Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O Materialismo e o Positivismo


   Como o oceano, o pensamento tem seu fluxo e refluxo. Quando a Humanidade entra, sob qualquer ponto de vista, no domínio das exagerações, produz-se, cedo ou tarde, uma reacção vigorosa. Os excessos provocam excessos contrários. Depois dos séculos de submissão e de fé cega, a Humanidade, cansada do sombrio ideal de Roma, atirou-se às teorias do nada. As afirmações temerárias trouxeram negações furiosas. Empenhou-se o combate, e o alvião do materialismo fez brecha no edifício católico.



   As idéias materialistas ganham terreno. Repelindo os dogmas da Igreja como inacessíveis, grande número de espíritos cultivados desertaram da crença espiritualista e, ao mesmo tempo, da crença em Deus. Afastando as concepções metafísicas, procuraram a verdade na observação directa dos fenómenos, no que se convencionou chamar o método experimental.

   Podem-se resumir assim as doutrinas materialistas: “Tudo é matéria. Cada molécula tem suas propriedades inerentes em virtude das quais se formou o Universo com os seres que em si contém. É uma hipótese a idéia de um princípio espiritual governando a matéria, pois esta se governa a si própria por leis fatais, mecânicas. A matéria é eterna, e só ela é eterna. Saídos do pó, voltaremos ao pó. O que chamamos alma, o conjunto das nossas faculdades intelectuais, a consciência, mais não é que uma função do organismo e esvai-se com a morte.”
“O pensamento é uma secreção do cérebro”, disse Carl Vogt, e o mesmo autor acrescenta: “As leis da Natureza são inflexíveis; não conhecem moral nem benevolência.”

   Se a matéria é tudo, que é pois a matéria? Os próprios materialistas não poderiam dizê-lo porque a matéria, desde que é analisada em sua essência íntima, subtrai-se, escapa e foge como enganadora miragem.

   Os sólidos transformam-se em líquidos, os líquidos em gases; após o estado gasoso vem o estado radiante; depois, por depurações inumeráveis, cada vez mais subtis, a matéria passa ao estado imponderável. Torna-se então essa substância etérea que enche o espaço, e de tal sorte ténue que se tomaria pelo vácuo absoluto, se a luz, atravessando-a, não a fizesse vibrar. Os mundos banham-se em suas ondas, como nas de um mar fluídico.

   Assim, de grau em grau, a matéria se dissipa em poeira invisível. Tudo se resume em força e movimento.

   Os corpos, orgânicos ou inorgânicos – diz-nos a Ciência –, minerais, vegetais, animais, homens, mundos, astros, mais não são que agregações de moléculas, as quais são a seu turno compostas de átomos, separados uns dos outros, em estado de movimento constante e de renovamento perpétuo.

   O átomo é invisível, mesmo com o auxílio dos mais poderosos microscópios. Apenas pode ser concebido pelo pensamento, de tal sorte é sua extrema pequenez.  E essas moléculas, esses átomos, agitam-se, movem-se, circulam, evolucionam em turbilhões incessantes, no meio dos quais a forma dos corpos só se mantém em virtude da lei de atracção.

   Pode-se, pois, dizer que o mundo é composto de átomos invisíveis, regidos por forças imateriais. A matéria, examinada de perto, esvai-se como fumaça; não tem mais que uma realidade aparente, e base alguma de certeza nos pode oferecer. Realidade permanente, certeza, só há no espírito. Unicamente a este é que o mundo se revela em sua unidade viva, em seu eterno esplendor. Somente este é que pode apreciar e compreender a sua harmonia. É no espírito que o Universo se conhece, se reflecte, se possui.

   O espírito é mais ainda. É a força oculta, a vontade que governa e dirige a matéria – Mens agitat molem – e lhe dá a vida. Todas as moléculas, todos os átomos, dissemos, agitam-se, renovam-se incessantemente. No corpo humano há uma torrente vital comparável ao curso das águas. Cada partícula retirada da circulação é substituída por outras partículas. O próprio cérebro está submetido a estas mudanças e o nosso corpo inteiro renova-se em alguns meses.

   É portanto inexacto dizer que o cérebro produz o pensamento, pois ele não passa de um instrumento deste. Através das modificações perpétuas da carne, mantém-se a nossa personalidade e com ela a nossa memória e a nossa vontade. Há no ser humano uma força inteligente e consciente que regula o movimento harmónico dos átomos materiais de acordo com as necessidades da existência; há um princípio que domina a matéria e lhe sobrevive.

   O mesmo sucede com o conjunto das coisas. O mundo material não é senão o aspecto exterior, a aparência móbil, a manifestação de uma realidade substancial e espiritual que nele existe. Assim como o eu humano não está na matéria variável, e sim no espírito, assim o eu do Universo não está no conjunto dos globos e dos astros que o compõem, mas sim na Vontade oculta, na Potência invisível e imaterial que dirige as suas molas secretas e regula a sua evolução.

   A ciência materialista só vê um lado das coisas. Em sua impotência para determinar as leis do Universo e da vida, depois de haver proscrito a hipótese, é obrigada, ela também, a sair da sensação, da experiência, e recorrer à hipótese para dar uma explicação das leis naturais. É o que ela faz tomando por base do mundo físico o átomo, que os sentidos não alcançam.

   Jules Soury, um dos mais autorizados escritores materialistas, na análise que fez dos trabalhos de Haeckel, não hesita em confessar esta contradição: “Nada podemos conhecer, diz ele, da constituição da matéria.”

   Se o mundo fosse somente um composto de matéria, governado pela força cega, isto é, pelo acaso, não se veria essa sucessão regular, contínua, dos mesmos fenómenos, produzindo-se segundo uma ordem estabelecida; não se veria essa adaptação inteligente dos meios aos fins, essa harmonia de leis, forças e proporções, que se manifesta em toda a Natureza. A vida seria um acidente, um facto de excepção e não de ordem geral. Não se poderia explicar essa tendência, esse impulso, que, em todas as idades do mundo, desde a aparição dos seres elementares, dirige a corrente vital, em progressos sucessivos, para formas cada vez mais perfeitas. Cega, inconsciente, sem fito, como poderia a matéria se diversificar, se desenvolver sob o plano grandioso, cujas linhas aparecem a qualquer observador atento? Como poderia coordenar seus elementos, suas moléculas, de maneira a formar todas as maravilhas da Natureza, desde as esferas que povoam o espaço infinito até os órgãos do corpo humano; o cérebro, os olhos, o ouvido, até os insectos, até os pássaros, até as flores?

   Os progressos da Geologia e da Antropologia pré-histórica lançaram vivas luzes sobre a história do mundo primitivo. Mas foi erradamente que os materialistas acreditaram achar na lei da evolução dos seres um ponto de apoio, um socorro para as suas teorias. Uma coisa essencial se deduz destes estudos. É a certeza de que a força cega em parte nenhuma domina de modo absoluto. Ao contrário, o que triunfa e reina é a inteligência, a vontade, a razão. A força brutal não tem bastado para assegurar a conservação e o desenvolvimento das espécies. Os seres que tomaram posse do globo e avassalaram a Natureza não foram os mais fortes, os mais bem armados fisicamente, mas sim os mais bem dotados do ponto de vista intelectual.

   Desde a sua origem, o mundo encaminha-se para um estado de coisas cada vez mais elevado. Através dos tempos afirma-se a lei do progresso nas transformações sucessivas do globo e das quadras da Humanidade. Um alvo se revela no Universo, alvo para o qual tudo tende, tudo evoluciona, seres e coisas; esse alvo é o Bem, é o Melhor. A história da Terra é o mais eloquente testemunho desta verdade.

   Sem dúvida nos objectarão que a luta, o sofrimento e a morte estão no fundo de tudo. Mas o esforço e a luta são as próprias condições do progresso e, quanto à morte, ela não é o nada, como provaremos mais adiante, porém a entrada do ser em uma fase nova de evolução. Do estudo da Natureza e dos anais da história do mundo, um facto capital se destaca; é que em tudo quanto existe há uma Causa e para conhecer-se essa Causa é preciso avançar além da matéria, até essa Lei viva e consciente que nos explica a ordem do Universo, assim como as experiências da Psicologia moderna nos demonstram o problema da vida.

   Julga-se principalmente uma doutrina filosófica por suas consequências morais, pelos efeitos que produz sobre a vida social. Consideradas sob este ponto de vista, as teorias materialistas, baseadas no fatalismo, são incapazes de servir de incentivo à vida moral, de sanção às leis da consciência. A idéia, inteiramente mecânica, que dão do mundo e da vida, destrói a noção de liberdade e, por conseguinte, a de responsabilidade.  Fazem da luta pela vida uma lei inexorável, pela qual os fracos devem sucumbir aos golpes dos fortes, uma lei que bane para sempre da Terra o reinado da paz, da solidariedade e da fraternidade humana. Penetrando os espíritos, tais teorias só podem acarretar, aos infelizes, a indiferença e o egoísmo; aos deserdados, o desespero e a violência, a todos a desmoralização.

   Sem dúvida, há materialistas honestos e ateus virtuosos, mas não se dá isto em virtude da aplicação rigorosa das suas doutrinas. Se são assim é apesar de suas opiniões e não por causa delas; é por um impulso secreto de sua natureza, é porque sua consciência soube resistir a todos os sofismas. Não menos logicamente daí se depreende também que o materialismo, suprimindo o livre-arbítrio, fazendo das faculdades intelectuais e das qualidades morais a resultante de combinações químicas, de secreções da substância parda do cérebro, considerando o Génio como uma nevrose, degrada a dignidade humana, e rouba à existência todo o carácter elevado.

   Com a convicção de que nada mais há além da vida presente e que não existe outra justiça superior à dos homens, cada qual pode dizer: Para que lutar e sofrer? Para que a piedade, a coragem, a retidão? Por que nos constrangermos e domarmos nossos apetites e desejos? Se a Humanidade está abandonada a si própria, se em nenhuma parte existe um poder inteligente e equitativo que a julgue, a guie e sustente, que socorro pode ela esperar? Que auxílio lhe tornará mais leve o peso das suas provações?

   Se não há no Universo razão, justiça, amor, nem outra coisa além da força cega prendendo os seres e os mundos ao jugo de uma fatalidade, sem pensamento, sem alma, sem consciência, então o ideal, o bem, a beleza moral são outras tantas ilusões e mentiras. Não é mais aí, porém na realidade bruta; não é mais no dever, mas sim no gozo, que o homem precisa ver o alvo da vida e, para realizá-lo, cumpre passar por cima de toda a sentimentalidade vã.

   Se viemos do nada para voltar ao nada, se a mesma sorte, o mesmo olvido, espera o criminoso e o homem dedicado; se, conforme as combinações do acaso, uns devem ser exclusivamente votados aos trabalhos e outros às honras; então, cumpre ter-se a ousadia de proclamar que a esperança é uma quimera, visto não haver consolação para os aflitos, justiça para as vítimas da sorte. A Humanidade rola, arrastada pelo movimento do planeta, sem fito, sem luz, sem moral, renovando-se pelo nascimento e pela morte, dois fenómenos entre os quais o ser se agita e passa, sem deixar outro vestígio mais do que uma faísca na noite.

   Sob a influência de tais doutrinas, a consciência só tem que emudecer e dar margem ao instinto brutal; o espírito de cálculo deve suceder ao entusiasmo, e o amor do prazer substituir as generosas aspirações da alma. Então cada um só cuidará de si próprio. O desgosto da vida, o pensamento do suicídio virão perseguir os desgraçados. Os deserdados só terão ódio para os que possuem bens e, em seu furor, reduzirão a pedaços esta civilização grosseira e material.

   Mas não, o pensamento e a razão erguem-se frementes e protestam contra essas doutrinas de desolação, afirmando que o homem luta, trabalha e sofre, não, porém, para acabar no nada; dizendo que a matéria não é tudo, que há leis superiores a ela, leis de ordem e de harmonia, e que o Universo não é somente um mecanismo inconsciente.

   Se tudo é matéria, qual a causa porque, sendo ela cega, mostra obedecer a leis inteligentes e sábias? Como, desprovida de razão, de sentimento, poderia a matéria produzir seres racionais e sensíveis, capazes de discernir o bem do mal, o justo do injusto? Pois quê! o ente humano é susceptível de amar até ao sacrifício, acha-se nele gravado o ideal do bem e do belo, e teria saído de um elemento que não possui estas qualidades em nenhum grau? Sentimos, amamos, sofremos e emanaríamos de uma causa inconsciente e insensível, de uma causa que é surda, inexorável e muda? Seríamos mais perfeitos ou melhores que ela?

   Tal raciocínio é um ultraje à lógica. Não se poderia admitir que a parte seja superior ao todo, que a inteligência derive de uma causa ininteligente, que de uma natureza sem intuitos possam sair seres susceptíveis de almejarem um alvo.

   Ao contrário, o senso comum diz-nos que, se a inteligência, se o amor do bem e do belo existem em nós, mister se faz que aí tenham sido colocados por uma causa que os possua em grau superior. E, se em todas as coisas se manifesta a ordem, se um plano se revela no mundo, cumpre também que um pensamento os tenha elaborado, que uma razão os tenha concebido.

   Mas não insistamos em problemas sobre os quais precisaremos fazer exame mais demorado e abordemos uma doutrina que com o Materialismo tem numerosos pontos de contacto. Queremos falar do Positivismo.

   Mais subtil, ou menos franca que o Materialismo, essa filosofia nada afirma, nada nega. Afastando qualquer estudo metafísico, qualquer investigação das causas primárias, ela estabelece que o homem nada pode saber do princípio das coisas; que, por conseguinte, é supérfluo o estudo do mundo e da vida. Todo o seu método refere-se à observação dos factos verificados pelos sentidos e das leis que o ligam. Só admite a experiência e o cálculo.

   Mas o vigor deste método teve de dobrar-se perante as exigências da Ciência, e o Positivismo, como o Materialismo, apesar do seu horror à hipótese, foi constrangido a admitir teorias não verificáveis pelos sentidos. É assim que raciocina sobre a matéria e a força, cuja natureza íntima lhe é desconhecida; que admite a lei da atracção, o sistema astronómico de Laplace, a correlação das forças, coisas estas impossíveis de demonstração experimental. Mais ainda, viu-se o fundador do Positivismo, Auguste Comte, depois de ter eliminado todos os problemas religiosos e metafísicos, voltar às qualidades ocultas e misteriosas das coisas,  e terminar sua obra estabelecendo o culto da Terra. Este culto tinha suas cerimónias e seus sacerdotes assalariados. É verdade que os positivistas renegaram essas aberrações.

   Não insistiremos sobre este ponto, nem mesmo sobre a particularidade que apresenta a vida de Littré, sábio eminente, chefe venerado do ateísmo moderno, que é a de se ter feito baptizar em seu leito de morte, depois de haver aceito as visitas frequentes de um sacerdote católico. Tal desmentido, feito por ele aos princípios da sua vida inteira, deve entretanto ser assinalado. Esses dois exemplos, dados pelos mestres do Positivismo, demonstram a impotência das doutrinas que não se interessam pelas aspirações do ser moral e religioso. Provam que a negação e a indiferença nada fundam; que, apesar de todos os sofismas, chega a hora em que, diante dos mais endurecidos cépticos, ergue-se o pensamento de além-túmulo.

   Todavia, não se pode desconhecer que tenha o Positivismo tido sua razão de ser e prestado incontestáveis serviços ao Espírito humano, constrangendo-o a fortificar mais seus argumentos, a determinar melhor suas teorias, a fazer maiores concessões à demonstração. Os seus fundadores, fatigados das abstrações metafísicas e das discussões de escola, quiseram firmar a Ciência em terreno sólido.

   Era porém tão limitada a base por eles escolhida que, ao seu edifício, faltaram simultaneamente amplidão e solidez. Querendo restringir o domínio do pensamento, aniquilaram as mais belas faculdades da alma. Repelindo as idéias sobre o espaço, sobre o infinito, sobre o absoluto, tiraram a certas ciências, à Matemática, à Geometria, à Astronomia, toda a possibilidade de se desenvolverem e progredirem. Com referência a isso, há um facto muito significativo: é no campo da Astronomia Estelar, ciência proscrita por Auguste Comte como sendo do domínio do incognoscível, que as mais belas descobertas têm sido realizadas.

   O Positivismo está na impossibilidade de fornecer à consciência uma base moral. Neste mundo o homem não tem só direitos a exercer, tem também deveres a cumprir; é a condição iniludível de qualquer ordem social.

   Mas, para preencher os deveres, cumpre conhecê-los; e como possuir esses conhecimentos sem indagar-se o alvo da vida, das origens e dos fins do ser? Como conformarmo-nos com a regra das coisas, segundo a própria expressão de Littré, se a nós mesmos nos interdizemos de explorar o domínio do mundo moral e o estudo dos factos da consciência?

   Com louvável intuito, certos pensadores, materialistas e positivistas, quiseram instituir o que chamaram a moral independente, isto é, a moral desprendida de qualquer concepção religiosa. Acreditaram achar assim um terreno neutro em que todos os bons espíritos poderiam reunir-se. Porém, os materialistas não reflectiram que, negando a liberdade, tornavam impotente e vã toda a moral. Teria também sido preciso que, para ser eficaz, a noção do dever fosse aceita por todos, mas poderia essa noção ser apoiada numa teoria mecânica do mundo e da vida?

   A moral não pode ser tomada por base, por ponto de partida. Ela é a consequência de princípios, o coroamento de uma concepção filosófica. Eis por que a moral independente ficou sendo uma teoria estéril, uma ilusão generosa, sem influência sobre os costumes.

   Com o estudo atento e minucioso da matéria, as escolas positivistas contribuíram para enriquecer certos ramos de conhecimentos humanos, mas perderam de vista o conjunto das coisas e as leis superiores do Universo. Encerrando-se no seu domínio exclusivo, imitaram o mineiro que se aprofunda mais e mais nas entranhas da terra, que aí descobre tesouros ocultos, mas que, ao mesmo tempo, perde de vista o grande espectáculo da Natureza que se mostra imponente sob os raios do Sol.

   Essas escolas nem mesmo têm sido fiéis ao seu programa, porque, depois de terem proclamado o método experimental como o único meio de se conhecer a verdade, deram desmentido a si próprias negando a priori toda a espécie de fenómenos, de manifestações psíquicas, que vamos examinar. Coisa notável, assim como os mais intolerantes homens da Igreja, elas também mostraram os mesmos preceitos e a mesma desdenhosa incredulidade perante esses factos que vinham aluir as suas teorias. O Positivismo, portanto, não pode ser considerado como a última fase da ciência, porque esta é essencialmente progressiva e sabe completar-se avançando. O Positivismo não é senão uma das formas temporárias da evolução filosófica, pois os séculos não sucederam aos séculos, não se acumularam as obras dos sábios e dos filósofos para tudo ficar limitado à teoria do incognoscível. O pensamento humano avança, desenvolve-se e, dia a dia, penetra mais além. O que hoje é desconhecido não o será amanhã. A carreira do Espírito humano não está terminada. Fixar-lhe um limite é desconhecer a lei do progresso, é falsear a verdade.

   Tempo chegará em que todos esses vocábulos: materialista, positivista, espiritualista, perderão sua razão de ser, porque o pensamento estará livre das peias e barreiras que lhe impõem escolas e sistemas. Quando perscrutamos o fundo das coisas, reconhecemos que matéria e espírito não passam de meios variáveis e relativos para expressão do que existe unicamente de positivo no Universo, isto é – a força e a vida, que, achando-se em estado latente no mineral, se vão desenvolvendo progressivamente do vegetal ao ente humano e, mesmo acima deste, nos degraus inumeráveis da escala superior.



LÉON DENIS in Depois da Morte, Primeira Parte Crenças e Negações VII – O MATERIALISMO E O POSITIVISMO.
(imagem: The Light of the Harem  1880, pintura de Lord Frederick Leighton)

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