Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sábado, 20 de agosto de 2011

Recordações da nossa consciência...

Na realidade, a memória não é mais do que uma modalidade da consciência. A recordação está, muitas vezes, no estado subconsciente. Já, no círculo restrito da vida actual, não conservamos a recordação de nossos primeiros anos, a qual está, contudo, gravada em nós, como todos os estados atravessados no decurso de nossa história. Sucede o mesmo com grande número de actos e factos pertencentes aos outros períodos da vida. Gassendi, dizem, lembrava-se da idade de 18 meses; mas isso é uma excepção. É necessário o esforço mental para reavivar essas recordações da vida normal, a que nos é mais familiar; é necessário, repetimo-lo, para novamente colher mil coisas estudadas, aprendidas e, depois, esquecidas, porque baixaram às camadas profundas da memória.
A cada passo, a inteligência precisa procurar na subconsciência os conhecimentos, as recordações que quer reavivar; esforça-se para fazê-los passar para a consciência física, para o cérebro concreto, depois de tê-los provido dos elementos vitais fornecidos pelos neurónios ou células nervosas. Segundo a riqueza ou a pobreza desses elementos, a recordação surgirá clara ou difusa; às vezes, esquiva-se; a comunicação não pode estabelecer-se, ou então a projecção produz-se mais tarde somente, no momento em que menos se espera.
Para recordar, portanto, a primeira das condições é querer. Aí está a razão pela qual muitos Espíritos, mesmo na vida do espaço, sob o domínio de certos preconceitos dogmáticos, desprezam toda investigação e conservam-se ignorantes do passado que neles dorme. Nesse meio, como entre nós, no decurso da experimentação, é necessária uma sugestão. Vemos essa lei da sugestão manifestar-se em toda parte, debaixo de mil formas; nós mesmos, a cada instante do dia, estamos sujeitos à sua acção. Eleva-se, por exemplo, perto de nós um canto, ressoa uma palavra, um nome, fere-nos a vista uma imagem e, de repente, graças à associação de idéias, desenrola-se em nosso espírito um encadeamento completo de recordações confusas, quase esquecidas, dissimuladas nas camadas profundas da nossa consciência.

LÉON DENIS, O Problema do ser, do destino e da dor, Segunda Parte/O Problema do Destino, XIV – As vidas sucessivas. Provas experimentais. Renovação da memória. (4 de 4)
(imagem: Sainte Thérèse de Lisieux_1931, pintura de Edgar Maxence)

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