Ao Leitor
A Justiça!
Se há neste mundo uma necessidade imperiosa para
todos os que sofrem, para quantos têm a alma dilacerada, não é essa a de crer,
de saber que a justiça não é uma palavra vazia; que há, de qualquer maneira,
compensações para todas as dores, sanção para todos os deveres, consolação para
todos os males?
Ora, essa justiça absoluta, soberana, quaisquer que sejam
nossas opiniões políticas e nossas vistas sociais, deve reconhecer
perfeitamente, não é de nosso mundo. As instituições humanas não a comportam.
Embora chegássemos a corrigir, a melhorar essas instituições
e, por conseguinte, a atenuar muitos males, a diminuir a soma das desigualdades
e das misérias humanas, há causas de aflição, enfermidades cruéis e inatas
contra as quais seremos sempre impotentes: a perda da saúde, da vista, da
razão, a separação dos seres amados e todo o imenso séquito dos sofrimentos
morais, tanto mais vivos quanto o homem é mais sensível e a civilização mais
apurada.
Apesar de todos os melhoramentos sociais, nunca obteremos
que o bem e o mal encontrem neste mundo integral sanção. Se existe essa justiça
absoluta, o seu tribunal não pode estar senão no Além! Mas quem nos provará que
esse Além não é um mito, uma ilusão, uma quimera? As religiões, as filosofias
passaram; elas desdobraram sobre a Alma humana o manto rico de suas concepções
e de suas esperanças. Entretanto, a dúvida subsistiu no fundo das consciências.
Uma crítica minuciosa e sábia tem passado em estreito crivo todas as teorias de
outrora. E desse conjunto maravilhoso só resultaram ruínas.
Mas, em todos os pontos do globo, fenómenos psíquicos se
produziram. Variados, contínuos, inumeráveis, traziam a prova da existência de
um mundo espiritual, invisível, regido por princípios rigorosos, tão imutáveis
quanto os da matéria, mundo que guarda nas suas profundezas o segredo de nossas
origens e de nossos destinos. Uma nova ciência nasceu baseada nas experiências,
nas pesquisas e nos testemunhos de sábios eminentes; uma comunicação se
estabelecera com esse mundo invisível que nos cerca e uma revelação poderosa
banha a Humanidade qual uma onda pura e regeneradora.
/…
Léon Denis, O Grande
Enigma, Ao Leitor 2 de 3.
(imagem: Salvador Dali, 1950)
(imagem: Salvador Dali, 1950)
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