Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

quarta-feira, 18 de julho de 2012

| o grande enigma ~


Ao Leitor

Nunca, talvez, no decurso de sua história, a França sentiu mais profundamente a oportunidade de uma nova orientação moral. 

As religiões, dissemos, perderam muito de seu prestígio, e os frutos envenenados do materialismo se mostram por toda a parte. 

Já tinham feito nascer entre as nações esse conflito sangrento que nos aproveitou tão pouco. A obra nefasta prossegue na hora presente. 

Ao lado do egoísmo e da sensualidade de uns, pompeiam a brutalidade e a avidez de outros. Os actos de violência, os assassínios e os suicídios se multiplicam. 

As greves revestem carácter cada vez mais grave. É a luta das classes, o desencadeamento dos apetites e dos furores. 

A voz popular sobe e retumba; o ódio dos pequenos, contra aqueles que possuem e gozam, tende a passar do domínio das teorias para o dos factos. 

As práticas bárbaras, destruidoras de toda a civilização, penetram nos costumes do operariado. Esse estado de coisas, agravando-se, nos levaria directamente à guerra civil e à selvageria.

Tais são os resultados de uma falsa educação nacional. Desde séculos, nem a escola nem a Igreja têm ensinado ao povo aquilo de que ele tem mais necessidade de conhecer:

o porquê da existência, a lei do destino com o verdadeiro sentido dos deveres e responsabilidades que a ele se ligam.

Daí, em toda parte, o desarrazoar das inteligências e das consciências, a confusão, a desmoralização, a anarquia. Estamos ameaçados de falência social.

Será necessário descer até ao fundo do pélago das misérias públicas, para ver o erro cometido e compreender que se deve buscar, acima de tudo, o raio que esclareça a grande marcha humana em sua estrada sinuosa, através dos precipícios e das rochas que desabam?
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Léon Denis, O Grande Enigma, Ao Leitor 3 de 3, 3º fragmento da obra.
(imagem: Salvador Dali, 1950)

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