Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Individualização da Alma

“Evolveram, com o correr das idades, as concepções sobre a natureza da alma, desde a mais grosseira materialidade, até a espiritualidade absoluta. Os trabalhos dos filósofos, tanto quanto os ensinos religiosos, nos habituaram a considerar a alma como pura essência, como uma chama imaterial. Tão diferentes formas de ver prendem-se à maneira pela qual se encara a alma. Se estudada objectivamente, fora do organismo humano, durante as aparições, ela às vezes se afigura tão material, quanto o corpo físico. Se observada em si mesma, parece que o pensamento é a sua característica única. Todas as observações da primeira categoria foram atiradas ao rol das superstições populares e prevaleceu a idéia de uma alma sem corpo. Nessas condições, impossível se tornava compreender por que processo podia essa entidade actuar sobre a matéria do corpo ou dele receber as impressões. Como se havia de imaginar que uma substância sem extensão e, consequentemente, fora da extensão, pudesse actuar sobre a extensão, isto é, sobre corpos materiais?
Ao mesmo tempo em que nos ensinam a espiritualidade da alma, ensinam-nos a sua imortalidade. Como explicar, porém, que essa alma conserve as suas lembranças? Neste mundo, temos um corpo definido pela sua forma de envoltório físico, um cérebro que se afigura o arquivo da nossa vida mental; mas, quando esse corpo morre, quando esse substrato físico é destruído, que sucede às lembranças da nossa existência actual? Onde se localizarão as aquisições da nossa actividade física, sem as quais não há possibilidade de vida intelectual? Estará a alma destinada a fundir-se na erraticidade, a se apagar no Grande Todo, perdendo a sua personalidade?
São rigorosas estas consequências, porquanto a alma não poderia subsistir sem uma forma que a individualizasse. No oceano, uma gota d’água não se pode distinguir das que a cercam, não se diferencia das outras partes do líquido, a não ser que se ache contida nalguma coisa que a delimite, ou que, isolada, tome a forma esférica, sem o que ela se perde na massa e já não tem existência distinta.
O Espiritismo nos leva a comprovar que a alma é sempre inseparável de uma certa substancialidade material, porém com uma modalidade especial, extremamente rarefeita, cujo estado físico procuraremos definir. Essa matéria possui formas variáveis, segundo o grau de evolução do espírito e conforme ele esteja na Terra ou no espaço. O caso mais geral é o da alma conservar temporariamente, após a morte, o tipo que tinha o corpo físico aqui na Terra. Esse ser invisível e imponderável pode, às vezes, em circunstâncias determinadas, assumir um carácter de objectividade, bastante para afectar os sentidos e impressionar a chapa fotográfica, deixando assim traços duráveis da sua acção, o que põe fora de dúvida toda a tentativa de explicação desse fenómeno mediante a ilusão ou a alucinação.”

GABRIEL DELANNE, A Alma é Imortal, Introdução – Demonstração experimental da imortalidade (2 de 6)

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