Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Da sombra do dogma à luz da razão ~


~ Uranografia Geral (*)  
O espaço e o tempo ~ 

| Galileu, Espírito 
(Études Uranographiques) (V) 

~ Os sóis e os planetas 🌈 

  Ora, aconteceu que num ponto do Universo, perdido entre as miríades (i) de mundos, a matéria cósmica se condensou sob a forma de uma imensa nebulosa. Esta nebulosa estava animada com as leis universais que regem a matéria; devido a estas leis e sobretudo à força molecular de atracção, tomou a forma de uma massa de matéria isolada no espaço. 

  O movimento circular produzido pela gravitação rigorosamente igual de todas as zonas moleculares em direcção ao centro, em breve transformou a esfera primitiva para a conduzir, de movimento em movimento, até à forma lenticular – falamos do conjunto da nebulosa. 

  Novas formas surgiram como consequência deste movimento de rotação: a força centrípeta e a força centrífuga; a primeira tendendo a reunir todas as forças no centro, a segunda tendendo a afastá-las. Ora, acelerando-se o movimento à medida que a nebulosa se condensa e o seu raio aumentando à medida que se aproxima da forma lenticular, a força centrífuga, constantemente desenvolvida por estes dois motivos, em breve predominou sobre a atracção central. 

  Tal como um movimento demasiado rápido da funda lhe quebra a corda e deixa fugir o projéctil para longe, assim o predomínio da força centrífuga separou o círculo equatorial da nebulosa e com esse anel formou uma nova massa isolada da primeira mas mesmo assim submetida ao seu império. Esta massa conservou o seu movimento equatorial que, passou a ser o seu movimento de translação à volta do astro solar. Além disso, o seu novo estado dá-lhe um movimento de rotação à volta do seu próprio centro. 

  A nebulosa geradora que deu nascimento a este novo mundo condensou-se e retomou a forma esférica; mas o calor primitivo, desenvolvido pelos seus diversos movimentos, enfraquecendo com extrema lentidão, fez com que o fenómeno que acabamos de descrever se reproduza frequentemente e durante um longo período, enquanto esta nebulosa não se tiver tornado demasiado densa, demasiado sólida para opor uma resistência eficaz às alterações de forma que o seu movimento de rotação lhe imprime sucessivamente. 

  Não terá então dado vida a um único astro, mas a centenas de mundos destacados da morada central, provenientes dela através do modo de formação referido acima. Ora, cada um desses mundos, revestido tal como o mundo primitivo com forças naturais que presidem à criação dos Universos, engendrará a seguir novos globos gravitando a partir daí à sua volta, como gravita conjuntamente com os seus irmãos à volta do domicílio da sua existência e da sua vida. Cada um destes mundos será um sol, centro de um turbilhão de planetas sucessivamente fugidos do seu equador. Estes planetas receberão uma vida especial, particular, embora dependente do seu astro gerador. 

  Os planetas são assim formados por massas de matéria condensada, mas ainda não solidificada, destacadas da massa central pela acção da força centrífuga e tomando, devido às leis do movimento, uma forma esferóide mais ou menos elíptica, consoante o grau de fluidez que conservam. Um destes planetas será a Terra que antes de esfriar e ficar revestida com uma crosta sólida, dará nascimento à Lua através do mesmo modo de formação astral a que deve a sua própria existência; a Terra, a partir de então inscrita no livro da vida, berço de criaturas cuja fraqueza está protegida com a ajuda da divina Providência, nova corda na harpa infinita que deve vibrar no seu lugar no concerto universal dos mundos. 

                                                                                                     Espírito Galileu 

/… 

(*) Este capítulo foi textualmente extraído de uma série de comunicações ditadas à Sociedade Espírita de Paris, em 1862 e 1863, sob o título de Études Uranographiques e assinado, Galileu; médium M. C. F. (N. do A.) 


ALLAN KARDEC, A GÉNESE – Os Milagres e as Profecias Segundo o Espiritismo, Capítulo VI, Uranografia Geral, O espaço e o tempo – Os sóis e os planetas (de 20 a 23), 27º fragmento desta obra. Tradução portuguesa de Maria Manuel Tinoco, Editores Livros de Vida. 
(imagem de contextualização: Diógenes e os pássaros de pedra, pintura em acrílico de Costa Brites).

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

O problema do ser ~


(Quem sou... o que faço aqui... de onde vim... para onde vou...) 

Introdução ~

  Uma dolorosa observação surpreende o pensador no ocaso da vida. Resulta também, mais pungente, das impressões sentidas em seu giro pelo espaço. Reconhece ele então que, se o ensino ministrado pelas instituições humanas, em geral – religiões, escolas, universidades –, nos faz conhecer muitas coisas supérfluas, em compensação, quase nada ensina do que mais precisamos saber, para o encaminhamento da existência terrestre e preparação para o Além. 

  Aqueles, a quem incumbe a alta missão de esclarecer e guiar a alma humana, parecem ignorar a sua natureza e, os seus verdadeiros destinos. 

  Nos meios universitários, reina ainda, completa incerteza, sobre a solução do mais importante problema, com que o homem se defronta na sua passagem pela Terra. Essa incerteza reflecte-se em todo o ensino. A maior parte dos professores e pedagogos, afasta sistematicamente das suas lições, tudo o que se refere ao problema da vida, às questões de termo e finalidade... 

  Encontramos, a mesma impotência, no padre. Pelas suas afirmações despidas de provas, apenas consegue comunicar às almas que lhe estão confiadas, uma crença que já não corresponde às regras duma crítica  nem às exigências da razão

  Com efeito, na Universidade, assim como na Igreja, a alma moderna não encontra senão obscuridade e contradição em tudo o que diz respeito ao problema da sua natureza e do seu futuro. É a esse estado de coisas que se deve atribuir, em grande parte, o mal de nossa época, a incoerência das ideias, a desordem das consciências, a anarquia moral e social. 

  A educação que se dá às gerações é complicada; mas, não lhes esclarece o caminho da vida; não lhes dá a têmpera necessária para as lutas da existência. O ensino clássico pode guiar na cultura, no ornamento da inteligência; não inspira, entretanto, a acção, o amor, a dedicação. Ainda menos possibilita alcançar uma concepção da vida e do destino que desenvolva as energias profundas do “eu” e nos oriente os impulsos e os esforços para um fim elevado. Essa concepção, no entanto, é indispensável a todo o ser, a toda a sociedade, porque é o sustentáculo, a consolação suprema nas horas difíceis, a origem das virtudes másculas e das altas inspirações. 

  Carl du Prel refere o facto seguinte: (1) 

  “Um amigo meu, professor da Universidade, passou pela dor de perder uma filha, o que lhe reavivou o problema da imortalidade. Dirigiu-se aos colegas, professores de Filosofia, esperando encontrar consolações nas suas respostas. Amarga decepção: pedira um pão, ofereciam-lhe pedras; procurava uma afirmação, respondiam-lhe com um talvez!” 

  Francisque Sarcey(2) modelo completo do professor da Universidade, escrevia: (3) 

  “Estou na Terra. Ignoro absolutamente como aqui vim ter e como aqui fui colocado. Não ignoro menos como daqui sairei e o que de mim será quando daqui sair.” 

  Ninguém o confessaria mais francamente: a filosofia da escola, depois de tantos séculos de estudo e de labor, é ainda uma doutrina sem luz, sem calor, sem vida. (4) A alma dos nossos filhos, sacudida entre sistemas diversos e contraditórios – o positivismo de Auguste Comte, o naturalismo de Hegel, o materialismo de Stuart Mill, o eclectismo de Cousin, etc. –, flutua incerta, sem ideal, sem fim preciso. 

  Daí o desânimo precoce e o pessimismo dissolvente, moléstias das sociedades decadentes, ameaças terríveis para o futuro, a que se junta o cepticismo amargo e zombeteiro de tantos jovens da nossa época; em nada mais acreditam do que na riqueza, nada mais honram que o êxito

  O eminente professor Raoul Pictet assinala esse estado de espírito na introdução da sua última obra sobre as ciências psíquicas. (5) Fala ele do efeito desastroso produzido pelas teorias materialistas na mentalidade dos seus alunos, e conclui assim: 

  “Esses pobres jovens admitem que tudo quanto se passa no mundo é efeito necessário e fatal de condições primárias, em que a vontade não intervém; consideram que a própria existência é, forçosamente, joguete da fatalidade inelutável, à qual estão entregues e de pés e mãos atados. 

  Esses jovens deixam de lutar logo às primeiras dificuldades. Já não crêem em si mesmos. Tornam-se túmulos vivos, onde se encerram, promiscuamente, as suas esperanças, os seus esforços, os seus desejos, fossa comum de tudo o que lhes fez bater o coração até ao dia do envenenamento. Tenho visto cadáveres desses diante das suas carteiras e no laboratório e, têm-me causado pena vê-los.” 

  Tudo isso não é somente aplicável a uma parte da nossa juventude, mas também a muitos homens do nosso tempo e da nossa geração, nos quais se pode verificar uma espécie de lassidão moral e de abatimento. F. Myers reconhece-o, igualmente. Diz ele: (6) 

  “Há uma espécie de inquietação, um descontentamento, uma falta de confiança no verdadeiro valor da vida. O pessimismo é a doença moral do nosso tempo.” 

  As teorias de além-Reno, as doutrinas de Nietzsche, de Schopenhauer, de Haeckel, etc., muito contribuíram, por seu lado, para determinar esse estado de coisas. A sua influência por toda a parte se espalha. Deve atribuir-se-lhes, em grande parte, esse lento trabalho, obra obscura de cepticismo e de desânimo, que se desenvolve na alma contemporânea, essa desagregação de tudo o que fortificava a alegria, a confiança no futuro, as qualidades viris de nossa raça. (7) 

  É tempo de reagir com vigor contra essas doutrinas funestas e de procurar, fora da órbita oficial e das velhas crenças, novos métodos de ensino que correspondam às imperiosas necessidades da hora presente. É preciso dispor os Espíritos para os apelos, os combates da vida presente e das vidas ulteriores; é necessário, sobretudo, ensinar o ser humano a conhecer-se, a desenvolver, sob o ponto de vista dos seus fins, as forças latentes que nele dormem. 

  Até aqui, o pensamento confinava-se em círculos estreitos: religiõesescolas, ou sistemas, que se excluem e combatem reciprocamente. Daí essa divisão profunda dos espíritos, essas correntes violentas e contrárias, que perturbam e confundem o meio social. 

  Aprendamos a sair desses círculos austeros e a dar livre expansão ao pensamento. Cada sistema contém uma parte da verdade; nenhum contém a realidade inteira. 

  O universo e a vida têm aspectos muito variados, numerosos demais para que um sistema possa abraçar a todos. Dessas concepções disparatadas, devem recolher-se os fragmentos de verdade que contêm, aproximando-os e pondo-os de acordo; é necessário, depois, uni-los aos novos e múltiplos aspectos da verdade que descobrirmos todos os dias e encaminharmo-nos para a unidade majestosa e para a harmonia do pensamento. 

  A crise moral e a decadência da nossa época provêm, em grande parte, de se ter o espírito humano imobilizado durante muito tempo. É necessário arrancá-lo à inércia, às rotinas seculares, levá-lo às grandes altitudes, sem perder de vista as bases sólidas que lhe vem oferecer uma ciência engrandecida e renovada. É essa ciência do amanhã que trabalhamos para constituir. Ela nos fornecerá o critério indispensável, os meios de verificação e de comparação sem os quais o pensamento, entregue a si próprio, estará sempre em risco de desvairar. 

  A perturbação e a incerteza que verificamos no ensino repercutem e se encontram, dizíamos, na ordem social inteira. 

  Em toda a parte a crise existe, inquietante. Debaixo da superfície brilhante de uma civilização apurada esconde-se um mal-estar profundo. A irritação cresce nas classes sociais. O conflito dos interesses e a luta pela vida tornam-se, dia a dia, mais ásperos. O sentimento do dever tem-se enfraquecido na consciência popular, a tal ponto que muitos homens já não sabem onde está o dever. A lei do número, isto é, da força cega, domina mais do que nunca. Pérfidos retóricos dedicam-se a desencadear as paixões, os maus instintos da multidão, a propagar teorias nocivas, às vezes criminosas. Depois, quando a maré sobe e sopram os ventos de tempestade, eles afastam de si toda a responsabilidade. 

  Onde está, pois, a explicação desse enigma, dessa contradição notável entre as aspirações generosas do nosso tempo e a realidade brutal dos factos? Porquê um regime que suscitara tantas esperanças ameaça chegar à anarquia, à ruptura de todo o equilíbrio social? 

  A inexorável lógica vai responder-nos: a Democracia, radical ou socialista, nas suas massas profundas e no seu espírito dirigente, inspirando-se nas doutrinas negativas, não podia chegar senão a um resultado negativo para a felicidade e elevação da humanidade. Tal é o ideal, tal é o homem; tal é a nação, tal é o país

  As doutrinas negativas, nas suas consequências extremas, levam fatalmente à anarquia, isto é, ao vácuo, ao nada social. A história humana já o tem experimentado dolorosamente. 

  Enquanto se tratou de destruir os restos do passado, de dar o último golpe nos privilégios que restavam, a Democracia serviu-se habilmente dos seus meios de acção. Mas, hoje, importa reconstruir a cidade do futuro, o edifício vasto e poderoso que deve abrigar o pensamento das gerações. Diante dessas tarefas, as doutrinas negativistas mostram a sua insuficiência e revelam a sua fragilidade; vemos os melhores operários debaterem-se com uma espécie de impotência material e moral. 

  Nenhuma obra humana pode ser grande e duradoura se não se inspirar, na teoria e na prática, nos seus princípios e nas suas explicações, nas leis eternas do universo. Tudo o que é concebido e edificado fora das leis superiores se afunda na areia e se desmorona. 

  Ora, as doutrinas do socialismo actual têm uma tara capital. Querem impor uma regra em contradição com a Natureza e a verdadeira lei da humanidade: o nível igualitário. 

  A evolução gradual e progressiva é a lei fundamental da Natureza e da vida. É a razão de ser do homem, a norma do universo. Insurgir-se contra essa lei, substitui-la com outro fim, seria tão insensato como querer parar o movimento da Terra ou o fluxo e o refluxo dos oceanos. 

  O lado mais fraco da doutrina socialista é a ignorância absoluta do homem, do seu princípio essencial, das leis que presidem ao seu destino. E quando se ignora o homem individual, como se poderia governar o homem social? 

  A origem de todos os nossos males está na nossa falta de saber e na nossa inferioridade moral. Toda a sociedade permanecerá débil, impotente e dividida durante todo o tempo em que a desconfiança, a dúvida, o egoísmo, a inveja e o ódio a dominarem. Não se transforma uma sociedade por meio de leis. As leis e as instituições nada são sem os costumes, sem as crenças elevadas. Quaisquer que sejam a forma política e a legislação de um povo, se ele possui bons costumes e fortes convicções, será sempre mais feliz e poderoso do que outro povo de moralidade inferior. 

  Sendo uma sociedade a resultante das forças individuais, boas ou más, para se melhorar a forma dessa sociedade é preciso agir primeiro sobre a inteligência e sobre a consciência dos indivíduos. 

  Mas, para a Democracia socialista, o homem interior, o homem da consciência individual não existe; a colectividade o absorve por inteiro. Os princípios que ela adopta não são mais do que uma negação de toda a filosofia elevada e de toda a causa superior. Não se procura outra coisa senão conquistar direitos; entretanto, o gozo dos direitos não pode ser obtido sem a prática dos deveres. O direito sem o dever, que o limita e corrige, só pode produzir novas dilacerações, novos sofrimentos. 

  Eis por que o impulso formidável do Socialismo não faria senão deslocar os apetites, as ambições, os sofrimentos e, substituir as opressões do passado por um despotismo novo, mais intolerável ainda. 

  Já podemos medir a extensão dos desastres causados pelas doutrinas negativas. O Determinismo, o Monismo, o Materialismo, negando a liberdade humana e a responsabilidade, minam as próprias bases da Ética universal. O mundo moral não é mais que um anexo da Fisiologia, isto é, o reinado, a manifestação da força cega e irresponsável. Os espíritos de escol professam o Niilismo metafísico e, a massa humana, o povo, sem crenças, sem princípios fixos, está entregue a homens que lhe exploram as paixões e especulam com as suas ambições. 

  O Positivismo, apesar de ser menos absoluto, não é menos funesto nas suas consequências. Pelas suas teorias do desconhecido, suprime as noções de fim e de larga evolução. Toma o homem na fase actual da sua vida, simples fragmento do seu destino e, o impede de ver para diante e para trás de si. Método estéril e perigoso, feito, parece, para cegos de espírito e, que se tem proclamado muito falsamente como a mais bela conquista do espírito moderno. 

  Tal é o actual estado da Sociedade. O perigo é imenso e se alguma grande renovação espiritualista e científica não se produzisse, o mundo soçobraria na incoerência e na confusão. 

  Os nossos homens de governo sentem já o que lhes custa viver numa sociedade em que as bases essenciais da moral estão abaladas, em que as sanções são fictícias ou impotentes, em que tudo se funde, até a noção elementar do bem e do mal

  As igrejas, é verdade, apesar das suas fórmulas antiquadas e do seu espírito retrógrado, agrupam ainda à sua volta muitas almas sensíveis; mas, tornaram-se incapazes de conjurar o perigo, pela impossibilidade em que se colocaram, de fornecer uma definição precisa do destino humano e do Além, apoiada em factos probantes e bem estabelecidos. A religião, que teria, sobre esse ponto capital, o mais alto interesse em se pronunciar, conserva-se no vago. 

  A humanidade, cansada dos dogmas e das especulações sem provas, mergulhou no materialismo ou na indiferença. Não há salvação para o pensamento, senão por meio de uma doutrina baseada na experiência e no testemunho dos factos. 

  De onde virá essa doutrina? Que poder nos livrará do abismo em que nos arrastamos? Que ideal novo virá dar ao homem a confiança no futuro e o fervor pelo bem? Nas horas trágicas da História, quando tudo parecia desesperado, nunca faltou o socorro. A alma humana não se pode afundar inteiramente e perecer. No momento em que as crenças do passado se velam, uma concepção nova da vida e do destino, baseada na ciência dos factos, reaparece. A grande tradição revive sob formas engrandecidas, mais novas e mais belas. Mostra a todos um futuro cheio de esperanças e de promessas. Saudemos o novo reino da Ideia, vitoriosa sobre a Matéria e, trabalhemos para preparar-lhe o caminho. 

  A tarefa a cumprir é grande. A educação do homem deve ser inteiramente refeita. Essa educação, já o vimos, nem a Universidade nem a Igreja estão em condições de fornecer, pois já não possuem as sínteses necessárias para esclarecer a marcha das novas gerações. Uma só doutrina pode oferecer essa síntese, a do Espiritualismo científico; já Ela se eleva no horizonte do mundo intelectual e parece que há de iluminar o futuro. 

  A essa filosofia, a essa ciência, livre, independente, emancipada de toda a pressão oficial, de todo o compromisso político, as descobertas contemporâneas trazem a cada dia mais novas e preciosas contribuições. Os fenómenos do magnetismo, da radioactividade e da telepatia são aplicações de um mesmo princípio, manifestações de uma mesma lei, que rege conjuntamente o ser e o universo. 

  Mais alguns anos ainda de labor paciente, de experimentação conscienciosa, de pesquisas perseverantes e, a nova educação terá encontrado a sua fórmula científica, a sua base essencial. Esse acontecimento será o maior facto da História, desde o aparecimento do Cristianismo. 

  A educação, sabe-se, é o mais poderoso factor do progresso, pois contém em gérmen todo o futuro. Mas, para ser completa, deve inspirar-se no estudo da vida sob as suas duas formas alternantes, visível e invisível, na sua plenitude, na sua evolução ascendente para os cimos da natureza e do pensamento. 

  Os preceptores da humanidade têm, pois, um dever imediato a cumprir. É o de repor o Espiritualismo na base da educação, trabalhando para refazer o homem interior e a saúde moral. É necessário despertar a alma humana adormecida por uma retórica funesta; mostrar-lhe os seus poderes ocultos, obrigá-la a ter consciência de si mesma, a realizar os seus gloriosos destinos. 

  A ciência moderna analisou o mundo exterior; as suas penetrações no universo objectivo são profundas; isso será a sua honra e a sua glória; mas nada sabe ainda do universo invisível e do mundo interior. É esse o império ilimitado que lhe resta conquistar. Saber por que laços o homem se liga ao conjunto, descer às sinuosidades misteriosas do ser, onde a sombra e a luz se misturam, como na caverna de Platão, percorrer-lhe os labirintos, os redutos secretos, auscultar o “eu” normal e o “eu” profundo, a consciência e a subconsciência; não há estudo mais necessário. Enquanto as Escolas e as Academias não o tiverem introduzido nos seus programas, nada terão feito pela educação definitiva da humanidade. 

  Já vemos, porém, surgir e constituir-se uma psicologia maravilhosa e imprevista, de onde vão derivar uma nova concepção do ser e a noção de uma lei superior que abarca e resolve todos os problemas da evolução e do movimento transformador. 

  Um tempo se acaba; novos tempos se anunciam. A hora em que estamos é uma hora de transição e de parto doloroso. As formas esgotadas do passado empalidecem-se e se desfazem para dar lugar a outras, a princípio vagas e confusas, mas que se precisam cada vez mais. Nelas se esboça o pensamento crescente da humanidade. 

  O espírito humano está em trabalho, por toda a parte, sob a aparente decomposição das ideias e dos princípios; por toda a parte, na Ciência, na Arte, na Filosofia e até no seio das religiões, o observador atento pode verificar que uma lenta e laboriosa gestação se produz. A Ciência, sobretudo, lança em profusão sementes de ricas promessas. O século que começa será o das potentes eclosões. 

  As formas e as concepções do passado, dizíamos, já não são suficientes. Por mais respeitável que pareça essa herança, não obstante o sentimento piedoso com que se podem considerar os ensinamentos legados por nossos pais, percebe-se que esse ensinamento não foi suficiente para dissipar o mistério sufocante do porquê da vida. 

  Pode-se, entretanto, na nossa época, viver e agir com mais intensidade do que nunca; mas é possível viver e agir plenamente, sem se ter consciência do fim a atingir? O estado d’alma contemporâneo pede, reclama uma ciência, uma arte, uma religião de luz e de liberdade, que venham dissipar-lhe as dúvidas, libertá-lo das velhas servidões e das misérias do pensamento, guiá-lo para horizontes radiosos a que se sente levado pela própria natureza e pelo impulso de forças irresistíveis. 

  Fala-se muito de progresso; mas o que se entende por progresso? É uma palavra vazia e sonora, na boca de oradores na maior parte materialistas, ou tem um sentido determinado? Vinte civilizações têm passado pela Terra, iluminando com os seus alvores a marcha da humanidade. Os seus grandes focos brilharam na noite dos séculos; depois extinguiram-se. E o homem não discerne ainda, atrás dos horizontes limitados do seu pensamento, o além sem limites aonde o leva o destino. Impotente para dissipar o mistério que o cerca, estraga as suas forças nas obras da Terra e foge aos esplendores de sua tarefa espiritual, tarefa que fará a sua verdadeira grandeza. 

  A fé no progresso não caminha sem a fé no futuro, no futuro de cada um e de todos. Os homens não progridem e não se adiantam, senão crendo no futuro e caminhando com confiança, com certeza para o ideal entrevisto. 

  O progresso não consiste somente nas obras materiais, na criação de máquinas poderosas e de toda a ferramenta industrial; do mesmo modo, não consiste em descobrir processos novos de arte, de literatura ou formas de eloquência. O seu mais alto objectivo é empolgar, atingir a ideia primordial, a ideia mãe que há de fecundar toda a vida humana, a fonte elevada e pura de onde hão de dimanar conjuntamente as verdades, os princípios e os sentimentos que inspirarão as obras de peso e as nobres acções. 

  É tempo de o compreender: a Civilização só poderá engrandecer-se, a Sociedade só poderá subir se um pensamento cada vez mais elevado e uma luz mais viva vierem inspirar, esclarecer os espíritos e tocar os corações, renovando-os. Somente a ideia é mãe da acção. Somente a vontade de realizar a plenitude do ser, cada vez melhor, cada vez maior, nos pode conduzir aos cimos longínquos em que a Ciência, a Arte, toda a obra humana, numa palavra, encontrará a sua expansão, a sua regeneração. 

  Tudo no-lo diz: o universo é regido pela lei de evolução; é isso o que entendemos pela palavra progresso. E nós, no nosso princípio de vida, na nossa alma, na nossa consciência, estamos para sempre submetidos a essa lei. Não se pode desconhecer, hoje, essa força, essa lei soberana; ela conduz a alma e as suas obras, através do infinito do tempo e do espaço, a um fim cada vez mais elevado; mas essa lei não é realizável senão através dos nossos esforços. 

  Para fazer obra útil, para cooperar na evolução geral e recolher todos os seus frutos, é preciso, antes de tudo, aprender a discernir, a reconhecer a razão, a causa e o fim dessa evolução, saber aonde ela conduz, a fim de participar, na plenitude das forças e das faculdades que dormitam em nós, dessa ascensão grandiosa. 

  O nosso dever é traçar a trajectória à humanidade futura, da qual ainda faremos parte integrante, como no-lo ensinam a comunhão das almas, a revelação dos grandes Instrutores invisíveis e, como a Natureza o ensina, também, através dos seus milhares de vozes, pela renovação perpétua de todas as coisas, daqueles que a sabem estudar e compreender. 

  Vamos, pois, para o futuro, para a vida sempre renascente, pela via imensa que nos abre um Espiritualismo regenerado! 

  Fé do passado, ciências, filosofias, religiões, iluminai-vos com uma chama nova; sacudi os vossos velhos sudários e as cinzas que os cobrem. Escutai as vozes reveladoras do túmulo; elas nos trazem uma renovação do pensamento com os segredos do Além, que o homem tem necessidade de conhecer para melhor viver, melhor agir e melhor morrer! 

                                                                                           Léon Denis, Paris 1908 

/… 

(1) Carl du Prel - La Mort et l’Au-Delà, pág. 7. 
(2) François Sarcey de Suttières, também conhecido como Francisque Sarcey: célebre crítico literário e conferencista inspirado. (N.E.) 
(3) Petit Journal crónica, 7 de Março de 1894. 
(4) A propósito dos exames universitários, escrevia M. Ducros, deão da Faculdade de Aix, no Journal des Débats, de 3 de Maio de 1912: “Parece que existe entre o discípulo e as coisas, como que um anteparo, não sei que nuvem de palavras aprendidas, de factos esparsos e opacos. É sobretudo em filosofia que se experimenta essa penosa impressão.” 
(5) Étude critique du matérialisme et du spiritualisme, pour la physique expérimentale - F. Alcan, ed., 1896. 
(6) F. Myers - La Personnalité Humaine. 
(7) Estas linhas foram escritas antes da guerra de 1914-15. É preciso reconhecer que, no curso dessa luta gigantesca, a mocidade francesa demonstrou um heroísmo acima de todo o elogio. Mas, nisso em nada interveio a educação nacional. Devemos, pelo contrário, ver aí um acordar das qualidades étnicas que dormitavam no coração da raça. 


Léon Denis, O Problema do Ser, do Destino e da Dor, Apresentação, 1º fragmento desta obra. 
(imagem de contextualização: Sin título (detalhe), de uma pintura atribuída a Josefina Robirosa

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

O Homem e a Sociedade


Capítulo IV 

A FILOSOFIA CIENTÍFICA DE GUSTAVE GELEY 

(II de II) 

Seguindo o fio do seu pensamento filosófico, vê-se que Geley continuou a analisar a constituição do Ser, segundo os princípios da nova ideia. Considerou o Eu como um dinamopsiquismo essencial, em contraposição à psicologia clássica, que o considera como a soma de estados de consciência e, que o consciente e o inconsciente se interpenetram para se condicionar reciprocamente. Conceituou, sempre apoiado nos factos, que o dinamopsiquismo inconsciente ou subconsciente tende, pela evolução, a converter-se em dinamopsiquismo consciente; por isso é que todas as aquisições conscientes são assimiladas e convertidas em faculdades do espírito. 

Dessa maneira, o Ser se desenvolve, ou se manifesta e, adquire, fixando-as, as novas faculdades do sentir, do conhecer e do saber. O progresso espiritual e psicológico resume-se, portanto, na conversão dos conhecimentos em faculdades, o que a filosofia espírita denomina evolução palingenésica. O Ser alcança, pela experiência científica e pela indução filosófica, a síntese do indivíduo, que, como essência manifestante que é, se objectiva em representações hierárquicas, que se condicionam reciprocamente e, que, segundo os conhecimentos metapsíquicos actuais, são: 

— mental. 

— O dinamismo vital. 

— A substância orgânica única. 

Consequentemente, mostrou-nos que os factos psicológicos (em psicologia clássica são ainda um mistério puro) resultam, para a parapsicologia, de estados anormais, que têm pontos de contacto inevitáveis e recíprocas relações, que se interpenetram frequentemente. 

A evolução universal era, para Geley, como já sabemos: a passagem do inconsciente ao consciente no UniversoConcebeu o Cosmos como um dinamopsiquismo essencial e, também como representação. 

“Da mesma maneira que o indivíduo, — escreveu — o Universo deve conceber-se como representação temporária e como dinamopsiquismo essencial e real. Do mesmo modo que o organismo do indivíduo é apenas o produto ideoplástico de um dinamopsiquismo essencial, assim o Universo se apresenta como a formidável materialização da potencialidade criadora.” 

Dentro deste princípio, a evolução é a aquisição da consciência, tanto no microcosmo como no macrocosmo. Por isso explicou Geley que as faculdades evolutivas, que no transformismo clássico não têm um esclarecimento racional, se tornam compreensíveis quando vemos que o mais pode sair do menos, desde que a imanência criadora, que está na própria essência das coisas, possui todas as capacidades potenciais de realização. Em resumo, proclamou: “que a evolução colectiva, como a evolução individual, pode resumir-se nesta fórmula: passagem do inconsciente ao consciente.” 

Para corroborar esta concepção, escreveu Geley

“No indivíduo, o Ser aparente, submetido ao nascimento e à morte, limitado nas suas capacidades, efémero na sua duração, não é o Ser real; não é senão uma representação ilusória, atenuada e fragmentária.” 

“O Ser real, aprendendo pouco a pouco a conhecer-se a si mesmo e a conhecer o Universo, é a centelha divina a caminho de realizar a sua divindade, infinita nas suas potencialidades, criadora e eterna. No Universo manifestado, as diferentes aparências das coisas não são mais do que a representação ilusória, atenuada e restrita, da unidade divina, realizando-se numa evolução indefinida.” 

“A constituição dos mundos e dos indivíduos — dizia — não é, também, senão a realização progressiva da consciência eterna, pela multiplicidade progressiva de criações temporárias ou de objectivações”'. 

É neste ponto que o génio filosófico de Geley atinge o coroamento do seu idealismo metapsíquico, o qual, segundo René Sudre, constituía um ensinamento superior do espiritismo. Sem exaltadas declamações, já que frente ao materialismo resultariam estéreis, refutou o “grito lacerante” de pessimismo que lançava “um grande príncipe árabe do século X, no reinado que marcou o apogeu do Califado de Córdoba.” 

— Em que consiste esta existência? – perguntava o príncipe a si mesmo. 

— Em trabalhar um quarto de século para adquirir os meios de vida; em lutar outro quarto de século em incessantes sobressaltos, para que estes meios produzam um rendimento suficiente e; depois morrer, sem saber, na verdade, por que vivemos, – respondeu-lhe o seu próprio sentido pessimista da vida. 

“Quantas dores e tristezas, — anotou Geley — sobressaltos e medos, durante o pequeno quarto de século em que o homem “desfruta” das suas aquisições! Juventude efémera, com as suas ilusões perdidas; vida empregada em se preparar para viver; esperanças sempre falidas e sempre ressurgindo; algumas flores apanhadas à beira do caminho, quase sempre emurchecidas ao toque das mãos; alguns momentos de repouso e em seguida a marcha apressada que recomeça! Naufrágios pessoais; naufrágios familiares; trabalho rude e descanso; medos, desilusões e decepções: isso é o corrente para o comum dos mortais. Para aqueles que têm um “ideal”, é pior ainda: alguns destinos em busca da ilusão e, inauditos esforços para alcançá-la.” 

Esta é a vida humana, do ponto de vista do existencialismo ateu e do materialismo histórico, sobre o qual se funda a concepção marxista. Perante esta concepção sombria do mundo, Geley analisa o conceito optimista daquelas escolas que dizem se poder esperar uma era de menos dores, menos miséria e menos enfermidades. Numa palavra: em vez de uma noite escura de infortúnios e sofrimentos, iluminada apenas por alguns raios de gozo efémero, devemos esperar, — segundo estas escolas, — uma aurora de bem-estar, em que as sombras da dor farão apenas ressaltar melhor a sua refulgente harmonia e beleza. 

A este falso optimismo da vida, Gustave Geley responde da seguinte maneira: 

“Sim, podemos esperar tudo isso! Mas esta humanidade, chegando a gozar desse ideal, verá o seu triunfo e a sua felicidade erguerem-se sobre a hecatombe das gerações passadas; isto é, desfrutará de uma felicidade que os homens não terão merecido, do mesmo modo que os seus antepassados não mereceram as suas misérias!” 

“Há nesta concepção, — acrescentava, — uma tão grande injustiça que basta por si só para acarretar irresistivelmente o mais cru pessimismo filosófico.” Ao contrário, para que a visão mude, para que o pensamento das misérias humanas e da morte se despoje do seu carácter sombrio e da sua aparência maldita, é preciso a ideia e o ensinamento da doutrina palingenésica. Então: “tudo se esclarece, — dizia Geley, — os túmulos deixam de ser túmulos; são asilos passageiros para o fim da jornada.” E continuava: “Assim como desaparece, com a ideia palingenésica, o carácter fúnebre da morte, assim também desmorona o monumento da injustiça, edificado pelo evolucionismo clássico. Já não há, na evolução, sacrificados nem privilegiados. Todos os esforços individuais e colectivos, todos os sofrimentos e amarguras terão acabado na realização da justiça e na preparação do bem; mas o bem e a justiça para todos, porque todos teremos contribuído para isso.” 

E antepondo-se às falsas interpretações dos fenómenos metapsíquicos, como se falasse ao mais puro da espécie, disse: 

“Não; a essência una, seja qual for o nome que se lhe dê, criadora das representações sem número, não acaba materializando-se nessa vã fantasmagoria de mundos, de formas e de seres sem passado e sem futuro; representações absurdas, mundos sem coerências, de obscuridades ou de loucura; vãos fantasmas desvanecidos quase ao mesmo tempo que criados e, desvanecidos sem deixar rasto! Não; a essência una não acaba, com maior razão, criando mundos de dor, para que sirvam de marco ao sofrimento universal imerecido, inútil e, infecundo.” 

“As representações fugitivas, — acrescentava, — não são nem incoerentes nem desventuradas; graças a elas e por - elas, a essência única, a única realidade chega paulatinamente, por inumeráveis experiências, a conhecer-se pouco a pouco a si mesma, individual e colectivamente, nas partes e no todo.” 

“As representações, compreendidas finalmente, revelam uma soberana harmonia. Delas se depreende o fim supremo, a finalidade verdadeiramente divina. A harmonia é o acordo imanente de umas com as outras, a estreita solidariedade das parcelas individualizadas do princípio único e de sua união irrefragável no todo.” 

“O objecto é a aquisição da consciência, o passo indefinido do inconsciente ao consciente. é assim que se desenvolvem todas as potencialidades (sendo a realização a evolução) da soberana inteligência, da soberana justiça e do supremo bem”. 

O que nos parece estranho e incompreensível é a cultura filosófica continuar ignorando a teoria do dinamopsiquismo, exposta sobre bases experimentais por Gustave Geley, no seu livro Do Inconsciente ao ConscienteEsta obra, que deveria ser o fundamento da nova filosofia idealista, permanece quase esquecida ao lado do Tratado de Metapsíquicade Charles Richet. Não reparam os pensadores que é nos princípios ali expostos que se encontra a autêntica raiz do pensamento metafísico. Se a filosofia se detivesse por um momento no pensamento metapsíquico de Geley, encontraria a mais sólida base para realizar um novo e firme trabalho filosófico. Acreditamos que, com a filosofia idealista da metapsíquica, a filosofia passará, a bem do conhecimento, da filosofia à teosofia, isto é, de uma ciência naturalista a uma ciência cósmica e espiritualista. Tinha muita razão o Dr. J. B. Rhine ao reclamar a colaboração dos filósofos nos problemas levantados pela parapsicologia. (1) 

A teosofia (2) é o mais perfeito saber que pode orientar o homem, através dos seus sentidos mediúnicos e espirituais. O ser humano possui duas formas de compreender a verdade: uma, a objectiva; outra, a subjectiva. Disto se conclui que o saber não é uma questão somente física ou sensorial; é também uma problemática psíquica e intuitiva

O homem compreende e conhece o mundo pelas vias da razão e do seu contacto com o mundo material, mas pode compreendê-lo e reconhecê-lo também por meio do espírito, isto é, por vias extras-sensoriais, tal como o confirmaram a parapsicologia e a metapsíquica. 

A possibilidade de um conhecimento místico do mundo é uma justa aspiração e um direito legítimo do homem. Penetrar os recessos da natureza é talvez descobrir a própria alma das coisas. Isso constituiria uma teosofia do Conhecimento e não somente uma filosofia. Além disso, significaria descobrir o segredo oculto das existências, o desvelar poético das Idades, conhecer o enigma das aventuras, lendas e heroísmos do homem, na certeza de que tudo vive, existe e se relaciona, através do grande curso e recurso das almas. 
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(1) A participação dos filósofos é um sinal inequívoco do progresso da parapsicologia, rumo à sua maturidade. (Revista de Parapsicologia n° 2, Buenos Aires, 1955). 
(2) A palavra teosofia é aqui empregue pelo autor em sentido espírita, na sua significação etimológica de “sabedoria de Deus” ou “conhecimento de Deus”, filosoficamente entendida como “ciência do Ser”. Não confundir, portanto, com as doutrinas teosóficas conhecidas, que são apenas aproximações à verdadeira teosofia. (Nota de José Herculano Pires). 


Humberto MariottiO Homem e a Sociedade numa Nova Civilização, Do Materialismo Histórico a uma Dialéctica do Espírito, 1ª PARTE O NÚMENO ESPIRITUAL NOS FENÓMENOS SOCIAIS; – Capítulo IV A Filosofia Científica de Gustave Geley, (II de II), 7º fragmento desta obra. 
(imagem de contextualização: Alrededores de la ciudad paranóico-crítica: tarde al borde de la historia europea | 1936, Salvador Dali