Sexta lição, de O Esteta
– Diferenças entre arquitectura e pintura – Inspiração na arte da pintura – A formação das cores
– Duração das criações artísticas no espaço
|20 de Janeiro de 1922|
“Após vos haver falado da arquitectura no espaço em nossa
última conversa, hoje vamos nos ocupar da pintura. Há uma sensível diferença
entre o pensamento escrito ou falado e a arquitectura ou a pintura. A arquitectura
atinge os sentidos, a pintura atinge mais o espírito que os sentidos.
Na vida comum, a pintura é a reprodução exacta, tanto quanto possível, dos quadros que Deus colocou sob nossos olhos, nos mundos que ele criou. Na arquitectura tomam parte tanto a inspiração quanto o talento, assim como o trabalho do ser humano. A pintura procede de outro modo: ela tende a fixar sobre uma superfície qualquer as impressões transmitidas ao cérebro pela receptividade das imagens.
No vosso mundo, a pintura também irá se inspirar em visões
anteriores recolhidas pelo artista, seja no espaço, seja em mundos que ele
habitou ou visitou. O ser que trabalhou especialmente nessa arte possuirá todos
os materiais necessários para reconstituir, em um meio fluídico apropriado, os
quadros suscitados pelo seu pensamento. Vossas cores terrestres formam uma
paleta muito incompleta, porquanto, além daquelas representadas pela natureza,
sois obrigados a criar cores artificiais com a ajuda da vossa química.
No Além o pensamento se concretiza em feixes luminosos,
revestindo as cores mais variadas. Portanto, cada pensamento se traduz por um
rasto brilhante, mais ou menos colorido, segundo sua orientação.
Entendeis que é muito fácil para um ser que já possua, por
sua evolução, um passado artístico, reproduzir no meio fluídico, não somente
arcadas arquitetónicas, mas também telas sobre as quais irão se imprimir cenas
reconstituindo o que eu chamaria de o sonho em cores.
No próprio espírito do ser, as cores existem em estado
latente, visto que elas mesmas são formadas por moléculas diferentemente
coloridas. Essas moléculas podem ser comparadas a pequenos pedaços de vidro de
variadas cores. O pensamento, atravessando essas moléculas, fará uma projecção
que reproduzirá os assuntos que o ocupam. A fotografia em cores pode ser tomada
como comparação, pois que, de uma forma bem restrita, ela pode dar uma fraca
ideia das colorações fluídicas do espaço.
Vós vedes daqui a diversidade das cenas que podem ser projectadas
por seres especialmente organizados. Naturalmente aqueles que trabalharam a
pintura são os que projectam os mais belos quadros, porque possuem a harmonia
da linha e a ciência do desenho.
A atracção dos meios espirituais não é uma palavra vã; a
corrente se perpetua e se estende, a evolução prossegue, mesmo no espaço, e
numerosos são os espíritos que, voluntariamente, buscam se impregnar de
qualidades radiantes dos espíritos mais avançados que eles.
Estes criam, no meio em que vivem, quadros, cenas de um
deslumbramento extraordinário, de uma riqueza de colorido incomparável. Como na
arquitectura, esses quadros são perecíveis, de acordo com a vontade do ser que
os formou, mas existem regiões onde, seja em arquitectura, seja em pintura,
cenas e monumentos subsistem após a reencarnação do seu autor. É como um dos
limites do espaço separando os mundos etéreos, mundos numerosos onde a vida é
puramente espiritual e que são frequentados apenas por espíritos muito
elevados. É lá que os seres vão em missão buscar as altas inspirações,
iniciar-se no culto do belo e do bem, impregnando-se de radiações que têm um
carácter realmente divino.”
/…
LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte III Sexta lição – Diferenças entre arquitectura e pintura – Inspiração na arte da pintura – A formação das cores – Duração das criações artísticas no espaço, 13º fragmento da obra.
(imagem:
Mona Lisa 1503-1507 – Louvre, pintura
de Leonardo da Vinci)
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