Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O Mundo Invisível e a Guerra~


I O Espiritualismo e a Guerra

Outubro de 1914

   Factos temerosos vêm acontecendo há alguns meses,
e uma tempestade de ferro e fogo desabou sobre a Europa, abalando os alicerces da civilização.
Não são milhares, são milhões
de homens que se entrechocam numa batalha formidável, numa luta jamais presenciada pelo mundo.
O número de vidas humanas sacrificadas é tão grande que deixa estarrecido
o pensamento.


   Até o próprio destino das nações é posto em dúvida. Em determinadas horas trágicas, a França viu passar sobre ela o vento da ruína e da morte, e talvez o nosso país terminasse destruído, se não fossem os auxílios do Alto e a incontável legião de espíritos, acudindo de todos os pontos do Espaço, para ajudar seus defensores, aumentar-lhes a energia, favorecer-lhes o ânimo e estimular-lhes o ardor.

   Diante desse drama terrível indagamos, como num pesadelo, que lição fica desses factos dolorosos.

   Observemos, diante da primeira análise, que esses acontecimentos eram anunciados antecipadamente. Os avisos vinham de toda parte; por nosso lado sentíamos aproximar-se a tempestade e um mal-estar indefinível invadia nossas almas. Segundo as palavras de um pensador, os grandes acontecimentos que abalam o mundo projectam primeiramente sua própria sombra.

   Todavia, a massa dos homens continuava indiferente. A França principalmente, há 20 anos adormecera numa ilusão de bem-estar e de sensualidade, sendo que a maior parte de seus filhos só objectivava conquistar a riqueza e desfrutar os prazeres que ela proporciona.

   A consciência pública, a noção do dever, a disciplina familiar e social, sem as quais não há nações progressistas, atrofiavam-se cada vez mais.

   Processos escandalosos revelavam um estado de terrível corrupção; o alcoolismo, a prostituição e a pequena percentagem de nascimentos daí resultante pareciam encaminhar a nação para inevitável decadência.
  
   Nossos inimigos achavam os franceses um povo exausto e se preparavam para disputar seus despojos.

   Por acaso as discussões inúteis em que estávamos empenhados não nos condenavam à fraqueza? No entanto, nossa desunião era apenas aparente, pois, diante do perigo que ameaça a pátria, todos os corações sabem unir-se para um esforço supremo.

   Como em todos os instantes solenes da História (como na época de Joana d’Arc), o mundo invisível interferiu e, impulsionadas pelo Alto, as forças profundas da raça, que dormitam dentro de cada um de nós, despertaram, entraram em acção e, num grande ardor, fizeram renascer, com toda plenitude, as virtudes heróicas dos séculos passados.

   O general Joffre é, sem dúvida, um estratega de valor, mas sabemos, com segurança, que suas melhores inspirações, sem que ele o soubesse, vieram do além.

   Nosso país, que parecia corrompido, condenado a desaparecer, mostrou ao mundo assombrado que havia nele um poder irresistível, em estado latente.

   Premida pela provação e por vontade superior, a França despertou. Num ímpeto supremo e disposta a todos os sacrifícios, ergueu-se contra um invasor sem escrúpulos, cego pelo orgulho e ávido para implantar no mundo seu domínio bárbaro e brutal.

   Julguem o que julgarem os alemães, há justiça no Universo. Não basta ter nos lábios, a cada instante, o nome de Deus; seria muito melhor guardar no coração suas leis imutáveis.

   O direito não é uma palavra vã e o poder material não é absoluto neste mundo.

   As mentiras, a perfídia, a violação dos tratados, o incêndio das cidades, a morte dos fracos e dos inocentes não podem encontrar desculpas diante da majestade divina.

   Qualquer mal praticado atinge, com suas consequências, quem o produziu e a violação do direito dos fracos se volta contra os poderes dos ultrajantes.

   A invasão e a devastação da Bélgica e do norte da França provocaram indignação geral e uma grande reacção das forças invisíveis. Das regiões devastadas um grito de angústia subiu ao céu, que não ficou surdo a tão desesperados apelos. Os poderes do Além entram em acção: são eles que sustentam a França e animam seus filhos ao combate.

   À rectaguarda dos que sucumbem, outros aparecerão, até que o invasor sinta que a sua disposição se enfraquece e que o destino se ergue contra ele.

   Os que morreram voltam ao Espaço com a glória do dever cumprido e o exemplo deles animará as vindouras gerações.

   A lição que fica desses terríveis acontecimentos consiste em que o homem deve aprender a elevar seus pensamentos acima dos tristes espectáculos do mundo e voltar suas vistas para esse Além de onde descem os socorros, as forças necessárias para empreender uma nova etapa, objectivando o fim grandioso que lhe está designado.

   Nossos contemporâneos haviam depositado seu pensamento e suas amizades nas coisas materiais, porém os factos demonstraram que elas eram passageiras e precárias e que as esperanças e as glórias que elas suscitam são também efémeras.

   Nenhum bem, nenhum poder terrestre está protegido das catástrofes; só os do espírito imortal possuem verdadeira duração, riqueza ou esplendor, porque só o espírito é capaz de transformar as obras de morte em obras de vida. Porém, para compreender tão profunda lei é necessária a escola do sofrimento. Assim como o raio de luz precisa decompor-se no prisma para produzir as cores brilhantes do arco-íris, também a alma humana deve purificar-se pela provação, a fim de que brilhem todas as energias e todas as qualidades que nela dormitam.

   É especialmente na desgraça que o homem pensa em Deus, e assim que as paixões ardentes tiverem se apaziguado e que a sociedade tiver recomeçado a vida normal, começará a missão dos espíritas.

   Quantas lutas haverá então para consolar! Quantas chagas morais para curar! quantas almas dilaceradas para socorrer!

   Pela actuação lenta, profunda e eficiente do sofrimento, um grande número de seres ficará acessível às verdades de que somos responsáveis depositários. Aproveitemos, portanto, as trágicas situações que atravessamos e a Providência fará delas nascer benefícios para a humanidade.

   Todas as almas fortes, que mantiveram sangue frio no meio da borrasca, suplicarão, conosco, que as provações sofridas por nosso país lhes façam vibrar na alma os sentimentos de honra, união e concórdia, que são poderosos meios de ressurgimento.

   Tais sentimentos, por sua intensidade, poderiam actuar contra os flagelos da sensualidade, do egoísmo e do personalismo desmesurado que se implantaram, como senhores, em nossa França, abafando generosos instintos que sempre estavam prontos a reviverem nela.

   Que os franceses, raça inteligente e nobre, de mãos estendidas e corações abertos, voltem a ser admirados, como exemplo vivo que todas as nações se alegram em seguir.
/...


“Léon Denis, que vivenciou um dos períodos mais conturbados da história francesa, escrevia tendo como base as mensagens mediúnicas que lhe chegavam, particularmente do médium cego, Sr. G. C., que possuía a mediunidade da escrita mecânica.”
Altivo Carissimi Pamphiro in O Mundo Invisível e a Guerra, 2ª Edição CELD 2001 Apresentação.


LÉON DENIS, O Mundo Invisível e a Guerra, I O Espiritualismo e a Guerra.
(imagem: Naufrágio de "O Lusitania" navio de passageiros a navegar com bandeira inglesa, no decurso da Primeira Guerra Mundial, após ter sido Torpedeado pelo submarino alemão U-20. Afundamento que demorou apenas 18 minutos e no qual perderam a vida 1200 pessoas)

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