Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

terça-feira, 17 de abril de 2012

O Mundo Invisível e a Guerra~


III
As Lições da Guerra

|Março de 1915|

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   Ainda subsistem, sem dúvida,

muitos resquícios de imoralidade, corrupção e decadência e, por vezes, perguntamos se tamanha lição não foi bastante para corrigir nossos vícios. Em compensação, quantas existências fantasiosas, estéreis ou desordenadas ficaram mais simples, puras e fecundas.

   A vida pública e a privada, sob certos aspectos, estão sofrendo uma radical transformação. Essa purificação dos costumes e do carácter traz consigo a das letras francesas, a do jornalismo, enfim, a do pensamento sob todas as formas em que se expresse, parecendo que estamos livres, por muito tempo, dessa psicologia mórbida, dessa pornografia chula, venenos da alma que nos faziam ser considerados, pelo estrangeiro, como nação decadente.

   Quem ousaria servir-se da pena para recair em semelhantes erros? Os escritores e os romancistas do futuro terão assuntos bem diversos, graves e elevados para suas obras.

   Por certo não perdemos de vista o lamentável desfile das desgraças produzidas pela guerra: as horríveis hecatombes, a aniquilação das vidas, o saque e a destruição das cidades, os estupros, os incêndios, os velhos, as mulheres e as crianças espoliadas, mortas ou mutiladas, a fuga dos rebanhos humanos abandonando seus lares devastados, afinal, o espectáculo do sofrimento humano no que existe de mais intenso e pungente.

   Qualquer espírita sabe que a morte é apenas uma aparência: a alma, ao desprender-se do seu envoltório material, adquire maior força, maior percepção das coisas e o ser se encontra mais vivo no Além.

   O pensamento se purifica pela dor, nenhum sofrimento se perde e nenhuma provação deixa de ter sua compensação. Os que morreram pela pátria recolhem os frutos do seu sacrifício e o sofrimento dos que sobreviveram transmite aos seus perispíritos ondas de luz e sementes de futuras felicidades.

   A questão do progresso se resolve facilmente, porque só ele é real e permanente, sendo simultâneo em seus dois aspectos, o material e o moral.

   O progresso meramente material é, com muita frequência, apenas uma arma colocada a serviço das más paixões.

   Aos bárbaros da actualidade a ciência forneceu formidáveis recursos de destruição: máquinas variadas, violentos explosivos, pastilhas incendiárias, dispositivos para o lançamento de líquidos inflamáveis, gases asfixiantes ou corrosivos, etc.

   A navegação aérea e submarina aumentou de muito o poder do fogo, todavia todos os progressos da ciência tornam o homem infeliz, enquanto ele permanece mau. E tal situação se prolongará enquanto a educação popular for falseada e o homem seguir ignorando as verdadeiras leis do ser e do destino, assim como o princípio das responsabilidades com suas consequências nas vidas sucessivas.

   Sob esse aspecto, o fracasso das religiões e da ciência é completo: a guerra actual o comprova, fartamente.

   Com relação ao progresso moral, ele é lento e quase imperceptível na Terra, graças à população do globo que cresce incessantemente com elementos provindos de mundos inferiores.

   Só os espíritos que conseguiram certo grau de progresso na Terra evoluem com proveito para grupos melhores. Eis por que varia pouco o nível geral, permanecendo raras e ocultas as qualidades morais dos indivíduos.

   Os golpes da adversidade ainda serão, durante muito tempo, meios necessários para impelir o homem a se desprender do círculo estreito onde se encerra, obrigando-o a elevar mais alto seu pensamento.

   Ainda precisará escalar, muitas vezes, a íngreme ladeira do calvário através de espinhos e pedras pontiagudas. Todavia, do escabroso pico, ele divisará o brilho do grande foco de sabedoria, de verdade e de amor que ilumina e fortalece o Universo.
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LÉON DENIS, O Mundo Invisível e a Guerra, III – As Lições da Guerra 2 de 3,
7º fragmento
(imagem: Tanque de guerra britânico capturado pelos Alemães, durante a Primeira Guerra Mundial)

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