Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sábado, 4 de fevereiro de 2012

~portas adentro do coração, só a essência deve prevalecer~



|Os
primeiros
cristãos|

   Atingindo
um período
de nova compreensão concernente aos mais graves problemas da vida, a sociedade da época
sentia de perto a insuficiência das escolas filosóficas conhecidas,

no propósito de solucionar as suas grandes questões. A ideia de uma justiça mais perfeita para as classes oprimidas torna-se assunto obsidente para as massas anónimas e sofredoras.

   Em virtude dos seus postulados sublimes de fraternidade, a lição de Cristo representava o asilo de todos os desesperados e de todos os tristes. As multidões dos aflitos pareciam ouvir aquela misericordiosa exortação: – Vinde a mim, vós todos que sofreis e tendes fome de justiça e eu vos aliviarei – e da cruz chegava-lhes, ainda, o alento de uma esperança desconhecida.

   A recordação dos exemplos do Mestre não se restringia aos povos da Judeia, que lhe ouviram directamente os ensinos imorredouros. Numerosos centuriões e cidadãos romanos conheceram pessoalmente os factos culminantes das pregações do Salvador. Em toda a Ásia menor, na Grécia, na África e mesmo nas Gálias, como em Roma, falava-se dele, da sua filosofia nova que abraçava todos os infelizes, cheia das claridades sacrossantas do Reino de Deus e da sua justiça. Sua doutrina de perdão e de amor trazia nova luz aos corações e os seus seguidores destacavam-se do ambiente corrupto do tempo, pela pureza de costumes e por uma conduta rectilínea e exemplar.

   A princípio, as autoridades do Império não ligaram maior importância à doutrina nascente, mas os apóstolos ensinavam que, por Jesus Cristo, não mais poderia haver diferença entre os livres e os escravos, entre patrícios e plebeus, porque todos eram irmãos, filhos do mesmo Deus. O patriciado não podia ver com bons olhos semelhantes doutrinas. Os cristãos foram acusados de feiticeiros e heréticos, iniciando-se o martirológio com os primeiros éditos de proscrição. O estado não permitia outras associações independentes, além daquelas consideradas como cooperativas funerárias e, aproveitando essa excepção, os seguidores do Crucificado começaram os famosos movimentos das catacumbas.

A propagação do Cristianismo

   Na Judeia cresce, então, o número dos prosélitos da nova crença. O hino de esperanças da manjedoura e do calvário espalha nas almas um suave e eterno perfume. É assim que os apóstolos, cuja tarefa Cristo abençoara com a sua misericórdia, espalham as claridades da Boa Nova por toda a parte, repartindo o pão milagroso da fé com todos os famintos do coração.

   A doutrina do Crucificado propaga-se com a rapidez do relâmpago.

   Fala-se dela, tanto em Roma como nas Gálias e no norte de África. Surgem os advogados e os detractores. Os prosélitos mais eminentes buscam doutrinar, disseminando as ideias e interpretações. As primeiras igrejas surgem ao pé de cada apóstolo, ou de cada discípulo mais destacado e estudioso.

   A centralização e a unidade do Império Romano facilitam a deslocação dos novos missionários, que podiam levar a palavra de fé ao mais obscuro recanto do globo, sem as exigências e os obstáculos das fronteiras.

   Doutrina alguma alcançara no mundo semelhante posição, em face da preferência das massas. É que o Divino Mestre selara com exemplos as palavras de suas lições imorredouras.

   Maior revolucionário de todas as épocas, não empunhou outra arma além daquelas que significam amor e tolerância, educação e aclaramento. Condenou todas as hipocrisias, insurgiu-se contra todas as violências oficializadas, ensinando simultaneamente aos discípulos o amor incondicional à ordem, ao trabalho e à paz construtiva. É por essa razão que os Evangelhos constituem o livro da Humanidade, por excelência. Sua simplicidade e singeleza transparecem na tradução de todas as línguas da Terra, prendendo a alma dos homens entre as luzes do Céu, ao encanto suave de suas narrativas.

A redacção dos textos definitivos

   Nesse tempo, quando a guerra formidável da crítica procurava minar o edifício imortal da nova doutrina, os mensageiros de Cristo presidem à redacção dos textos definitivos, com vistas ao futuro, não somente junto aos apóstolos e seus discípulos, mas igualmente junto aos núcleos das tradições. Os cristãos mais destacados trocam, entre si, cartas de alto valor doutrinário para as diversas igrejas. São mensageiros de fraternidade e de amor, que a posteridade muita vez não pôde ou não quis compreender.

   Muitas escolas literárias se formaram nos últimos séculos, dentro da crítica histórica, para o estudo e elucidação desses documentos. A palavra “apócrifo” generalizou-se como o espantalho de todo o mundo. Histórias numerosas foram escritas. Hipóteses incontestáveis foram aventadas, mas os sábios materialistas, no estudo das ideias religiosas, não puderam sentir que a intuição está acima da razão e, ainda uma vez, falharam, em sua maioria, na exposição dos princípios e na apresentação das grandes figuras do Cristianismo.

   A grandeza da doutrina não reside na circunstância de o Evangelho ser de Marcos ou de Mateus, de Lucas ou de João; está na beleza imortal que se irradia de suas lições divinas, atravessando as idades e atraindo os corações. Não há vantagem nas longas discussões quanto à autenticidade de uma carta de Inácio de Antioquia ou de Paulo de Tarso, quando o raciocínio absoluto não possui elementos para a prova concludente e necessária. A opinião geral rodopiará em torno do crítico mais eminente, segundo as convenções. Todavia, a autoridade literária não poderá apresentar a equação matemática do assunto. É, que, portas adentro do coração, só a essência deve prevalecer para as almas e, em se tratando das conquistas sublimadas da fé, a intuição tem de marchar à frente da razão, preludiando generosos e definitivos conhecimentos.


ESPÍRITO EMMANUEL, A Caminho da Luz, XIV – A Edificação Cristã, Os primeiros Cristãos, A Propagação do Cristianismo, A Redacção dos Textos Definitivos. Texto mediúnico recebido em 1938 por FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
(imagem: Pietà (dor) 1498-1499, obra-prima da Renascença escultura de MichelangeloSt. Basílica de Pedro, Vaticano)

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