Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sábado, 20 de agosto de 2011

O despertar da memória

A memória é a concatenação, a associação das idéias, dos factos, dos conhecimentos. Desde que essa associação desaparece, desde que se rompe o fio das recordações, parece que para nós se apaga o passado, mas só na aparência. Num discurso pronunciado em 6 de fevereiro de 1905, o Prof. Charles Richet, da Academia de Medicina, dizia: “A memória é uma faculdade implacável de nossa inteligência, porque nenhuma de nossas percepções jamais é esquecida. Logo que um facto nos impressionou os sentidos, fixa-se irrevogavelmente na memória. Pouco importa que tenhamos conservado a consciência dessa recordação: ela existe, é indelével.”
Acrescentamos que ela pode ressurgir. O despertar da memória não é mais do que um efeito de vibração produzido pela acção da vontade nas células do cérebro. Para fazermos reviver as lembranças anteriores ao nascimento, é necessário colocarmo-nos novamente em harmonia de vibrações com o estado dinâmico em que nos achávamos na época em que houve a percepção. Não existindo já os cérebros que registaram essas percepções, é preciso procurá-las na consciência profunda; mas esta se conserva calada enquanto o Espírito está encerrado na carne. Para recuperar a plenitude das suas vibrações e reaver o fio das lembranças em si ocultas, é necessário que ele saia e se separe do corpo; então percebe o passado e pode reconstituí-lo nos menores factos. É isso o que se dá nos fenómenos do sonambulismo e do transe.
Sabemos que há em nós profundezas misteriosas onde lentamente se foram depositando, através das idades, os sedimentos das nossas vidas de lutas, de estudo e de trabalho; ali se gravam todos os incidentes, todas as vicissitudes do passado obscuro. É como um oceano de coisas adormecidas, balouçadas pelas vagas do destino. Um apelo poderoso da vontade pode fazê-lo reviver. A vista do Espírito, nas horas de clarividência, desce para elas como as radiações das estrelas passam das profundezas galácticas até debaixo das abóbadas e das arcadas dos recessos sombrios do mar.

LÉON DENIS, O Problema do ser, do destino e da dor, Segunda Parte/O Problema do Destino, XIV – As vidas sucessivas. Provas experimentais. Renovação da memória. (2 de 4)

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