Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

a pedra e o joio~


O espírito como objecto

   Kardec transformou o espírito, entidade metafísica, em objecto específico da pesquisa científica. 

Nem mesmo a reacção kantiana, nos séculos XVIII e XIX, com a crítica da razão, estabelecendo os supostos limites do conhecimento em termos do Empirismo inglês, impediu essa transformação. 

Na própria Alemanha o professor Friedrich Zöllner, da Universidade de Leipzig, submeteu o espírito à investigação kardeciana e Schrenck Von Notzing, em Berlim, instalou o primeiro laboratório de pesquisa espírita do mundo. 

Hoje os cientistas soviéticos, na maior fortaleza ideológica do materialismo no mundo, provaram sem querer a existência do espírito e de seu corpo espiritual, a que passaram a chamar de corpo bioplasmático

As pesquisas realizadas com o fenómeno da morte mostrou-lhes que o corpo material é vitalizado por ele e por ele mantido em função. 

A última novidade da Biologia soviética é essa descoberta que atenta contra o materialismo de Estado.

   O espírito convertido em objecto de investigações físicas e biológicas é hoje a prova inegável da vitória de Kardec. Mas Kardec avançou além dessa posição actual. Ele não se limitou a pesquisar o espírito como objecto acessível à percepção sensorial. Da mesma maneira por que o pensamento, na Lógica, é um objecto não-físico – e hoje na Parapsicologia um objecto extrafísico –, Kardec submeteu o espírito a pesquisas psicológicas e provou a sua realidade energética, a sua natureza dupla, de energia espiritual pura manifestada no corpo espiritual, de natureza semimaterial. Os instrumentos de que se serviu para essa audaciosa pesquisa constituem hoje os campos de força da percepção extra-sensorial, cuja realidade palpável foi demonstrada pelas experiências de laboratório dos mais eminentes parapsicólogos. A aparelhagem mediúnica das pesquisas de Kardec, ridicularizadas pelos sabichões do tempo, como Richet os classificou, é hoje cientificamente reconhecida, tanto nos Estados Unidos como na Inglaterra, na Alemanha quanto na URSS.

   Kardec desenvolveu o seu método de pesquisa tendo por base o processo de comunicação. Hoje estamos na época da comunicação e essa palavra adquiriu um valor científico de importância básica. Mas a palavra comunicação já era, no tempo de Kardec, uma categoria da Filosofia Espírita e designava um elemento fundamental da pesquisa espírita. A comunicação mediúnica abriu para o homem uma nova dimensão na sua concepção do mundo e da vida. E Kardec dedicou-lhe todo um tratado, com O Livro dos Médiuns, estabelecendo as regras metodológicas da comunicação entre os vivos da Terra e os supostos mortos do Além. Nenhum tratado actual de Parapsicologia conseguiu superar o que Kardec descobriu e expôs nesse volume.

   Com essa descoberta Kardec revolucionou o campo central das estruturas religiosas. O problema da Revelação, que representava uma fortaleza aparentemente inexpugnável da Religião, o seu mistério essencial e fundamental, foi cruamente esclarecido. E a posição metodológica de Kardec enriqueceu-se com a possibilidade de investigar as próprias bases da Religião. Mostrando que a fonte da Revelação é a comunicação mediúnica, Kardec pôde estabelecer a relação entre Ciência e Religião de maneira definitiva. Existe, explicou ele, a Revelação Espiritual, que consiste no ensino de leis do mundo espiritual através da comunicação mediúnica, e existe a Revelação Científica, que consiste na explicação de leis do mundo material através da comunicação científica, feita pelos pesquisadores. A Ciência Espírita utilizou-se dessas duas formas de revelação e estabeleceu a conjugação de ambas para o controle do conhecimento da realidade, que é o objectivo directo da Ciência.

   Foi assim que Kardec, adoptando uma orientação metodológica segura e nunca dela se afastando, conseguiu, finalmente, desdobrar a moderna concepção do mundo, revelando a face oculta da própria Terra em que vivemos e aniquilando o último reduto do maravilhoso ou sobrenatural. Graças a ele, ao seu trabalho gigantesco e ao sacrifício total da sua existência, os cientistas actuais poderão prosseguir no desenvolvimento das Ciências, sem tropeçar nas barreiras supersticiosas, mitológicas, mágicas e teológicas do passado. Kardec completou a Ciência com a sua contribuição espantosa. Fez, praticamente sozinho, no campo do espírito, e em apenas quinze anos de trabalho, o que milhares de equipas de cientistas, no campo da matéria, realizaram através de pelo menos três séculos.

   E a precisão do seu método se confirma nas conclusões inabaladas e inabaláveis a que chegou sozinho, muitas vezes criticado pelos seus próprios companheiros, que o acusavam de personalismo centralizador. Faltava aos próprios companheiros o espírito científico que o sustentou na batalha sem tréguas. Os que hoje desejam confundir as coisas, ignorando o problema metodológico em Kardec, aceitando mistificações grosseiras de espíritos pseudo-sábios, servem apenas para provar, ainda em nossos dias, como e quanto Kardec avançou no futuro, superando de muito o seu tempo e o nosso tempo.

   Só a ignorância orgulhosa ou a inteligência vaidosa e interesseira podem hoje querer superar Kardec, quando a própria Ciência e a própria Filosofia actuais estão ainda rastreando as conquistas de Kardec, nos rumos de futuras descobertas. O Espiritismo evolui, como tudo evolui no Universo. Esse é um axioma espírita. Mas a obra de superação de Kardec pertence às gerações do amanhã, pois a geração actual não revelou ainda condições sequer para compreender Kardec. Por outro lado, é bom lembrar que a superação de Kardec não será mais do que o prosseguimento do seu trabalho, o desdobramento da sua obra, na medida em que o homem se torne mais apto a compreender o que Kardec ensinou. O atraso actual do movimento espírita nos sugere, mesmo, que talvez o próprio Kardec tenha de voltar à Terra, como os Espíritos lhe disseram na ocasião em que esteve entre nós, para completar a sua obra, que homem nenhum foi capaz até ao momento de ampliar em qualquer sentido.

   Os leitores que desejarem verificar as comprovações parapsicológicas actuais das pesquisas de Kardec poderão fazê-lo em duas fontes: a nossa tradução anotada de O Livro dos Médiuns e o nosso livro Parapsicologia Hoje e Amanhã, em sua quarta edição. Neste último encontrar-se-á um capítulo especial sobre a descoberta do corpo bioplasmático pelos físicos e biólogos soviéticos.

   Fotografias da aura das coisas e dos seres têm sido apresentadas como fotografias da alma e justamente rejeitadas pelas pessoas de bom senso. Essas fotos pertencem à fase da efluviografia nas experiências com as câmaras Kyrillian. As fotografias do corpo bioplasmático são as que realmente correspondem à alma.
/…


José Herculano Pires – A Pedra e o Joio, Crítica à Teoria Corpuscular do Espírito. O espírito como objecto, 9º fragmento da obra.
(imagem: As Colhedoras de Grãos, pintura a óleo por Jean-François Millet)

1 comentário:

palavra luz disse...

Caríssimo lugar@zul,

Monopolizado por obrigações estivais de acompanhamento obrigatório do ramo da família que mais frescura de infância e mais futuro pela frente dispõe, tenho estado forçadamente ausente desta que eu considero a melhor “selecta” de textos espíritas que eu encontro na net.

Num começo de serão em que os meninos já se foram deitar, aqui estou a dizer o meu “presente”.

Leituras destas fariam muito jeito a todos os movimentos espíritas que eu conheço!...

O português, desde logo – por ser o que está mais perto – muito bem gastaria algum tempo lendo e reflectindo sobre as palavras de José Herculano Pires que aqui se encontram.

Os semeadores são poucos e andam muito dispersos por tarefas exigentes demais. Quem sabe lhe faria falta parar por alguns instantes e reformular alguma porção da sua estratégia.

São tantas as ideias que um texto deste conteúdo sugere, que me resulta praticamente impossível começar somente por uma ponta, dizendo o que me apetecia…

O Esperançoso Herculano Pires diz aqui tantas coisas fortíssimas, que abre páginas e páginas de um livro essencial de reflexões e achados que tarda em ser lido. E se, de facto, pertencemos às gerações do amanhã porque ansiava, porventura estamos realmente a marcar passo, fazendo de conta que o livro nem sequer foi escrito!...

Há uma frase por demais popular que repito relativamente a muitas outras causas, como paradigma de atitude negativa: “poupar no farelo e estragar na farinha”, é o que está a passar-se, julgo eu, em muito mais sítios do que seria para desejar.

Conto com “lugar@zul” para continuar a abrir páginas e páginas do tal livro do futuro.

E, quem sabe, talvez possamos vir ainda a ajudar mais uma dúzia de amigos a lê-las, que tão urgente é que o façam!...

Abraço fraterno e… tomem bem conta da infância do futuro com enorme carinho e devoção… que é nisso que tenho andado.