Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sexta-feira, 6 de abril de 2012

O Espiritismo na Arte~


Parte II

– Arte: meio de elevação e renovação. – Arte: meio de aviltamento. – O pensamento de Deus. – Fonte das altas e sãs inspirações

|Fevereiro de 1922|

A arte, sob suas formas diversas, como dissemos no artigo anterior, é a expressão da beleza eterna, uma manifestação da poderosa harmonia que rege o Universo; é o raio de luz que vem do alto e que dissipa as brumas, as obscuridades da matéria, e nos faz entrever os planos da vida


superior. A arte é, por si mesma, plena de ensinamentos, de revelações, de luz. Ela arrasta a alma em direcção às regiões da vida espiritual, que é a verdadeira vida, e que a alma anseia tornar a encontrar um dia.

A arte bem compreendida é um poderoso meio de elevação e de renovação. É a fonte dos mais puros prazeres da alma; ela embeleza a vida, sustenta e consola na provação e traça para o espírito, antecipadamente, as rotas para o céu. Quando a arte é sustentada, inspirada por uma fé sincera, por um nobre ideal, é sempre uma fonte fecunda de instrução, um meio incomparável de civilização e de aperfeiçoamento.

Porém, em nossos dias, muito frequentemente ela é aviltada, desviada do seu objectivo, escravizada por mesquinhas teorias de escola e, principalmente, considerada como um meio de chegar à fortuna, às honras terrestres. Emprega-se a arte para adular as más paixões, para superexcitar os sentidos, e assim faz-se da arte um meio de aviltamento.

Quase todos aqueles que receberam a sagrada missão de conduzir as almas para o alto se eximiram dessa tarefa. Eles se tornaram culpados de um crime, recusando-se a instruir e a esclarecer as sociedades, perpetuando a desordem moral e todos os males que se precipitam sobre a humanidade. Esse comportamento explica a decadência da arte em nossa época e a ausência de obras importantes.

O pensamento de Deus é a fonte das altas e sãs inspirações. Se nossos artistas soubessem beber nessa fonte, nela encontrariam o segredo das obras imperecíveis e as maiores felicidades. O Espiritismo vem lhes oferecer os recursos espirituais de que nossa época tem necessidade para se regenerar. Ele nos faz compreender que a vida, em sua plenitude, é apenas a concepção e a realização da beleza eterna.

Viver é sempre subir, sempre crescer, sempre acrescentar em si o sentimento e a noção do belo.

As grandes obras só se elaboram no recolhimento e no silêncio, à custa de longas meditações e de uma comunhão mais ou menos consciente com o mundo superior. O alarido das cidades não é conveniente ao voo do pensamento; ao contrário, a calma da natureza, a paz profunda das montanhas, facilitam a inspiração e favorecem a eclosão do talento. Assim, confirma-se, uma vez mais, o provérbio árabe: “O barulho é para os homens, o silêncio é para Deus!”

O espírita sabe que imensa ajuda a comunhão com o Além, com os espíritos celestes, oferece ao artista, ao escritor, ao poeta. Quase todas as grandes obras tiveram colaboradores invisíveis. Essa associação se fortifica e se acentua pela e pela prece, que permitem às forças do Alto penetrarem mais profundamente em nós e impregnarem todo o nosso ser. Mais do que qualquer outro, o espírita sente as correntes poderosas que passam sobre as frontes pensativas e inspiram ideias, formas, harmonias, que são como os materiais dos quais o génio se utilizará para edificar sua maravilhosa obra.

A consciência dessa colaboração dá a medida da nossa fraqueza; ela nos faz compreender qual parte cabe à influência de nossos irmãos mais velhos, de nossos guias espirituais, daqueles que, do espaço, se inclinam sobre nós e nos assistem em nossos trabalhos. Ela nos ensina a ficar humildes no sucesso. O orgulho do homem é que fez a fonte das altas inspirações secar. A vaidade, que é o defeito de muitos artistas, torna o seu espírito insensível e afasta as grandes almas que concordariam protegê-los. O orgulho forma uma espécie de barreira entre nós e as forças do Além.

O artista espírita conhece sua própria indigência, mas sabe que acima dele, abre-se um mundo sem limites, pleno de riquezas, de tesouros incalculáveis, perto dos quais todos os recursos da Terra não são mais que pobreza e miséria. O espírita também sabe que esse mundo invisível – se ele souber tornar-se digno dele, purificando seu pensamento e seu coração – pode tornar mais intensa a acção do Alto, fazê-lo participar de suas riquezas pela inspiração e pela revelação e delas impregnar as obras que serão como um reflexo da vida superior e da glória divina.
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LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte II – Arte: meio de elevação e renovação. – Arte: meio de aviltamento. – O pensamento de Deus. – Fonte das altas e sãs inspirações. 6º fragmento da obra.
(imagem: Mona Lisa 1503-1507 – Louvre, pintura de Leonardo da Vinci)

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