Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Constante Permuta

“O átomo de carbono que neste instante arde em meu pulmão, ardeu talvez na candeia que serviu a Newton para as suas experiências de óptica; e as fibras mais preciosas do cérebro de Newton talvez se encontrem, agora, na concha de uma ostra ou numa dessas miríades de animálculos microscópicos, que povoam os mares fosforescentes. O átomo de carbono que se escapa, no momento, da combustão do vosso charuto, terá talvez saído, há alguns anos, do túmulo de Cristóvão Colombo, que demora, como sabeis, na catedral de Havana. Toda a vida não passa de uma constante permuta de elementos materiais. Fisicamente falando, nós nada possuímos de nós mesmos. Só o ser pensante é o nosso eu. Só ele é que nos constitui verdadeira, imutavelmente. Quanto à substância que nos forma o cérebro, os nervos, os músculos, ossos, membros, carne, essa não a retemos; vai, vem, passa de um ser a outro. Sem metáfora, podemos dizer que as plantas são nossas raízes, que por elas extraímos dos campos a albumina do sangue, o cal dos ossos. O oxigênio de sua respiração nos dá vigor e beleza, assim como, reciprocamente, o ácido carbônico que restituímos à atmosfera vai cobrir de verdura os vales e as colinas.”

FLAMMARION, CAMILLE in “Deus na Natureza” Tomo II “A Vida” I – Circulação da Matéria

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