Princípios da
Terapêutica Espírita
Podemos enunciar o primeiro princípio da terapêutica
espírita da seguinte maneira:
1) A cura das doenças depende da acção natural das energias
conjugadas do homem e da terra (psicológicas e mesológicas), na reconstituição
do equilíbrio das energias naturais do doente.
Os demais princípios podem ser definidos na sequência
abaixo:
2) A renovação de energias depende da acção conjugada dos
espíritos terapeutas com o médium curador, que se põe à disposição dos
espíritos para a transmissão dos fluidos energéticos através da prece e do
passe.
3) A eficácia do passe depende da boa-vontade do médium, que
se entrega humildemente à acção dos espíritos, sem perturbá-la com
gesticulações excessivas, limitando-se às que os espíritos lhe sugerirem no
momento. Não temos nenhum conhecimento objectivo do processo de manipulação dos
fluidos pelos espíritos e poderíamos perturbar-lhes a acção curadora com nossa
intervenção pretensiosa. O médium é instrumento vivo e inteligente da acção
espiritual, mas só deve utilizar a sua inteligência para compreender o seu
papel de doador de fluidos, como se passa no caso da doação de sangue nos
hospitais.
4) A acção curadora dos espíritos não é mágica nem
milagrosa; está sujeita a leis naturais que regem a estrutura psicobiológica do
homem. A emissão de ectoplasma do corpo do médium para o corpo do doente
revela-se actualmente, nas pesquisas russas, como emissão de plasma físico
acompanhado de elementos orgânicos. As famosas pesquisas da Universidade de
Kirov, na URSS, comprovaram e confirmaram as pesquisas de Richet,
Schrenk-Notzing, Gustave Geley e Eugéne Osty, no século XIX, sobre a acção do
plasma físico (quarto estado da matéria) nos efeitos físicos da mediunidade. Na
teoria do perispírito, Kardec já havia também, com grande antecedência, constatado
a importância da relação espírito-matéria nesses processos.
5) Nos casos de cura à distância, sem a presença do médium,
a eficácia depende das condições psicofísicas do doente, que permitem a
colaboração do seu próprio organismo nas elaborações fluídicas do plasma, em
conjugação com as energias espirituais dos espíritos terapeutas. Kardec
considerava o perispírito como organismo semimaterial. Frederic Myers estudou a
actividade da mente supraliminar (consciente) e subliminar (inconsciente) em
todos esses processos então considerados como misteriosos.
6) As chamadas operações espirituais (hoje paranormais)
podem realizar-se por intervenção física do médium, dominado pelo espírito que
dele se serve por influenciação mediúnica no transe hipnótico. Mas a simples acção
mental do médium pode produzir efeitos físicos no paciente, como Rhine provou
nas suas experiências com animais. Rhine resumiu os resultados de suas
pesquisas no seguinte princípio: “A mente, que não é física, age por vias não
físicas sobre a matéria.” Soal, Carington e outros verificaram que as actividades
internas do organismo animal e humano (funções vegetativas e correlatas) são
controladas por acção mental sobre o sistema nervoso, vascular e muscular. A
teoria do dinamismo psíquico inconsciente de Geley se desenvolve nesse mesmo
sentido.
O mistério teológico da encarnação transformou-se actualmente
numa questão científica universalmente pesquisada nos maiores centros
universitários do planeta. A terapia espírita está hoje respaldada pelas mais
recentes e avançadas descobertas científicas. Os que pretendem rejeitá-la com
argumentos se esquecem de que os problemas da ciência só podem ser resolvidos
por meio de pesquisas e provas. Maldições e anátemas desvalorizaram-se
totalmente num processo inflacionário de dois milénios. Não era sem razão a
luta cruenta da Igreja contra o desenvolvimento científico. Ela se defendeu
ferozmente do atrevimento dos cientistas porque agia sob a compulsão violenta
do instinto de conservação. Mas a favor da ciência estavam as leis
irresistíveis da evolução. A era científica nasceu ensanguentada dos calabouços
medievais em que os mártires do progresso sofriam nas mãos dos inquisidores, à
espera das fogueiras divinas em que seriam purificados. A Ciência avançou,
apesar de tudo, derrotando os terroristas da magia negra, da antiga e temível
Goécia que os próprios clérigos empregavam em suas lutas de política intestina.
Coube ao coronel Albert de Rochas, director do Instituto Politécnico de Paris,
pesquisar em laboratório os possíveis efeitos da magia negra, demonstrando o
engano dos que a consideravam dotada de poder diabólico. O desprestígio da
superstição permitiu aos médiuns, hoje chamados sujeitos paranormais (nem
anormais, nem patológicos, nem diabólicos), transformarem-se nos instrumentos
humanos da investigação científica das potencialidades da criatura humana. Actualmente
a própria Igreja dispõe de organismos de pesquisa dos fenómenos que antes
considerava como estigmas infamantes da maldição divina.
Quando a Academia de França reconheceu a realidade do
magnetismo e seu interesse científico, mas mudando-lhe o nome para hipnotismo,
Kardec escreveu um artigo sobre o facto na Revista
Espírita, lembrando que o magnetismo cansara de bater à porta da Academia,
sendo sempre enxotado. Por fim resolvera mudar de nome e entrar na casa pela
porta dos fundos, sendo então recebido e aclamado pelos cientistas. O mesmo
acontece agora com o Espiritismo, que, sendo baptizado na universidade de Duke
com o nome de Parapsicologia, teve entrada franca e entusiástica na URSS e no
Vaticano. Na verdade, a Parapsicologia, com roupa nova, linguagem grega e
seguindo as pegadas de Kardec, para atingir os seus mesmos objectivos, nada
ofereceu de novo ao mundo actual além de sua roupagem tecnológica. Prestou,
assim mesmo, um grande serviço ao mundo materialão, conseguindo despertar-lhe o
interesse pelos problemas espirituais. Os materialistas e os religiosos
formalistas tinham medo dos espíritos. Rhine conseguiu mostrar-lhes, por meios
estatísticos, que todos somos espíritos. O medo se foi e com ele a ilusão da
matéria desfeita na poeira atómica da Nova Física.
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José Herculano Pires, Ciência
Espírita e suas implicações terapêuticas, 2 Princípios da Terapêutica
Espírita 2 de 2, 7º fragmento.
(imagem: O peregrino
sobre o mar de névoa, por Caspar David Friedrich)