O espírito como objecto
Kardec transformou o espírito, entidade metafísica, em objecto
específico da pesquisa científica.
Nem mesmo a reacção kantiana, nos séculos
XVIII e XIX, com a crítica da razão, estabelecendo os supostos limites do
conhecimento em termos do Empirismo inglês, impediu essa transformação.
Na
própria Alemanha o professor Friedrich Zöllner, da Universidade de Leipzig,
submeteu o espírito à investigação kardeciana e Schrenck Von Notzing, em
Berlim, instalou o primeiro laboratório de pesquisa espírita do mundo.
Hoje os
cientistas soviéticos, na maior fortaleza ideológica do materialismo no mundo,
provaram sem querer a existência do espírito e de seu corpo espiritual, a que
passaram a chamar de corpo bioplasmático.
As pesquisas realizadas com o fenómeno
da morte mostrou-lhes que o corpo material é vitalizado por ele e por ele
mantido em função.
A última novidade da Biologia soviética é essa descoberta
que atenta contra o materialismo de Estado.
O espírito convertido em objecto de investigações físicas e
biológicas é hoje a prova inegável da vitória de Kardec. Mas Kardec avançou
além dessa posição actual. Ele não se limitou a pesquisar o espírito como objecto
acessível à percepção sensorial. Da mesma maneira por que o pensamento, na
Lógica, é um objecto não-físico – e hoje na Parapsicologia um objecto
extrafísico –, Kardec submeteu o espírito a pesquisas psicológicas e provou a
sua realidade energética, a sua natureza dupla, de energia espiritual pura
manifestada no corpo espiritual, de natureza semimaterial. Os instrumentos de
que se serviu para essa audaciosa pesquisa constituem hoje os campos de força
da percepção extra-sensorial, cuja realidade palpável foi demonstrada pelas
experiências de laboratório dos mais eminentes parapsicólogos. A aparelhagem
mediúnica das pesquisas de Kardec, ridicularizadas pelos sabichões do tempo, como Richet os classificou, é hoje
cientificamente reconhecida, tanto nos Estados Unidos como na Inglaterra, na
Alemanha quanto na URSS.
Kardec desenvolveu o seu método de pesquisa tendo por base o
processo de comunicação. Hoje estamos na época da comunicação e essa palavra
adquiriu um valor científico de importância básica. Mas a palavra comunicação
já era, no tempo de Kardec, uma categoria da Filosofia Espírita e designava um
elemento fundamental da pesquisa espírita. A comunicação mediúnica abriu para o
homem uma nova dimensão na sua concepção do mundo e da vida. E Kardec
dedicou-lhe todo um tratado, com O Livro
dos Médiuns, estabelecendo as regras metodológicas da comunicação entre os
vivos da Terra e os supostos mortos do Além. Nenhum tratado actual de
Parapsicologia conseguiu superar o que Kardec descobriu e expôs nesse volume.
Com essa descoberta Kardec revolucionou o campo central das
estruturas religiosas. O problema da Revelação, que representava uma fortaleza
aparentemente inexpugnável da Religião, o seu mistério essencial e fundamental,
foi cruamente esclarecido. E a posição metodológica de Kardec enriqueceu-se com
a possibilidade de investigar as próprias bases da Religião. Mostrando que a
fonte da Revelação é a comunicação mediúnica, Kardec pôde estabelecer a relação
entre Ciência e Religião de maneira definitiva. Existe, explicou ele, a
Revelação Espiritual, que consiste no ensino de leis do mundo espiritual
através da comunicação mediúnica, e existe a Revelação Científica, que consiste
na explicação de leis do mundo material através da comunicação científica,
feita pelos pesquisadores. A Ciência Espírita utilizou-se dessas duas formas de
revelação e estabeleceu a conjugação de ambas para o controle do conhecimento
da realidade, que é o objectivo directo da Ciência.
Foi assim que Kardec, adoptando uma orientação metodológica
segura e nunca dela se afastando, conseguiu, finalmente, desdobrar a moderna
concepção do mundo, revelando a face oculta da própria Terra em que vivemos e
aniquilando o último reduto do maravilhoso ou sobrenatural. Graças a ele, ao
seu trabalho gigantesco e ao sacrifício total da sua existência, os cientistas
actuais poderão prosseguir no desenvolvimento das Ciências, sem tropeçar nas
barreiras supersticiosas, mitológicas, mágicas e teológicas do passado. Kardec
completou a Ciência com a sua contribuição espantosa. Fez, praticamente
sozinho, no campo do espírito, e em apenas quinze anos de trabalho, o que
milhares de equipas de cientistas, no campo da matéria, realizaram através de
pelo menos três séculos.
E a precisão do seu método se confirma nas conclusões
inabaladas e inabaláveis a que chegou sozinho, muitas vezes criticado pelos
seus próprios companheiros, que o acusavam de personalismo centralizador.
Faltava aos próprios companheiros o espírito científico que o sustentou na
batalha sem tréguas. Os que hoje desejam confundir as coisas, ignorando o
problema metodológico em Kardec, aceitando mistificações grosseiras de
espíritos pseudo-sábios, servem apenas para provar, ainda em nossos dias, como
e quanto Kardec avançou no futuro, superando de muito o seu tempo e o nosso
tempo.
Só a ignorância orgulhosa ou a inteligência vaidosa e
interesseira podem hoje querer superar Kardec, quando a própria Ciência e a
própria Filosofia actuais estão ainda rastreando as conquistas de Kardec, nos
rumos de futuras descobertas. O Espiritismo evolui, como tudo evolui no
Universo. Esse é um axioma espírita. Mas a obra de superação de Kardec pertence
às gerações do amanhã, pois a geração actual não revelou ainda condições sequer
para compreender Kardec. Por outro lado, é bom lembrar que a superação de
Kardec não será mais do que o prosseguimento do seu trabalho, o desdobramento
da sua obra, na medida em que o homem se torne mais apto a compreender o que
Kardec ensinou. O atraso actual do movimento espírita nos sugere, mesmo, que
talvez o próprio Kardec tenha de voltar à Terra, como os Espíritos lhe disseram
na ocasião em que esteve entre nós, para completar a sua obra, que homem nenhum
foi capaz até ao momento de ampliar em qualquer sentido.
Os leitores que desejarem verificar as comprovações
parapsicológicas actuais das pesquisas de Kardec poderão fazê-lo em duas
fontes: a nossa tradução anotada de O
Livro dos Médiuns e o nosso livro Parapsicologia
Hoje e Amanhã, em sua quarta edição. Neste último encontrar-se-á um
capítulo especial sobre a descoberta do corpo bioplasmático pelos físicos e
biólogos soviéticos.
Fotografias da aura das coisas e dos seres têm sido
apresentadas como fotografias da alma
e justamente rejeitadas pelas pessoas de bom senso. Essas fotos pertencem à
fase da efluviografia nas experiências com as câmaras Kyrillian. As fotografias
do corpo bioplasmático são as que realmente correspondem à alma.
/…
José Herculano Pires – A
Pedra e o Joio, Crítica à Teoria Corpuscular do Espírito. O espírito como objecto, 9º fragmento
da obra.
(imagem: As Colhedoras de Grãos, pintura a óleo por Jean-François Millet)
1 comentário:
Caríssimo lugar@zul,
Monopolizado por obrigações estivais de acompanhamento obrigatório do ramo da família que mais frescura de infância e mais futuro pela frente dispõe, tenho estado forçadamente ausente desta que eu considero a melhor “selecta” de textos espíritas que eu encontro na net.
Num começo de serão em que os meninos já se foram deitar, aqui estou a dizer o meu “presente”.
Leituras destas fariam muito jeito a todos os movimentos espíritas que eu conheço!...
O português, desde logo – por ser o que está mais perto – muito bem gastaria algum tempo lendo e reflectindo sobre as palavras de José Herculano Pires que aqui se encontram.
Os semeadores são poucos e andam muito dispersos por tarefas exigentes demais. Quem sabe lhe faria falta parar por alguns instantes e reformular alguma porção da sua estratégia.
São tantas as ideias que um texto deste conteúdo sugere, que me resulta praticamente impossível começar somente por uma ponta, dizendo o que me apetecia…
O Esperançoso Herculano Pires diz aqui tantas coisas fortíssimas, que abre páginas e páginas de um livro essencial de reflexões e achados que tarda em ser lido. E se, de facto, pertencemos às gerações do amanhã porque ansiava, porventura estamos realmente a marcar passo, fazendo de conta que o livro nem sequer foi escrito!...
Há uma frase por demais popular que repito relativamente a muitas outras causas, como paradigma de atitude negativa: “poupar no farelo e estragar na farinha”, é o que está a passar-se, julgo eu, em muito mais sítios do que seria para desejar.
Conto com “lugar@zul” para continuar a abrir páginas e páginas do tal livro do futuro.
E, quem sabe, talvez possamos vir ainda a ajudar mais uma dúzia de amigos a lê-las, que tão urgente é que o façam!...
Abraço fraterno e… tomem bem conta da infância do futuro com enorme carinho e devoção… que é nisso que tenho andado.
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