Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O Espírito na Natureza

   E assim, o plano da Natureza foi anunciado pela construção dos seres vivos.
   Mais eloquentemente ainda, foi esse plano afirmado pelas provas do instinto no reino animal. A criação, aí, nos surgiu magnificamente completada por leis assecuratórias da sua duração e grandeza. Mas, ao mesmo tempo que a presença de Deus se manifestava mais imponente aos nossos olhos, o problema geral da finalidade do mundo surgia mais vasto e temeroso. Sentimos, então, a insignificância comparativa e assim fomos levados, naturalmente, pela diretriz do arrazoado, a retomar a idéia dominante do nosso ponto de partida, isto é, demonstrar conjuntamente o erro do ateísmo e da superstição religiosa.
   Este exame da causalidade final teve por epígrafe o título da obra do grande físico e filósofo Ested – O Espírito na Natureza.
   A força espiritual que vive na essência das coisas e governa o Universo em suas partículas infinitesimais revelou-se assim, sucessivamente, nos mundos sideral, inorgânico, vegetal, animal, pensante. Esperamos que o observador de boa fé, desprevenido do espírito de sistema, se contentará com esta exposição dos últimos resultados da Ciência contemporânea, confirmativos da soberania da força e da passividade da matéria.
   Temos íntima convicção de que a idéia de Deus se apresentou a seus olhos maior e mais pura que toda e qualquer imagem simbólica e dogmática, e que a criação universal, misteriosa filha do mesmo pensamento, lhe surgiu mais ampla e mais bela.
O Universo desdobra-se na sua realidade, como a manifestação de uma idéia una, de um plano único e de uma só vontade. Possa este quadro da vida eterna da natureza de Deus afastar o leitor dos erros grosseiros que o materialismo espalha por toda parte, robustecendo-lhe o intelecto no culto puro da Verdade. Possam os nossos espíritos se compenetrarem, cada vez mais, do Belo manifestado na Natureza e santificarem-se no Bem, com o apreciarem mais completamente a unidade da obra divina, fazendo uma idéia mais justa do nosso destino espiritual, conhecendo a nossa categoria na Terra em relação ao conjunto dos mundos e sabendo, finalmente, que a nossa grandeza está em nos elevarmos constantemente na posse e pela posse dos bens imperecíveis, que são apanágio da inteligência.

CAMILLE FLAMMARION, Deus na Natureza, Tomo V – DEUS (1 de 4 fragmento)
(imagem: The Spring, pintura de Franz Xaver Winterhalter)

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