Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

quarta-feira, 23 de março de 2011

Morada de Deus

“Não cabe aqui entreter-nos com as moradas imaginadas para a pessoa de Deus. Não abordaremos o poético céu dos gregos, povoado de figuras ideais, onde os deuses sempre jovens e belos se divertem, combatem e gozam com o tomar parte nos destinos humanos. Não falaremos do sombrio e iracundo Jeová dos Judeus, que pune até à terceira ou quarta geração. Nada diremos, tampouco, do céu dos Orientais, que reserva aos crentes numerosas huris, num ambiente de beleza e delícias eternas.
Omitiremos o céu dos groelandeses, no qual a maior ventura consiste numa grande quantidade de peixes e de óleo de baleia, bem como o céu do indiano caçador, que se paga com abundância de caça, e o do Germano que, no Walhalla, faz do crânio do inimigo a sua taça de hidromel.
Se o simples bom senso humano não pode, jamais, fazer uma idéia pura e abstrata do absoluto, as tentativas da Filosofia, por sua vez, pouco ou mesmo nada têm conseguido. Quem se desse ao trabalho de catalogar as idéias acerca de Deus, do absoluto ou daquilo a que os filósofos chamam alma do mundo, ficaria pasmo da quantidade e variedade de sistemas que, desde a origem dos tempos históricos até os nossos dias, a despeito dos progressos científicos, se imaginaram por oferecer poucos raciocínios novos, e raramente razoáveis.”

FLAMMARION, CAMILLE in “Deus na Natureza” Tomo V - DEUS, (6/6)

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