Parte II
Quarta lição , de O Esteta
– Inspiração nos tempos modernos – Inspiração científica e inspiração idealista – Inspiração, forma que concretiza a arte
(5 de Dezembro de 1921)
“Vamos falar da inspiração nos tempos modernos. Vós ides compreender
que há três grandes etapas: iniciação, trabalho e progressão. O desabrochar,
parcial sobre os mundos, é completo no espaço. Vimos nossos artistas fazerem
sua iniciação na Antiguidade, seja na Grécia, no Egipto ou em Roma. De volta ao espaço,
esses seres amadureceram e aproveitaram as qualidades adquiridas em uma
ambiência material; retornando à Terra, em uma outra encarnação, eles trouxeram
seu ideal da época da Renascença; depois esse ideal se expandiu, um século mais
tarde, nas letras, nas artes e na arquitectura. Eu quero falar do século de
Luís XIV. Tendo esses espíritos retornado ao espaço, durante um tempo bastante
longo, a inspiração em geral foi apenas medíocre no século XVIII e latente no
XIX.
Em que consiste a inspiração em nossa época?
Os Espíritos, imbuídos das belas obras rebuscadas sobre a
Terra e no espaço, e que estão actualmente desencarnados, retornarão no momento
em que a arte e o espírito, divinizados, deverão reflorir de uma forma mais
intensa. Paralelamente, outros espíritos, que anteriormente trabalharam para a
evolução material, impregnaram-se de positivismo e, aqui na Terra, na hora
presente, sua inspiração, que está classificada como inspiração pessoal,
encaminha-se para as coisas científicas. Mas o grupo de artistas idealistas que
fica no espaço busca iluminar com uma luz divina esses seres que têm belas
qualidades, sob o ponto de vista do trabalho, e que devem fazer surgir a
centelha da ciência.
Eis por que, nesse momento, observais uma luta entre a
ciência pura e a procura dos destinos humanos, sua formação e a do Cosmos.
Vós ireis me dizer: Como concebeis a arte no espaço? A arte
brota da inspiração, assim sendo era necessário vos mostrar como a arte se
desenvolve e cresce numa evolução constante, para que pudésseis perceber a
marcha ascendente da espiritualidade. Somente quando compreenderdes bem como a
centelha artística, a centelha divina, se libera do espírito é que podereis
compreender e também idealizar os quadros que se passam no espaço, mais
grandiosos e mais completos que aqueles que vedes sobre a Terra e que deles são
apenas um pálido reflexo.
Os espíritos positivos terrestres, provindos de uma centelha
criadora, procuraram, pela inspiração científica que lhes é própria e por
aquela que recebem dos seres desencarnados, descobrir o mistério da vida e do
Universo.
Todas as forças se entrecruzam, do mundo visível ao mundo
invisível. Do alto, os espíritos idealistas buscam animar, com um ardor que os
espiritualize, os seres que trabalharam em períodos diversos e que, desse facto,
adquiriram uma inspiração pessoal, mas rígida e fria.
Os cientistas da vossa época não viveram no mesmo tempo que
os idealistas que conceberam tão belas obras, e é por isso que, do espaço,
esses idealistas procuram estimular os cientistas. A inspiração pessoal destes
últimos se confinou a um domínio que diz respeito à matéria. A centelha
criadora atinge apenas o cérebro e não a alma, portanto era necessário que
grandes espíritos iniciadores viessem do espaço dar aos vossos contemporâneos a
insuflação inspiradora que os conduza, muito suavemente, pelos exemplos
materiais, à revelação de forças desconhecidas.
As ondas hertzianas são uma das formas concretas de
correntes fluídicas, criadas por Deus e transmitidas pelos espíritos. O
primeiro homem que, sob a forma de uma inspiração, constatou-lhes a existência,
foi conduzido a esse facto, pouco a pouco, por invisíveis que queriam revelar
aos terrestres o poder das correntes que eles desconheciam. Porém, da
inspiração científica à inspiração idealista há uma distância. As dificuldades
existem em razão dos meios de acção, mas, nos séculos futuros, será preciso que
todos os seres vibrem em uníssono e, no momento actual, o núcleo de
pesquisadores científicos tem necessidade de sentir uma inspiração em que se
misturem a ciência e a forma espiritualizada da obra divina em toda a sua
grandeza e sua beleza. Já que as ondas de seres vivos que passam pela Terra não
têm todas o mesmo grau de evolução, a inspiração que anima cada onda não pode
ser da mesma natureza.
Para preparar o trabalho progressivo das gerações há, na
inspiração científica, uma mistura de desconhecido, de surpresa que, algumas
vezes, produz um cepticismo que não é durável.
Fatalmente, no ciclo que se prepara, vossos sábios deverão
aceitar e ensinar à humanidade as novas forças que brotam continuamente do
espaço celeste. No dia em que vossos cientistas descobrirem, pela intuição e
pela inspiração, a fonte das correntes que animam o Universo, o ideal divino
estará pronto para reflorir sobre a vossa Terra e nós poderemos afirmar,
convosco, que a evolução terrestre terá dado um grande passo.
A evolução científica prossegue em todos os domínios, desde
a preciosa descoberta material até a aplicação de princípios novos e positivos
nas artes. Actualmente vossas artes, salvo a literatura, procedem desse género
um pouco impulsivo de impressão e de inspiração. Se, durante a Renascença, as
composições pareciam por vezes um pouco ingénuas, em vossos dias, a cor, a
forma, o poder da inspiração não faltam, mas será preciso adquirir, nos séculos
futuros, a noção de ideal que servirá de elo a todas as obras do pensamento.
Deus vos dá, por aí, o sentido real e profundo da sua obra universal.
Nesse estudo, vimos o cérebro do artista organizado em todos
os domínios. A inspiração, quer venha da personalidade ou do ideal divino, é a
forma que concretiza a arte. Os seres carnais a adquirem na Terra, seu espírito
a completa no espaço.
Mais tarde, passaremos em revista as belas concepções que
podem brotar de uma alma ardente no trabalho e plena de admiração pelo Criador.”
/…
LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte II – Quarta lição (de O Esteta)
Inspiração nos tempos modernos, Inspiração científica e inspiração idealista,
Inspiração, forma que concretiza a arte. 9º fragmento
da obra
(imagem:
Mona Lisa 1503-1507 – Louvre, pintura
de Leonardo da Vinci)
Sem comentários:
Enviar um comentário