(VI)
O apanágio mais glorioso da natureza humana não
passaria de grosseiro engodo, se pudesse prevalecer a teoria mecânica do
Universo. A Verdade, o Bem, o Belo desaparecem nela. Em vão os adversários nos
alegam a sua conduta exemplar, inatacável.
No caso, não se trata das consequências de sua vida pessoal e sim das de
sua doutrina. Pois bem: logicamente, sem contradizer-se a si mesmo, não pode o
ateísmo constituir-se em moral. “O materialismo – diz judiciosamente Patrice Larroque (i) – para mais nada serve, senão para tirar à vida
humana a sua gravidade e o seu valor, dando razão aos seres miseráveis, cuja
habilidade consiste em explicar, com a maior segurança possível, as misérias e
fraquezas do próximo.”
Queremos francamente acreditar que todos os materialistas, em o serem,
não se tornem só por isso corrompidos. Não nos fazemos eco dos que os acusam de
“viverem mergulhados na embriaguez e no deboche”. Conhecemos homens e mulheres
cuja vida pode apontar-se como modelo de moralidade, embora não crendo na
existência de Deus e da alma. Não, não podemos deixar de confessar que, no seu
próprio sistema, essa honestidade é apenas uma questão de temperamento e que,
justos e bons, conscienciosos e benevolentes, afectuosos e moralizados, em
suma, se praticam a caridade, se não sacrificam ao bezerro de ouro, se preferem
a integridade e a pureza de carácter à fortuna ilícita, não é devido ao seu
sistema e sim a uma convicção íntima, que os guia a seu talante e protesta
contra as suas palavras e a sua filosofia. Sim: não são moralizados por serem
cépticos, mas, a despeito de o serem.
Pois, na verdade, que significa uma moralidade sem base, sem motivo e
sem finalidade?
Certo, não duvidamos possa haver uma moral independente do Catolicismo,
mesmo do Cristianismo e, em geral, de qualquer confissão religiosa. No que
não cremos é numa moral independente da ideia de Deus. Se só existissem as
verdades de ordem física, se fossem místicas as que possuímos como de ordem
moral, a própria moral não passaria de utopia e a honestidade de mera tolice.
Outras propensões, existem, porém, que não procedem da matéria.
“O homem que passa os dias sofrivelmente a trabalhar, ou, antes, que não
consome todo o tempo em prover a existência física – diz um grande
astrónomo (ii) – experimenta necessidades nas quais
não intervêm os sentidos, penas e gozos, que nada têm de comum com as misérias
da vida. E, uma vez manifestadas com certa intensidade, ele não pode
confundi-las com os apetites animais. Sente-as como de outra espécie e de uma
ordem mais elevada. Mas isso não é tudo. O homem não é sensível
somente aos jogos da imaginação, às suavidades dos costumes sociais, mas sim
especulativo por natureza. Não contempla o mundo e tudo que o rodeia, passiva e
admirativamente, como se fossem fenómenos seriados e apenas dignos de interesse
pelas relações que mantêm com ele. Ao contrário, considera-os como
sistematizados, dispostos e coordenados com desígnio. A harmonia das
partes, a sagacidade das combinações, causam-lhe a mais viva admiração. Assim,
é levado à conjectura de uma potência, de uma inteligência superior à sua e
capaz de produzir e conceber, quanto se lhe depara na Natureza. Pode
chamar a essa potência, infinita, uma vez que lhe não percebe
limite nas obras com que se lhe manifesta. Quanto mais examina, observa,
indaga, maiores magnificências descobre e mais grandezas entrevê.
“Vê que tudo o que lhe pode facultar a mais longa existência e a maior
inteligência, já como fruto de experiência própria, já como património de
esforço alheio, só pode conduzi-lo aos limites da Ciência. Como estranhar,
então, que um ser assim constituído comece por agasalhar a esperança e acabe
convicto de que o seu princípio espiritual não acompanhe as
vicissitudes da carcaça, que lhe sobreviva ao desaparecimento? Como
admirar se convença ele, que, longe de extinguir-se, passará a uma vida nova,
na qual, liberto dos mil entraves que aqui lhe tolhem o voo, dotado de sentidos
mais subtis, de faculdades mais altas, matará a sede na fonte de sabedoria que
tão sequioso buscara na Terra?”
A hipótese materialista exclui todas estas grandezas morais, todas estas
altas aspirações e esperanças consoladoras. Os nossos adversários, porém, tomam
facilmente o seu partido: “Façamos abstracção – diz o autor de Força
e Matéria – de toda a questão de moral e de utilidade. A Natureza não
existe para a Religião, nem para a Moral, nem para os homens. Não seríamos ridículos
– vejam bem, ridículos – se fôssemos chorar como crianças só porque as nossas
torradas têm pouca manteiga?” Que tal vos parecem as... torradas? Pelo que nos
toca, confessamos não compreender o gracejo em assunto de tamanha relevância.
Diante dos grandes factos de ordem moral e intelectual, parece-nos haver
perdido todo o senso da verdade para subordinar estas virtudes, as “virtudes”,
aos movimentos da matéria. Como atribuir a esse predomínio, com Moleschott,
que o “homem deva, em parte, o lugar privilegiado na escala zoológica, à
faculdade de alimentar-se tanto de vegetais como de carne”? O mesmo vale dizer,
com Helvétius, que “o homem só deve à conformação das mãos a
superioridade que desfruta em relação aos outros animais”.
Como admitir que Büchner,
apregoando a matéria como base de toda a força espiritual, de toda a grandeza
terrestre e humana – que aquele mesmo que reconheceu a igualdade do espírito e
da matéria e julgue honroso o título de materialista, pois ao materialismo é
que o mundo deve a sua grandeza? (iii)
Como afinar com Spencer nestas
declarações:
“O que denominamos quantidade de consciência é determinado pelos
elementos constitutivos do sangue; vemo-lo claramente na exaltação que se dá
quando introduzimos na circulação uns quantos compostos químicos, como sejam o
álcool e os alcalóides vegetais.” Como Compartilhar da opinião
de Littré ao declarar que “a vontade é inerente à
substância cerebral, assim como a contractilidade o é dos
músculos e, que o livre-arbítrio não é mais que simples modalidade do trabalho
cerebral”? (iv)
Como reduzir a proporções da Física e da Química orgânicas, a simples
fenómenos de nutrição e assimilação, essas realizações magníficas do génio e da
virtude?
Terminando este capítulo, regressemos ao objectivo com que o encetámos e
constatemos a inconsequência desses filósofos que imaginam, arrogantemente, ter
lançado uma ponte entre o espírito e a matéria, sem perceberem que apenas
lançaram pedras no abismo. Descrevem eles o movimento atómico das substâncias,
metamorfoses de combinações, processos de assimilação e desassimilação e
pretendem que essas transformações que levam do pulmão ao cérebro uma molécula
de ferro, são de molde a explicar claramente a formação do pensamento. Posto
isto, não temem acrescentar: – “Temos provas tão concretas desta verdade, que
uma profissão de fé materialista não deve ser considerada apenas como premissa
de grande alcance, nem como arrojada profecia, mas como fruto de uma convicção
profundamente enraizada” (v).
Eis o que se pode chamar ousadia! Sabei assim todos vós, ó filósofos e
moralistas! que o homem é manufactura do seu alimento, da sua paternidade, do
seu clima, do seu solo e da sua educação. Se afagais o nobre intuito de
colaborar para a melhoria humana, não é, precisamente, a graduação do nível
moral e intelectual do indivíduo o que vos deve preocupar e, sim de como vive e
como se alimenta. Se ele tem muito ferro (já que o ferro é uma das
maiores apoquentações da época e as raparigas muito necessitam
dele; (Carta 11ª) se tem fósforo que baste (já que sangue, cérebro, ovos e
esperma, todas as partículas do corpo, em suma, que ocupam os mais altos postos
na escala da vida devem à gordura fosforada (vi) o seu
carácter mais essencial); (Carta 11ª) se tem bastante sal no espírito e açúcar
no coração...
A questão fundamental é alimentar-se bem e estabelecer uma conveniente
harmonia entre os regimes vegetal e animal. Escolhamos então, nos elementos
deste último, os mais ricos de substâncias nutrientes e, sobretudo, os que
primam por abundância de fósforo, sem chegar, claro, aos extremos de engolir
cabeças do dito.
Mas, à batata, ao arroz, à cenoura, ao nabo, às verduras, prefiramos o
feijão, as ervilhas e as lentilhas. Eis os três restauradores do espírito! e
eis como se escreve a respeito desses beneméritos legumes.
Ouçamos esta tirada: “As ervilhas, o feijão e as lentilhas continuam a
florescer nos nossos olhos, elas contêm aproximadamente tanta albumina
(legumina) quanto o nosso sangue; e duas ou três vezes mais matérias adipógenas
que legumina. Embora mais caras e de preparação mais dispendiosa, as ervilhas,
o feijão e as lentilhas dão melhor resultado que as batatas. Elas são de molde
a produzir um bom sangue e a fortificar os músculos e o cérebro, qual o não faz
a batata. As ervilhas, o feijão e as lentilhas, atendendo às suas qualidades
nutritivas, são mais baratos que as batatas, pela mesma razão que o ferro é
mais barato que a madeira, quando se trate de fabricar trilhos. Ervilha, feijão
e lentilha dão energias para o trabalho, pagam por si mesmos o seu custo; ao
passo que um regime longo de batatas acarreta debilidade e decadência. O homem
que, durante quinze dias, só comesse batatas, ficaria impossibilitado de as
arrancar por si mesmo” (vii).
O prolator deve
ter assinado contracto com algum hortelão (ou talvez hoteleiro), exclusivamente
devotado a estes omnipotentes legumes. Que lhes faça bom proveito...
Sob esse novo panegírico das ditas substâncias alimentares, o
materialismo desliza suavemente e se insinua sem rumor. Compararam-no certa
feita (mas nós temos cá as nossas dúvidas) àquela coisa de que nos fala D.
Basílio: um leve ruído resvalando pelo solo, qual andorinha que, prenunciando
tempestades, pipila e
passa, a espalhar no seu curso a semente envenenada...
Seja, porém, qual for o efeito dos miríficos farináceos, não será neles
que havemos de procurar as manifestações do espírito humano.
Quando, finalmente, concluem que a influência incontestável e
incontestada do regime alimentar sobre o físico e o moral basta para
justificar, em absoluto, a suserania da matéria, caem nos excessos do
sistematismo, a negarem tudo que se não enquadra no seu sistema e a torcerem os
factos para os ajeitar aos seus estreitos moldes. Bastaria, contudo, que
ponderassem um pouco mais, para não sustentarem semelhantes erros.
Quaisquer que sejam o carácter, o propósito e a persistência de ânimo
daqueles de quem aqui temos falado, os seus exemplos valem como protesto de
afirmações tão insensatas.
Eis aqui o grande missionário das Índias, Francisco
de Xavier. Sigamo-lo na nau que o levou às Índias portuguesas, por ordem
de D.João III, a descer o Tejo, envolto na sua estamenha remendada
e só com a bagagem do seu breviário – ele, o generoso gentil-homem, o sábio de
22 anos, o já consagrado professor de Filosofia na Universidade de Paris, que
tudo abandonava para acompanhar um amigo. Durante o dia, trabalha com os
marinheiros e aos marinheiros se devota; à noite, dorme no convés e tem por
travesseiro um rolo de cordoalha.
Em Goa,
foi encontrar-se no meio de uma população miserável, sem outra preocupação que
a de libertá-la do miasma moral e material. Mais tarde, no prosseguimento
da abnegada missão, ei-lo a descer as costas de Comorim e a fundar uma igreja
no Cabo. Depois encontramo-lo em Malaca e no Japão, a defrontar novas raças e
novos climas. Sabemos que toda a sua vida foi um rosário de sofrimentos físicos
e de conquistas espirituais. Fome, sede e torturas inauditas barraram a senda
do peregrino da fé.
Tudo vencia, porém, e avançava para diante como que
impelido por uma vontade incoercível “Seja qual for a morte, o suplício
que me reservem – dizia –, estou disposto a sofrê-lo mil vezes pela salvação de
uma só alma.” A febre e a morte detiveram-no nas fronteiras da China. Em
face de exemplos como este, que se poderia concluir das teorias do feijão, das
ervilhas e das lentilhas? Em que, como e, quando o regime alimentar teria
governado a alma do apóstolo? Teria ele encontrado nessas regiões
desconhecidas aquela balança metódica que se oferece ao cidadão e que o
capitalista preguiçoso pode encomendar ao seu Vatel? Que relação pode haver entre Brillat-Savarin e Grimodde la Reynière com um Inácio
de Loyola e um Vicente de
Paula? Os grandes exploradores, à cabeça dos quais se encontram um Dumont-d’Urville,
um Cook,
um Livingstone,
etc., não vingaram, todos eles, os seus desígnios em circunstâncias e condições
físicas as mais contrárias e variadas?
Poder-se-á sustentar que, mudando de terra, de
alimentação, de clima, de meio social, de outros elementos e até de corpo, dado
a transformação molecular, mudassem também de alma, de fé e de coragem? Pois
não é verdade que persistiram íntegros na consecução do ideal, através de
vicissitudes tremendas e dos mais fortes obstáculos? (viii) Na
verdade, insistirmos seria injuriar o leitor, os nossos sistemáticos
adversários à parte, nenhum espírito sensato duvida que matéria e espírito
sejam coisas diferentes. Ninguém ignora que, se a assimilação corporal actua no
nosso pensamento, assim como a beleza do dia influi na serenidade de nossa
alma, isso não impede que seja essa alma um ser pessoal, que
chora às vezes quando as aves cantam e as flores exalam perfumes e, outras
vezes se entrega serenamente ao estudo, enquanto o céu tempestuoso se funde em
raios e trovões (ix).
Entendam-nos bem e não venham interpretar infielmente as nossas
alegações. Nós não dizemos que a matéria seja destituída de toda e qualquer influência
sobre o espírito; não dizemos que a alma humana seja completamente independente
do organismo e nem mesmo estamos com Platão, ao
pretender que o espírito é estranho ao corpo e que há antipatia entre eles.
Certo, ninguém dirá que uma criatura a morrer de fome esteja disposta a
cantar. Quem duvidará de que, após uma jornada fatigante, cabeceando de sono,
tenhamos disposição para dançar?
Então não sabemos, todos, que a nossa alma se impressiona com e pelos
aspectos exteriores? Que um dia luminoso nos alegra, que uma manhã sombria e
chuvosa nos entristece? Que a placidez das belas noites nos penetra
intimamente, proporcionando-nos gozos calmos? E dizei: os poemas sonoros, os
encantos da música, sinfonias deliciosas, sonatas apaixonantes, nunca vos
arrebataram, nunca vos sacudiram os nervos? Será que, nas vossas disposições
habituais, tanto quanto nos sonhos que povoam as vossas noites, nunca experimentastes
o efeito da alimentação e dos vossos hábitos e misteres? Dar-se-á que a maneira
pela qual terminastes a vossa tarefa, não tenha afectado os vossos sonhos?
Numa palavra: será possível ao observador negar a influência permanente
e variável que o mundo exterior, sociedade, relações, alimento, frio, luz,
obscuridade, cidade ou aldeia e outras causas mil, de nós independentes, não
influam nos nossos pensamentos, sentimentos e sensibilidade? Não. Essas
influências são reais, admitimo-las e indicamo-las. Montesquieu,
cuja declaração é menos exclusiva do que supõem, escreveu: “Nos países
frios haverá pouca tendência para os prazeres, que será mais acentuada nos
climas temperados e, sempre exuberante nas regiões quentes. Ouvindo as mesmas
óperas na Inglaterra e na Itália, notei que a mesma música produzia efeitos
diferentes, isto é: enquanto na primeira o auditório se mantinha calmo, na
segunda vibrava de forma inconcebível. O mesmo se dá com relação à dor... A
grande estatura e os nervos enrijecidos dos povos do Norte são menos vibráteis
que os da gente dos países quentes. Lá, há menos sensibilidade na dor. Para
sensibilizar um moscovita, quase precisamos esfolá-lo.” Mais adiante,
porém, acrescenta que, entre as coisas que governam o homem, importa distinguir
“a religião, as leis, as máximas, os exemplos”. Concordaremos com o autor
de O Espírito das Leis, com restrições, isto é, no que concerne a
influências extrínsecas, por assim dizer; mas daí a admitir que só elas fazem o
homem, vai todo um abismo. Uma coisa é dizer que a alma é impressionada
por causas situadas fora dela, outra é dizer que essa alma não existe. Chegamos
mesmo a nos perguntar como podem os adversários conciliar as duas proposições,
quando, no fundo, imaginam que a alma não existe e os pensamentos não passam de
produtos da substância cerebral, variáveis com as impressões recebidas. Eis ao
que se reduz o homem!
Abstraindo-nos de todas as provas precedentes acumuladas, a testificação
da nossa liberdade viria, enfim, depor a favor da força pensante que nos anima.
– O panteísmo, fazendo da alma uma partícula da substância
divina, a escraviza e arrasta, inevitavelmente, ao fatalismo absoluto.
– O ateísmo, negando a existência do espírito, faz da alma a
escrava da matéria e a conduz, por outra via, ao mesmo fatalismo.
Poderíamos, portanto, proceder por eliminação, demonstrando a inanidade dessas
doutrinas, forçar o acolhimento da nossa, como a única que concilia os diversos
imperativos de nossa consciência. Assim, permitiu de sorte fossem os
adversários batidos em todos os quadrantes e que a negação da personalidade
ficasse presa ao pelourinho por todos os elementos de nossa convicção.
Concluindo o arrazoado sobre a existência da alma, afirmamos: a
dignidade humana não permite um semelhante atentado ao que constitui o seu
supremo farol; antes protesta contra essas tendências exageradas. As
influências exageradas actuam mais ou menos em nós, conforme a nossa
sensibilidade nervosa; mas, tanto quanto a composição química do cérebro, elas
não constituem o nosso valor moral e intelectual. Para arrasar essa hipótese,
bem como a precedente, basta considerar a potencialidade da nossa força mental.
Com ela, só, podemos afrontar todas essas influências e seguir desdenhosos, de
cabeça erguida, por entre essas acções e reacções ambientes.
Quando a alma se acabrunha ao peso de uma dor profunda, pouco nos
preocupamos com o estado do céu, se chove ou se faz vento.
Quando nos abandonamos a um enlevo de alegrias íntimas, pouco se nos dá
o dia e o mês em que nos encontramos.
Quando estudos sérios nos absorvem a atenção, esquecemo-nos de jantar e
até de dormir.
Quando o som das fanfarras atroa os ares e a cidade em alvoroço festeja
a liberdade, não lembra saber se estamos em Julho ou em Fevereiro.
Quando a pátria periclita, o pavilhão francês não se preocupa com a data
e o barómetro.
A vontade suserana não cogita dessas pretensas causas. As
profundas emoções do coração desprezam bagatelas. Se a saúde é condição
excelente para bem pensar e sentir, não quer dizer que ela só por si promova o
estado da alma. Há, na vida, horas mais deliciosas que as dos mais opíparos banquetes
e, nas quais se esquecem as iguarias deleitosas aos paladares insaciáveis;
horas que eclipsam câmaras sumptuosas, peles caras, jóias brilhantes, todos os
prazeres do mundo, enfim, para só nos absorvermos em gozos mais íntimos e mais
vivazes... Quantos, na Terra, fruíram esses momentos de felicidade, sabem que
acima da esfera material existe uma região inacessível aos tormentos
inferiores, onde as almas idealistas se encontram em comunhão com a beleza
espiritual incriada.
/…
(ii) Discurso en the Study Natural Philosophy, by J. F. W.
Herschel.
(iii) Force et Matière, ch. V. Dignité de
la Matière.
(iv) Dictionaire de Nysten, article
Volonté.
(v) Moleschott – Circulation de la Vie,
t. 2º, página 57.
(vi) A propósito desta apologia dos alimentos
fosforados, perguntaremos a esses entusiastas se imaginam que os pescadores da
Picardia e da Bretanha, que comem muito pescado, se destacam por uma
inteligência excepcional.
(vii) Moleschott – Loc. cit. conclus. t. 2º,
página 225.
(viii) Moleschott ainda não se penitenciou do
seu erro e continua sustentando as mesmas opiniões de 1852. Bom seria que
imitasse, até ao fim, o exemplo de Cabanis. Depois dos exemplos que acabamos de
citar, concebe-se que um observador de boa-fé proponha, por princípio geral, o
seguinte conceito: – “Em toda a série animal vemos funções múltiplas da vida
cerebral em correspondência com as fases de crescimento e decrescimento do
órgão; vemos a sensibilidade, o “julgamento”, a “consciência”, a coragem e o
amor mudarem com o regime alimentar e com o estado de saúde”. Curso de 1865 na
Universidade de Zurich.
(ix) A Filosofia não se deixa dominar por esses
mistérios. O vitae philosophia dux – exclamava Cícero. (Tese
quaest). O virtutis indagatrix espultrixque vitiorun. (Tu
urbe. peperisti; tu Inventrix legum, tu magistra morum et discipline fuisti:
“ad te confugimus, a te opem pertimus”.)
Camille Flammarion, Deus na Natureza, Terceira Parte;
(3) A Vontade do Homem (6 de 6), 32º fragmento desta
obra.
(imagem de contextualização: Jungle Tales (Contos da Selva) 1895,
pintura de James Jebusa Shannon)
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