Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

terça-feira, 29 de agosto de 2017

O Espiritismo na Arte ~



Parte X

Quarta lição

– A música humana e as notas harmónicas
– A música celeste
– Os sons e as cores

(Novembro de 1922)

“Falaremos hoje da sonoridade, não da sonoridade pura porque não distinguimos os sons com precisão. O som resulta de uma vibração que impressiona os nossos órgãos psíquicos e produz, por consequência, um fenómeno virtual.

É preciso partir deste princípio: no espaço, o som não será a sensação de um ruído, mas a sensação que uma satisfação de bem-estar moral e espiritual produz. O prazer é mais ou menos intenso e corresponde às sensações que os instrumentos nos causam na Terra.

Vimos o ser imaterial transportado para a esfera musical, isto é, para o campo vibratório (i), animado por seres angélicos; vimos também que esse ser recebe, no seu perispírito (i), vibrações que, ao se chocarem com os seus próprios eflúvios, produzirão sensações de prazer.

Na música humana, vós tendes o como nota do diapasão (ii); não tomaremos essa nota como ponto de partida porque a sua tonalidade não corresponde à tonalidade das cores. Tomaremos o . O , aos vossos ouvidos, produz um som grave, pleno, e que exprime o regozijo, um som que representa bem o amor que devemos sentir por Deus. Esse , se fizermos uma comparação, adapta-se melhor à primeira das sensações fluídicas, que se traduz geralmente pela cor azul.

 simboliza o azul celeste, a quietude, a paz da alma proporcionada pela prece. O  é a primeira nota do acorde perfeito que deriva do azul.

mi representa a força no amor, a vontade de amar, e pode ser representado por um raio da vossa luz solar. Temos, então: mi. O  fundamental é azul; o mi, a vontade no amor, nos dará o azul celeste e o ouro.

sol, terceira nota harmónica, representa a consolidação das duas notas precedentes, ou seja, uma ligação que pontua as duas ideias precedentes emitidas, pontuação que assegura a exteriorização do sentimento dado pelo azul.

Percebemos essa nota por uma tonalidade especial, da qual eu procuro fazer-vos compreender a cor pelos vossos sentidos. Não é nem uma emanação prateada, que poderia confundir-se com o ouro, ser por ele absorvida, nem uma emanação negra, resultante de outras cores, que poderia absorver o azul. Mas é um fluido brilhante, sem cor bem definida, que pode aproximar-se da luz radiante (i) que se desprende dos mundos que vós percebeis, ou seja, cinza-azulado, cinza-prateado. O vosso Sol, visto de longe, tem esse aspecto.

A primeira tonalidade, vista por um mortal, terá esse aspecto: tónica azul. Intensidade da tónica, ouro. Pontuação ou duração: cinza-prateado, mistura de azul cercado de ouro e de cinza-prateado.

Essa primeira tonalidade representa o amor divino. As outras cores fundamentais apresentam todos os outros sentimentos, indo do amarelo-claro ao vermelho-escuro, porém essas cores são sempre acompanhadas dos seus mantos dourados e das suas vestes cinza-prateadas.

Em música humana, acorde perfeito: misol. Tornando-se o  acorde perfeito: ; com o mi, acorde perfeito: misolsi. A tónica variará de cor, passando do azul para chegar ao vermelho, mas as duas outras notas serão sempre ouro e prata; elas nunca variarão.

Segundo a qualidade do perispírito (i) e a natureza do campo vibratório, as sensações variam e aumentam de intensidade, a ponto de se tornarem maravilhosas. Certos perispíritos recebem o amarelo, outros o vermelho. Existem alguns que excluem esta última cor.

O violeta é menos suportável para os seres evoluídos. O verde claro é mais agradável que o verde escuro. Pode-se, segundo as leis do espaço, perceber uma mistura de azul e de rosa.

Os campos vibratórios variam igualmente de intensidade. Eles resultam de emanações angélicas, inspiradas pelo ser divino. Quando se retorna à Terra, ainda se está impregnado dessas vibrações; o corpo material aniquila-as, mas a consciência conserva a sua impressão.

Fora desses campos vibratórios existem esferas, e mesmo correntes, que proporcionam aos espíritos menos evoluídos prazeres harmónicos às vezes vivos e profundos, ainda que mais pessoais. Essas correntes fluídicas comunicam ao ser as alegrias íntimas do amor divino. Outras correntes dão-lhe somente a alegria de ouvir os acordes da lira celeste. Essas vibrações, não coloridas e invisíveis ao ser desencarnado (i), dão-lhe uma satisfação comparável àquela que a sensação dos perfumes lhe proporciona.

A música celeste, portanto, é o resultado de impressões causadas pelas camadas fluídicas de acordo com a elevação do ser e a pureza do meio.

No espaço não se ouve nada; sente-se a harmonia dos fluidos e não a dos sons. A propriedade essencial dos fluidos é a cor. O som é de essência terrestre, a cor é de essência celeste. A próxima lição tratará dos encantos harmónicos do espaço e da sua persistência nos sentimentos humanos.”

Espírito Massenet (i)

– Comentário

A solidariedade dos sons e das cores, da qual nos fala o Espírito Massenet, foi entrevista por todos os grandes músicos. Um deles disse: “A melodia é para a luz o que a harmonia é para as cores do prisma, isto é, uma mesma coisa sob dois aspectos diferentes: melódico e harmónico.”

Platão (iii) dizia ainda: “A música é uma lei moral. Ela dá uma alma ao Universo, asas ao pensamento, um impulso à imaginação, um encanto à tristeza, a alegria e a vida a todas as coisas. Ela é a essência da ordem e eleva em direcção a tudo o que é bom, justo e belo, de que ela é a forma invisível, porém surpreendente, apaixonada, eterna.”

De passagem, observemos que Massenet é mais melodista que sinfonista.

Para formar a luz branca, é necessário o acorde das cores complementares e esta luz torna-se mais viva e radiosa na mesma proporção em que a melodia resuma e sintetize melhor o acorde das harmonias complementares.

Parece, então, que há uma concordância perfeita entre as concepções dos génios terrestres e o ensino das entidades do Além, reconhecendo-se que estas nos fornecem detalhes, estimativas ignoradas pelos especialistas do nosso mundo.

As relações que a melodia e a harmonia têm entre si são como as que existem entre o pensamento e o gesto. Também se poderia dizer que, em música, a melodia representa a síntese, e a harmonia, a análise. Portanto, elas penetram uma na outra e não valem senão quanto mais completamente se combinem e se liguem.

Na Terra, a beleza de uma obra musical resulta ao mesmo tempo da concepção e da execução, mas na vida do Além, o pensamento iniciador e a execução se confundem porque o pensamento comunica às vibrações fluídicas as qualidades que lhe são próprias. A obra é tão mais bela e a impressão que ela produz é tão mais viva quanto mais elevada for a intenção. É isso que dá à prece ardente, o grito da alma em direcção ao seu Criador, propriedades harmónicas.

Quanto mais nos elevamos na escala das relações, mais a unidade nos aparece na sua sublime grandeza.

A lei das notações musicais rege todas as coisas e o seu ritmo embala a vida universal. É uma espécie de geometria radiante e divina. O alfabeto humano, como que uma gaguez, é uma das suas formas mais rudimentares. As suas manifestações, porém, tornam-se cada vez mais amplas e importantes em todos os graus da escala harmónica.

O espírito humano não pode elevar-se até às supremas alturas da arte cuja fonte está em Deus, mas ele pode, pelo menos, elevar as suas aspirações em direcção a elas. As concordâncias estéticas dispõem-se, em graus, ao infinito; mas acontece apenas que se, nas horas de êxtase e de enlevo, o pensamento humano entrevê alguns aspectos da lei universal da harmonia. A regra musical produz-se, no espaço, em traços de luz; o pensamento, a expressão do talento divino e os astros no seu curso, ali conformam as suas vibrações.

Se o espírito humano, nos seus arrebatamentos, se eleva um momento sobre essas alturas, ele recai impotente para descrever as suas belezas; as impressões que ele sente só podem ser traduzidas por uma muda adoração. O próprio Espírito Massenet se declara insuficientemente evoluído para se manter nessas esferas superiores.

Uma vez mais, aqui nos encontramos parados pela impossibilidade de exprimir, numa linguagem humana, ideias sobre-humanas. Ainda que se possa falar, fica-se sempre abaixo da verdade. O infinito das ideias, dos quadros, das imagens são como que um desafio dirigido aos recursos limitados do vocabulário terrestre. Efectivamente, como meter em palavras, como resumir em palavras todo o esplendor das obras que se desenvolvem nas profundezas dos céus estrelados?

/…

(ii) Diapasão: pequeno instrumento metálico que dá uma nota constante, normalmente o , e que serve para se afinarem vozes e instrumentos por ele. (N.T.)
(iii) Platão: célebre filósofo grego (Atenas, 428 ou 429 - id., 348 ou 347 a.C.), discípulo de Sócrates, mestre de Aristóteles. Autor dos diálogos: CritonFédonFedroGórgiasO BanqueteA RepúblicaAs Leis, etc, em que dá a palavra a Sócrates. (N.T., segundo o Dicionário Koogan Larousse.)



LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte X Quarta lição do Espírito Massenet – A música humana e as notas harmónicas – A música celeste – Os sons e as cores – Comentário, 28º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: O Concerto dos Anjos (1897), óleo sobre tela de Edgard Maxence)

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