Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O AMOR N A A R T E

"O espírito deve conquistar duas asas no caminho da sabedoria: o conhecimento (a ciência) e o amor (a moral). A arte, como busca de sentidos pela sensibilidade e experiência da razão, reflexão e interrogação, é também uma forma de conhecimento, de construção do saber, de afirmação da consciência e do ser. É fruto do seu tempo, da cultura onde floresce, à qual vai buscar as energias, as ideias e o vocabulário para comunicar, ser legível, compreensível. Mas a arte também é, de algum modo, premonição do futuro, deixando espaços abertos a múltiplas leituras, uma vez que nem tudo é explicável, acessível, objectivo, racional.
Como ciência, procura a ordem, a lei, a razão de ser, mesmo quando trabalha nos limites do caos, da desordem, da desconstrução. Torna-se, à sua maneira, revelação, levantando o véu daquilo que permanecia oculto, ou pelo menos inacessível, invisível, aos olhos da maioria.
Se ela não existisse como resultado da acção humana, provavelmente o homem não seria Homem. Encontramo-la, ao longo de toda a história da humanidade, evoluindo. Nos seus níveis mais baixos, ela é filha das paixões, dos instintos, dos desejos, dos impulsos. É uma arte primitiva que busca expressar-se com o seu pouco vocabulário e conhecimento. Em um nível superior, ela expressa os anseios humanos de perfeição, quando estão vencidas as lutas com a natureza e o meio, garantindo a sobrevivência física, e o espírito se lança por caminhos novos. A harmonia, a beleza, o equilíbrio, são formas de aproximação à justiça, à paz, à serenidade, qualidades que se associam ao ideal do amor. O amor no seu sentido pleno e não físico.
A grande arte, aquela que sobrevive ao tempo e ao crivo do processo histórico, está inegavelmente saturada de um amor incomum pela humanidade. É a exaltação da esperança, da alegria, da felicidade. Fala a linguagem universal da fraternidade que a todos nos comove, dirige-se a todos os homens de todos os tempos e transcende a dimensão da matéria para se projectar no infinito. Não deixa indiferentes as cordas vibráteis da sensibilidade e da razão. É como que um impulso interior, uma comoção, que convida o espírito a voos mais altos, a libertar-se das cadeias a que ainda se prende para que se realize em plenitude; como tal é optimista, alegre, reconfortante, boa, vivificante, inspiradora. Aproxima os homens dos anjos, abrindo-lhes as portas para um mundo mais belo, justo, perfeito, um mundo que é possível, que está próximo, que resulta das escolhas do homem, do seu poder criador, da sua vontade consciente.
A grande arte não pode deixar de ser espiritual. Os grandes artistas são os médiuns da sensibilidade através dos quais uma pálida imagem dos mundos perfeitos, apenas intuídos, se revela à humanidade.
Podemos colocar a obra musical de Beethoven, Mozart ou Bach, por analogia, sem deméritos por tantas outras obras geniais de vários géneros que são grandioso património da humanidade, neste conceito de obra de arte que nos aproxima do divino e nos fala, ao mais profundo do nosso ser, na linguagem universal do amor.
A arte dos planos superiores da vida, dizem-nos os Espíritos, não é comparável com nada que exista na Terra. Mas estamos a desenvolver sentidos para senti-la cada vez mais perto."

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