Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sábado, 28 de abril de 2012

Sinais dos tempos ~


Sinais dos tempos

   Com a ideia de que a actividade e a cooperação individuais na obra geral da civilização estão limitadas à vida presente, que nada fomos e nada seremos, para que serve ao homem o progresso posterior da humanidade?

   Que lhe importa que no futuro os povos sejam mais bem governados, mais felizes, mais esclarecidos, melhores uns para os outros? Dado que não deve retirar daí nenhum benefício, não estará este progresso perdido para ele? Para que lhe serve trabalhar para os que vierem depois dele, se nunca os deverá conhecer, se são seres novos que pouco tempo depois entrarão eles mesmos no nada? Sob o império da negação do futuro individual, tudo se limita forçosamente às mesquinhas proporções do momento e da personalidade.

   Mas, pelo contrário, que amplitude confere ao pensamento do homem a certeza da perpetuidade do seu ser espiritual! Que de mais racional, de mais grandioso, de mais digno do Criador que esta lei, segundo a qual a vida espiritual e a vida corporal não são mais do que dois modos de existência que se alternam para realização do progresso! Que de mais justo e de mais consolador que a ideia dos mesmos seres a progredirem sem parar, primeiro através das gerações do mesmo mundo e a seguir de mundo em mundo até à perfeição, sem solução de continuidade! Todas as acções têm então uma finalidade, pois, trabalhando para todas, trabalhamos para nós e reciprocamente; para que nem o progresso individual nem o progresso geral sejam alguma vez estéreis; aproveita às gerações e aos indivíduos futuros que não são mais do que as gerações e os indivíduos passados, chegados a um mais elevado grau de evolução.

   A fraternidade deve ser a pedra angular da nova ordem social; mas não há fraternidade real, sólida e efectiva se não estiver apoiada numa base inabalável; esta base é a fé; não a fé nestes ou naqueles dogmas particulares que mudam com os tempos e os povos e se apedrejam, pois anatematizando alimentam o antagonismo, mas a fé nos princípios fundamentais que toda a gente pode aceitar: Deus, a alma, o futuro, O PROGRESSO INDIVIDUAL ILIMITADO, A PERPETUIDADE DAS RELAÇÕES ENTRE OS SERES. Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos; que Deus, soberanamente justo e bom, não pode querer nada de injusto; que o mal vem dos homens e não dele, olhar-se-ão como filhos de um mesmo Pai e dar-se-ão as mãos.

   É esta a fé que o Espiritismo dá e que será doravante o eixo sobre o qual se moverá o género humano, seja qual for o modo de adoração e as crenças particulares.

   O progresso intelectual realizado até hoje nas mais vastas proporções é um grande passo e marca a primeira fase da humanidade, mas sozinho é impotente para a regenerar; enquanto o homem estiver dominado pelo orgulho e pelo egoísmo, utilizará a sua inteligência e os seus conhecimentos em benefício das paixões e dos seus interesses pessoais; é por isso que as aplicam no aperfeiçoamento dos meios para prejudicar os seus semelhantes e os destruir.

   Só o progresso moral pode garantir a felicidade dos homens na Terra pondo um travão nas más paixões; só ele pode fazer reinar entre os homens a concórdia, a paz, a fraternidade.

   É ele que derrubará as barreiras dos povos, que fará cair os preconceitos de casta e calar os antagonismos das seitas, ensinando aos homens a olharem-se como irmãos, chamados a ajudarem-se uns aos outros e não a viverem à custa uns dos outros.

   É ainda o progresso moral, secundado aqui pelo progresso da inteligência, que confundirá os homens numa mesma convicção estabelecida sobre as verdades eternas, não sujeitas a discussão e por isso mesmo aceitas por todos.

   A unidade de crença será o elo mais poderoso, o mais sólido fundamento da fraternidade universal, destruída desde sempre pelos antagonismos religiosos que dividem os povos e as famílias, que fazem com que se veja nos dissidentes inimigos de quem é preciso fugir, combater, exterminar, em vez de irmãos que é preciso amar.
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ALLAN KARDEC, A GÉNESE – Os Milagres e as Profecias Segundo o Espiritismo – Capítulo XVIII, SÃO CHEGADOS OS TEMPOS – Sinais dos tempos 16 a 19, tradução portuguesa de Maria Manuel Tinoco, Editores Livros de Vida.
(imagem de ilustração: Dança rebelde, 1965 – Óleo sobre tela, de Noêmia Guerra)

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