Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sexta-feira, 30 de março de 2012

O Mundo Invisível e a Guerra~


III
As Lições da Guerra

|Março de 1915|

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   Os terríveis combates entre as nações e as raças, além das convulsões que sacodem o mundo, produzem os mais sérios problemas e, em presença desse grande drama, mil questões se apresentam à mente humana ansiosa, havendo momentos em que a dúvida, a inquietação e o pessimismo dominam os espíritos mais fortes e decididos.

   O progresso será uma vã ilusão? A civilização ficará submersa no mar das paixões brutais? Os esforços dos séculos em prol da justiça, da fraternidade e da paz social serão inúteis? As concepções da arte e do génio do homem, os frutos do pesado e imenso trabalho de milhões de cérebros e de braços irão desaparecer arrasados pela tormenta?

   Esse abismo de desgraças é analisado calmamente pelo pensador espiritualista e do caos dos acontecimentos ele extrai a principal lei que rege o Universo.

   Acima de tudo, lembra-se de que nosso mundo é um planeta inferior, um laboratório onde desabrocham as almas ainda inexperientes com seus anseios confusos e suas paixões desordenadas.

   O profundo sentido da vida aparece, para o pensador espírita, com as duras necessidades que a ela são inerentes; é o início das qualidades e energias que existem em todos os seres.

   A fim de que as energias que existem desconhecidas e silenciosas nas profundezas da alma apareçam na superfície, há necessidade de aflições, angústias e lágrimas, porque não existe grandeza sem sofrimento, nem progresso sem provação.

   Se o homem na Terra se desenvencilhasse das vicissitudes da sorte e ficasse privado das grandes lições do sofrimento, poderia fortalecer o carácter, desenvolver a experiência ou valorizar as riquezas ocultas de sua alma?

   No mundo, sendo o mal uma fatalidade, não existirá responsabilidade para os maus?

   Seria um erro funesto aceitá-lo, porque o homem, em sua ignorância e cegueira, semeia o mal, cujas consequências caem pesadamente sobre ele, assim como sobre todos os que se associam às suas más acções. É isso que o momento actual comprova.

   Dois poderosos imperadores, um protestante e outro católico, desencadearam a guerra com todos os seus horrores; fazia meio século que vinham preparando, calculando e combinando tudo para obter uma vitória esmagadora.

   Os poderes espirituais, porém, interferiram no conflito, inspirando às nações em perigo uma heróica resistência e nelas fazendo surgir os tesouros do heroísmo que estavam acumulados nas almas célticas e latinas, desde anteriores existências.

   Vejam como se inverteu a situação após seis meses de lutas. Os alemães faziam uma guerra de conquista, no início da campanha; hoje estão reduzidos a combater em defesa própria.

   Nos momentos de amargura e de incerteza sempre surge um homem providencial. Neste caso, e para a França, esse homem é o general Joffre, que possui as qualidades exigidas pela grave situação do momento!

   Ele soube conter no Marne a enorme avalanche alemã e agora, como comandante sábio e competente, poupando seus soldados, prepara, prudentemente, os meios de expulsar o inimigo para além das fronteiras.

   Acima do confuso tumulto das batalhas, além dos clarões terríveis da carnificina e do incêndio, vislumbra-se uma aurora e um grandioso ideal começa a se esboçar; pressente-se a obra de moralização que dimana do sofrimento.

   Acima da labareda das paixões terrenas, sente-se a presença de um tribunal invisível que espera o final do conflito para reivindicar os direitos da eterna justiça.

   Nossos soldados sentem tais coisas de modo vago, têm a intuição de que sua causa é augusta e sagrada, e tal impressão vai, pouco a pouco, propagando-se por todo o país. Aí se explica por que a inteligência se tornou mais digna e os sentimentos ficaram mais graves e profundos.

   A borrasca espantou as futilidades e as leviandades, com tudo quanto era pueril e mundano em que nossa geração gostava de se ocupar, deixando permanecer o que havia em nós de mais sólido e melhor.
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LÉON DENIS, O Mundo Invisível e a Guerra, III – As Lições da Guerra, 1 de 3.
6º fragmento.
(imagem: Tanque de guerra britânico capturado pelos Alemães, durante a Primeira Guerra Mundial)

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