“Deus não é, pois, como dizia Lutero, “um quadro vazio, sem outra inscrição além da que lhe apomos”. Deus é, ao contrário, a força inteligente, universal e invisível, que constrói sem cessar a obra da Natureza. É sentindo-lhe a presença eterna que compreendemos as palavras de Leibnitz: “há metafísica, geometria e moral por toda a parte”, bem como o velho aforismo de Platão, que poderemos assim traduzir: Deus é o geómetra que opera eternamente.
É fora dos tumultos da sociedade mundana, no silêncio das profundas meditações, que a alma pode rever-se, em face da glória do invisível, manifestada pelo visível.
É nessa visualização da presença de Deus na Terra que a alma se eleva à noção do verdadeiro . O ruído longínquo do oceano, a paisagem solitária, as águas cujos murmúrios valem sorrisos, o sono das florestas entrecortado de anseios suspirosos, a altivez impassível das montanhas, tudo abrangendo do alto, são manifestações sensíveis da força que vela no âmago de todas as coisas. Abandonei-me, algumas vezes, a contemplar-vos, ó esplendores vividos da Natureza e, sempre vos senti envoltos e banhados de inefável poesia! Quando o meu espírito se deixava seduzir pela magia de vossa beleza, ouvia acordes desconhecidos escapando-se do vosso concerto.”
CAMILLE FLAMMARION, in “Deus na Natureza” Tomo V - DEUS.
(imagem de contextualização: Jungle Tales (Contos da Selva)
1895, pintura de James Jebusa Shannon)
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