Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

as vidas sucessivas | os elementos ~


Experiências magnéticas 
– O sono magnético e o corpo fluídico ~

2) O corpo fluídico pode modelar-se sob a influência da vontade, assim como a argila se modifica sob as mãos do escultor

  Eis aí um facto habitual entre os ocultistas, ouvi dizer que, numa sessão, há quarenta anos, com um médium de Paris, célebre por suas materializações, se havia evocado Molière e, que se viu aparecer, entre as cortinas da cabina, primeiro um fantasma parecido com o médium e, a seguir, esse fantasma tomou pouco a pouco a aparência e as vestes da personagem evocada.

  Tendo eu lido que em muitas manifestações psíquicas se viam aparecer globos luminosos, perguntei-me se não seriam corpos fluídicos e, então realizei com a Sra. Lambert a seguinte experiência:

  Exteriorizei o seu corpo fluídico; em seguida ordenei-lhe que se curvasse como uma bola; apesar de sua resistência, determinei o fenómeno; ela se viu sob essa forma, o que constatei eu próprio por beliscadas no espaço. Recoloquei-a em seguida, por sugestão, na sua forma primitiva e pedi-lhe que voltasse dali a dois dias para nova sessão. No dia marcado, não a vendo, dirigi-me a sua casa e encontrei-a deitada, o corpo em arco; disse-me ela que não podia esticar-se e que isso muito a incomodava. Exteriorizei-lhe então novamente o seu corpo fluídico, endireitando-o por sugestão e, o fiz voltar ao estado normal; ela estava curada.

  Alguns meses mais tarde, fiz voltar ao meu gabinete a Sra. Lambert para mostrar as suas faculdades à Sra. d’Espérance, de passagem por Paris. Quando ao seu corpo fluídico foi exteriorizado, ordenei à Sra. Lambert que lhe desse a minha forma, o que ela fez, não sem resistência. Ela viu a transformação operar-se sobre o seu corpo fluídico e sobre a sua imagem reflectida num espelho. A Sra. d’Espérance, que é vidente, confirmou as palavras da Sra. Lambert, apesar de ignorar o francês, não compreender a nossa conversa. Aksakof assistiu à sessão.

  Repeti essa experiência, em 23 de novembro de 1903, em Voiron, com o Sr. Col..., patrão de Joséphine Louise. Eis a passagem do meu diário que se refere ao facto.

  “Louise diz que pode, mesmo acordada, exteriorizar à vontade o seu corpo astral e dar-lhe a forma que deseje. Pede-se-lhe que, sem que Joséphine o saiba, dê a minha forma ao seu corpo astral; em seguida ela é levada de volta ao quarto de Joséphine, a qual é colocada no estado em que consegue perceber os fluidos. Joséphine vê primeiro o corpo astral de Louise normal, depois nele vê, com espanto, crescerem bigode e barbicha; enfim diz rindo: “Mas é o coronel!”

  “Alguns momentos mais tarde, diz-se a Louise, sempre sem que Joséphine o saiba, para dar ao seu corpo astral a forma do filho do dono da casa, que ela conhece e que é alfaiate em Java, há dois anos. Joséphine, que nunca o viu, vê, no lugar onde Louise diz haver projectado o seu duplo, a imagem de um homem com bigode; diz já ter visto esse rosto em alguma parte, mas não sabe onde. Desperto-a depois de lhe ter dado a sugestão de se lembrar do rosto que viu e, são-lhe apresentadas diante de seus olhos vinte fotografias que ela não conhece. Quando avista a do filho de Col..., diz: “Este parece-se com quem eu vi, no entanto, a imagem que vi era bastante vaga.” É necessário ressaltar que Louise havia modelado o seu corpo astral de acordo com lembranças bastante longínquas.”

  Numa sessão realizada na Escola de Medicina de Grenoble, em 28 de março de 1904, na presença do Dr. Bordier, director da Escola, com Louise e Eugénie como médiuns, procurei reproduzir essa experiência.

  O Dr. Bordier indica apenas a Louise a personagem a apresentar. Era o Dr. Lépine, ausente da sessão e que Louise conhecia. Esta exteriorizou-se e, quando disse que havia dado ao seu corpo a forma desejada, interroguei Eugénie adormecida; respondeu-me que via um homem; procurou reconhecê-lo, depois disse: “É o homem que me fotografou.” Ora, isto havia se passado dois dias antes.

  Poder-se-ia encontrar nestes fenómenos a explicação de certas aparições que se produzem diante das jovens no momento da puberdade. Constatou-se, com efeito, que nesse momento o seu corpo astral se exterioriza espontaneamente! Elas percebem-no então sob uma forma vagamente humana e luminosa. Imbuídas de ideias religiosas, imaginam ver a Virgem Santa ou alguma outra santa cuja imagem as impressionou na sua igreja e dão, pelo pensamento, essa forma ao seu corpo astral, que chega mesmo a poder ser percebido por outros sensitivos.

3) O corpo astral é normalmente a reprodução exacta do corpo físico

  Numa sessão realizada no dia 1 de abril de 1904, na Escola de Medicina de Grenoble, com Eugénie, na presença do Dr. Bordier, exteriorizei o corpo fluídico da sensitiva. Quando o fantasma azul se formou à sua esquerda, ela o via, mas nós não experimentávamos nenhuma sensação ao tocá-lo. Eugénie, ao contrário, sentia os contactos, não apenas sobre a sua pele, como também no interior de seu corpo, quando as nossas mãos penetravam o seu duplo. O Dr. Bordier, tendo colocado sucessivamente e com precaução o seu dedo indicador em diferentes pontos do interior do duplo, perguntou a Eugénie em que ponto ela se sentia tocada. Eugénie, que tinha os olhos fechados, designou exactamente e, sem hesitação, os órgãos que o Dr. Bordier tinha a intenção de tocar, baseando-se nas suas posições respectivas.

  Encontrar-se-á no primeiro capítulo da terceira parte uma certa quantidade de documentos que mostram que a existência do corpo astral foi admitida em todos os tempos pelos filósofos e iniciados.

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Albert de RochasAs Vidas Sucessivas, Segunda Parte Experiências magnéticas Capítulo I O sono magnético e o corpo fluídico; 2) O corpo fluídico pode modelar-se sob a influência da vontade, assim como a argila se modifica sob as mãos do escultor; 3) O corpo astral é normalmente a reprodução exacta do corpo físico, 2º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: Albert de Rochas d'Aiglun (1837-1914), engenheiro militar francês, historiador da ciência, pesquisador de fenómenos espíritas, escritor, tradutor e administrador da Escola Politécnica de Paris)

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

literatura do além-túmulo ~


Prefácio ~
(por Deolindo Amorim)

  O título desta obra sugere, a princípio, que a mesma trata de trabalho, como tantos outros, recebido do além; entretanto o que se encontra em Literatura de Além-túmulo é um estudo, bem documentado, acerca da produção literária que, através de inúmeros médiuns, nos tem chegado do mundo espiritual.

  Formulado sob a autoridade de um nome mundial, Ernesto Bozzano, este livro não se destina exclusivamente aos espíritas, porque a forte e abundante argumentação, que nele se condensa, pode enfrentar objecções de qualquer natureza, pois é uma obra que não teme a dialéctica nem o sofisma académico.

  Sabe-se muito bem que, em matéria de comunicações do além, há muita coisa que deve ser rejeitada, mas também se sabe que na literatura mediúnica se registam factos suficientemente comprovados.

  Ernesto Bozzano, homem de ciência, pesquisador frio e severo, é o primeiro a reconhecer que muitos ditados psicográficos não suportam crítica, nem mesmo superficial. O acatado mestre europeu entra no assunto com espírito de análise. Faz confrontos, apresenta factos, tira conclusões seguras e, por fim, sustenta a tese espírita com absoluta convicção à luz de documentação convincente. Não é por uma comunicação duvidosa que se julga todo o volumoso património da literatura mediúnica. Bozzano demonstra, logo de início, que há comunicações que realmente não passam de elaboração onírico-subconsciente, com personalizações sonambúlicas, diz ele, evidentemente grosseiras, mas é preciso que se saiba distinguir tais comunicações das importantes mensagens ou páginas literárias em que o médium não tem a menor participação intelectual.

  Muitos adversários do Espiritismo, sempre que se fala em comunicações do “outro mundo”, apelam para a hipótese do subconsciente. Fizeram do subconsciente uma porta de saída para todas as situações. Ernesto Bozzano cita, no entanto, casos em que de maneira alguma se poderia invocar a possibilidade de haver um médium armazenado no subconsciente certos conhecimentos revelados inesperadamente.

  Entre vários exemplos, para provar que a literatura do além é verdadeira, autêntica, incontestável, o autor introduziu no livro um facto curiosíssimo: uma senhora, que era médium, recebeu, em transe mediúnico, uma obra intitulada Evangelho suplementar. Nesse Evangelho, ditado na presença de pessoas de responsabilidade, inclusive o rev. John Lamond, há conhecimentos de história religiosa, de línguas antigas, etc., e a médium não tinha cultura de tais assuntos, segundo apurou o próprio rev. Lamond.

  Outro facto de que se ocupa, munido de documentos, é o do célebre romance A Cabana do Pai Tomás. Muita gente sabe que esse romance, aliás de fundo social, chegou a ser filmado e esteve durante muito tempo em cartaz nos nossos cinemas. Admitiu-se, depois, a possibilidade de haver sido essa obra, de tão grande influência na vida norte-americana, transmitida mediunicamente à sra. Harriet Beecher-Stowe. Lê-se em Literatura de Além-túmulo o trecho em que a escritora Beecher-Stowe confessa francamente: “Não fui eu quem a escreveu”, isto é, A Cabana do Pai Tomás. E acrescenta: “Deus a escreveu. Foi ele quem ma ditou”. Diante dessa afirmativa, Ernesto Bozzano inclina-se para a hipótese mediúnica.

  É um livro, portanto, de observações, factos e crítica. Aqueles que tiverem ocasião de ler Literatura de Além-túmulo, ainda que não entendam de Espiritismo, ficarão seguramente orientados para entrar no campo da produção mediúnica.

  É, finalmente, um livro que deve figurar em toda estante de obras espíritas.

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Ernesto Bozzano, Literatura de Além-túmulo, Prefácio por Deolindo Amorim, 1º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: Les Fleurs du Lac_1900, tempera no painel de Edgard Maxence)