CAPÍTULO I
Fundamentos científicos da concepção neo-espírita da vida e
da história ~
Que somos?
Há vinte e quatro séculos (470 a .C.), o imortal Sócrates viu inscrita
na fachada do templo de Delfos esta profunda sentença: “Conhece-te a ti mesmo”,
que tomou como fundamento da sua filosofia. Transcorreram os séculos sem que a humanidade, absorvida pelos interesses da vida material, se preocupasse com
aquela afirmação. Conhecer-se a si mesmo: saber o que somos, de onde viemos e para onde vamos! Eis aí o problema, o formidável problema, que inclui o princípio
da verdadeira sabedoria.
As religiões e as diversas filosofias perderam-se em conjecturas, numa metafísica infecunda e cheia de contradições, sem nos dar a chave do problema: o Nosce te ipsum (Conhece-te a ti mesmo) guardava a sua incógnita.
As religiões e as diversas filosofias perderam-se em conjecturas, numa metafísica infecunda e cheia de contradições, sem nos dar a chave do problema: o Nosce te ipsum (Conhece-te a ti mesmo) guardava a sua incógnita.
O positivismo materialista, iludido pelas falsas
perspectivas de um conhecimento incompleto, acreditou conhecer o homem,
estudando-o: com a biologia, no desenvolvimento da célula e no processo
biológico, do óvulo fecundado até ao completo desenvolvimento do seu complicado
organismo; com a fisiologia e a anatomia, no funcionamento orgânico e estrutura
celular; com a histologia, na delicada constituição dos seus tecidos, das suas
fibras e neurónios; com a química, na composição íntima dos seus elementos
constitutivos e, com a antropologia, nas suas relações de origem e
descendência, nas influências hereditárias etnológicas, mesológicas, etc.; e como
não pôde agarrar a alma com o bisturi, descobri-la nas suas análises químicas,
nem vê-la desprender-se do organismo no momento da morte, passou-lhe atestado
de óbito, dando o problema por solucionado, concluindo que não há
pensamento sem cérebro, nem percepção sem órgãos materiais, nem alma individual
ou sobrevivência anímica, e o conhece-te a ti mesmo ficou prejudicado perante o
conceito da ciência materialista.
Mas eis que “os mortos se levantam dos seus túmulos” e,
enquanto os seus corpos se decompõem e os elementos constitutivos se desagregam
e se infiltram na terra, dando vida às plantas e aos insectos que os circundam
e deles adquirem corpo e se nutrem, a entidade psíquica, o eu espiritual
que constitui a nossa verdadeira personalidade, vive, sente, pensa e actua
num plano de vida superior, rodeado, ou melhor dizendo, revestido de um corpo
etéreo, verdadeiro receptáculo das energias sensoriais e psíquicas e o
potencial gerador das forças vitais, sensitivas e motoras, vínculo perispiritual,
indispensável para a manifestação das nossas faculdades anímicas e espirituais
e para a relação entre o espírito e a matéria, segundo se depreende dos factos
acumulados pela psicologia experimental, pela metapsíquica e
pelo Espiritismo.
Necessitava-se, pois, para que se resolvesse o problema do
conhecimento do ser, dos factos e manifestações espíritas, capazes
de explicar todo o alcance da sentença socrática.
Sábios de grande renome, mestres em todas as ciências,
pensadores profundos, robustas mentalidades que se têm destacado em todos os
ramos do saber humano, abraçaram o estudo do Espiritismo e depois de largas e
pacientes investigações, de contínuas experiências e de terem acumulado enorme
caudal de factos, que formam hoje um mosaico variado das suas manifestações e
detalhes como sólido na base do conjunto, capaz de resistir aos embates da
crítica mais minuciosa e exigente, provaram, positivamente, que a alma
é uma entidade substancial, que pode actuar dentro e fora do organismo e, em
circunstâncias determinadas e condições psíquicas especiais, ver sem os olhos e
ouvir sem os ouvidos, não por uma hiperestesia do sentido da visão ou da
audição, mas por um sentido interior, psíquico, mental; que pode, enfim ter
pressentimentos e visões telepáticas verídicas, ver, em estado
sonambúlico,
através dos corpos opacos e a muitos quilómetros de distância e descrever
minuciosamente o que se está a passar, desprender-se parcial ou totalmente do
seu corpo material, e perante a destruição deste, manifestar-se no mundo dos
vivos, de diferentes modos, valendo-se ou não do organismo de um médium.
As experiências do físico William Crookes,
descobridor da matéria radiante, do tálio e inventor dos tubos que levam o seu
nome, as do físico não menos célebre Cromwell Varley, inventor
do condensador eléctrico; as do naturalista Alfred Russel Wallace,
autor da teoria da selecção natural (simultaneamente com Darwin), as do fisiólogo Charles Richet, as do
antropólogo-criminalista Cesare Lombroso, as do
ilustre físico Oliver
Lodge, as do professor Ernesto Bozzano, as dos
astrónomos Zöllner, Flammarion, Porro (do
Observatório de La Plata), Schiaparelli etc., as dos doutores Otero Acevedo, Gibier, Gustave Geley, dos Osty, Hamilton, Schrenck Notzing,
as dos psicólogos da importância de William James, de Weber e
Fechner, as de Aksakof e
mil outras, realizadas por sábios de fama mundial, sobram em factos tão
rigorosamente controlados, que provam por si sós a verdade das afirmações
precedentes.
Seria difícil dar aqui uma ideia, ainda que aproximada, da
quantidade e variedade dos fenómenos psíquicos supranormais que registaram os
anais do Espiritismo. Desde meados do século passado até aos nossos dias, se
têm acumulado tantos factos em favor da tese espírita que só a ignorância, o
misoneísmo ou a negação sistemática poderão desconhecê-los ou atribuí-los a
sofisticações ou fraudes.
Outros sábios, outros homens, ávidos de conhecer o mistério
do além-túmulo, enquanto a caravana do mundo se agita no torvelinho de suas
paixões e interesses materiais, seguem esquadrinhando serena e
silenciosamente as sombras do além e tratam, por todos os meios ao seu alcance,
de furar o túnel da morte e chegar ao pleno conhecimento do mundo espiritual.
Dos seus trabalhos pacientes, perseverantes, assaz ásperos e um tanto ingratos,
há hoje indícios seguros dessa nova vida que se estende além do plano
terrestre, a um mundo infinito que nos assedia e do qual até agora temos tido
apenas presunções. Vozes amigas, palavras de consolo, lembranças longínquas,
lamentos, remorsos, ódios inauditos, carícias, recriminações, almas que sentem
e pensam, testemunhos patentes de seres que viveram e vivem ainda
acreditando-se ligados à terra, chegam através desse grande túnel,
aberto por quase um século de investigação científica, a anunciar-nos
a aurora de um glorioso despertar, cheio de agradáveis e fundadas perspectivas,
de alentadoras esperanças.
Nunca como na nossa época se sentiu a imperiosa necessidade
de descerrar o véu do desconhecido; jamais esta ansiedade da alma foi tão funda
e absorvente como neste século, em que os conhecimentos mais positivos se
sentem fraquejar na sua própria base perante os grandes e maravilhosos
descobrimentos da ciência contemporânea e a observação audaz e penetrante da
filosofia. Dir-se-ia que chegaram os tempos da revelação científica das
eternas verdades que alentaram a humanidade desde a infância.
/…
Manuel S. Porteiro (i), Espiritismo
Dialéctico, CAPÍTULO I Fundamentos científicos da concepção neo-espírita da
vida e da história, – Que somos? 1º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: Cada Mañana, óleo sobre tela (1968) de Josefina Robirosa | MUSEO DE LA SOLIDARIDAD SALVADOR ALLENDE (i))
(imagem de contextualização: Cada Mañana, óleo sobre tela (1968) de Josefina Robirosa | MUSEO DE LA SOLIDARIDAD SALVADOR ALLENDE (i))
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