Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Victor Hugo e o invisível ~


Introdução

   Apenas um real e positivo idealismo pode dar vigor e energia à natureza humana. 

Apenas um ideal que seja capaz de sobrepor-se à dura realidade do dia-a-dia pode ajudar o homem a lutar contra aquilo que está destruindo o verdadeiro sentido da vida. 

Este ideal está na beleza, na justiça e no bem, mas, principalmente, na poesia que simultaneamente pode vincular o homem tanto ao humano quanto ao transcendente.

   O homem como Ideia poderá olhar de frente e com segurança o mundo material e o mistério do universo; mas, considerado como um reflexo dos fenómenos físicos, o homem será um ser sem liberdade e sujeito ao mecanismo do meio em que está situado. Porém, a vontade humana será real apenas mediante a auto-liberdade do ser. O Ideal é como o vapor que pode movimentar um grande volume de ferro, razão pela qual o homem não será o verdadeiro motor da história enquanto for considerado como um reflexo do meio em que vive. O homem, a moral e a sociedade serão realidades criadoras apenas quando a vontade puder gerar sua própria liberdade sobre a base de um ideal inspirado na verdade.

   Se o homem não for uma ideia soberana e criadora será um ser sem dignidade. Será apenas um mecanismo que acciona as causas dos reflexos circundantes e uma consequência das forças físicas sem nenhuma teleologia moral ou espiritual. A verdade e a justiça não são anuladas por ser o homem uma Ideia. O verdadeiro homem progressista é o que se sustenta pela força da Ideia e, por isso mesmo, pelo Espírito. Os que são capazes de forjar o bem para a humanidade são os que vivem iluminados pela luz que emana de sua própria inteligência. São os que vivem sustentados pelo Ideal porque se sentem ideia que se sobrepõem as influências opressoras dos fenómenos físicos.

   Victor Hugo foi um exemplo do que dissemos. Sua natureza poética não surgiu em seu Ser pelos reflexos do meio ambiente de sua época. Ao contrário, seu Ser foi poético, idealista e amante da justiça porque esses valores morais estavam em seu espírito e não fora dele. Não se chega a escrever um poema somente com os reflexos materiais que influem sobre a inteligência. Um poema se escreve quando o espírito possui as condições indispensáveis para dar curso a esse fenómeno poético.

   A verdade e a justiça não estarão no homem pela acção reflexa do meio; tais valores éticos surgirão da Ideia que determina o ser espiritual e social do homem. Surgem da consciência, que é onde Victor Hugo falou a Deus e, logo, ao Espírito. O autor de Os Miseráveis foi uma vida que lutou pela Ideia apesar dos mais variados obstáculos sociais que atingiram sua sensibilidade. Mas não foi um homem que amarrou seu ideal ao mundo exclusivo da matéria. Sua inteligência penetrou no Mais Além não apenas para ver uma nova imagem das coisas objectivas, mas para descobrir a essência da vida imortal do Espírito.

   Victor Hugo sabia que somente se constrói um mundo - novo e melhor se as asas do pensamento não são atropeladas pelas garras da vulgaridade e da indiferença. Por isso é necessário o Ideal, é indispensável a Fé e urge conhecer o sentido da vida, posto que sem uma teleologia espiritual o ser e a existência se apresentam como dois enigmas que desembocam num abismo. Victor Hugo não se rendeu à morte e ao nada. Afirmou pela poesia a vida do Espírito e da Ideia e lutou como um gigante para mostrar ao homem a essência divina e imortal que se esconde em sua carne perecível.
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Humberto Mariotti, Victor Hugo Espírita, Introdução 1º fragmento da obra.
(imagem: Victor Hugo em 1875, por Comte Stanislaw)

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