Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

| o grande enigma ~


Deus | e o Universo

Há uma finalidade, há uma Lei no Universo? 

Ou esse Universo é apenas um abismo no qual o pensamento se perde por falta de ponto de apoio, em que gire sobre si mesmo, igual à folha morta ao influxo do vento?

Existe uma força, uma esperança, uma certeza que nos possa elevar acima de nós mesmos a um fim superior, a um princípio, a um Ser em que se identifiquem o bem, a verdade, a sabedoria? 

Ou terá havido em nós e em redor de nós apenas dúvida, incerteza e trevas?

O homem, o pensador, sonda com o olhar a vasta extensão; interroga as profundezas do céu; procura a solução desses grandes problemas: o problema do mundo, o problema da vida. Considera esse majestoso Universo, no qual se sente como que mergulhado; acompanha com os olhos a carreira dos gigantes do Espaço, sóis da noite, focos terríficos cuja luz percorre as imensidades taciturnas; interroga esses astros, esses mundos inumeráveis, mas estes passam mudos, prosseguindo em seu rumo, para um fim que ninguém conhece. Silêncio esmagador paira sobre o abismo, envolve o homem, torna esse Universo mais solene ainda.

Duas coisas, no entanto, nos aparecem à primeira vista no Universo: a matéria e o movimento, a substância e a força. Os mundos são formados de matéria e essa matéria, inerte por si mesma, se move. Quem, pois, a faz mover-se? Qual é essa força que a anima? Primeiro problema. Mas o homem, do infinito, chama sobre si mesmo sua atenção. Essa matéria e essa força universais ele encontra em si mesmo e, com elas, um terceiro elemento, com o qual conheceu, viu e mediu os outros: a Inteligência.

Entretanto, a inteligência humana não é, por si só, sua própria causa. Se o homem fosse sua própria causa, poderia manter e conservar o poder da vida que está em si; mas, em verdade, esse poder, sujeito a variações, a desfalecimentos, excede à vontade humana.

Se a inteligência existe no homem, deve encontrar-se nesse Universo de que faz parte integrante. O que existe na parte deve encontrar-se no todo.

A matéria não é mais que a vestimenta, a forma sensível e mutável, revestida pela vida; um cadáver não pensa, nem se move. A força é um simples agente destinado a entreter as forças vitais. É, pois, a inteligência que governa os mundos.

Essa inteligência se manifesta por leis sábias e profundas, ordenadoras e conservadoras do Universo.

Todas as pesquisas, todos os trabalhos da ciência contemporânea, concorrem para demonstrar a acção das leis naturais, que uma Lei suprema liga, abraça, para constituir a universal harmonia. Por essa lei, uma Inteligência soberana se revela à razão mesma das coisas, Razão consciente, Unidade universal para onde convergem, ligando-se e fundindo-se, todas as relações, aonde todos os seres vêm haurir a força, a luz e a vida; Ser absoluto e perfeito, fundamente imutável e fonte eterna de toda a ciência, de toda a verdade, de toda a sabedoria, de todo o amor.
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Léon Denis, O Grande Enigma, Primeira parte Deus e o Universo, I O grande Enigma 1 de 5, 4º fragmento da obra.
(imagem: Salvador Dali, 1950)

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