Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O Espiritismo na Arte~


Parte I

(O Espírito e sua parcela do poder criador.
Arquitectura na Terra e no espaço.
A catedral terrestre e a catedral fluídica)

   Lembramos aqui que todo espírito emanado de Deus não possui somente uma centelha da inteligência divina; ele desfruta, ainda, de uma parcela do poder criador, poder que ele é chamado a manifestar mais e mais no decorrer da sua evolução, tanto nas encarnações planetárias quanto na vida do espaço.



   Voltemos à arquitectura, que o Esteta tomou como objecto das suas primeiras lições. Aqui na Terra já é arte sublime à qual se prendem todas as outras artes e que muitas vezes lhes serve de protecção.

   Assim como na Terra, a música representa a arte viva, a harmonia móvel e vibrante, a arquitectura representa a arte imóvel e passiva em suas formas imponentes e rígidas. Porém, enquanto que no âmago dos espaços o espírito modela, à sua vontade, a matéria fluídica e lhe dá as aparências, as cores, os contornos que lhe agradam, em nosso planeta a matéria opõe mais resistência à vontade do homem. O bloco resiste ao cinzel do escultor como à ferramenta do pedreiro. Às vezes, são necessários longos e pacientes esforços, um trabalho persistente para dar ao mármore, ao granito, a expressão da beleza.

   As lições de O Esteta fazem ressaltar a diferença que existe entre os procedimentos em uso na Terra e os do espaço para realizar criações artísticas. Enquanto que na Terra a catedral, tomada como modelo da arquitectura, é a obra paciente de uma colectividade laboriosa, desde o humilde talhador de pedra até ao grande artista que traçou o plano do conjunto, ela é, no espaço, a obra particular de um mestre que, instantaneamente e a seu bel-prazer, pode edificá-la ou destruí-la, auxiliado somente por um grupo de alunos que procuram assimilar e imitar sua ideia criadora. Aqui na Terra, o monumento é a obra da multidão humana, o trabalho dos séculos. Gerações de artistas e de operários trabalharam para elevar colunas, telhados, torres, fundiram vitrais, pintaram imagens, esculpiram estátuas. Assim foram se constituindo, lentamente, a pirâmide, o palácio, a catedral, Eis por que, em sua majestosa unidade, simbolizam o pensamento de um povo, o génio de uma raça, a alma de uma religião.

   Foi a fé, foi o entusiasmo, foi um espiritualismo ardente que erigiu, em direcção ao céu, essas “bíblias” de pedra. E, nessas obras colossais, o invisível tem o seu papel; ele pensa com o arquitecto, medita com o artista, trabalha com o artesão e o pedreiro. A todos ele inspira o pensamento de Deus e do Além, na medida em que eles podem compreendê-lo e interpretá-lo.

   Assim são edificados esses “livros” imponentes que são as catedrais e que, durante séculos, foram suficientes para guiar, para instruir, para consolar o espírito humano.

   A catedral terrestre serve de moldura a todas as artes. A música faz as suas imensas naves vibrarem, a pintura decora as suas paredes, a escultura a povoa de estátuas. No entanto, em seu conjunto, ela conserva a imobilidade fria e a opacidade do granito.

   O papel fundamental da arte é exprimir a vida em toda a sua potência, em sua graça e em sua beleza. Ora, a vida é movimento. E nisso exactamente reside a principal dificuldade da arte humana, que apenas pela música pode reproduzir o movimento. O escultor, pela postura que dá à sua estátua, reproduz o movimento que o seu pensamento concebe e, na imobilidade, cria a acção. A pintura dá a mesma impressão por meio do gesto fixado na tela e pela harmonia das cores, o jogo das perspectivas, a simulação das profundidades e dos horizontes fugidios. Há mais força na estatuária, e mais artifício em um quadro; porém, os dois podem exprimir a beleza ideal sob a forma de obras-primas que nos são conhecidas. No entanto, apesar da intenção genial que preside a sua execução, elas nos dão apenas a sensação incompleta.

   Não ocorre o mesmo com as obras de arte do espaço: nele tudo é vida, movimento, cor, luz. A catedral fluídica será como que animada e viva. Suas colunas terão a flexibilidade, a elasticidade da matéria mais subtil; suas paredes serão transparentes como cristal, e mil cores fundidas, desconhecidas na Terra, nelas se divertirão em jogos de sombra e luz. Todas as harmonias ali se combinam em ondas de uma suavidade inexprimível; tudo vibra no frémito de uma vida intensa e profunda.

   Os artistas da Terra deverão se inspirar nesses modelos sobre-humanos que os ensinamentos espíritas lhes tornaram familiares. A educação estética humana comporta concepções cada vez mais elevadas para que o sentimento do belo penetre e se desenvolva em todas as almas. Já se produz uma evolução nesse sentido; ela se acentuará sob a influência do Além. Os artistas do futuro se interessarão em dar mais fluidez às cores, mais vida ao mármore, mais espiritualidade a todas as suas obras. As artes complementares se idealizarão inteiramente, deixando à arquitectura a majestade das formas rígidas e a ilusão do imutável na inércia.

   A arte se realça e progride em todos os graus da escalada da vida, realizando formas cada vez mais nobres e perfeitas, e que se aproximam da fonte divina da eterna beleza.
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LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte I – O Espírito e sua parcela do poder criador, Arquitectura na Terra e no espaço, A catedral terrestre e a catedral fluídica. 3º Fragmento da obra.
(imagem: Mona Lisa 1503-1507 – Louvre, pintura de Leonardo da Vinci)

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