Natureza Moral da
Terapia Espírita
Há pessoas que usam a terapia espírita como autógena,
entregando-se à prece, sem procurar o socorro de médiuns.
Esse é um aspecto
pouco conhecido da terapia espírita.
As pessoas que recorrem a esse processo
não o fazem por auto-suficiência, mas por estarem submetidas a viciações ou
perversões de que se envergonham.
Conhecemos casos de homossexualismo masculino
e feminino que foram assim autocurados. Não se trata propriamente de uma
autocura, pois a terapia espírita foi realizada pelos espíritos e não por elas
mesmas. Essas vítimas, conhecendo a doutrina, cultivaram a fé racional e
conseguiram impor a si mesmas disciplinas curadoras a que se apegaram com
firmeza e constância.
Os que perseveram em suas boas intenções criam condições
favoráveis à acção curadora dos espíritos terapeutas.
É emocionante o caso de
um rapaz de família exemplar que chegou à beira do suicídio. Foi salvo pela voz
que soou em sua mente dizendo-lhe:
“Deus me permitiu anunciar-te a hora da
libertação. Daqui por diante não sentirás mais os impulsos negativos que te
torturavam. Esgotaste perante a Espiritualidade Superior um passado de
ignomínias.”
Não foi um caso de auto-sugestão, mas de perseverança na prova,
como depois lhe explicou a entidade protectora que lhe falara em particular,
falando então pela boca de um médium que não o conhecia e nada sabia do seu
sofrimento oculto.
Em casos como esses revela-se a importância da vontade do
paciente, como ocorre na terapêutica em geral. Numa batalha oculta como a desse
jovem intervêem influências de entidades vingativas, que podem levá-lo ao desespero,
mas, em contrapeso, há sempre assistência de espíritos amigos, cuja acção se
torna mais poderosa quando o paciente desperta as suas potencialidades
volitivas e decide o seu destino por si mesmo. Firmado no seu direito de
escolha e amparado pelas energias da vontade e os estímulos da consciência de
sua dignidade humana, o espírito pode superar as provas mais desesperantes e
triunfar sobre as suas tendências inferiores provenientes do submundo da
animalidade. Por isso a terapêutica espírita condena e repele a capitulação actual
da psiquiatria da libertinagem.
A condenação hipócrita do sexo pelas religiões cristãs
sobrecarregou de preceitos e ordenações morais que fomentaram por toda parte o
fingimento e a hipocrisia. As tentativas cruéis de abafar o instinto sexual
através de um moralismo ilógico, como o da era vitoriana na Inglaterra,
prepararam a explosão sexualista da actualidade, com o rompimento explosivo dos
diques e açudes tradicionais. Todos os moralistas condenaram veementemente o
pan-sexualismo de Freud, como se ele tivesse culpa de só encontrar, nos
traumatismos espantosos do consultório, a violência da libido, dominadora
oculta de uma civilização em ruínas. A loucura de Hitler e de seus comparsas
recalcados e homossexuais, bem como a megalomania ridícula e exibicionista de
Mussolini, não surgiram das heranças bárbaras, mas do pietismo castrador do
medievalismo. O histerismo nazista, ligando-se ao exibicionismo fascista e à
necrofilia nipônica, resultaram na formação do Eixo e na explosão da Segunda Conflagração Mundial. Foi uma explosão de recalques. Até mesmo os signos
sexuais estavam presentes no sigma nazista, no fascio de Mussolini e no sol nascente de Hiroíto. Veio depois,
confirmando esse conluio libidinoso, em que floresceu desavergonhado o homossexualismo
germânico. Era evidente que viria depois a era pornográfica em que nos
encontramos. Marcuse diagnosticou o mal da civilização, mas não foi capaz de
lhe propor a solução conveniente, que aos poucos vai se delineando numa volta
penosa ao reconhecimento da naturalidade do sexo, sem os excessos e desmandos
da actualidade, em que a contribuição russa aparece com a mística libidinosa de
Rasputin.
Historicamente, pesa sobre a figura angustiada de Paulo de Tarso a responsabilidade dessa tragédia mundial. Porque foi ele, o Apóstolo dos
Gentios, quem implantou nas comunidades nascentes do Cristianismo Primitivo as
leis de pureza do Judaísmo farisaico, tantas vezes condenadas por Cristo. Seu
zelo pelo Cristianismo chegou ao excesso de deformá-lo, na luta que teve de
enfrentar com a libertinagem do paganismo. Armou a diaclética histórica da tese
pagã contra a antítese cristã-judaica, que resultou na síntese da hipocrisia
clerical. Aldous Huxley colocou esse problema em seus livros Os Demônios de Loudan e O Gênio e a Deusa.
Kardec já havia antecipado, em meados do século passado, as
convulsões morais que abalariam o mundo a partir da Guerra do Piemonte. Previu
a sucessão de guerras e revoluções que se desencadeariam, com surpreendentes
transformações sociais, políticas e culturais em todo o mundo, acentuando que
não eram catástrofes geológicas, que ocorreriam naturalmente, como sempre
ocorrem, mas catástrofes morais que abalariam as nações aparentemente mais
seguras em suas tradições. E o remédio indicado para a reconstrução do mundo
seria a educação das novas gerações, nos princípios de liberdade, igualdade e
fraternidade, o lema da Revolução Francesa que ressurgiria com o
restabelecimento ou a ressurreição do Cristianismo de Cristo e não dos seus
vigários, como anunciaria também o Padre Alta, Doutor da Sorbonne, suspenso de
ordens por suas ideias perigosas.
/…
José Herculano Pires, Ciência
Espírita e suas implicações terapêuticas, 3
Natureza Moral da Terapia Espírita 2 de 3, 9º fragmento da
obra.
(imagem: O peregrino
sobre o mar de névoa, por Caspar David Friedrich)
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