Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O peregrino sobre o mar de névoa~


Natureza Moral da Terapia Espírita

Há pessoas que usam a terapia espírita como autógena, entregando-se à prece, sem procurar o socorro de médiuns. 

Esse é um aspecto pouco conhecido da terapia espírita. 

As pessoas que recorrem a esse processo não o fazem por auto-suficiência, mas por estarem submetidas a viciações ou perversões de que se envergonham. 

Conhecemos casos de homossexualismo masculino e feminino que foram assim autocurados. Não se trata propriamente de uma autocura, pois a terapia espírita foi realizada pelos espíritos e não por elas mesmas. Essas vítimas, conhecendo a doutrina, cultivaram a fé racional e conseguiram impor a si mesmas disciplinas curadoras a que se apegaram com firmeza e constância. 

Os que perseveram em suas boas intenções criam condições favoráveis à acção curadora dos espíritos terapeutas. 

É emocionante o caso de um rapaz de família exemplar que chegou à beira do suicídio. Foi salvo pela voz que soou em sua mente dizendo-lhe: 

“Deus me permitiu anunciar-te a hora da libertação. Daqui por diante não sentirás mais os impulsos negativos que te torturavam. Esgotaste perante a Espiritualidade Superior um passado de ignomínias.” 

Não foi um caso de auto-sugestão, mas de perseverança na prova, como depois lhe explicou a entidade protectora que lhe falara em particular, falando então pela boca de um médium que não o conhecia e nada sabia do seu sofrimento oculto.

Em casos como esses revela-se a importância da vontade do paciente, como ocorre na terapêutica em geral. Numa batalha oculta como a desse jovem intervêem influências de entidades vingativas, que podem levá-lo ao desespero, mas, em contrapeso, há sempre assistência de espíritos amigos, cuja acção se torna mais poderosa quando o paciente desperta as suas potencialidades volitivas e decide o seu destino por si mesmo. Firmado no seu direito de escolha e amparado pelas energias da vontade e os estímulos da consciência de sua dignidade humana, o espírito pode superar as provas mais desesperantes e triunfar sobre as suas tendências inferiores provenientes do submundo da animalidade. Por isso a terapêutica espírita condena e repele a capitulação actual da psiquiatria da libertinagem.

A condenação hipócrita do sexo pelas religiões cristãs sobrecarregou de preceitos e ordenações morais que fomentaram por toda parte o fingimento e a hipocrisia. As tentativas cruéis de abafar o instinto sexual através de um moralismo ilógico, como o da era vitoriana na Inglaterra, prepararam a explosão sexualista da actualidade, com o rompimento explosivo dos diques e açudes tradicionais. Todos os moralistas condenaram veementemente o pan-sexualismo de Freud, como se ele tivesse culpa de só encontrar, nos traumatismos espantosos do consultório, a violência da libido, dominadora oculta de uma civilização em ruínas. A loucura de Hitler e de seus comparsas recalcados e homossexuais, bem como a megalomania ridícula e exibicionista de Mussolini, não surgiram das heranças bárbaras, mas do pietismo castrador do medievalismo. O histerismo nazista, ligando-se ao exibicionismo fascista e à necrofilia nipônica, resultaram na formação do Eixo e na explosão da Segunda Conflagração Mundial. Foi uma explosão de recalques. Até mesmo os signos sexuais estavam presentes no sigma nazista, no fascio de Mussolini e no sol nascente de Hiroíto. Veio depois, confirmando esse conluio libidinoso, em que floresceu desavergonhado o homossexualismo germânico. Era evidente que viria depois a era pornográfica em que nos encontramos. Marcuse diagnosticou o mal da civilização, mas não foi capaz de lhe propor a solução conveniente, que aos poucos vai se delineando numa volta penosa ao reconhecimento da naturalidade do sexo, sem os excessos e desmandos da actualidade, em que a contribuição russa aparece com a mística libidinosa de Rasputin.

Historicamente, pesa sobre a figura angustiada de Paulo de Tarso a responsabilidade dessa tragédia mundial. Porque foi ele, o Apóstolo dos Gentios, quem implantou nas comunidades nascentes do Cristianismo Primitivo as leis de pureza do Judaísmo farisaico, tantas vezes condenadas por Cristo. Seu zelo pelo Cristianismo chegou ao excesso de deformá-lo, na luta que teve de enfrentar com a libertinagem do paganismo. Armou a diaclética histórica da tese pagã contra a antítese cristã-judaica, que resultou na síntese da hipocrisia clerical. Aldous Huxley colocou esse problema em seus livros Os Demônios de Loudan e O Gênio e a Deusa.

Kardec já havia antecipado, em meados do século passado, as convulsões morais que abalariam o mundo a partir da Guerra do Piemonte. Previu a sucessão de guerras e revoluções que se desencadeariam, com surpreendentes transformações sociais, políticas e culturais em todo o mundo, acentuando que não eram catástrofes geológicas, que ocorreriam naturalmente, como sempre ocorrem, mas catástrofes morais que abalariam as nações aparentemente mais seguras em suas tradições. E o remédio indicado para a reconstrução do mundo seria a educação das novas gerações, nos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, o lema da Revolução Francesa que ressurgiria com o restabelecimento ou a ressurreição do Cristianismo de Cristo e não dos seus vigários, como anunciaria também o Padre Alta, Doutor da Sorbonne, suspenso de ordens por suas ideias perigosas.
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José Herculano Pires, Ciência Espírita e suas implicações terapêuticas, 3 
Natureza Moral da Terapia Espírita 2 de 3, 9º fragmento da obra.
(imagem: O peregrino sobre o mar de névoa, por Caspar David Friedrich)

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