CAPÍTULO III
O País de Gales.
A
Escócia.
A obra dos bardos
A Ilha de Man nos oferece também um belo exemplo de
ressurreição céltica.
Ela possui um parlamento autónomo, uma sociedade
preservadora da língua Manx, jornais, serviços religiosos de Manx, escolas,
etc.
Quanto à Cornualha Inglesa, seu dialecto, o córnico, também
não está extinto como se pretende, pois um certo número de famílias ainda o
falam.
Assim escreveu Le Goffic:
Assim escreveu Le Goffic:
“O cornualhense, como o bretão da França, a quem se
assemelha tão estranhamente, permaneceu em comunicação permanente com o Além.
Ele vive, como um bretão, numa espécie de familiaridade dolorosa com os
espíritos dos mortos, consultando-os, ouvindo-os e compreendendo-os.”
O País de Gales é considerado como o mais antigo e o mais
importante foco ou escola de Bardismo. Eis o que Jean Reynaud escreveu sobre
esse assunto na bela obra L’Esprit de la Gaule , página 310:
“Pode-se dizer que os druidas, convertendo-se ao
Cristianismo, não se extinguiram totalmente no País de Gales, como na nossa
Bretanha e em outros países de sangue gaulês. Eles tiveram, logo em seguida,
uma sociedade, solidamente constituída, dedicada, principalmente na aparência,
ao culto da poesia nacional, mas que, sob o manto poético, conservou com
fidelidade a herança intelectual da antiga Gália: é a Sociedade Bárdica do País
de Gales, que se manteve como sociedade ora secreta, ora legalizada, desde a
conquista normanda, e após ter, primitivamente, transmitido por via oral sua doutrina,
como imitação da prática dos druidas, decidiu, durante a Idade Média, confiar
secretamente à escrita as partes mais essenciais dessa herança.”
Na realidade, o bardo é um poeta, um orador inspirado.
Pode-se compará-lo aos profetas do oriente, a esses grandes predestinados sobre
quem passa o sopro do invisível.
Na nossa época o título de bardo perdeu seu prestígio,
devido ao abuso realizado, mas se voltarmos ao sentido primitivo do termo,
notaremos a presença de importantes personagens como Taliésin, Aneurin,
Llywarch-Hen, etc. Após tantos séculos, seus sotaques viris, quando eles
afirmam seu patriotismo e sua fé, fazem ainda vibrar as almas célticas.
Não é preciso ver na obra dos antigos bardos um simples
exercício do pensamento, um jogo do espírito ou uma música de palavras. Seus
versos e seus cantos constituem um comentário e um desenvolvimento das Tríades, um ensino, uma arte que abre
perspectivas imensas aos destinos da alma, elevando-a para Deus. Ela confere a
seus intérpretes uma espécie de auréola e de apostolado.
Esse ensino representa um adiantamento enorme sobre os tempos futuros. Tomemos, por exemplo, Le Chant du Monde (O Canto do Mundo), de Taliésin (segundo Barddas, cad. Goddeu, um livro celta). Diz este bardo:
“Grande viajante é o mundo; enquanto ele desliza sem
repouso, permanece sempre na sua estrada, e quanto a forma dessa estrada é
admirável para que o mundo nunca saia dela!”
Ele descreve assim o caminho do globo através do espaço,
muito antes das descobertas de Galileu que puseram fim ao antigo preconceito
bíblico da imobilidade da Terra.
Sejam quais forem as constatações que se levantaram sobre a
data exacta dessas obras, não se pode duvidar de que elas não sejam bem
anteriores à ciência da Idade Média; o mesmo ocorre com o conjunto das Tríades que afirmam a natureza
espiritual do ser humano, a evolução da alma por vidas sucessivas através dos
renascimentos, verdade que a ciência actual começa aos poucos a entrever.
Esses inspirados também eram videntes. Suas faculdades
psíquicas lhe permitiam mergulhar no futuro e aí ler as vicissitudes, os
reveses, as provas dolorosas que aguardavam os povos celtas. Mas eles sabiam
que o ideal gravado neles não podia perecer. Eles sabiam que o sofrimento
tempera as almas e que, mais tarde, esses povos restituiriam às civilizações,
pervertidas pelos excessos do materialismo, o conceito elevado que constitui
todo o valor da vida e mostra ao homem o caminho recto e seguro.
Os grandes antepassados voltaram mais de uma vez sobre a
Terra, seja na Inglaterra, seja na França, em novos corpos. Eles tiveram nomes
ilustres que nós poderíamos citar, mas abusaram tanto desses nomes célebres que
preferimos deixar aos pesquisadores o cuidado de reconhecê-los entre aqueles
que conduziram bem alto, através dos séculos, a tocha da arte poética e do
pensamento radiante.
/…
LÉON DENIS, O Génio
Céltico e o Mundo Invisível, Primeira Parte OS PAÍSES CÉLTICOS, CAPÍTULO
III – O País de Gales. A Escócia. A obra dos bardos 3 de 3, 11º fragmento.
(Imagem: A Apoteose dos heróis franceses que morreram por seu país durante a
guerra da Liberdade, pintura de Anne-Louis Girodet-Trioson)
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