Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Da sombra do dogma à Luz da Razão~


Introdução

   Este novo trabalho é mais um passo em frente nas consequên-
cias e nas aplicações do Espiritismo. Tal como o seu título indica, tem como objectivo o estudo dos pontos diversamente interpretados e comentados até aos dias de hoje: A génese, os milagres e as profecias, na sua relação com as novas leis resultantes da observação dos fenómenos espíritas.

   Dois elementos ou, se quisermos, duas forças regem o Universo: o elemento espiritual e o elemento material; da acção simultânea destes dois princípios nascem fenómenos especiais, naturalmente inexplicáveis se nos abstrairmos de um deles, exactamente como a formação de um destes dois elementos constituintes: o oxigénio e o hidrogénio.

   O espiritismo, ao demonstrar a existência do mundo espiritual e a sua relação com o mundo material, dá-nos a chave de uma imensidade de fenómenos incompreendidos e, por isso mesmo, considerados inadmissíveis por uma certa classe de pensadores. Estes factos abundam nas Escrituras e é devido ao desconhecimento das leis que os regem que os comentadores dos dois campos opostos, girando constantemente à volta do mesmo círculo de ideias, uns ignorando os dados positivos da ciência, outros os do princípio espiritual, foram incapazes de chegar a uma conclusão racional.

   Esta solução reside na acção recíproca do espírito e da matéria. Retira, é verdade, à maior parte destes factos o seu carácter sobrenatural; mas o que é mais importante: admiti-los como resultantes das leis da natureza ou rejeitá-los completamente? A sua rejeição absoluta arrasta a própria base do edifício, enquanto a sua admissão a este título, suprimindo só os acessórios, deixa esta base intacta. É por isso que o Espiritismo leva tanta gente a acreditar nas verdades que outrora consideravam utopias.

   Portanto, tal como dissemos, este trabalho é um complemento das aplicações do Espiritismo sob um ponto de vista especial. Os materiais estavam para isso prontos, pelo menos elaborados havia muito, mas a altura para os publicar não tinha chegado ainda. Era necessário primeiro que as ideias que deles iriam constituir a base atingissem a maturidade e, por outro lado, ter em conta a oportunidade das circunstâncias. O Espiritismo não tem mistérios nem teorias secretas; nele, tudo deve ser dito abertamente, para que cada qual o possa julgar com conhecimento de causa; mas cada coisa deve surgir a seu tempo, para que surja com segurança. Uma solução apresentada com ligeireza, antes de a questão estar totalmente elucidada, representaria motivo de atraso mais que de avanço. Na solução aqui tratada, a importância do tema obrigava-nos a evitar qualquer precipitação.

   Antes de entrar no assunto, pareceu-nos necessário definir claramente o papel respectivo dos Espíritos e dos homens na acção da nova doutrina: estas considerações preliminares, que afastam qualquer ideia de misticismo, são o tema do primeiro capítulo, que intitulámos de Natureza da Revelação Espírita; chamamos para este ponto uma atenção séria porque, de certo modo, reside aí o nó da questão.
/…

* Na senda e no espírito de Pedro A. Barboza de La Torre em seu livro, De la sombra Del dogma a la luz de la razón.


ALLAN KARDEC, A GÉNESE – Os Milagres e as Profecias Segundo o Espiritismo, Introdução 1 de 2, 1º fragmento da obra. Tradução portuguesa de Maria Manuel Tinoco, Editores Livros de Vida.
(imagem: Diógenes, pintura de Jean-Léon Gérôme – 1860)

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