Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

pensamento crítico ~


Nem um passo à frente

   Quando Engels escreveu o seu artigo contra o método empírico-indutivo de Bacon, ou melhor,


confundindo esse método com:

“o êxtase e a vidência, importados da América”, de que se fazia vítima o empirismo inglês, na pessoa do “eminentíssimo zoologista e botânico Alfred Russel Wallace”, o homem que, simultaneamente com Darwin, apresentou a teoria da evolução das espécies pela selecção natural, o materialismo dialéctico era uma conquista recente, um equívoco em forma de desenvolvimento, e não nos caberia censurá-lo por essa digna atitude de combate. 

Engels não poderia entender de outra maneira o “desencaminhamento” de Wallace. Vê-se, não obstante, desse mesmo artigo, que Engels não ficaria no terreno da teoria. Embora mal, com a imperícia de quem jamais se interessara pelo assunto, procurou justificar as suas afirmações, através da observação e da experimentação.

   O artigo de Engels foi publicado pela primeira vez em 1898. Devia ter sido escrito, segundo encontramos na edição brasileira da Dialética, em 1878. Engels criticava também os trabalhos de Crookes, Aksakof e Zöllner. É uma crítica violenta e irreverente, em que ele chega a considerar o Espiritismo “a mais estéril de todas as superstições”. 

Como se vê, a afirmação não era dialéctica, mas empírica, inteiramente gratuita, e o longo roteiro das experiências espíritas e metapsíquicas aí está para desmenti-la. 

Mas tinha a sua razão de ser. Podemos dizer, com Hegel, que o Zeitgeist, o espírito da época, a justificava. 

O que espanta, entretanto, é que ainda hoje, quase um século depois, o artigo de Engels seja a única pauta dos que, como o professor Silva Mello, desejam eliminar do mundo em que vivemos, por incómoda, a realidade dos fenómenos espíritas, sem seguir sequer o exemplo de Engels no tocante à experimentação própria.
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José Herculano Pires, Espiritismo Dialéctico – Nem um passo à frente, 5º fragmento da obra.
(imagem: Diógenes, pormenor d'A escola de Atenas de Rafael Sanzio, 1509)

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