“É já de si, como vemos, uma teoria alambicada. A que goza agora de maior conceito, para uma certa categoria de espíritos convencidos de sua superioridade, é, porém, a que reverencia com a maior polidez o Deus vulgar, pessoal e humano, que venera os grandes princípios da Moral, da Filosofia e da Estética, declarando, todavia, que Deus, tal como o Bem, o Belo, a Verdade, ainda não existem, mas “estão à bica”. Kant, na Crítica da Razão Pura, demonstrou que o homem está invencivelmente disposto a supor reais os objectos de sua crença, sendo estes embora puramente subjectivos. Hegel retomou a grande máxima do velho Protágoras, que diz ser o homem a medida de todas as coisas, e ensinou que o indivíduo tende a erigir-se em princípio absoluto, reportando tudo a si, mostrando aos clarividentes Germanos, de olhar prevenido nesse sentido, a idéia a desenvolver-se no Universo. A escola a que nos referimos, actualmente representada por Vacherot, Renan, Taine, Scherer e talvez Saint-Beuve, ensina o desenvolvimento da idéia na Natureza, o futuro universal. O Universo caminha para a perfeição, à revelia de qualquer direcção inteligente. Deus é um filósofo sem sabedoria, inferior mesmo ao herói de Sedan, visto que não se conhece a si mesmo e não tem existência pessoal. É simplesmente Divino; portanto, uma qualidade e não um ser. Nem há uma verdade absoluta, mas nuances e metamorfoses. O pensador que contempla esse vago progresso é o mais ditoso e o mais santo dos homens. O Sr. Caro definiu bem esta religião, dizendo-a a alucinação do Divino ou o quietismo científico. A Ciência, porém, não admite semelhante quietismo, nem uma tal alucinação. É uma hipótese que se desvanece diante da crítica severa. Já evidenciamos: a tendência geral e progressiva do átomo para a mónada animada e desta para o homem, não se pode explicar sem a existência de um pensamento director e, em todos os casos, bem mais difícil de aceitar que o do próprio Deus.”
FLAMMARION, CAMILLE in “Deus na Natureza” Tomo V - DEUS, (5/5)
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