A MINHA MISSÃO
(Em casa do Sr. C...; médium: Srta. Aline C.)
|12 de junho de 1856|
Kardec em resposta ao Espírito Verdade (depois
de ter recebido a incumbência da Codificação da Doutrina dos Espíritos)
Eu — Espírito Verdade, agradeço os teus sábios conselhos. Aceito
tudo, sem restrição e sem ideia preconcebida. Senhor! pois que te dignaste
lançar os olhos sobre mim para cumprimento dos teus desígnios, faça-se a tua
vontade!
Está nas tuas mãos a minha vida; dispõe do teu servo.
Reconheço a minha fraqueza diante de tão grande tarefa; a minha boa vontade não
desfalecerá, as forças, porém, talvez me traiam. Socorre à minha deficiência;
dá-me as forças físicas e morais que me forem necessárias. Ampara-me nos
momentos difíceis e, com o teu auxílio e dos teus celestes mensageiros, tudo
envidarei para corresponder aos teus desígnios.
Nota de Kardec — Escrevo esta nota a 1º de
janeiro de 1867, dez anos e meio depois que me foi dada a comunicação acima e
atesto que ela se realizou em todos os pontos, pois experimentei todas as
vicissitudes que me foram preditas. Andei em luta com o ódio de inimigos
encarniçados, com a injúria, a calúnia, a inveja e o ciúme; libelos infames se
publicaram contra mim; as minhas melhores instruções foram falseadas; traíram-me
aqueles em quem eu mais confiança depositava, pagaram-me com a ingratidão
aqueles a quem prestei serviços. A Sociedade de Paris se constituiu foco de
contínuas intrigas urdidas contra mim por aqueles mesmos que se declaravam a
meu favor e que, de boa fisionomia na minha presença, pelas costas me
golpeavam. Disseram que os que se me conservavam fiéis estavam à minha solda e
que eu lhes pagava com o dinheiro que ganhava do Espiritismo. Nunca mais me foi
dado saber o que é o repouso; mais de uma vez sucumbi ao excesso de trabalho,
tive abalada a saúde e comprometida a existência.
Graças, porém, à proteção e assistência dos bons Espíritos
que incessantemente me deram manifestas provas de solicitude, tenho a
ventura de reconhecer que nunca senti o menor desfalecimento ou
desânimo e que prossegui, sempre com o mesmo ardor, no desempenho da minha
tarefa, sem me preocupar com a maldade de que era objeto. Segundo a comunicação
do Espírito de Verdade, eu tinha de contar com tudo isso e tudo se verificou.
Mas, também, a par dessas vicissitudes, que de satisfações experimentei, vendo
a obra crescer de maneira tão prodigiosa! Com que compensações deliciosas foram
pagas as minhas tribulações! Que de bênçãos e de provas de real simpatia recebi
da parte de muitos aflitos a quem a Doutrina consolou! Este resultado não mo
anunciou o Espírito de Verdade que, sem dúvida intencionalmente, apenas me
mostrara as dificuldades do caminho. Qual não seria, pois, a minha ingratidão,
se me queixasse!
Se dissesse que há uma compensação entre o bem e o mal, não
estaria com a verdade, porquanto o bem, refiro-me às satisfações
morais, sobrelevam de muito o mal. Quando me sobrevinha uma deceção, uma
contrariedade qualquer, eu me elevava pelo pensamento acima da Humanidade e me
colocava antecipadamente na região dos Espíritos e desse ponto culminante,
donde divisava o da minha chegada, as misérias da vida deslizavam por sobre mim
sem me atingirem. Tão habitual se me tornara esse modo de proceder, que os
gritos dos maus jamais me perturbaram.
/…
ALLAN KARDEC, Obras Póstumas, A minha Primeira
Iniciação no Espiritismo, A MINHA MISSÃO 2º fragmento.
(imagem de ilustração: Dança rebelde, 1965 – Óleo sobre tela, de Noêmia Guerra)
(imagem de ilustração: Dança rebelde, 1965 – Óleo sobre tela, de Noêmia Guerra)
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