Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O Mundo Invisível e a Guerra~


V
A Justiça Divina e a Actual Guerra

|14 de julho de 1915|

   Faz um ano que as provações de uma guerra sem precedentes desabam sobre a França.

   Estende-se sobre nossa pátria um véu de tristeza e de luto, e muitos de nossos irmãos choram por seus entes queridos.

   Diante de tantos sofrimentos, é necessário voltar nossos pensamentos para os princípios divinos que comandam as almas e as coisas.

   A solução dos inúmeros problemas que a actualidade apresenta só encontraremos na Doutrina Espírita; é nela que acharemos as consolações necessárias para diminuir nossa dor.

   Abalados pelos acontecimentos, vários amigos me indagaram: “Por que Deus permite tantos crimes e tantas calamidades?”

   Antes de tudo, Deus respeita o livre arbítrio humano, porque ele é o instrumento de todo o progresso e a condição fundamental de nossa responsabilidade moral. Sem liberdade e sem livre arbítrio não haveria bem nem mal e, consequentemente, não poderia existir progresso.

   Esse é o princípio de liberdade que forma, ao mesmo tempo, a prova e a grandeza do homem, conferindo-lhe o poder de escolher e de agir; é a fonte dos esplendores morais para quem decide progredir.

   Na presente guerra não se tem visto algumas pessoas descerem abaixo da animalidade e outras, pela dedicação e sacrifício, alcançarem as alturas do sublime?

   Sabemos que, para os espíritos inferiores, como o são a maior parte dos que povoam a Terra, o mal é o resultado inevitável da liberdade. Porém, do mal cometido, Deus sabe, em sua profunda e infinita sabedoria, extrair um bem para a humanidade. Colocado acima do tempo ele domina o correr dos séculos, enquanto nós, em nossa transitória existência, temos dificuldades em apreender o entrosamento das causas e seus efeitos.

   Mais cedo ou mais tarde, entretanto, a hora da eterna justiça soará inevitavelmente.

   Acontece que, muitas vezes, os homens se esquecem das leis divinas, do objecto da vida, resvalam na ladeira do sensualismo e se atolam na matéria. Então, tudo o que constituía a beleza da sua alma se encobre e desaparece, dando lugar ao egoísmo, à corrupção e aos desregramentos em todas as suas formas. Era o que acontecia entre nós, desde muito tempo; a maior parte dos nossos contemporâneos já não possuía outro ideal que a riqueza e os prazeres.

   O alcoolismo e a devassidão tinham secado os mananciais da vida e, para tantos excessos, sobrava apenas um remédio: o sofrimento! Sabemos que as más paixões emanam fluidos que se acumulam, paulatinamente, e terminam se transformando em catástrofes e calamidades: daí a guerra actual.

   Todavia, não faltaram avisos, mas os homens permaneceram insensíveis às vozes celestes.

   Deus permitiu que ela explodisse porque sabe que a dor é o único meio eficiente para reconduzir o homem às coisas mais sadias e os sentimentos mais generosos.

   Entretanto, a ira do inimigo foi contida e, não obstante o talento da sua organização e do meticuloso preparo, a Alemanha foi detida na realização dos seus planos. Sua crueldade feroz e sua ambição sem limites despertaram os poderes celestes contra ela.

   Após um trabalho lento de desagregação do antimilitarismo, a vitória do Marne e o entusiasmo de nossos soldados só se explicam pela interferência das forças invisíveis. Como, porém, essas forças sempre estão em actividade, apesar dos sombrios prognósticos actuais, conservamos intacta a nossa confiança no porvir.
/…


LÉON DENIS, O Mundo Invisível e a Guerra, V – A Justiça Divina e a Actual Guerra, 1 de 4 14º fragmento da obra.
(imagem: Tanque de guerra britânico capturado pelos Alemães, durante a Primeira Guerra Mundial)

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