiat na sua fase inicial, quando a Mente Suprema emite o seu pensamento para unir essa emanação do seu espírito à matéria dispersa. Depois desse instante criador desencadeia-se o tempo e é nele que o processo criador vai desenvolver-se lentamente através dos milénios. E a superioridade desses Espíritos não é avaliada por medidas ou métodos místicos, mas por verificações racionais. Os Espíritos Superiores não ensinam apenas através de ideias, mas também de factos. Provam, através da produção dos fenómenos paranormais, que possuem uma ciência muito superior à nossa, um conhecimento do espírito e da matéria que estamos longe de atingir e uma compreensão de Deus que supera em muito as nossas interpretações antropomórficas da Inteligência Criadora. Além disso, as suas previsões se confirmam de maneira rigorosa, demonstrando que possuem recursos de futurologia muito mais avançados e seguros que os nossos. As suas proposições são ainda relacionadas com os nossos conhecimentos, completando-se na medida em que o nosso adiantamento permita que nos falem a respeito sem provocar dúvidas ou confusões na nossa mente.

A relação de Deus com o Universo não é apresentada em termos de mistério, mas de realidade verificável. Na Terra, o homem representa o ponto culminante do processo evolutivo. A criação do homem à imagem e semelhança de Deus explica-se em termos espirituais. Porque o homem é o único ser terreno que possui mente criadora, pensamento produtivo e contínuo, psiquismo refinado e complexo, capacidade de percepção e de intuição que lhe permitem penetrar na essência das coisas, ultrapassando a aparência ilusória. Feito assim, como um reflexo da divindade, o homem liga-se a Deus não apenas pelos laços do acto criador, mas também por afinidade psíquica e espiritual. É um herdeiro de Deus e co-herdeiro de Cristo, como escreveu Paulo, que se prepara para entrar na herança do futuro.

A relação de Deus com o homem começa, portanto, muito antes que ele se defina como criatura humana. Desde o momento em que o pensamento de Deus se une à matéria para modelá-la e, nas fases subsequentes, em que espírito e matéria se fundem nas formas substanciais de que tratou Aristóteles, a relação de Deus com o homem desenvolve-se em progressão constante. Quando se estrutura a consciência humana no ser em evolução, a marca de Deus ali está presente, na lei de adoração que é o sentimento inato de sua filiação divina e se manifestará no sentimento religioso, base de todas as experiências religiosas da Humanidade. Temos de dividir o conceito da experiência de Deus, em que tanto se apoiam as religiões formalistas, em dois tipos bem definidos de experiência: a de Deus, que começa no fiat, como elemento ontogenético (elemento constitutivo da própria génese do homem) e a religiosa, que corresponde às tentativas de uma tomada de consciência de Deus através de formulações religiosas por meio de rituais, instituição de igrejas, sistemática litúrgica e sacramental, organização clerical, ordenações e elaboração dogmática. Confundir a experiência genética de Deus com a experiência formal da vivência religiosa é característica do pensamento superficial, que facilmente se acomoda no jogo aparencial das instituições humanas. Deus, espírito e matéria formam o triângulo fundamental de toda a realidade. A omnipresença de Deus não implica o mistério de uma pessoa sobrenatural que se dispersa nas coisas, mas a participação do pensamento criador de Deus em tudo, desde a formação do átomo até à formação da consciência. Compreendendo que o espírito e a matéria são os dois elementos estruturais da realidade, compreendemos que Deus esteja presente em todas as partículas do Universo, como o poder criador, omnisciente, controlador e mantenedor de todo o equilíbrio universal. Deus penetra o mundo e está nele, como a seiva no vegetal, mas não se reduz a ele, pois permanece inalterável como a fonte de que tudo emanou.

A Ciência actual está a chegar rapidamente a essa constatação. Dizia o físico nuclear Arthur Compton, no seu ensaio sobre o lugar do homem no Universo, que descobrimos a energia por trás da matéria, mas já começamos a perceber que por trás da energia existe algo mais, que parece ser o pensamento. A unidade, a coerência, a perfeição dessa concepção espírita do mundo e do homem passam despercebidos no tumultuar das teorias absurdas que, como escreveu Charles Richetatravancam o caminho da nossa Ciência. Mas parece já próximo o momento em que o caminho se tornará livre.

Não há lugar, nessa concepção admirável, para o equívoco da contradição Espiritualismo-Materialismo em que até agora nos debatemos. Espírito e matéria aparecem sempre unidos, interligados e interactuantes, na dialéctica da Criação. E a negação de Deus, como observou Descartes, é tão absurda como pretendermos tirar o Sol do Sistema Solar.

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José Herculano Pires, Agonia das Religiões / Capítulo 5 – Deus, Espírito e Matéria, 6º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: Paraíso Perdido, estudo do Anjo, lápis e giz de Alexandre Cabanel).

quarta-feira, 14 de março de 2018

~ em torno do mestre


O humano e o divino ~

~ As religiões pretendem estabelecer uma linha de separação entre aquilo que se convencionou denominar humano e aquilo que se conhece como divino.

Para as religiões, o humano é o natural e, o divino é o sobrenatural. Há em tudo isto, certamente, um mal entendido, sendo mesmo um erro de apreciação que deve ser reparado.

Se considerarmos como humano — o que os homens costumam desnaturar e corromper — estamos de pleno acordo. Neste particular não há só uma linha, mas um abismo de separação entre o que é do homem e o que é de Deus. Mas, se compreendermos por humano o que é natural ou da Natureza, não há nenhuma linha de distinção entre o humano e o divino. Em resumo: tudo o que é natural é divino. A Natureza é divina em todas as suas manifestações. O nosso corpo é humano e é divino ao mesmo tempo, porque é obra de Deus. Nada há no Universo infinito que não proceda do Supremo Arquitecto: logo, tudo é divino.

O objecto da Religião não é, como supõem os credos religiosos, separar o humano do divino: é aperfeiçoar o humano até que ele se divinize. Não é menosprezar ou destruir a matéria, mas submetê-la ao império do Espírito.

O nosso corpo, segundo afirma S. Paulo, é o santuário de Deus. Se é verdadeira a afirmativa do apóstolo — e cremos piamente que o seja — o nosso corpo é divino.

Desprezá-lo ou sujeitá-lo propositadamente a sevícias e mortificações não é virtude: é antes um delito. O Convertido de Damasco disse: Quem destruir o santuário divino, Deus o destruirá. E disse isto em alusão ao corpo humano.

Jesus — o divino entre os divinos — não menosprezou o corpo. Ele é o Verbo que se fez carne e habitou entre os homens. Não se sentiu diminuído em se dizer — Filho do homem. Jamais aconselhou o abandono do corpo aos males que o danificam. Os leprosos, cobertos de chagas pútridas, não causavam repugnância ao Enviado celeste. Sobre essas pústulas asquerosas o Cristo de Deus impunha as suas mãos e as sarava prontamente. A pureza vencia as impurezas, mostrando na carne a obra que devia também ser feita no Espírito. Nem mesmo a matéria em decomposição inspirava asco ao Filho de Deus.

O alto escopo do Espírito não é desprezar, nem mortificar, nem odiar a carne: é simplesmente dominá-la, sujeitando-a ao seu governo e direcção. (*)

O sobrenatural é o absurdo e, o absurdo é dos homens, embora as religiões pretendam que seja de Deus. Com Deus está a verdade, a luz, a ordem, a Natureza em sua plenitude excelsa e deslumbrante. Se o homem obedecesse à Natureza, estaria sempre com Deus. O Espírito também é da Natureza: as leis que lhe presidem ao destino são naturais como as que governam a mecânica celeste no giro dos planetas; como as que determinam a germinação da semente ou a coloração das flores. A Natureza abrange tudo, nada havendo fora da influência e da regência de suas leis.

Há fenómenos insólitos, preternaturais, mas sobrenaturais nunca houve, nem haverá. A própria luta do Espírito com a carne é um fenómeno da Natureza. O homem sente que deve vencer a matéria. A dignidade própria lhe diz Intimamente que ele só poderá ser grande se triunfar sobre a matéria e os seus desejos. O homem tem consciência que o senso da vida repousa nessa porfia e na consequente vitória que ele deve alcançar. E tudo isto é divino porque foi concebido por Deus, faz parte do seu programa de educação destinado à redenção dos seus filhos, que são os filhos da Humanidade.

Não desprezemos, pois, coisa alguma. Amemos o que é puro e até o que é impuro, lembrando que o amor tudo purifica. Jesus não desdenhou os delinquentes de qualquer matiz; e até mesmo a mulher adúltera e a pecadora Madalena encontraram nele refúgio e redenção. Os homens profanam o santuário de Deus, entregando-se aos caprichos desordenados do egoísmo insaciável. Desvirtuam o corpo, corrompendo e adulterando as suas manifestações e expansões naturais. Daí o estrabismo das igrejas criar artificialmente uma distinção entre o natural e o divino, como se tal distinção pudesse existir. Tal a origem dos jejuns, dos cilícios e mortificações infligidas ao corpo, como meio de alcançar o céu. Erro claro. O céu é dos fortes e não dos fracos que fogem à luta; é dos que combatem com lealdade, de viseira erguida e, não, com astúcia. Enfraquecer o corpo para assegurar a vitória do Espírito importa num falso processo de vencer. É ilusório esse triunfo. O Espírito, na verdade, não venceu o inimigo; iludiu-o apenas. Não se abrem as portas dos tabernáculos eternos com gazua. Jesus prometeu a Pedro (i), como aliás aos demais apóstolos, as chaves, não as gazuas, do reino dos céus...

O caminho de evolução é um só, alegorizado naquela porta estreita e estrada apertada de que nos fala o Evangelho.

Não procuremos, portanto, o marco que divide o humano do divino, porque tal marco é uma ilusão. Divinizemos o humano. Para que tal o conseguíssemos é que o Verbo divino se humanizou.


O mordomo infiel ~

"Havia um homem rico, que tinha um administrador; e este lhe foi denunciado como esbanjador dos seus bens. Chamou-o e perguntou-lhe: Que é isso que ouço dizer de ti? dá conta da tua mordomia; pois já não podes mais ser meu mordomo. Disse o administrador consigo: Que hei-de eu fazer, já que o meu amo me tira a administração? Não tenho forças para cavar, de mendigar tenho vergonha. Eu sei o que hei-de fazer para que, quando for despedido do meu emprego, me recebam em suas casas. Tendo chamado cada um dos devedores do seu amo, perguntou ao primeiro: Quanto deves ao meu amo? Respondeu ele: Cem cados de azeite. Disse-lhe, então: Toma a tua conta, senta-te depressa e escreve cinquenta. Depois perguntou ao outro: E tu, quanto deves? Respondeu ele: Cem coros de trigo. Disse-lhe: Toma a tua conta e, escreve oitenta. E o amo louvou o administrador iníquo, por haver procedido sabiamente; porque os filhos deste mundo são mais sábios para com a sua geração do que os filhos da luz. E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da iniquidade, para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos. Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco, também é injusto no muito. Se, pois, não fostes fiéis nas riquezas injustas, quem vos confiará as verdadeiras? E se não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso? Nenhum servo pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer a um e amar o outro, ou há de unir-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamon." (Lucas, 16:1 a 13.)

Personagens da Parábola:

O amo ou proprietário: Deus.

O mordomo infiel: o homem.

Os devedores beneficiados: O nosso próximo.

A propriedade agrícola: O mundo em que habitamos.

Moralidade: o homem é mordomo infiel porque se apodera dos bens que lhe são confiados para administrar, como se tais bens constituíssem propriedade sua. Acumula esses bens, visando exclusivamente a proveitos pessoais; restringe a sua expansão, assenhoreia-se da terra cuja capacidade produtiva delimita e compromete. Enfim, todo o seu modo de agir com relação à propriedade, que lhe foi confiada para administrar, é no sentido de monopolizá-la, segregá-la em benefício próprio, menosprezando assim os legítimos direitos do proprietário.

Diante de tal irregularidade, o senhorio vê-se na contingência de demiti-lo. Essa exoneração do cargo se verifica com a morte. Todo O Espírito que deixa a Terra é mordomo demitido. A parábola figura um, cuja prudência louva. É aquele que, sabendo das intenções do amo a seu respeito e reconhecendo que nada lhe era dado alegar em sua defesa, procura, com os bens alheios ainda em seu poder, prevenir o futuro. E como faz? Granjeia amigos com a riqueza da iniquidade, isto é, lança mão dos bens acumulados, que representam a riqueza do amo sob sua guarda, e, com ela, beneficia a várias pessoas, cuja amizade, de tal forma, consegue conquistar.

E o amo (Deus) louva a acção do mordomo (homem) que assim procede, pois esses a quem ele aqui na Terra beneficiara serão aqueles que futuramente o receberão nos tabernáculos eternos (paramos celestiais, espaço, céu, etc).

O grande ensinamento desta importante parábola está no seguinte: Toda a riqueza é iníquaNão há nenhuma legítima no terreno das temporalidades. Riquezas legítimas ou verdadeiras são unicamente as de ordem intelectual e moral: o saber e a virtude. Não assiste ao homem o direito de monopolizar a terra, nem de açambarcar os bens temporais que dela derivam. O seu direito não vai além do usufruto. Como, porém, todos os homens são egoístas e querem monopolizar os bens terrenos em proveito exclusivo, o Mestre aconselha com muita justeza que, ao menos, façam como o mordomo infiel: granjeiem amigos com esses bens dos quais ilegalmente se apossaram.

A parábola vertente contém, em suma, uma transcendente lição de sociologia, encerrando um libelo contra a avareza e uma belíssima apologia da liberalidade e do altruísmo, virtudes cardeais do Cristianismo.

Obedecem ao mesmo critério, acima exposto, estes outros dizeres da parábola: Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito. Se, pois, não fostes fiéis nas riquezas injustas, quem vos confiará as verdadeiras? E se não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso? Não podeis servir a dois senhores: a Deus e às riquezas.

É claro que a riqueza considerada como sendo o pouco, como sendo a iníqua e a alheia, é aquela que consiste nos bens temporais; e a riqueza reputada como sendo o muito, como sendo o fruto da justiça e que constitui legítima propriedade nossa, é aquela representada pelo saber, pela virtude, pelos predicados de carácter, numa palavra, pela evolução conquistada pelo Espírito no decurso das existências que se sucedem na eternidade da vida.

A terra não constitui propriedade de ninguém: é património comum. E, como a terra, qualquer outra espécie de bens, visto como toda a riqueza é produto da mesma terra. Ao homem é dado desfrutá-la na proporção estrita das suas legítimas necessidades. Tudo que daí passa ou excede é uma apropriação indébita.

Não se acumula ar, luz e calor para atender aos reclamos do organismo. O homem serve-se naturalmente daqueles elementos, sem as egoísticas preocupações de entesourar.

O testemunho eloquente e insofismável dos factos demonstra que o solo, quanto mais dividido e retalhado, mais prosperidade, mais riqueza e paz assegura aos povos e às nações.

"Radix omnium malorum est avaritia." (**)

/...

(*) Este parágrafo e os três anteriores alertam-nos para o erro que em consequência são a causa de graves problemas para o espírito nos casos de suicídio e nas práticas da eutanásia. Nota desta publicação.
(**) A raiz de todos os males é o amor ao dinheiro.

" Aos que comigo crêem e sentem as revelações do Céu, comprazendo-se na sua doce e encantadora magia, dedico esta obra. "

                                                                                     Pedro de Camargo “Vinícius”


Pedro de Camargo “Vinícius” (i)Em torno do Mestre, Primeira Parte / Seixos e Gravetos; O humano e o divino / O mordomo infiel, 3º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: A Arte da Pintura, óleo sobre tela (1666), de Johannes Vermeer)

domingo, 4 de março de 2018

Hippolyte Léon Denisard Rivail


Reconhecimento da existência dos Espíritos e de suas manifestações ~

Se as primeiras manifestações espíritas fizeram numerosos adeptos, porém, não somente encontraram muitos incrédulos, mas, também, adversários ferrenhos e, muitas vezes, até, interessados no seu descrédito. Hoje, os factos falam tão alto que é forçoso reconhecer-lhes a evidência e, se ainda existem incrédulos sistemáticos, podemos predizer com segurança que não se passarão muitos anos para acontecer com os Espíritos o que se deu com a maior parte das descobertas, que foram pertinazmente combatidas ou encaradas como utopias por aqueles cujo saber deveria tê-los tornado menos cépticos no que diz respeito ao progresso. Já vimos muitas pessoas, entre as que não se aprofundaram nesses estranhos fenómenos, concordar que o nosso século é tão fecundo em factos extraordinários, que a Natureza tem tantos recursos desconhecidos, que seria mais que leviandade negar-se a possibilidade daquilo que não se compreende. Estes, dão prova de sabedoria. Vamos referir aqui uma autoridade que não poderá ser suspeita e se prestar levianamente a uma mistificação; A Civiltà Cattolica, um dos principais jornais eclesiásticos de Roma. Reproduziremos, mais adiante, um artigo que este jornal publicou no mês de Março, passado, no qual se verá que seria difícil provar a existência e a manifestação dos Espíritos por argumentos mais peremptórios. É verdade que divergimos dele sobre a natureza dos Espíritos; já que nele não admitem, senão, os maus, enquanto que nós admitimos os bons e os maus; é um ponto que abordaremos mais tarde, com todos os desenvolvimentos necessários. O reconhecimento das manifestações espíritas por uma autoridade tão grave e tão respeitável é um ponto capital. Resta, pois, julgá-las: é o que faremos no próximo número. Reproduzindo o artigo, Univers que o faz preceder das seguintes e sábias reflexões:

“Por ocasião da publicação de uma obra, em Ferrara, sobre a prática do magnetismo animal (i), referimos aos nossos leitores os sábios artigos que acabavam de aparecer na Civiltà Cattolica, de Roma, sobre a Necromancia moderna, reservando-nos trazer-lhes mais amplas informações. Publicamos hoje o último desses artigos que, em algumas páginas, contém as conclusões da revista romana. Além do interesse que naturalmente se liga a estas matérias e, a confiança que deve inspirar um trabalho publicado pela Civiltà, a oportunidade particular da questão nos dispensa, neste momento, de chamar a atenção para uma matéria que muitas pessoas, tanto na teoria como na prática, trataram de maneira tão pouco séria, a despeito da regra, de vulgar prudência, que recomenda sejam os factos examinados com tanto maior circunspecção quanto mais extraordinários pareçam.”

Eis o artigo: “De todas as teorias propostas para explicar naturalmente os diversos fenómenos conhecidos sob o nome de espiritualismo americano, não há uma só que alcance o objectivo, e, menos ainda, consiga dar a razão de todos eles. Se uma ou a outra destas hipóteses é suficiente para explicar alguns destes fenómenos, sempre restarão alguns que permanecerão inexplicáveis. A fraude, a mentira, o exagero, as alucinações, sem dúvida devem ter uma grande parte nos factos referidos; mas, dado o desconto, resta ainda um volume tal que; para negar a realidade, seria preciso recusar toda a fé na autoridade dos sentidos e no testemunho humano. Entre os factos em questão, um certo número pode ser explicado pela teoria mecânica ou mecânico-fisiológica; porém, há uma parte, muito mais considerável, que não se presta, de maneira alguma, a uma explicação desse género. A esta ordem de factos se ligam todos os fenómenos nos quais, dizem, os efeitos obtidos, ultrapassam, evidentemente, a intensidade da força motriz que os deveria produzir. Designadamente: 1º os movimentos; os sobressaltos violentos de massas pesadas e solidamente equilibradas, à simples pressão e ao leve toque das mãos; 2º os efeitos e os movimentos que se produzem sem nenhum contacto, consequentemente sem qualquer impulso mecânico, quer seja imediato ou mediato; e, enfim, esses outros efeitos, que são de natureza a manifestar, em quem os produz, uma inteligência e uma vontade distintas das dos experimentadores. Para dar a razão dessas três ordens de factos diversos, temos ainda a teoria do magnetismo; mas, por maiores que sejam as concessões que se lhe disponhamos fazer e, mesmo admitindo, de olhos fechados, todas as hipóteses gratuitas sobre as quais ela se fundam, todos os erros e absurdos de que está repleta e, as faculdades miraculosas por ela atribuídas à vontade humana, ao fluido nervoso ou a quaisquer outros agentes magnéticos, jamais poderá, essa teoria, com o auxílio desses princípios, explicar completamente como uma mesa magnetizada por um médium manifesta nos seus movimentos uma inteligência e uma vontade próprias, isto é, distintas das do médium e que, por vezes, são contrárias e superiores à sua inteligência e vontade.

“Como dar a razão de semelhantes fenómenos? Queremos, também nós, recorrer a não sei que causas ocultas, a que forças ainda desconhecidas da Natureza?; a explicações novas de certas faculdades, de certas leis que, até ao presente, permaneceram inertes e como que adormecidas no seio da Criação? Estaríamos, desse modo, confessando abertamente a nossa ignorância e levando o problema a aumentar o número de tantos enigmas, dos quais o pobre espírito humano não pôde, até ao momento, nem poderá jamais decifrar. Aliás, não hesitamos em confessar a nossa ignorância em relação a vários dos fenómenos em questão, dos quais a natureza é tão equívoca e tão obscura, que a atitude mais prudente, parece-nos, é não tentar explicá-los. Em compensação, há outros para os quais não nos é difícil encontrar a solução; é verdade que é impossível procurá-las nas causas naturais; por que, então, haveríamos de hesitar em recorrer às causas que pertencem à ordem sobrenatural? Talvez fôssemos desviados pelas objecções que nos opõem os cépticos e os que, negando essa ordem sobrenatural, nos dizem que não se pode definir até onde se estendem as forças da Natureza; que o campo que ainda resta descobrir pelas ciências físicas não tem limites e que ninguém conhece suficientemente bem quais são os limites da ordem natural para poder indicar, com precisão, o ponto onde termina esta e começa aquela. A resposta a tal objecção parece-nos fácil: admitindo que não se possa determinar, de modo preciso, o ponto de divisão dessas duas ordens opostas, a natural e a sobrenatural, não se deduz daí que seja impossível definir com certeza se um dado efeito pertence a esta ou àquela. Quem pode, no arco-íris, distinguir o ponto preciso onde acaba uma cor e começa a seguinte? Quem pode fixar o momento exacto onde acaba o dia e começa a noite? E, entretanto, não há um só homem, por mais limitado que seja, que não distinga se tal zona do arco-íris é vermelha ou amarela, se a tal hora é dia ou noite. Quem não percebe que, para conhecer a natureza de um facto, de modo algum é necessário passar pelo limite onde começa ou acaba a categoria à qual o mesmo pertence e, que basta constatar se tem os caracteres peculiares a essa categoria?

“Apliquemos esta observação tão simples à presente questão: não podemos dizer até onde vão as forças da Natureza; entretanto, dando-se um facto podemos dizer, muitas vezes, com certeza, segundo os seus caracteres, que ele pertence à ordem sobrenatural. E, para não sair do nosso problema, entre os fenómenos das mesas falantes (i) há vários que, na nossa opinião, manifestam esses caracteres de maneira mais evidente; tais são aqueles nos quais o agente que move as mesas age como causa inteligente e livre, ao mesmo tempo em que revela uma inteligência e uma vontade próprias, isto é, superiores ou contrárias à inteligência e à vontade dos médiuns, dos experimentadores, dos assistentes; numa palavra, distintas destas, qualquer que seja o modo que ateste essa distinção. Seja como for, em tais casos somos forçados a admitir que esse agente é um Espírito e, não é um Espírito humano, estando, desde então, fora dessa ordem, dessas causas que costumamos chamar naturais, daquelas que não ultrapassam as forças do homem.

“Tais são precisamente os fenómenos que, como dissemos acima, resistiram a todas as teorias baseadas em princípios puramente naturais, enquanto que na nossa eles encontram uma mais fácil e clara explicação, pois todos sabem que o poder dos Espíritos sobre a matéria ultrapassa em muito o poder do homem e, porque não há efeito maravilhoso, entre os citados da necromancia moderna, que não possa ser atribuído à sua acção.

“Sabemos perfeitamente que, ao nos verem colocar em cena os Espíritos, mais de um leitor sorrirá dorido. Sem falar dos que, verdadeiros materialistas, não acreditam na existência dos Espíritos e rejeitam, como fábula, tudo quanto não seja matéria ponderável e palpável, como também aqueles que, admitindo que existem Espíritos, lhes negam qualquer influência ou intervenção no que diz respeito ao nosso mundo; há, nos nossos dias, muitas criaturas que, concedendo aos Espíritos o que nenhum bom católico lhes poderia recusar, isto é, a existência e a faculdade de intervir nos factos da vida humana, de maneira oculta ou patente, ordinária ou extraordinária, parecem todavia desmentir a sua fé na prática e, considerar como uma vergonha, como um excesso de credulidade, como uma superstição de mulher velha, admitir a acção dos mesmos Espíritos em certos casos especiais, contentando-se, em geral, em não os negar. Na verdade, há um século zombou-se tanto da simplicidade da Idade Média, acusando-a de ver Espíritos, sortilégios e feiticeiros por toda a parte e, tanto se especulou a esse respeito, que não é de admirar que tantas cabeças fracas, querendo parecer fortes, experimentem agora repugnância e uma espécie de vergonha em crer na intervenção dos Espíritos. Mas esse excesso de incredulidade não é menos despropositado do que em outras épocas o foi o excesso contrário; se, em semelhante matéria, crer em demasia leva a vãs superstições, por outro lado, nada querer admitir conduz directamente à impiedade do naturalismo. O homem sábio, o cristão prudente deve, pois, do mesmo modo, evitar esses dois extremos e manter-se firme na linha intermediária: aí estão a verdade e a virtude. Agora, nessa questão das mesas falantes, para que lado nos fará inclinar uma fé prudente?

“A primeira, a mais sábia das regras que nos impõe essa prudência ensina-nos que, para explicar os fenómenos que oferecem um carácter extraordinário, somente se deve recorrer às causas sobrenaturais se as pertencentes à ordem natural não forem suficientes para os explicar. Em compensação, daí resulta a obrigação de admitir as primeiras, quando as segundas são insuficientes; é justamente o nosso caso. Com efeito, entre os fenómenos de que falamos, há aqueles para os quais nenhuma teoria, nenhuma causa puramente natural poderia dar razão. Assim, pois, não só é prudente, mas necessário, mesmo, procurar a sua explicação na ordem sobrenatural ou, por outras palavras, atribuí-los aos Espíritos puros, visto que, fora e acima da Natureza, outra causa possível não existe.

“Eis uma segunda regra, um criterium infalível para se afirmar, a respeito de um facto qualquer, se pertence à ordem natural ou à sobrenatural: examinar-lhe bem os caracteres e, conforme com eles, determinar a natureza da causa que o produziu. Ora, os factos mais maravilhosos desse género, os que nenhuma outra teoria pode explicar, apresentam caracteres tais que não só demonstram uma causa inteligente e livre, mas ainda dotada de uma inteligência e de uma vontade que nada têm de humano; portanto, não pode essa causa deixar de ser senão um Espírito puro.

“Assim, por dois caminhos, um indirecto e negativo, que procede por exclusão, o outro directo e positivo, fundado sobre a própria natureza dos factos observados, chegaremos a essa mesma conclusão, a saber: que entre os fenómenos da necromancia (i) moderna há pelo menos uma categoria de factos que, sem nenhuma dúvida, são produzidos pelos Espíritos. Somos levados a essa conclusão por um raciocínio tão simples, tão natural que, aceitando-o, longe do medo de ceder a uma imprudente credulidade, julgamos, ao contrário, fazer prova de uma fraqueza e de uma incoerência de espírito indesculpável, caso o recusemos. Para confirmar a nossa asserção, não nos faltam argumentos, mas, sim, espaço e tempo para desenvolvê-los aqui. O que dissemos até ao momento é suficiente e pode resumir-se nas quatro seguintes proposições:

“1º Entre os fenómenos em questão, deixando de lado os que podem razoavelmente ser atribuídos à impostura, às alucinações e aos exageros, grande número ainda existe, cuja realidade não pode ser posta em dúvida sem que se violem todas as leis de uma crítica sadia.

“2º Todas as teorias naturais que expusemos e discutimos, acima, são impotentes para dar uma explicação satisfatória de todos esses factos; explicam-se alguns, deixam um grande número – e estes são os mais difíceis – totalmente inexplicados e inexplicáveis.

“3º Os fenómenos desta última ordem, por implicarem a acção de uma causa inteligente estranha ao homem, só podem ser explicados pela intervenção dos Espíritos, seja qual for, aliás, o carácter desses Espíritos, questão de que adiante nos ocuparemos.

“4º Estes factos podem dividir-se em quatro categorias: muitos deles devem ser rejeitados como falsos ou como produto de fraude; quanto aos outros, os mais simples, os mais fáceis de conceber, tais como as mesas girantes, em certas circunstâncias admitem uma explicação puramente natural: a do impulso mecânico, por exemplo; uma terceira classe compõe-se de fenómenos mais extraordinários e mais misteriosos sobre a natureza dos quais se fica em dúvida, porque, se bem que pareçam ultrapassar as forças da Natureza, não apresentam, entretanto, caracteres tais que, evidentemente, para os explicar, se deva recorrer a uma causa sobrenatural. Enfim, agrupamos na quarta categoria os factos que, oferecendo de maneira evidente esses caracteres, devem ser atribuídos à operação invisível dos Espíritos puros.

“Mas, esses Espíritos como são? Bons ou maus? Anjos ou demónios? Almas bem-aventuradas ou almas condenadas? A resposta a esta última parte do nosso problema não pode suscitar dúvidas, por pouco que se considere, de uma parte, a natureza desses Espíritos e, de outra, o carácter das suas manifestações. É o que nos falta demonstrar.”

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Allan Kardec (i), aliás,  Hippolyte Léon Denisard Rivail, La Revue Spirite, Reconhecimento da Existência dos Espíritos e de suas Manifestações, Jornal de Estudos Psicológicos de Janeiro de 1858, 2º fragmento da Revista objecto do presente título desta publicação.
(imagem de contextualização: Dança rebelde, 1965 – Óleo sobre tela, de Noêmia Guerra)