Parte III
Senso artístico
– Constituição e evolução
|Março de 1922|
Em que consiste o senso artístico?
O estudo atento da alma nos mostra que tudo na natureza – os
sons, os perfumes, os raios de luz, as cores – encontra em nós suas
correspondências, suas analogias, e que suas radiações se fundem e se
harmonizam às profundezas do ser, na medida da nossa evolução. É isso o que
constitui o senso artístico, a compreensão do belo sob todas as formas.
A evolução desse senso íntimo, a faculdade de expressá-lo,
desenvolvem-se nas almas de vidas em vidas e terminam por produzir o talento, o
génio. Nos aspectos superiores da arte, o artista encontra a alta concepção da
beleza eterna; ele compreende que sua fonte única está em Deus. Do infinito, essa
fonte se lança sobre todos os seres e os penetra de acordo com o seu grau de
receptividade.
Raios de luz e cores, sons e perfumes, estão ligados por um
encadeamento, uma espécie de escala da qual cada nota representa uma soma
particular de vibrações e que constituem, em seu conjunto, uma unidade
perfeita. Se a ela se juntam as formas e as linhas, essa unidade se tornará a
lei geral do belo, e a arte, em suas múltiplas manifestações, terá por objectivo
reproduzi-las.
O estudo da arte e suas realizações nos impregnam, pouco a
pouco, de esplendores do Universo. Inicialmente insensível e inconsciente no
homem primitivo, esse trabalho acaba consciente, acentua-se, revela-se sob
formas crescentes para se tornar como que um reflexo da suprema beleza.
Porém, sobre a Terra, a arte ainda é apenas um balbucio. Nos
outros mundos, e principalmente no espaço, dizem-nos os nossos guias, ela
produz maravilhas perto das quais as mais belas obras humanas pareceriam bem
pobres e quase infantis. Chegada a essas alturas, a arte torna-se a forma mais
sublime do culto prestado à divindade.
Até aqui o artista se inspirou nas coisas do mundo visível
ou tangível; dele ouviu as vozes, as harmonias; estudou-lhe as formas, as cores
e com elas conseguiu impregnar suas obras. Assim, o artista criou uma comunhão
mais íntima entre o homem e a natureza. Graças a ele, as coisas obscuras e
mudas tomaram uma alma e suas vagas aspirações, suas queixas, suas dores
encontraram expressões que, tornando-as mais vivas, as aproximavam de nós, ao
mesmo tempo em que a alma humana tornava-se mais sensível ao contacto da vida
exterior.
Assim, a arte entregou à vida do globo o sentido profundo
que lhe faltava. Por meio da arte, as forças cegas da natureza penetraram em
nós e adquiriram como que um reflexo da nossa consciência e dos nossos
sentimentos. A alma humana foi em direcção às coisas e sua influência lhes deu
um modo mais intenso de vida e de sensações; por intermédio dessa comunhão a
alma da Terra se elevou ao conhecimento de si mesma, de seu papel e de seu
grande destino.
Agora, como se pode ver pelas lições de o Esteta, é todo um outro mundo que se abre, é toda uma vida
ignorada que surge, mais rica, mais abundante, mais variada do que tudo o que
conhecemos até aqui, e a arte vai encontrar nesse meio desconhecido de fontes
inesgotáveis de inspiração e de poesia, formas insuspeitáveis do pensamento e
da vida.
Desde agora, o domínio da matéria subtil e dos fluidos foi
aberto, revelando-se sob aspectos prestigiosos, oferecendo ao homem meios de
estudo e de observação que estendem ao infinito o campo de suas pesquisas e de
seus conhecimentos científicos. As aparições de espíritos nos acostumaram com
todas essas formas de existência extraterrestre, desde as materializações mais
densas e mais grosseiras, até às manifestações da mais ideal e mais radiosa
vida.
Em nossas conversas regulares com os espíritos-guias,
obtemos indicações sobre a vida no espaço, sobre a grandiosidade de formas e de
cores, sobre suas suaves e poderosas harmonias, que abrem ao músico, ao pintor,
ao escultor, caminhos múltiplos e inexplorados.
Aqueles que possuem faculdades medianímicas irão percebê-los
directamente e, com eles, todos os recursos da arte serão enriquecidos. O vasto
mundo dos espíritos torna-se acessível aos nossos sentidos, pelos espectáculos
e ensinamentos que ele nos reserva. As forças intelectuais da humanidade serão
centuplicadas, seu génio artístico criará obras que superarão tudo o que os
séculos realizaram.
/…
LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte III – Senso artístico: constituição e evolução, 10º fragmento
da obra
(imagem:
Mona Lisa 1503-1507 – Louvre, pintura
de Leonardo da Vinci)
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