Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Um degrau para a verdadeira luz

"   É essa doutrina que oferecemos aos pesquisadores de todas as ordens e todas as classes. Ela já tem sido divulgada em numerosos volumes. Acreditamos nosso dever resumi-la nestas páginas, sob uma forma diferente, na intenção daqueles que estão cansados de viver como cegos, ignorando-se a si mesmos, daqueles que não se satisfazem mais com as obras de uma civilização material e inteiramente superficial, mas que aspiram a uma ordem de coisas mais elevada. É sobretudo para vós, filhos e filhas do povo, para quem a jornada é áspera, a existência difícil, para quem o céu é mais negro, mais frio o vento da adversidade; é para vós que este livro foi escrito. Não vos trará ele toda a ciência – que o cérebro humano não poderia conter –, porém será mais um degrau para a verdadeira luz. Provando-vos que a vida não é uma ironia da sorte nem o resultado de um acaso estúpido, mas a consequência de uma lei justa e equitativa, abrindo-vos as perspectivas radiosas do futuro, ele fornecerá um alvo mais nobre às vossas acções, fará luzir um raio de esperança na noite de vossas incertezas, aliviará o fardo de vossas provações e ensinar-vos-á a não mais tremer diante da morte. Abri-o confiantemente; lede-o com atenção, porque emana de um homem que, acima de tudo, quer o vosso bem.
   Entre vós, muitos talvez rejeitem nossas conclusões: um pequeno número somente as aceitará. Que importa! Não vamos em busca de êxitos. Um único móbil inspira-nos: o respeito, o amor à verdade. Uma só ambição anima-nos: quereríamos, quando nosso gasto invólucro voltasse à terra, que o Espírito imortal pudesse dizer a si mesmo: minha passagem pelo mundo não terá sido estéril se contribuí para mitigar uma só dor, para esclarecer uma só inteligência em busca da verdade, para reconfortar uma só alma vacilante e contristada."

LÉON DENIS in Depois da Morte, Introdução (5 de 5)
(imagem: detalhe Salvador Dali, 1950_05)

A solução do grande problema

"   No momento mesmo em que o materialismo atingia o seu apogeu, e por toda parte espalhava a idéia do nada, surge uma crença nova apoiada em factos. Ela oferece ao pensamento um refúgio onde se encontra, afinal, o conhecimento das leis eternas de progresso e de justiça. Um florescimento de idéias que se acreditava mortas, mas que dormitavam apenas, produz-se e anuncia uma renovação intelectual e moral. Doutrinas, que foram a alma das civilizações passadas, reaparecem sob mais desenvolvida forma, e numerosos fenómenos, por muito tempo desdenhados, mas cuja importância enfim é pressentida por certos sábios, vêm oferecer-lhe uma base de demonstração e de certeza. As práticas do magnetismo, do hipnotismo, da sugestão e, mais ainda, os estudos de Crookes, Russel Wallace, Paul Gibier, etc., sobre as forças psíquicas, fornecem novos dados para a solução do grande problema. Abrem-se abismos, formas de existência revelam-se em centros onde não mais se cuidava de observá-los. E, dessas pesquisas, desses estudos, dessas descobertas, nascem uma concepção do mundo e da vida, um conhecimento de leis superiores, uma afirmação da ordem e da justiça universais, apropriados a despertar no coração do homem, com uma fé mais firme e mais esclarecida no futuro, um sentimento profundo dos seus deveres, um afecto real por seus semelhantes, capazes de transformarem a face das sociedades."

LÉON DENIS in Depois da Morte, Introdução (4 de 5)

Excessos de revoltas

"   A morte é o ponto de interrogação ante nós incessantemente colocado, o primeiro tema a que se ligam questões sem-número, cujo exame faz a preocupação, o desespero dos séculos, a razão de ser de imensa cópia de sistemas filosóficos. Apesar desses esforços do pensamento, a obscuridade tem pesado sobre nós. A nossa época se agita nas trevas e no vácuo, e procura, sem achar, um remédio a seus males. Imensos são os progressos materiais, mas no seio das riquezas acumuladas, pode-se ainda morrer de privações e de miséria. O homem não é mais feliz nem melhor. No meio dos seus rudes labores, nenhum ideal elevado, nenhuma noção clara do destino o sustém; daí seus desfalecimentos morais, excessos de revoltas. Extinguiu-se a fé do passado; o cepticismo e o materialismo substituíram-na e, ao sopro destes, o fogo das paixões, dos apetites, dos desejos, tem-se ateado. Convulsões sociais ameaçam-nos.
   Às vezes, atormentado pelo espectáculo do mundo e pelas incertezas do futuro, o homem levanta os olhos para o céu, e pergunta-lhe a verdade. Interroga silenciosamente a Natureza e o seu próprio espírito. Pede à Ciência os seus segredos, à Religião os seus entusiasmos. Mas, a Natureza parece-lhe muda, e as respostas dos sábios e dos sacerdotes não satisfazem à sua razão nem ao seu coração. Entretanto, existe uma solução para esses problemas, solução melhor, mais racional e mais consoladora que todas as oferecidas pelas doutrinas e filosofias do dia; tal solução repousa sobre as bases mais sólidas que conceber se possa: o testemunho dos sentidos e a experiência da razão."

LÉON DENIS in Depois da Morte, Introdução (3 de 5)

Flores brilhantes

"   Em sua carreira, para onde vai, pois, o homem? Para o nada ou para uma luz desconhecida? A Natureza risonha, eterna, moldura as tristes ruínas dos impérios, com os seus esplendores. Nela nada morre, senão para renascer. Leis profundas, uma ordem imutável, presidem às suas evoluções. Só o homem, com suas obras, terá por destino o nada, o olvido? A impressão produzida pelo espectáculo das cidades mortas, ainda a encontrei mais pungente diante dos frios despojos dos entes que me são caros, daqueles que partilharam a minha vida.
   – Um desses a quem amais vai morrer. Inclinado para ele, com o coração opresso, vedes estender-se lentamente, sobre suas feições, a sombra da morte. O foco interior nada mais dá que pálidos e trémulos lampejos; ei-lo que se enfraquece ainda, depois se extingue. E agora, tudo o que nesse ser atestava a vida, esses olhos que brilhavam, essa boca que proferia sons, esses membros que se agitavam, tudo está velado, silencioso, inerte. Nesse leito fúnebre mais não fui que um cadáver! Qual o homem que a si mesmo não pediu a explicação desse mistério, e que, durante a vigília lúgubre, nesse silenciar solene com a morte, deixou de reflectir no que o espera a si próprio? A todos interessa esse problema, porque todos estamos sujeitos à lei.
   Convém saber se tudo acaba nessa hora, se mais não é a morte que triste repouso no aniquilamento, ou, ao contrário, o ingresso em outra esfera de sensações.
   Mas, de todos os lados levantam-se problemas. Por toda parte, no vasto teatro do mundo, dizem certos pensadores, reina como soberano o sofrimento; por toda parte, o aguilhão da necessidade e da dor estimula esse galope desenfreado, esse bailado terrível da vida e da morte. De toda parte levanta-se o grito angustioso do ser que se precipita no caminho do desconhecido. Para esse, a existência só parece um perpétuo combate: a glória, a riqueza, a beleza, o talento – realezas de um dia! A morte passa, ceifando essas flores brilhantes, para só deixar hastes fanadas."

LÉON DENIS in Depois da Morte, Introdução (2 de 5)

Pedras amontoadas

"   Vi, deitadas em suas mortalhas de pedra ou de areia, as cidades famosas da antiguidade: Cartago, em brancos promontórios, as cidades gregas da Sicília, os arrabaldes de Roma, com os aquedutos partidos e os túmulos abertos, as necrópoles que dormem um sono de vinte séculos, debaixo das cinzas do Vesúvio. Vi os últimos vestígios das cidades longínquas, outrora formigueiros humanos, hoje ruínas desertas, que o sol do Oriente calcina com suas carícias ardentes.
   Evoquei as multidões que se agitaram e viveram nesses lugares: vi-as desfilar, diante do meu pensamento, com as paixões que as consumiram, com seus ódios, seus amores e suas ambições desvanecidas, com seus triunfos e reveses – fumaças dissipadas pelo sopro dos tempos. Vi os soberanos, chefes de impérios, tiranos ou heróis, cujos nomes foram celebrados pelos fastos da História, mas que o futuro esquecerá.
   Passavam como sombras efémeras, como espectros truanescos que a glória embriaga uma hora, e que o túmulo chama, recebe e devora. E disse comigo mesmo: Eis em que se transformam os grandes povos, as capitais gigantes – algumas pedras amontoadas, colinas silenciosas, sepulturas sombreadas por mirrados vegetais, em cujos ramos o vento da noite murmura suas queixas. A História registou as vicissitudes de sua existência, suas grandezas passageiras, sua queda final, porém tudo a terra sepultou. Quantos outros cujos nomes mesmos são desconhecidos; quantas civilizações, raças, cidades grandiosas, jazem para sempre sob o lençol profundo das águas, na superfície dos continentes submersos!
   E perguntei a mim mesmo: por que essas gerações a se sucederem como camadas de areia que, acarretadas incessantemente pelas ondas, vão cobrir outras camadas que as precederam? Por que esses trabalhos, essas lutas, esses sofrimentos, se tudo deve terminar no sepulcro? Os séculos, esses minutos da eternidade, viram passar nações e reinos, e nada ficou de pé. A esfinge tudo devorou!"

LÉON DENIS in Depois da Morte, Introdução (1 de 5)

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Indicação fraterna ~


“Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu…”

– Pedro.
(I Pedro, 4:10.)


  É este o caminho para o necessário burilamento: trabalhar, aprender, sofrer, estar presente e colaborar na Causa do Bem. 

*

  O amor encerra em si as leis do Universo e tudo o que fizermos contra o amor é algo que criamos contra nós mesmos. Aceita, desse modo, no sacrifício a mais alta norma de acção.

  Não fujas dos encargos que a Sabedoria da Vida te entregou. Acima de tudo, promove-te, servindo mais. 

*

  O suor do trabalho confere experiência.

  A lágrima de aflição acende a luz espiritual.

  Quando a dor te visite, reflecte-lhe a mensagem.

  Não fosse a prova e ninguém conseguia entesourar compreensão e discernimento. 

*

  Nos dias de desacerto, ainda quando te reconheças na sombra do fracasso, levanta-te, reinicia a tarefa e completa, de novo, a bênção do Sol, na convicção de que o erro superado nos ensina indulgência, amolecendo-nos o coração, a fim de que venhamos a entender e desculpar as faltas possíveis dos semelhantes. Mesmo nas crises que te estrangulam a sensibilidade, sê fiel ao ideal de servir e não esmoreças. 

*

  Não esperes por descanso exterior, quando não tiveres a paz dentro de ti. 

*

  Haja o que houver, não te interrompas, na tarefa em execução, para ouvir sarcasmo ou censura. Oferece o melhor de ti aos que te compartilham a estrada e, conserva a consciência tranquila, trabalha sempre, lembrando, a cada momento, que, assim como o fruto fala da árvore, o serviço é a testemunha do servidor.



ESPÍRITO EMMANUEL, Ceifa de Luz – Indicação fraterna, psicografia de FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
(imagem: Salvador Dali, 1945_01)

sábado, 23 de julho de 2011

Até à libertação da Servidão dos Renascimentos~


   “Segundo a opinião dos teósofos, o regresso da alma à carne efectua-se a cada mil e quinhentos anos.  Esta teoria não é confirmada nem pelos factos nem pelo testemunho dos Espíritos. Estes, interrogados em grande número, em meios muito diversos, responderam que a reencarnação é muito mais rápida; as almas ávidas de progresso demoram-se pouco no espaço. Pedem o regresso à vida deste mundo para conquistar novos títulos, novos méritos. Possuímos sobre as existências anteriores de certa pessoa indicações recolhidas, em pontos muito afastados uns dos outros, da boca de médiuns que nunca se conheceram, indicações perfeitamente concordes entre si e com as intuições do interessado. Demonstram que apenas vinte, trinta anos, quando muito, separaram as suas vidas terrestres. Não há, quanto a isso, regra exacta. As encarnações aproximam-se ou se distanciam segundo o estado das almas, seu desejo de trabalho e adiantamento e as ocasiões favoráveis que se lhes oferecem; nos casos de morte precoce, são quase imediatas.

   Sabemos que o corpo fluídico materializa-se ou purifica-se conforme a natureza dos pensamentos e das acções do Espírito. As almas viciosas atraem a si, por suas tendências, fluidos impuros, que lhes tornam mais espesso o invólucro e lhes diminuem as radiações. À morte, não podem elevar-se acima das nossas regiões e ficam confinadas na atmosfera ou misturadas com os humanos; se persistem no mal, a atracção planetária torna-se tão poderosa que lhes precipita a reencarnação.

   Quanto mais material e grosseiro é o Espírito, tanto mais influência tem sobre ele a lei de gravidade; com os Espíritos puros, cujo perispírito radioso vibra a todas as sensações do infinito e que acham nas regiões etéreas meios apropriados à sua natureza e ao seu estado de progressão, produz-se o fenómeno inverso. Chegados a um grau superior, esses Espíritos prolongam cada vez mais a sua estada no espaço; as vidas planetárias tornam-se para eles a excepção e a vida livre a regra, até que a soma das perfeições realizadas os liberte para sempre da servidão dos renascimentos.”

LÉON DENIS, O Problema do ser, do destino e da dor, Segunda Parte/O Problema do Destino, XIII – As vidas sucessivas. A reencarnação e suas Leis (7 de 7)
(imagem: pintura de Salvador Dali, 1943_01)

A vida do espaço é a forma necessária e simétrica da vida terrestre

“Em cada regresso ao espaço procede-se ao balanço dos lucros e perdas; avaliam-se e firmam-se os progressos. O ser examina-se e julga-se; perscruta minuciosamente a sua história recente, em si mesmo escrita; passa em revista os frutos de experiência e sabedoria que a sua última vida lhe proporcionou, para mais profundamente assinalar-lhes a substância.
A vida do espaço é, para o Espírito que evoluiu, o período de exame, de recolhimento, em que as faculdades, depois de se terem gasto no exterior, reflectem-se, aplicam-se ao estudo íntimo, ao interrogatório da consciência, ao inventário rigoroso da beleza ou fealdade que há na alma. A vida do espaço é a forma necessária e simétrica da vida terrestre, vida de equilíbrio, em que as forças se reconstituem, em que as energias se retemperam, em que os entusiasmos se reanimam, em que o ser se prepara para as futuras tarefas; é o descanso depois do trabalho, a bonança depois da tormenta, a concentração tranquila e serena depois da expansão activa ou do conflito ardente.”

LÉON DENIS, O Problema do ser, do destino e da dor, Segunda Parte/O Problema do Destino, XIII – As vidas sucessivas. A reencarnação e suas Leis (6 de 7)

O nosso futuro está em nossas mãos

Entretanto, não será sem custo que ela se levantará; a ascensão não prosseguirá sem dificuldades. As faltas e os erros cometidos repercutem como causas de obstrução nas vias futuras e o esforço terá de ser tanto mais enérgico e prolongado quanto mais pesadas forem as responsabilidades, quanto mais extenso tiver sido o período de resistência e obstinação no mal. Na escabrosa e íngreme subida, o passado dominará por muito tempo o presente e o seu peso fará vergar mais de uma vez os ombros do caminhante; mas, do Alto, mãos piedosas estender-se-ão para ele e ajudá-lo-ão a transpor as passagens mais escarpadas. “Há mais alegria no Céu por um pecador que se arrepende do que por cem justos que perseveram.”
O nosso futuro está em nossas mãos e as nossas facilidades para o bem aumentam na razão directa dos nossos esforços para o praticarmos. Toda vida nobre e pura, toda missão superior é o resultado de um passado imenso de lutas, de derrotas sofridas, de vitórias ganhas contra nós mesmos; é o remate de trabalhos longos e pacientes, a acumulação de frutos de ciência e caridade colhidos, um por um, no decurso das idades. Cada faculdade brilhante, cada virtude sólida reclamou existências multíplices de trabalho obscuro, de combates violentos entre o espírito e a carne, a paixão e o dever. Para chegar ao talento, ao gênio, o pensamento teve de amadurecer lentamente através dos séculos. O campo da inteligência, penosamente desbravado, a princípio apenas deu escassas colheitas; depois, pouco a pouco, vieram as searas cada vez mais ricas e abundantes.

LÉON DENIS, O Problema do ser, do destino e da dor, Segunda Parte/O Problema do Destino, XIII – As vidas sucessivas. A reencarnação e suas Leis (5 de 7)

A Alma, senhora do seu destino

“Senhora do seu destino, a alma tem de sujeitar-se ao estado de coisas que preparou, que escolheu. Todavia, depois de haver feito de sua consciência um antro tenebroso, um covil do mal, terá de transformá-lo em templo de luz. As faltas acumuladas farão nascer sofrimentos mais vivos; suceder-se-ão mais penosas, mais dolorosas as encarnações; o círculo de ferro apertar-se-á até que a alma, triturada pela engrenagem das causas e dos efeitos que houver criado, compreenderá a necessidade de reagir contra suas tendências, de vencer suas ruins paixões e de mudar de caminho. Desde esse momento, por pouco que o arrependimento a sensibilize, sentirá nascer em si forças, impulsões novas que a levarão para meios mais adequados à sua obra de reparação, de renovação, e passo a passo irá fazendo progressos. Raios e eflúvios penetrarão na alma arrependida e enternecida, aspirações desconhecidas, necessidades de acção útil e de dedicação hão de despertar nela. A lei de atracção, que a impelia para as últimas camadas sociais, reverterá em seu benefício e tornar-se-á o instrumento da sua regeneração.”

LÉON DENIS, O Problema do ser, do destino e da dor, Segunda Parte/O Problema do Destino, XIII – As vidas sucessivas. A reencarnação e suas Leis (4 de 7)