Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sábado, 15 de janeiro de 2011

As Almas na Natureza

“O mundo só oferece uma atracção medíocre aos espíritos curiosos. É pelos aspectos ou pelas sensações da vida que o ser pensante se liga à Natureza. Se a contemplação dos céus, por noites silenciosas, nos causa uma tristeza indefinível; se o aspecto de vastos desertos calcinados por um sol ardente nos deixa impassíveis; se o estudo das mais extraordinárias combinações químicas, operadas numa retorta, nos impressiona menos intimamente do que a visão de um pássaro em seu ninho, ou ainda a de uma violeta vicejando humildemente ao pé de um tronco, é porque essas manifestações não revelam uma vida imediata. Nossa alma é sobretudo acessível às impressões provindas de seres viventes como nós e, de entre estes, os que mais se aproximam da nossa natureza. O timbre de uma voz amada tem maior ressonância em nosso coração do que o ribombo de um trovão. Um raio do olhar eleito nos penetra mais fundo do que um raio de Sol. Um sorriso adorado tem sempre maior encanto que a mais encantadora das paisagens. No colo, nos braços, nos cabelos da mulher idolatrada, não há diamantes nem safiras, esmeraldas e pérolas, cujo brilho se não degrade ao de simples pedrarias decorativas. É que neste caso, sobretudo, a vida nos aparece sob a sua mais bela e mais esquisita manifestação terrestre, pois que ela – a vida – é bem verdadeiramente a grande atracção da Natureza.”

FLAMMARION, CAMILLE in “Deus na Natureza” Tomo II “A Vida” I – Circulação da Matéria

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