Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

quarta-feira, 26 de julho de 2023

as vidas sucessivas | os elementos ~


Experiências magnéticas 
– O Sono magnético e o corpo fluído

1) Os estados da hipnose

  Antes de expor as minhas experiências sobre a regressão da memória e a precognição, farei um rápido resumo de como o magnetismo age habitualmente sobre os sensitivos que estudei. 

  Sob a influência de passes longitudinais exercidos de cima para baixo e combinados com a imposição da mão direita sobre a cabeça do sujet (i) sentado diante de mim, produz-se uma série de estados semelhantes à vigília, mas apresentando cada uma das características específicas que servem para denominá-los, (ii) e que se sucedem sempre na mesma ordem. 

  Esses estados são separados por fases de letargia com a aparência do sono habitual que permitem distingui-los nitidamente uns dos outros quando o sujet bastante envolvido não queima as etapas. 

  Eis, sumariamente, a enumeração dessas características específicas e a sua sucessão: 

  1º estado: vigília

  I: fase de letargia

  2º estado: sonambulismo. O sujet parece uma pessoa desperta gozando de todas as suas faculdades, no entanto é bastante sugestionável e apresenta o fenómeno da insensibilidade cutânea, que persiste em todos os estados seguintes. A memória é normal. 

  II: fase de letargia

  3º estado: rapport(iii) O sujet não percebe ninguém além do magnetizador e das pessoas que este coloca em relação com aquele, seja por um contacto ou mesmo por um simples olhar. Apresenta a sensação de bem-estar bastante pronunciada,
diminuição da memória normal e da sugestibilidade. A sensibilidade começa a exteriorizar-se numa camada paralela ao corpo e situada a cerca de trinta e cinco milímetros da pele. (iv) sujet vê os eflúvios exteriores dos corpos organizados e dos cristais. 

  III: fase de letargia.

  4º estado: simpatia ao contacto. A sensibilidade continua a exteriorizar-se e pode constatar-se uma segunda camada sensível a seis ou sete centímetros da primeira e de menor sensibilidade. O sujet experimenta as sensações do magnetizador quando este se coloca em contacto com ele. A sensibilidade cutânea desaparece, assim como a memória dos factos; elas não reaparecem nos estados seguintes, mas a memória da linguagem subsiste nesses estados, já que o sujet pode conversar com o magnetizador. 

  IV: fase de letargia

  5º estado: simpatia à distância. O sujet percebe todas as sensações do magnetizador, mesmo sem contacto, desde que a distância não seja muito grande. Ele já não vê os eflúvios exteriores dos corpos, mas vê os órgãos internos dos seres vivos. Já não é sugestionável e perde totalmente a memória de sua vida; e não conhece mais do que duas pessoas, o magnetizador e ele próprio, no entanto não sabe os seus nomes. 

  Em geral, a partir desse estado, um pouco mais cedo ou um pouco mais tarde, de acordo com o sujet, a sensibilidade que até esse momento se exteriorizava em camadas concêntricas à periferia do corpo, condensa-se para formar, primeiramente a cerca de um metro à sua direita, uma coluna nebulosa azul mais ou menos de seu tamanho e, em seguida, à sua esquerda, uma outra coluna análoga vermelha; (v) enfim, as duas colunas reúnem-se para formar uma única coluna cuja forma se precisa cada vez mais para constituir o fantasma do sujet. Esse fantasma, ligado ao corpo físico por um liame luminoso e sensível, que é como o seu cordão umbilical, torna-se cada vez mais móvel e obediente à vontade. Tem uma tendência bem pronunciada a elevar-se até uma altura que ele não pode ultrapassar; isso parece depender do grau de evolução intelectual e moral dos sujets, que vêem flutuar à sua volta seres apresentando uma cabeça com um corpo terminado em ponta como uma vírgula. Ficam felizes por terem saído do seu envoltório físico, dos seus andrajos, segundo uma expressão que utilizam com frequência e, repugna-lhes para aí voltarem. Todos estes fenómenos se desenvolvem e se precisam através de uma série de estados separados por fases de letargia que se sucedem como os dias e as noites. 

  Passes transversais reconduzem o sujet ao estado de vigília, fazendo-o passar, em ordem inversa, por todos os estados e todas as letargias pelos quais passou ao adormecer. 

  Em 1895, publiquei nos Annales des Sciences Psychiques um artigo intitulado “Fantasmas dos Vivos”, no qual expus com detalhes as minhas primeiras experiências sobre essa espécie de fenómenos, onde pude levar os sujets até um décimo terceiro estado, graças à electricidade. 

  Durville as retomou e as completou, expondo as suas próprias experiências num livro publicado em 1909 sob esse mesmo título: Fantómes des vivants(vi) 

/... 
(i) Não apresentando o termo sujet tradução exacta, decidimos mantê-lo, até mesmo porque o seu uso se tornou relativamente habitual. Significa, resumidamente, indivíduo em estudo ou estudado experimentalmente. (N.T.) 
(ii) Essas características foram seleccionadas por serem as que primeiro se apresentam à observação, mas é provável que haja outras ainda não reconhecidas. (A.R.
(iii) Estamos mantendo, nesta tradução, o termo rapport para designar a relação ou ligação que se opera entre o magnetizador e o sujet, durante o transe de regressão de memória. A tradução literal ou outro qualquer vocábulo não se mostraram apropriados e, na verdade, os investigadores sérios e os bons autores têm utilizado sempre o termo francês, que se consagrou. (N.T.) 
(iv) Em junho de 1904, o Sr. Charpentier comunicou à Academia das Ciências a seguinte experiência: “Colocando-se diante de uma parede reflectora e afastando progressivamente da superfície anterior do corpo em uma direcção normal uma pequena tela fosforescente (nódoa de sulfureto sobre cartão preto), vê-se que esta tela passa por máximos e mínimos de intensidade regularmente espaçados, indicando a existência, nas proximidades do corpo, de espécies de ondas estacionárias cujo comprimento é de cerca de 35 milímetros, ou seja, precisamente o comprimento de onda dos nervos.” (A.R.
(v) Em alguns sujets a formação do fantasma ocorre na ordem inversa. (A.R.
(vi) Se há algumas pequenas divergências nas nossas constatações, não se surpreendam. Os primeiros viajantes que penetram num país desconhecido não concentram necessariamente a sua atenção sobre os mesmos pontos e estão sujeitos a não os verem exactamente no mesmo dia. Foi assim que, durante anos, magnetizei sensitivos sem observar o fenómeno da regressão da memória, que passava sem dúvida despercebido por mim, porque eu não interrogava o sujet sobre as coisas que me poderiam indicá-lo. Actualmente, ainda, não estou muito seguro sobre as causas que a determinam, apesar de supor que ela aconteça devido ao facto de que, sob a influência de passes que fixam os laços que unem o corpo material ao corpo fluídico, este se concentra ao invés de exteriorizar-se; pois constatei diversas vezes que eu já não encontrava camada sensível em volta do sujet quando ele recuava no tempo e, os espectadores videntes diziam, quando o fenómeno se produzia depois da formação do corpo fluídico, que viam este corpo mudar de forma e diminuir quando o sujet voltava a ser criança. (A.R.


Albert de RochasAs Vidas Sucessivas, Segunda Parte Experiências magnéticas Capítulo I O sono magnético e o corpo fluídico; 1 – Os estados da hipnose, 1º fragmento desta obra.  
(imagem de contextualização: Albert de Rochas d'Aiglun (1837-1914), engenheiro militar francês, historiador da ciência, pesquisador de fenómenos espíritas, escritor, tradutor e administrador da Escola Politécnica de Paris)