Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

terça-feira, 29 de maio de 2012

a pedra e o joio~


Panorama desolador

   Foi tendo em vista todo esse panorama desolador que resolvemos lançar esta nova edição da Crítica à Teoria Corpuscular do Espírito, sob novo título capaz de abranger toda a área conflitiva. Lançada a primeira edição há doze anos, em volumes de pequeno formato e composição em tipo miúdo, produziu ela os seus efeitos, mas já se encontra há muito esgotada. Muitas pessoas interessadas reclamam a reedição. Examinando o texto, vimos que ele ainda se apresenta como necessário no panorama actual. Foi a primeira crítica, rigorosamente crítica, oferecida ao meio doutrinário como um exemplo de como se deve desmontar uma doutrina absurda. Muitos dos seus tópicos se aplicam a outras formas de pretensa reformulação da doutrina. É um texto já clássico, modelo único de exame atento e minucioso de uma falsa teoria, não lhe faltando o exemplo de comedimento e de respeito humano ao responsável pela sua formulação e divulgação. Não teremos a falsa modéstia de negar o seu valor nesse sentido, mormente agora que o movimento da Educação Espírita atinge o plano universitário e exige a existência de textos dessa natureza, capazes de orientar os estudantes universitários no manejo da crítica espírita. Há momentos em que devemos ter a coragem de reconhecer e sustentar o valor das próprias obras elaboradas em favor da doutrina. Investimo-nos dessa coragem e lançamos o texto em nova edição, com endereço mais amplo e adaptado às exigências actuais. Não negaremos às novas gerações de estudantes universitários espíritas esse modelo ainda imperfeito, porque escrito sem o tempo necessário, mas valioso por seu acerto no enfoque do problema e por sua eficácia indiscutivelmente provada.

   Não buscamos nenhum efeito de interesse pessoal. A imprensa espírita ainda não está em condições de avaliar esforços desta natureza e a imprensa comum nem sequer tomará conhecimento desse trabalho. O que nos interessa é devolver à circulação um texto que tem a sua oportunidade e o seu valor relativo, atendendo a uma necessidade evidente do movimento espírita brasileiro. Ao lado de O Verbo e a Carne, cuja edição foi lançada recentemente, este pequeno volume poderá contribuir para orientar e estimular novas críticas dessa natureza. Nenhuma cultura se desenvolve sem crítica e sem exercício acurado do espírito crítico. O Espiritismo, ele mesmo, é um movimento crítico em favor do desenvolvimento da Civilização do Espírito, como vemos na obra gigantesca de Kardec. Todas as reacções que esta reedição provocar serão benéficas, mesmo quando possam parecer o contrário. A defesa da verdade está sempre acima dos melindres pessoais.

São Paulo, 18 de Abril de 1974.
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José Herculano Pires – A Pedra e o Joio, Crítica à Teoria Corpuscular do Espírito. Panorama desolador, 5º fragmento da obra.
(imagem: As Colhedoras de Grãos, pintura a óleo por Jean-François Millet)

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