Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sábado, 30 de junho de 2012

O peregrino sobre o mar de névoa~


Princípios da Terapêutica Espírita

Podemos enunciar o primeiro princípio da terapêutica espírita da seguinte maneira:

1) A cura das doenças depende da acção natural das energias conjugadas do homem e da terra (psicológicas e mesológicas), na reconstituição do equilíbrio das energias naturais do doente.

Os demais princípios podem ser definidos na sequência abaixo:

2) A renovação de energias depende da acção conjugada dos espíritos terapeutas com o médium curador, que se põe à disposição dos espíritos para a transmissão dos fluidos energéticos através da prece e do passe.

3) A eficácia do passe depende da boa-vontade do médium, que se entrega humildemente à acção dos espíritos, sem perturbá-la com gesticulações excessivas, limitando-se às que os espíritos lhe sugerirem no momento. Não temos nenhum conhecimento objectivo do processo de manipulação dos fluidos pelos espíritos e poderíamos perturbar-lhes a acção curadora com nossa intervenção pretensiosa. O médium é instrumento vivo e inteligente da acção espiritual, mas só deve utilizar a sua inteligência para compreender o seu papel de doador de fluidos, como se passa no caso da doação de sangue nos hospitais.

4) A acção curadora dos espíritos não é mágica nem milagrosa; está sujeita a leis naturais que regem a estrutura psicobiológica do homem. A emissão de ectoplasma do corpo do médium para o corpo do doente revela-se actualmente, nas pesquisas russas, como emissão de plasma físico acompanhado de elementos orgânicos. As famosas pesquisas da Universidade de Kirov, na URSS, comprovaram e confirmaram as pesquisas de Richet, Schrenk-Notzing, Gustave Geley e Eugéne Osty, no século XIX, sobre a acção do plasma físico (quarto estado da matéria) nos efeitos físicos da mediunidade. Na teoria do perispírito, Kardec já havia também, com grande antecedência, constatado a importância da relação espírito-matéria nesses processos.

5) Nos casos de cura à distância, sem a presença do médium, a eficácia depende das condições psicofísicas do doente, que permitem a colaboração do seu próprio organismo nas elaborações fluídicas do plasma, em conjugação com as energias espirituais dos espíritos terapeutas. Kardec considerava o perispírito como organismo semimaterial. Frederic Myers estudou a actividade da mente supraliminar (consciente) e subliminar (inconsciente) em todos esses processos então considerados como misteriosos.

6) As chamadas operações espirituais (hoje paranormais) podem realizar-se por intervenção física do médium, dominado pelo espírito que dele se serve por influenciação mediúnica no transe hipnótico. Mas a simples acção mental do médium pode produzir efeitos físicos no paciente, como Rhine provou nas suas experiências com animais. Rhine resumiu os resultados de suas pesquisas no seguinte princípio: “A mente, que não é física, age por vias não físicas sobre a matéria.” Soal, Carington e outros verificaram que as actividades internas do organismo animal e humano (funções vegetativas e correlatas) são controladas por acção mental sobre o sistema nervoso, vascular e muscular. A teoria do dinamismo psíquico inconsciente de Geley se desenvolve nesse mesmo sentido.

O mistério teológico da encarnação transformou-se actualmente numa questão científica universalmente pesquisada nos maiores centros universitários do planeta. A terapia espírita está hoje respaldada pelas mais recentes e avançadas descobertas científicas. Os que pretendem rejeitá-la com argumentos se esquecem de que os problemas da ciência só podem ser resolvidos por meio de pesquisas e provas. Maldições e anátemas desvalorizaram-se totalmente num processo inflacionário de dois milénios. Não era sem razão a luta cruenta da Igreja contra o desenvolvimento científico. Ela se defendeu ferozmente do atrevimento dos cientistas porque agia sob a compulsão violenta do instinto de conservação. Mas a favor da ciência estavam as leis irresistíveis da evolução. A era científica nasceu ensanguentada dos calabouços medievais em que os mártires do progresso sofriam nas mãos dos inquisidores, à espera das fogueiras divinas em que seriam purificados. A Ciência avançou, apesar de tudo, derrotando os terroristas da magia negra, da antiga e temível Goécia que os próprios clérigos empregavam em suas lutas de política intestina. Coube ao coronel Albert de Rochas, director do Instituto Politécnico de Paris, pesquisar em laboratório os possíveis efeitos da magia negra, demonstrando o engano dos que a consideravam dotada de poder diabólico. O desprestígio da superstição permitiu aos médiuns, hoje chamados sujeitos paranormais (nem anormais, nem patológicos, nem diabólicos), transformarem-se nos instrumentos humanos da investigação científica das potencialidades da criatura humana. Actualmente a própria Igreja dispõe de organismos de pesquisa dos fenómenos que antes considerava como estigmas infamantes da maldição divina.

Quando a Academia de França reconheceu a realidade do magnetismo e seu interesse científico, mas mudando-lhe o nome para hipnotismo, Kardec escreveu um artigo sobre o facto na Revista Espírita, lembrando que o magnetismo cansara de bater à porta da Academia, sendo sempre enxotado. Por fim resolvera mudar de nome e entrar na casa pela porta dos fundos, sendo então recebido e aclamado pelos cientistas. O mesmo acontece agora com o Espiritismo, que, sendo baptizado na universidade de Duke com o nome de Parapsicologia, teve entrada franca e entusiástica na URSS e no Vaticano. Na verdade, a Parapsicologia, com roupa nova, linguagem grega e seguindo as pegadas de Kardec, para atingir os seus mesmos objectivos, nada ofereceu de novo ao mundo actual além de sua roupagem tecnológica. Prestou, assim mesmo, um grande serviço ao mundo materialão, conseguindo despertar-lhe o interesse pelos problemas espirituais. Os materialistas e os religiosos formalistas tinham medo dos espíritos. Rhine conseguiu mostrar-lhes, por meios estatísticos, que todos somos espíritos. O medo se foi e com ele a ilusão da matéria desfeita na poeira atómica da Nova Física.
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José Herculano Pires, Ciência Espírita e suas implicações terapêuticas, 2 Princípios da Terapêutica Espírita 2 de 2, 7º fragmento.
(imagem: O peregrino sobre o mar de névoa, por Caspar David Friedrich)

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