Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Flores brilhantes

"   Em sua carreira, para onde vai, pois, o homem? Para o nada ou para uma luz desconhecida? A Natureza risonha, eterna, moldura as tristes ruínas dos impérios, com os seus esplendores. Nela nada morre, senão para renascer. Leis profundas, uma ordem imutável, presidem às suas evoluções. Só o homem, com suas obras, terá por destino o nada, o olvido? A impressão produzida pelo espectáculo das cidades mortas, ainda a encontrei mais pungente diante dos frios despojos dos entes que me são caros, daqueles que partilharam a minha vida.
   – Um desses a quem amais vai morrer. Inclinado para ele, com o coração opresso, vedes estender-se lentamente, sobre suas feições, a sombra da morte. O foco interior nada mais dá que pálidos e trémulos lampejos; ei-lo que se enfraquece ainda, depois se extingue. E agora, tudo o que nesse ser atestava a vida, esses olhos que brilhavam, essa boca que proferia sons, esses membros que se agitavam, tudo está velado, silencioso, inerte. Nesse leito fúnebre mais não fui que um cadáver! Qual o homem que a si mesmo não pediu a explicação desse mistério, e que, durante a vigília lúgubre, nesse silenciar solene com a morte, deixou de reflectir no que o espera a si próprio? A todos interessa esse problema, porque todos estamos sujeitos à lei.
   Convém saber se tudo acaba nessa hora, se mais não é a morte que triste repouso no aniquilamento, ou, ao contrário, o ingresso em outra esfera de sensações.
   Mas, de todos os lados levantam-se problemas. Por toda parte, no vasto teatro do mundo, dizem certos pensadores, reina como soberano o sofrimento; por toda parte, o aguilhão da necessidade e da dor estimula esse galope desenfreado, esse bailado terrível da vida e da morte. De toda parte levanta-se o grito angustioso do ser que se precipita no caminho do desconhecido. Para esse, a existência só parece um perpétuo combate: a glória, a riqueza, a beleza, o talento – realezas de um dia! A morte passa, ceifando essas flores brilhantes, para só deixar hastes fanadas."

LÉON DENIS in Depois da Morte, Introdução (2 de 5)

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